Era noite. Taliyah abriu os seus olhos ao sentir uma forte dor em sua cabeça. Ela levou a mão até a testa, dando um gemido de dor. As memórias dos momentos antes de desmaiar voltaram à tona ao sentir o sangue quase seco em sua mão. Arregalou os olhos e tentou se levantar rapidamente, mas foi puxada até o solo frio pelas correntes que a prendia. Alguém que não conhecia havia sequestrado-a. Podia ter se passado um bom tempo desde que isso havia acontecido. Um mal estar tomou conta de seu corpo quando pensou na possibilidade dos noxianos terem ido até Shurima por sua causa. A mulher que a desacordou naquela noite jamais seria uma shurimane. Precisava sair dali imediatamente. Seus poderes não eram armas pra guerra. Olhou para frente e para os lados, via muitas árvores de tamanhos diferentes e que não nasciam em Shurima. Assustou-se quando ouviu sons de passos que se aproximavam cada vez mais.

— Já acordou? - a voz da mulher era a mesma daquela noite, ela abaixou-se até ficar na altura de Taliyah - Seu corpo lida bem com soníferos.

— ...Quem é você? - a morena ousou perguntar, olhando para o seu rosto - O que você quer comigo?

— Yasu não falou de mim pra você? Que indelicado da parte dele... - ela disse num tom manhoso e aproximou a lamparina que estava em sua mão ao rosto de Taliyah, com a outra ela pegou no queixo da morena, que tentou se afastar com o toque - Você não é nada mal.

— O que você quer? - a tecelã perguntou novamente, ficando um pouco assustada com a aproximação repentina da mulher.

— Eu sei que você tem grandes poderes aí dentro de si. - ela deslizou a sua mão até o pescoço e ameaçou descer mais ainda até os seios de Taliyah, que tremeu como resposta e a empurrou para longe.

— Não me toque! - ela gritou, assustada.

— Olha só... ela também tem um lado irritadinho. - a mulher de cabelos brancos ficou séria e puxou os cabelos de Taliyah com força - Eu queria muito poder te matar agora, só que é uma pena que os noxianos querem você de volta. E nós estamos bem perto da sua nova casa.

Taliyah fechou seus olhos com força, temendo pelo próximo ataque que poderia levar a seguir. Não era possível que havia sido levada pra longe de seu lar novamente. Ela não era uma arma. Aquela mulher parecia conhecer Yasuo. Precisava fugir dali o mais rápido possível e ajudar o seu mestre caso alguém tentasse feri-lo. Logo desejou que encontrasse ao menos uma única pedrinha para desacordar a noxiana desconhecida, o que era impossível com aquela escuridão. Começou a tatear discretamente pela terra fria com suas mãos livres.

— Eles ofereceram uma grande recompensa em troca. E quem saberia que você era aprendiz de um fugitivo?

— O que você quer com ele?! - a morena gritou, nervosa.

— Eu quero o que é meu de volta. - Riven respondeu - Ter você aqui é algo vantajoso pra mim, já que ele foi esperto o suficiente para fugir de mim logo após ter sido capturado. Quem sabe ele apareça pra te salvar...

Taliyah sentia suas mãos tremendo enquanto tateava o solo ao seu redor. Até que ela encontra uma minúscula pedra. Era o suficiente. Escondeu-a em suas mãos enquanto tentava achar uma fraqueza em Riven. Ela não aparentava estar armada e estava próxima o suficiente. Se a desacordasse, poderia encontrar as chaves que soltariam as correntes de suas pernas. Não podia perder a oportunidade que possuía. Fechou seus olhos e depositou toda a sua força naquela única pedrinha, empurrando Riven e atirando-a em sua cabeça. Conseguiu ver um filete de sangue saindo da testa da mulher após ela desmaiar. Foi rápido e preciso. Esticou-se o máximo que podia e tateou os bolsos da mesma, procurando as chaves. Deu um sorrisinho aliviado ao sentir a peça de metal e a puxou rapidamente, destrancando o cadeado que unia as correntes de suas pernas. Levantou-se e deu a volta por cima da mulher. Correria ao máximo que podia, se não fosse pelo braço que Riven colocou na frente de seus pés propositalmente. Taliyah tropeçou e foi de encontro ao chão. Não esperava por isso.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É, GAROTINHA?! EU VOU TE MATAR!— Riven gritou, num surto de raiva. Pegando uma adaga que Taliyah não havia reparado que estava ali quando tateou as chaves.

Taliyah já estava de pé de novo, prestes a correr pra bem longe dali. Ela vira-se por um momento e apenas se depara com a mulher em cima de si. Segurando a adaga fortemente numa de suas mãos. A morena tentava se remexer, desesperadamente. Era difícil, já que a diferença de forças entre as duas era claramente visível. Riven levantou seu braço armado e tentou fincar sua adaga na testa de Taliyah. Seria inútil se não encontrasse nenhuma pedra para se defender. E não tinha mais nenhuma. Ela morreria caso não fizesse algo, então logo decidiu partir pra uma atitude desesperada. Juntou toda a coragem que tinha e colocou uma de suas mãos na frente da adaga. Essa mesma que fora perfurada. Taliyah não conseguiu segurar um grito de dor ao fazer isso, ficando irritada e mais desesperada do que antes. Deu uma cotovelada com o outro braço no rosto de Riven. A mulher ria insanamente da situação e partiu pra cima de Taliyah, enforcando-a.

— Que esperto da sua parte, que esperto da sua parte... - Riven dizia enquanto ria - Mas agora... A NOSSA BRINCADEIRA ACABOU! MORRA!— ela gritou enquanto apertava com mais força.

Taliyah tentava se remexer novamente, cada vez mais desesperada. Sentia um enorme sufoco misturado com dor, junto com o ar de seus pulmões que sumiam a cada segundo. Estava morrendo. Morreria ali. Seus olhos começaram a lacrimejar ao pensar em sua família, seus amigos.

E em Yasuo.

Fechou seus olhos com força, deixando algumas lágrimas caírem enquanto pedia para que a Grande Tecelã tivesse piedade e deixasse com que vivesse. Que ao menos desse forças para que conseguisse morrer com mais dignidade. Fincou seus dedos na grama e arregalou os olhos quando viu que tinha uma pedrinha escondida bem ali. Fechou seus dedos com força e teceu aquele pequeno grão de terra, fazendo com que ficasse mais afiado. E a atirou rapidamente no olho direito de Riven, que sangrou no mesmo instante e fez com que ela soltasse as mãos em volta do pescoço da morena enquanto gritava desesperadamente. Aquela pedrinha estava afiada como uma agulha. Taliyah aproveitou o momento para empurra-la para longe de si, levantando e correndo o máximo que podia enquanto ouvia os gritos de socorro de Riven.

— Obrigada, Grande Tecelã. - Taliyah sussurrou para si mesma enquanto fugia.

Ela permaneceu assim por alguns minutos e logo foi forçada a parar pra pegar ar. A sua mão doía muito e não parava de sangrar. O corte que Riven havia feito fora muito profundo. Deu um gemido de dor ao ver aquilo. Não fazia ideia de onde estava ou por onde andava. Era noite e não conseguiu tempo de pegar a lamparina que a mulher segurava a momentos atrás. Não podia fazer muita coisa naquela situação, então continuou andando em meio a floresta. Seu nervosismo aumentou ao escutar o som de galhos se quebrando. Mas não ouvia passos. Temeu pela sua vida novamente ao imaginar que haveria algum animal ali, então optou por ficar parada. Ela fechou os olhos com força ao ouvir o barulho de algo se rastejando e aproximando-se cada vez mais. Precisava fazer algo. Levou a sua mão ilesa até o punhal da adaga fincada e a retirou de uma vez só, não conseguindo segurar um grito. Lágrimas de dor escorriam de seus olhos enquanto podia sentir mais sangue jorrando do ferimento. Segurou a adaga com toda a sua força pra se proteger. Até que sentiu algo perfurando a sua coxa, numa espécie de agulha.

— Riven foi tola por não ter amarrado suas mãos também. - falou a mulher metade cobra.

Taliyah não conseguia ver uma abertura na mulher desconhecida, então optou por continuar correndo pela floresta desconhecida. Sentiu algumas pedras em meio ao caminho e passou a deslizar por cima delas pra conseguir mais velocidade. Olhou para trás e não viu nada além de árvores de diferentes tipos. Sentia suas forças se esvaírem por conta da agulha que perfurou a sua perna, ela a retirou e deu outro gemido de dor. Não podia mais continuar correndo, precisava descansar. Andou em passos lentos até uma enorme árvore, apoiando suas costas ali ao sentar-se. Respirava com dificuldade por conta dos ferimentos e arranhões que conseguiu enquanto fugia. Fechou seus olhos por alguns momentos, tentando ignorar a dor. E logo escutou novamente o som de algo se aproximando. Não conseguia mais ficar de pé e muito menos correr. Segurou a adaga com mais força ainda. Morreria ali. Arregalou os olhos quando escutou o som de troncos se quebrando, junto com uma forte ventania. Sussurrou o nome de Yasuo ao ver aquilo e logo sentiu algo tocando o seu pulso. Não assustou-se dessa vez, conhecia aquele toque. Tentou ficar de pé e falhou miseravelmente, caindo de joelhos.

— Vem. - Yasuo abaixou-se de costas, indicando pra ela subir ali.

Taliyah entrelaçou seus braços no pescoço do homem e teve suas pernas seguradas pelas mãos dele. Ainda respirava com dificuldade e seu ferimento doía muito. Sentia-se mais tranquila por ele estar ali. Ele realmente se importava com ela. Um silêncio tomou conta do ambiente enquanto Yasuo caminhava em passos rápidos, procurando abrigo.

Yasuo parou de andar quando entrou numa pequena caverna em meio a floresta, entrando ali. Parecia seguro. Ajoelhou-se e esperou o tempo necessário para que ela descesse. Virou-se para a morena quando sentiu que não havia mais peso algum em suas costas, olhando para o seu rosto.

— Me desculpe por isso. Eu não devia ter saído naquela hora, senão isso nunca teria acontecido. - ele finalmente disse, envergonhado por suas ações.

Taliyah sentiu seus olhos lacrimejarem e escondeu seu rosto no peito dele, deixando as lágrimas caírem.

— ...E-Eu estava tão assustada. - ela disse enquanto se permitia chorar naquele momento - Pensei que morreria, pensei que iriam te levar embora.

Yasuo deixou escapar um suspiro entristecido ao notar que ela chorava, envolvendo-a em seus braços enquanto fazia carinho nos cabelos rebeldes da garota. Sentiu uma pontada de ódio ao ver o que tentaram fazer com sua aprendiz. Isso teria volta. Seriam mortos em breve por suas próprias mãos.

— Você está segura agora. Eu vou te proteger.