O despertador tocou, como de costume, e Miguel foi acordando aos poucos. Cessou o barulho insistente e sentiu uma pressão em cima  de si, foi quando percebeu que Dênis o abraçava, inclusive passando a perna em cima das suas. Suspirou desejando não ter que se levantar. Ouviu o outro resmungando e aproveitou para escorregar para fora da cama, o olhou por um momento e se pegou apreciando outra vez as pernas e o pescoço alheio, que ainda tinha o vestígio amarelado do hematoma. Só o que fez foi puxar os próprios cabelos e seguir com a rotina indo para o banheiro, como se o garoto no qual tinha total interesse não estivesse deitado em sua cama.

Dênis se espreguiçou, voltando a abraçar os cobertores. Já estava acordado a esse ponto, mas queria ficar ali por no mínimo uma eternidade. Mas sabia que era melhor ir para casa e deixar Miguel se arrumar para o trabalho. Arrastou seu corpo para fora da cama e pegou suas roupas no chão onde havia jogado, vestiu a calça jeans e sua camisa de volta, deixando o pijama dobrado em cima da cama. Aquilo estava meio bagunçado. Ele fez a cama rapidamente e levou até a cozinha o prato e o copo que havia usado na noite passada. Quando Brownie ouviu alguém mexer nas coisas por ali, levantou do sofá e veio cumprimentar Dênis rodeando suas pernas. O loiro não resistiu a se agachar e acariciar o felino um pouco.

“Você está querendo uma crise alérgica ou algo do tipo?” Miguel perguntou, se preocupando. “Melhorou da gripe?”

“Pra falar a verdade estou novinho em folha, o que você me deu? A cura divina?” disse se levantando antes que Brownie o fizesse espirrar.

Miguel o entregou uma cartela com remédios “é pra tomar de 8 em 8 horas.”

“Não é muito forte?” leu rótulo “tem a bula? Eu não gosto de remédios.”

“De qualquer forma leve, e a bula é só procurar na internet. Vou fazer um café pra gente.” disse ele já preparando a cafeteira. Passados alguns minutos, os dois faziam o desjejum calados. Miguel mexia em seu celular e Dênis simplesmente o admirava. Certo momento o mais velho entregou o celular para ele, que pegou por impulso. “olha isso, lembra quando foi no hospital comigo e o bebê do meu primo estava para nascer? Aqui ela. Se chama Camila.”

Na tela do celular havia a foto de um bebezinho recém nascido, vestido de rosa e mostrando aquele sorriso espontâneo sem dentes, que talvez fosse uma careta. Dênis piscou algumas vezes, olhando para o bebê teve vestígios de lembrança daquela noite.

“E-ela é muito fofa…” disse ele, perceptivelmente abalado.

“Eu não sou muito fã de bebês, mas pra olhar ela é até fofa… Você tá bem?” perguntou o mais velho, percebendo como o outro estava assustado.

“E-e-eu beijei você. Aquela noite” procurava algum lugar onde esconder seu rosto, visivelmente corado, mas antes que pudesse fazê-lo Miguel limpou a boca com um guardanapo e o jogou na mesa, se levantou, calmo, e no momento seguinte estava de frente para Dênis, segurou seu queixo e selou os lábios rosados do menor, mas o encerrou tão breve como havia dado início.

“Estamos quites então” e continuou andando até o seu quarto com toda naturalidade do mundo.

O loiro piscou algumas vezes, mas logo abriu um sorrisinho. Resolveu deixar ele se arrumar em paz, pegou sua mochila e saiu, deixando um bilhete pregado na maçaneta da porta da sala.

“Obrigado por cuidar de mim”

Mais tarde recebera várias mensagens do outro o xingando por ter saído sorrateiramente, mas só o que fez foi rir e dizer que precisava se arrumar para o trabalho também.

No petshop, Luana estava aliviada por Dênis já ter melhorado, e também estava animada por estarem chegando as férias. Isso lembrava o loiro de que a próxima semana seria cheia de provas.

“Eu descobri uma coisa. Parece que o Micha volta pra cidade ano que vem. Talvez ele vá pra mesma faculdade, vai ser como no ensino médio, né?” Ela cutucou Dênis, que deu um pulo ao sentir cócegas.

“Sério mesmo? Vai ser muito bom, sinto falta dele” sorriu, se virando contra a menina e fazendo cócegas em sua cintura, começando uma briguinha.

xXx

“EU. NÃO. ACREDITO” Bella praticamente gritou, e Dênis teve que tampar sua boca para que a menina percebesse que toda a classe podia ouvir. Ela passou a sussurar “você dormiu na casa dele e só rolou um selinho? Pelo amor de deus eu preciso ter uma conversinha com esse cara”

“Deixa de ser ridícula, eu tava doente” respondeu

“Bom, mas enquanto você dormia não sentiu nada te alisando não?”

“Bella!”

“Vocês são um saco. Ainda dá tempo de ir lá encontrar ele”

Isabella puxou o amigo, o arrancando da cadeira, e por fim ele cedeu e resolveu andar um pouco, acreditando que ela não encontraria Miguel, de qualquer forma. Quando ela o encontrou com facilidade, Dênis tinha certeza que, de duas uma: ela tinha informantes por todo o local; ou perseguia Miguel e conhecia toda sua rotina.

“Esse devia ser o meu papel, sou o interessado sabe, devia stalkear um pouco” comentou o loiro, observando Miguel parado em frente à sala dos professores, mas seu queixo caiu quando percebeu quem o acompanhava. Uma mulher linda de morrer, com o cabelo castanho enorme e vestida com uma daquelas saias sociais justas até o joelho e um blazer com as mangas arregaçadas, além do sapato de salto vermelho.

“Caramba… Melhor desistir meu amigo.” Bella disse, tocando o ombro de Dênis em consolação e dando meia volta, mas ele a segurou no ato.

“P-para de falar merda, ela é professora, de alguma coisa na área biológica, mas não sei.” nesse momento, viu que Miguel olhou para si, percebendo-o ali, mas não fez qualquer sinal demonstrando isso. Passado alguns segundos, eles pararam de se falar e o moreno veio na direção dos dois que pareciam o esperar.

“Oi. Querem algo comigo?” chegou sorrindo de canto, sem mostrar os dentes.

“Eu vim te dizer uma coi– “ Dênis arregalou os olhos e tapou a boca – por sinal muito grande – de sua amiga, não pensou que ela falasse sério quando quis dar uma palavrinha com alguém que nunca havia conversado antes.

“Oi, eu vim mesmo me desculpar por ter saído sem despedir” disfarçou.

“O que foi Dênis? deixa sua amiga falar” o professor cruzou os braços, seu sorriso se alargou um pouco, estava curioso mas ao mesmo tempo imaginava que ela diria algo que fosse vergonhoso. Não que se importasse.

“Obrigada, já gosto de você. Mas quero entender qual o seu problema, é impossível que tenham dormido juntos sem...” Ela teve o bom senso de falar baixo.

Miguel deu uma boa risada, acompanhada de seu sorriso debochado, enfiou a mão nos bolsos da calça. “Esqueci como adolescentes são apressados…” Suspirou. Olhou para Dênis, que parecia estar no limite do constrangimento. Voltou a atenção para Isabella “Melhor eu ir antes de ouvir outra piada dessas”

Por todo caminho Dênis xingou Isabella, que não se sentia arrependida. Ela realmente não tinha papas na língua.

“Eu não sei como fui tão idiota de contar tudo pra você. O pior é que agora ele sabe que você sabe” falou, cabisbaixo na carteira. Não que a culpasse. Era bom ter alguém pra dividir isso.

“Deixa se ser ‘bocó’ “ ela imitou Dênis falando “ele já sabe disso há séculos, eu só não consigo ser mais indiscreta que você”

Ao chegar em casa, tomou um banho bem demorado, vestiu seu pijama e se jogou na cama, cansado. Ouviu o barulho de mensagem no celular que estava carregando por ali. Pegou o aparelho sem muita vontade.

Miguel ♡:

Já tá dormindo?

Você:

To prestes ✓✓

Miguel ♡:

Vou te atrapalhar um pouquinho

Mal ouvi sua voz quando sua amiga veio falar cmg.

Você;

Ah é dsclp por ela ✓✓

Nao tem noção ✓✓

Miguel ♡:

Rlx, eu n dou a mínima.

Mas n precisa ficar com vergonha de mim

Você:

Eu nem tenho ✓✓

Miguel ♡:

Que mentira

Você:

Mentira msm ✓✓

Vou desmaiar de sono ✓✓

Bjs ✓✓