Uma década atrás...

Era véspera de natal e o shopping estava lotado. O rosto de ninguém ali ficaria em sua memória por mais de cinco segundos, ainda mais quando se é um turista, olhando com fascinação cada detalhe sem importância sobre o lugar. Fazia alguns dias que Miguel havia se mudado para a cidade e queria comprar presentes para seus pais e para os irmãos, mesmo que não fosse comemorar com eles. Era uma boa desculpa para usar o correio.

Quando pensou em sua irmãzinha, a primeira coisa que veio à sua mente foi um bichinho de pelúcia, o que não se mostrou muito difícil de encontrar. Seu maior problema era a variedade. Qual ela ia gostar mais? Entre todos os tamanhos e cores, era difícil escolher, e acabou perdendo um pouco de tempo olhando todos. Não parecia ter encontrado a pelúcia perfeita, até que viu um garotinho sentado no tapete da loja de brinquedos, segurando algo.

Era branco, felpudo, e tinha o formato de um gato. Imediatamente soube que esse seria o que a pequena Margot mais iria amar, mas onde encontrava outro?

Só então Miguel percebeu que o menino ali encolhido estava chorando, abraçando a pelúcia.

“Ei… O que aconteceu? Porque ta chorando?” Se agachou de frente para a criança, chamando sua atenção. O loirinho o olhou por alguns segundos, mas logo começou a chorar mais forte. Já tinha 7 anos, não devia chorar em público. “Shhh, não chore” o mais velho limpou as lágrimas das bochechas vermelhas do menino, aos poucos ele se acalmou.

“O-obrigado…” Agradeceu, tímido. Não ousava olhar nos olhos daquele garoto mais velho, temia que ele fosse rir por estar chorando.

“Aconteceu alguma coisa? Você está perdido?” Perguntou, preocupado.

“Não… É só que… Eu queria esse gatinho, mas a mamãe disse pra escolher outra coisa, porque pelúcias têm muita poeira”

“Hmm entendi. Mas isso não é tão grave, porque não escolhe outra coisa?” Perguntou Miguel, indiferente. Aquele gatinho estava fadado a ser de sua irmãzinha.

“Eu não quero outra coisa” apertou com mais força.

“Ah… Ok. Você sabe onde tem mais gatinhos desse?” Coçou a cabeça, um pouco sem graça.

“Uhum. Peraí!” Ele se levantou e saiu correndo, deixando pra trás o gato. Miguel ponderou se seria errado ir embora com o bicho e deixar o garotinho com outro. Mas por fim esperou que ele voltasse, com uma pelúcia do mesmo modelo em mãos. A diferença era a cor, invés de branco o gatinho era preto.

“Tem só esse, eles são namorados” deu uma risadinha, oferecendo ao maior.

“Ta, eu tive uma ideia, vem aqui.” Pegou o loiro pela mão e o puxou até o caixa, pediu para embalar os dois gatinhos separadamente, com o mesmo embrulho. “Eu vou dar um pra você, mas tem que falar pra sua mãe que só pode abrir no natal” o pequeno logo concordou, seus olhos brilhavam.

“O papai noel não ia ter tempo pra entregar todos os presentes em uma noite.” Deu um grande sorriso “por isso trouxe o meu antes, né?”

“Isso. Escolhe uma caixa” Miguel expôs as duas opções, vou o loirinho mordendo o lábio em dúvida e revirou os olhos com a demora. “Só escolhe qualquer uma”

“Táááá. Eu quero essa” abraçou a caixa da direita.

“Então espera. Eu vou escrever aqui. De papai noel para… Qual é seu nome?”

“Dênis” o mesmo quase saltitava de alegria.

“Só pode abrir no natal”

“Você é mesmo o papai noel? Achei que…”

“Shhhhh. Vai guardar segredo, né?” Deu uma piscadinha, deixando o loiro boquiaberto enquanto via ele se afastar e ir embora.