Taliyah parou de andar por um momento, olhando as costas de seu mestre distanciando-se dela. Uma sensação esquisita tomou conta do seu corpo quando soube que Yasuo e Riven já tiveram uma espécie de relacionamento. Nunca havia sentido isso antes. Queria que ele olhasse somente pra ela e mais ninguém. Fechou os olhos com força e apertou o tecido de sua túnica, tentando criar coragem pra pergunta que queria fazer. 

— Você a ama? - perguntou, sua tristeza e medo expressos em sua voz. 

Yasuo parou seus passos e olhou para trás, vendo a expressão insegura da garota ao perguntar aquilo. Não entendia bem o que ela queria com aquela pergunta, mas responderia com sinceridade. 

— Eu a amei quando não soube quem ela era. Já não sinto mais nada. - respondeu friamente, tentando apagar as memórias com Riven e sua mente. - Por quê? 

— N-Nada. - sua voz voltou ao normal quando ouviu a resposta dele, estava aliviada. - Só curiosidade. Vamos continuar. 

Taliyah acelerou o passo, com um sorriso aliviado no rosto. Yasuo ficou confuso com a pergunta e reação que ela havia feito, seguindo-a.

Eles continuaram o caminho, dessa vez sem um silêncio incômodo. A morena resolveu não contar o que Riven disse sobre Noxus querer seus poderes para a guerra. Não queria preocupa-lo. Havia chegado na hora mais quente do dia. Taliyah já não sentia tanto frio quanto de manhã. Os dois pararam seus passos quando ouviram um som próximo de água caindo. Ficaram em silêncio pra saber de que lugar viera e logo seguiram em direção ao som. Em meio algumas árvores e rodeado de pedras, estava um rio de água mais limpa e clara que Taliyah já havia visto. Ela arregalou seus olhos ao ver o quão bonito era aquele lugar. Abriu um sorriso enorme e olhou pra Yasuo.

— Aqui é tão bonito! Podemos descansar aqui? Podemos? - falou, animada.

O coração de Yasuo se derreteu ao ver aqueles olhinhos curiosos e o sorriso animado da garota. Precisavam partir logo, mas não conseguia dizer não. Olhou de lado e tentou ser um pouquinho severo. 

— Só por alguns minutos. - disse.

— Mesmo?! - ela abriu um sorriso maior ainda. 

— Podemos achar o nosso almoço por aqui, então não tem problema. - falou, tentando arrumar alguma desculpa esfarrapada pra querer passar esse tempo naquele lugar. 

Yasuo estranhou que a garota não falou nada em resposta daquilo, aproveitando-se do silêncio para olhar pros lados e observar a paisagem que era realmente bonita. Distraiu-se por alguns momentos e ficou em choque quando voltou a olhar pra Taliyah. O seu casaco pesado já estava no chão, junto com a sua calça e botas. Só usava a túnica que cobria um pouco de suas pernas grossas. Xingou baixinho, suspirou derrotado e colocou a mão na sua testa quando resolveu olhar para as pernas grossas expostas da garota.

— Pare de ficar olhando, pare de ficar olhando, concentração, concentração. A folha não erra duas vezes, a folha não erra duas vezes. - pensou consigo mesmo, começando a cantar cantigas de Ionia mentalmente pra não fazer alguma besteira. 

Ela estava prestes a tirar a túnica, até que Yasuo sussurrava palavras inaudíveis enquanto estava fazendo uma cara concentrada. Taliyah não conseguiu segurar uma risada ao ver aquilo.  

— O que você tá fazendo? - perguntou. 

Yasuo foi desligado de sua pseudo-meditação ao ouvir a pergunta da garota. Olhou pra ela e arregalou os olhos novamente. Não deixando de olhar para as pernas torneadas e seios que ficavam em destaque com a túnica fina que ela usava. Céus, ela era linda, pensou ele. Fez uma careta e voltou a sussurrar cantigas de Ionia. 

— Ainda assim o vento sopra, a chuva cai, assim como o vento sopra, a chuva cai.... - voltou a sussurrar, de olhos fechados, enquanto o seu rosto estava ficando avermelhado. 

Taliyah colocou a mão na boca pra segurar uma risada maior, falhando miseravelmente. Parece que ele acabou ficando constrangido em ver ela daquele jeito. Nunca havia visto o seu mestre daquele jeito, então não conseguia deixar de se divertir em ver isso. De certa maneira, também parece ter conseguido provoca-lo. Não que achasse ser uma garota atraente, porém aprendeu algumas coisinhas com o tempo que passou com Sivir. Saltou sob as pedras, indo até a beira do rio com um sorriso no rosto. 

Abriu um de seus olhos ao ver que a garota havia saído, suspirando pesadamente. Olhou para as costas da morena e xingou baixinho novamente ao descer seus olhos cada vez mais. Notou logo que a sua aprendiz tinha um corpo realmente bonito e agradecia mentalmente por esse fato só ser exposto quando ficava com pouca roupa. Não iria gostar que outras pessoas ficassem olhando. Era incrível como ela conseguia fazer com que sentisse tantas coisas de uma vez só. Pegou a flauta de bambu que levava consigo e começou a toca-la, numa melodia calma e que combinava perfeitamente com o local em que estava. Taliyah não saía de sua cabeça. Ela tinha a capacidade de aquecer o seu coração com um simples sorriso, sua voz o acalmava. Seu corpo o fazia perder a cabeça. A honra de conhece-la era algo que nunca se acharia merecedor. Pelos Deuses, ela era perfeita.

Yasuo não conseguiria vê-la onde ela estava. A garota então parou na beira d'água e passou a mão por cima da blusa que usava. Uma luz fraca emanava dos seus dedos e ela logo tirou uma linha dela. Olhou para o seu reflexo na água e prendeu o seu cabelo num rabo de cavalo com aquela fita improvisada. Aquele penteado lembrava Yasuo. Seria legal se deixasse o cabelo crescer pra usar algo parecido. Ou brega. Tirou sua fina blusa, ficando apenas com suas peças íntimas e colocando a ponta dos pés na água pra sentir sua temperatura. Não muito fria ou muito quente, perfeito. Adentrou o rio e sentiu um leve ardor em sua perna, esperava que o veneno tivesse sido removido de vez do seu corpo. A água batia em seu quadril, então ela logo resolveu sentar para aproveitar melhor. Deu um suspiro relaxado, como se as suas preocupações estivessem indo embora junto com a fraca correnteza dali. Criou um pouquinho de coragem e retirou o tecido azul que envolvia a sua mão ferida, fazendo uma careta ao ver que o corte era mais profundo do que pensava. Jogou um pouco de água em cima pra limpar o ferimento, dando um gritinho baixo de dor e fechando os olhos com força até sentir que a dor havia sido amenizada. Abriu-os depois de alguns minutos, encarando o corte.  

— Eu não me lembro nem de ter feito esse curativo... - pensou consigo mesma. 

Fechou seus olhos e ficou apenas ouvindo o som calmo vindo da flauta de Yasuo, que ficava mais tranquilo ainda ao misturar-se com os sons serenos da floresta e água se movendo. Era relaxante.Deu um suspiro e tentou lembrar o que aconteceu na noite anterior. 

— Certo... - sussurrou baixinho. - Eu fugi da Riven e ele me encontrou, então... 

Ela ficou minutos quieta, tentando se concentrar. Até que lembrou-se de alguns momentos quando já estava com Yasuo. Seu rosto esquentou quando teve a recordação de Yasuo beijando seu pescoço após ter sugado o veneno de sua coxa. Não era um sonho. Aquele toque havia sido tão real que não soube como conseguiu esquecer dele. Talvez isso justificasse a expressão triste que ele fazia. Se sentiu uma idiota por ter esquecido de algo tão importante e que desejava por muito tempo. Sentiu saudade dele. Seu mestre não havia saído de sua cabeça por nenhum pequeno instante. Ele era como o vento. As vezes distante, outras tão próximo. Acolhedor e calmo em algumas horas, outras violento e ágil. Era gentil, protetor e doce. Seu coração deu uma pontada tão dolorida quando ouviu sobre a mulher de cabelos brancos. Queria que ele estivesse com ela sempre. Sempre.Queria que olhasse somente pra ela e mais ninguém. Terminou a sua limpeza pessoal e vestiu-se o mais rápido possível, voltando até ele. Precisava fazer algo. Isso não podia ficar assim. Era um sentimento único e diferente que não desejava que escapasse de suas mãos.  Enquanto ia aonde ele estava, uma conversa que teve com Sivir veio à sua mente. 

— Escute só, passarinho. - Sivir disse, com um rostinho divertido. - Um dia você vai se apaixonar e aí o seu mundo cinza vai ficar colorido. Você vai querer estar perto dessa pessoa o tempo todo. Um sentimento caloroso vai se criar no seu coração e nem vai reparar. A pessoa vai aparecer na sua cabeça repentinamente mesmo que nem quisesse pensar nela naquele momento. 

Ela entendia agora.

Por todo esse tempo, Yasuo nunca saiu de seus pensamentos. Até mesmo uma brisa boba a fazia pensar nele. Um sentimento caloroso se criava toda vez em que estava por perto. Era mais do que uma relação entre mestre e aprendiz. 

Ela o amava, de todo o seu coração.

Andou em passos largos até ele, entrelaçando seus braços ao seu redor. Escondeu o rosto no seu peito e fechou os olhos, nervosa. Só queria ficar perto dele. Não era atraente ou bonita que nem Riven era, mas se esforçaria para agradar ele. Não conseguia dizer o que sentia, então procurou demonstrar através das suas atitudes. 

Yasuo ficou estático com a aproximação repentina da garota.Não esperava por aquilo. Aos poucos ele foi rodeando seus braços em volta da cintura dela, puxando-a pra perto. Ela era tão doce e imprevisível. Não conseguia se controlar. 

— ...Liyah? - sussurrou o nome dela com carinho, colocando a mão em seus cabelos - O que foi? Aconteceu algo?

— N-Nada, eu só... - apertou seus braços ao redor dele, com medo que fosse embora.  

— Eu estou aqui. - fez um leve afago nos cabelos rebeldes da garota, enquanto a outra mão entrelaçava seus dedos com os dela. 

Taliyah não deixou de sorrir ao ouvir e sentir o toque carinhoso e protetor dele. Se sentia tão segura com ele ali. O espadachim desceu a mão que estava nos cabelos escuros da garota e foi até o queixo dela, fazendo com que ela levantasse o rosto pra ele. Em silêncio, trocaram olhares que pareciam expressar mais do que qualquer palavra que poderiam dizer naquele momento. A morena sussurrou o nome dele carinhosamente, com um sorriso fraco no rosto. Ele inclinou-se na direção dela e passou a mão pela bochecha macia dela, fechando seus olhos conforme iam se aproximando. Taliyah ficou na ponta dos pés enquanto suas mãos estavam ao redor dele. Seus lábios se encostaram e roçavam um no outro calmamente. Podiam sentir as respirações um tanto aceleradas em seus rostos. Lentamente, eles começam a movimentar as suas bocas. A morena sentiu seus batimentos acelerarem junto da sua respiração. Ela não era muito boa nisso, então seu nervosismo foi aliviado ao notar que ele seria gentil. Abriu seus lábios lentamente, sendo invadida pela língua necessitada dele. O toque dele era calmo e carinhoso. Sua barba por fazer fazia cócegas quando encostava na bochecha macia da garota, fazendo-a abrir um sorrisinho em meio ao beijo. Sua mão desceu até a cintura da morena, puxando-a mais perto, dando um sorriso satisfeito também. 

Ele sempre quis estar assim com ela, apesar de não se achar merecedor. Depois de ter perdido todas as coisas que trazia alegria pra sua vida, Taliyah acalmava seu coração e dava uma tranquilidade que não sentia à anos. Ela era radiante e conseguia iluminar todas as suas angústias com apenas um sorriso. Fazia-o esquecer de suas preocupações com o passado ao ficar perto ela. Não era um homem de muitas palavras, ainda mais quando o assunto era sobre amor. Era o tipo de pessoa que expressava mais através de suas atitudes do que por palavras. Queria sempre estar perto dela daquele jeito. Mesmo que não conseguisse dizer muito bem, demonstrava tudo o que sentia por ela naquele momento. Carinho, afeto e amor. 

Ele a amava, afinal.