Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 11
Capítulo 10




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A brisa morna batia contra os cabelos de Elora, embaraçando-os sobre o rosto, mas ela não fez menção mexer-se. A sensação do ar em sua pele e da grama sob seu corpo a fazia sentir-se viva, o verão estava no fim e tudo a sua volta iria adormecer até a primavera. Estava apreensiva quanto a isso. A mudança das estações teria algum efeito sobre ela? Até o momento tudo parecia normal, mas não podia deixar de pensar se ficaria tentada a dormir pelos cantos durante o inverno. 

O que era bem possível, já que seus dias não possuíam muita ação.

Desde que chegara à Rivendell caiu em uma rotina entorpecente que a anestesiava entre livros na maior parte do tempo. Ela entendia que aprender com eles era tão importante quanto do lado de fora, quando praticava seus poderes no pomar. Mas... a sensação, o vazio em seu peito não passava. O sentia desde o primeiro dia. Como se sua presença ali estivesse errada, deveria estar em outro lugar. Todos ali a tratavam excepcionalmente bem, mas faltava algo ali que não deixava que Elora chamasse o local de casa. 

Deitada na grama, agora um pouco gelada pelo sereno, relembrou do momento em que chegara em Rivendell, há exatos um mês e dois dias. Não que ela estivesse contando (mas sim, estava). 

 

.o0o.

Levaram quatro dias para atravessar os prados verdejantes de Gladden Fields e a estreita passagem escondida entre as montanhas nebulosas. O caminho era íngreme e escorregadio em alguns pontos, mas era mais seguro do que arriscar-se perto demais da Cidade dos Goblins. Apesar de seu silêncio nos últimos tempos, eles ainda permaneciam na montanha. Aquelas criaturinhas encaroçadas e fétidas, com orelhas e narizes pontudos, sabiam como se fingir de mortos até a hora derradeira. Ainda sim o grupo era cauteloso, as tempestades de verão estavam em seu ápice e a qualquer momento podiam ser pegos desprevenidos. Traiçoeiras, elas eram, e pareciam cair com ainda mais raiva sobre aquelas montanhas, fazendo com que não se enxergasse um palmo a frente no caminho. 

O primeiro pensamento que veio a cabeça de Elora enquanto equilibravam-se entre as rochas foi em como seria Rivendell. 

Ainda não havia parado para pensar em como seria a arquitetura do lugar. Certamente não seria uma fortaleza escondida entre as árvores, como o reino de Thranduil; mas também não seria tão imponente e majestoso como a cidade dourada de Galadriel. 

Cada local refletia exatamente seu soberano e como Lord Elrond, Rivendell seria mais discreta e calma. Um local que promete proteção aos que o procurem sem malícia no coração. 

Quando teve o vislumbre das construções no vale, sorriu pela primeira vez desde que despediram-se de Tauriel. Estava certa. Conforme se aproximavam Elora ouviu uma canção leve e alegre chegar aos seus ouvidos. A melodia doce enchia os bosques de vida, bem como Arwen havia lhe descrevido. 

Rivendell era como um grande palácio em madeira e pedras cinzentas. Não poderia ser descrita como uma cidade, era mais para um santuário. Composto por pequenos casarões espaçados entre si. Haviam menos residentes ali do que nos outros reinos élficos e cada família vivia em seu próprio lar. A maior das construções ficava bem ao centro, ao lado de uma das cachoeiras que escorriam por baixo da ponte de arcos. Bem ao centro, o grande solar erguia-se com dois andares; onde ficavam os cômodos comuns acessíveis a todos, como o grande salão, a biblioteca, as termas e a cozinha. O grande pomar, as plantações e estábulos ficavam mais próximos do bosque; e as oficinas no terreno mais baixo, ao lado do rio.

Enquanto aproximavam-se da entrada da pequena cidade, ouviram o som agudo de um clarim anunciando que o grupo havia voltado em segurança. Quando atingiram a praça circular, já haviam elfos esperando nos degraus para saudá-los. Mas o que atraiu a atenção de Elora naquele dia não foram os rituais élficos ou a estranheza de que todos, um a um, vieram cumprimentá-la; foi a figura parada ao pé da escada, certamente aguardando que o grupo se dispersasse. 

Um humano. Elora podia dizer pelas suas orelhas e porte físico. 

Talvez fosse como ela, apesar do tio não ter mencionado nada do tipo. 

Um elfo altivo vestido em lilás se aproximou, tirando-a do transe. Lindir era seu nome, o braço direito e conselheiro de Elrond. Elora gostou dele assim que o viu, tinha olhos sinceros e um rosto amigável. O humano aproximou-se, saudando Elrond. E ele também falava sindarin! 

Elora aproximou-se curiosa, pedindo silenciosamente para ser inserida na conversa e descobrir de uma vez sobre o misterioso homem. Enquanto o tio a apresentava - Estel era seu nome, ela observou-o. Deveria ser um pouco mais velho que ela, tinha um rosto firme - nobre até, cabelos castanhos nos ombros e olhos da mesma cor. Olhos que a analisavam da mesma forma que Elora fazia. O que fez com que ambos dessem um leve sorriso.

Estel fora acolhido por Elrond após a morte de sua mãe, e permanecera em Rivendell desde então. Elora perguntou mais a respeito do jovem para Elrond, mas o tio deixou claro que não iria compartilhar nenhum outro detalhe. 

Elora fora instalada em sua própria vivenda, era bem próxima da de seu tio mas ainda afastada o suficiente para ter privacidade. 

Sua rotina estabeleceu-se logo no dia seguinte: acordava e comia o desjejum, tinha aulas de sindarin e música com Lindir, as vezes encontrava Estel no campo e treinavam com suas armas por horas. No fim da tarde, Elora embrenhava-se no pomar e ficava ali, tentando fazer os frutos amadurecerem, até que viessem procurá-la. Os momentos mais divertidos eram quando os gêmeos, filhos de Elrond, decidiam aprontar alguma coisa. 

Elladan e Elrohir gostavam de acordá-la no meio da noite para poderem cavalgar no campo ou bisbilhotar a cidade humana próxima, gostavam de vê-los dançarem e ouvir a música que tocavam. As vezes Estel e Légolas os acompanhavam. 

Sim, Elora havia esquecido que ele estava em Rivendell. E ela não esperava encontrar o príncipe de Mirkwood andando calmamente pelo pátio com o arco e algumas flexas nas mãos. A surpresa do momento a paralisou, e por um momento achou que fosse Thranduil. 

A primeira vista ambos são extremamente parecidos, mesma postura ereta e andar firme; mesmo semblante sério, emoldurado pelo cabelo liso quase branco. Elora já estava a meio caminho de encontrá-lo quando percebeu que eram pessoas diferentes. Mas já estava ali e não poderia virar as costas e sair correndo sem parecer extremamente rude. 

— Senhorita Elora, - Légolas disse quando percebeu sua presença. - imaginei quando a conheceria. Estel falou muito sobre suas habilidades com adagas. 

— Ele certamente está tentando zombar de mim. - Elora bufou. - Mas vou vencê-lo um dia, então poderei vangloriar-me para sempre. 

— Perdão, não me apresentei apropriadamente... - Légolas parou de falar quando Elora o interrompeu.

— É muito parecido com o seu pai para que eu não o reconheça, eron (príncipe) Légolas. - Ela sorriu. 

— Esqueci que passou algumas semanas em Mirkwood. - Ele sorriu envergonhado quando começaram a caminhar. - Espero que sua estadia tenha sido agradável. 

— Sim. De fato, pretendo visitá-los algum dia em breve. - Elora o olhou de soslaio. - Poderíamos ir juntos. Sei que todos sentem sua falta. 

— Não é a hora de meu retorno. 

Elora bufou. 

— Arwen disse a mesma coisa sobre voltar para cá. Vocês, elfos, são dramáticos demais. - Elora virou para Légolas quando ouviu-o rir. 

— Posso concordar com isso. 

Ficaram em silêncio. 

Não devia pressioná-lo, Elora sabia. Se ele fosse minimamente como Thranduil ela tinha que ser o mais suave possível. Encontraria um jeito de dizer-lhe que o pai sentia sua falta.  

— Conheceu o rei, presumo. - Ele disse alguns minutos depois, surpreendendo-a. - Como ele está?

— Solitário. - Elora falou. Légolas virou-se, encarando-a. - Mas bem, eu acho. 

Légolas a observou em silêncio antes de afirmar com a cabeça. Ela reprimiu a vontade de gritar com ele. Era tal como o pai, um cabeça dura. Preocupava-se, mas não daria o braço a torcer perguntando mais sobre Thranduil. Elfos tolos. Só porque tem a eternidade pela frente agem assim. Se tivessem um vislumbre de como o tempo é para os homens, veriam como cada segundo é precioso. E esses desentendimentos familiares seriam resolvidos com muito mais facilidade. 

Via-o quase sempre na companhia de Estel, mas não voltaram a tocar no assunto. 

Elora descobriu com o passar do tempo, e graças a língua solta de Elladan, que o motivo para Légolas afastar-se da floresta foi a negativa de Thranduil a contar-lhe sobre sua mãe. 

Pelo visto o que Herenvar lhe contou era verdade. Nem o próprio príncipe sabe o que aconteceu com a rainha. 

 

.o0o.

 

Elora ouviu o corsel relinchar não muito longe. Levantou-se, procurando-o com o olhar. Randír apareceu com a crina cheia de folhas atrás de uma das árvores. Ele adorava os passeios noturnos tanto quanto Elora. Ela podia sentir a alegria e satisfação emanando dele enquanto galopavam pelos prados. Ainda não entendia bem como seu poder funcionava com animais, o único que em que suas sugestões parecia ter efeito era Randír. Mas ele já estava acostumado com ela, então não pode ser considerado um avanço. 

— Eu sei, eu também queria ficar mais. Mas não podemos, você sabe. - Ela o acariciou nas costas enquanto o montava. - Daqui a pouco já vão vir nos procurar.

Pegaram a pequena trilha que margeava o rio, chegando aos estábulos poucos minutos depois. 

Depois que verificou a quantidade de água e feno de Randír, Elora seguiu para seu quarto. Quando chegou, olhou desanimada para os papéis espalhados por sua mesa. Tirou a capa bufando e foi servir-se de uma taça de vinho. 

Quase havia esquecido do porque precisou de uma caminhada no meio da noite. 

Na mesma noite que chegara, sentara-se ali e escrevera uma carta para Thranduil. A princípio dizia a si mesma que era apenas para agradecê-lo por te-la aceito em sua casa - e ter cumprido sua promessa de não contar nada a Elrond, mas logo depois percebeu que era uma desculpa. Não queria que ele se sentisse sozinho. Após muito tempo encarando o papel imaculado, ela finalmente conseguiu escrever um texto que julgasse adequado. Também escreveu para Emel e Tauriel, contou suas primeiras impressões de Rivendell e pediu que elas lhe contassem tudo, até mesmo o que julgassem desnecessário. Elas seriam seus olhos e ouvidos na floresta. 

Olhou os papeis de soslaio, estavam em sua grande maioria rabiscados e amassados. 

Deveria continuar com aquilo? Já havia passado um mês e não obteve nenhuma resposta. Tauriel lhe escreveria mais cedo ou mais tarde, tinha certeza. Mas Thranduil... No fundo sabia que não receberia nada dele. 

Mas boas ações não devem ser feitas pensando no que será recebido em troca. Certo? E era isso que Elora estava fazendo: uma boa ação. Apenas isso e nada mais. Sim, continuaria lhe enviando as cartas. Ele poderia odiá-las, ridicularizá-las ou queimá-las, mas pelo menos teria algo para se distrair além de importunar viajantes perdidos.

Elora sentou-se à mesa, abrindo caminho entre os papeis já usados. Começou a sorrir conforme as linhas foram tomando forma, eram em sua grande maioria sobre frivolidades. Também o perguntara se havia tido a oportunidade de utilizar o soro da verdade em outro convidado, pois havia lido sobre suas propriedades e a combinação é muito melhor utilizada se ingerida em uma noite de lua cheia. Elora riu, era uma informação importante. Ela tinha o dever de lhe contar caso ele não soubesse. Também perguntou sobre Valle, e se Bard havia feito algum contato. 

Passou-se outra semana até que finalmente Lindir lhe entregara um envelope meio amassado. 

Elora correu para o pomar, para o seu lugar favorito entre as macieiras. Naquele pequeno espaço ainda era primavera, um pedacinho de verde preservado entre o marrom desbotado do inverno. Elrond pediu que ela praticasse naquele pedaço, não queria desestabilizar a ordem natural do pomar inteiro. 

A carta era de Tauriel. 

"Querida Elora, 

Peço desculpas pela demora, tivemos que dobrar nossas patrulhas nas últimas semanas. Mas não se preocupe; fora um grupo de Trolls vagando pela encosta do rio, não achamos nada demais. Teve uma aranha esquisita que Herenvar jurava que possuía duas cabeças (imagine!), mas no fim havia apenas uma. O outro era apenas um caroço enorme e peludo. Mas foi divertido, saí com algumas moedas extras pela aposta. 

Emel está nas nuvens, foi oficialmente para os salões de costura. Ela está trabalhando em um presente para você, para seu aniversário no final da próxima primavera (mas é surpresa).

Quanto à Valle, não possuo notícias. Não recebemos nenhuma correspondência ou sinal de Bard; Thranduil não enviará emissários até que a cidade dê o primeiro passo, você sabe. E Bard não parece muito inclinado a reconsiderar; talvez a situação melhore em alguns meses. 

Espero que esteja gostando de Rivendell, nunca tive o prazer de visitá-los mas já ouvi muitas histórias interessantes. Mas não deixe o treinamento de lado, quando vier nos visitar eu espero que você finalmente consiga acertar o alvo. 

Sentimos sua falta.

Com amor, 

Tauriel"

Elora leu o pedaço de papel duas vezes antes de dobrá-lo e colocá-lo no bolso da calça. Sinceramente ela não sabia se estava rindo ou chorando. Tauriel iria se surpreender, Elora estava tendo lições de arco e flecha com Légolas e tinha certeza que se continuassem no ritmo em poucos meses ela seria considerada adequada. Adequada não era boa, nem ótima. Mas ainda tinham muito tempo para chegar lá. 

Ficara feliz por Emel, ela tinha um dom e seriam tolos de desperdiçá-la nas cozinhas (embora seus doces fossem divinos). Mas como descobriram que seu aniversário era no final da primavera? Ela nunca comentara sobre isso em Mirkwood. O tio coincidentemente havia levantado o assunto no dia anterior. Estel comemorava algumas semanas antes e assim Elrond aproveitaria as datas próximas para oferecer uma festa aos dois. Elora aceitara prontamente, seria uma excelente ocasião para convidar Tauriel e Emel para visitá-la. 

Elora secou as lágrimas das bochechas com o dorso das mãos enquanto levantava-se. Escreveria para Tauriel naquele momento mesmo. 

Deveria escrever para Thranduil? Elrond certamente lhe enviara um convite, mas seria mais pessoal se ela mesma lhe convidasse.  

 

.o0o.

Com o retorno da primavera, Elora já havia dominado a natureza dos frutos, mas as árvores e as flores ainda eram um desafio a parte. Pareciam estar mais ligadas ao seu emocional subconsciente do que com sua força de vontade. Precisava esforçar-se muito para fazer meia dúzia de peônias brotarem, só para esfarelarem alguns segundos depois. Era como se conjurasse apenas a aparência do ser, e não a vida em si. 

A falta de resultados começava a fazê-la questionar sua capacidade. Talvez precisasse de anos para conseguir outro avanço, o que infelizmente não era bom para ninguém. Os outros tentavam não comentar sobre os avanços de Sauron ou os ataques nas estradas quando ela aparecia, mas Elora sabia. Vira no Espelho de Galadriel a destruição que ele traria àquelas terras; e quando ele viesse ela não estaria pronta. 

Sempre que começava a perder a fé em si mesma procurava Elrond. O tio tinha a estranha, mas muito bem vinda, habilidade de fazer com que todos seus medos e frustrações evaporassem no ar. Mesmo que, na maioria das vezes, ele não fosse tão claro em suas instruções quanto Elora queria, ela se sentia com o ânimo renovado. 

Sempre lembraria-se do que Elrond havia lhe falado quando levara uma tarde inteira para fazer um único - e pequeno - botão de rosa se abrir: "A terra é a força das árvores, mas também é a delicadeza das flores. Raiva, dúvida e frustração não a farão evoluir. Com a natureza você precisa ter calma, ter certeza e acreditar realmente no que quer e no que pode fazer, sendo gentil." 

Ela tentava ser gentil e delicada, mas era difícil não sucumbir a raiva depois de tantas falhas. 

Havia passado o fim da manhã e o início da tarde com um vaso cheio de terra ao seu lado na biblioteca. Na teoria era tudo bem simples, o primeiro passo era visualizar uma flor conhecida (ela não podia materializar plantas, ervas ou árvores que nunca havia visto - mesmo que as conhecesse por nome); pensar em seu cheiro, suas cores, a textura das pétalas e das folhas; em seguida aplicar sua vontade e imaginá-la brotando da terra. 

Mas na prática, nada era tão simples. Cada vez que tentava e falhava, Elora imaginava Yavanna balançando sua cabeça para ela, desapontada. Imaginando como pode escolher uma alma tão fraca para proteger suas amadas criações. 

Lia pela milésima vez os capítulos sobre a deusa no livro das eras, esperando ter algum esclarecimento milagroso quando Lindir e Estel entraram pela porta. Lindir com vários livros e rolos de pergaminho que caiam por seus braços enquanto ele andava apressado. 

— Não entendo porque seria um problema recebê-lo. - Disse Estel, seguindo-o com seu sorriso zombeteiro. - Seria um ato de boa fé, amizade. 

— Definitivamente não acho uma boa ideia. Não se lembra do que fizeram aqui da última vez? Por Eru, tivemos que demolir e reconstruir a fonte da lua no jardim de cima! 

O desespero na voz de Lindir fez Elora prestar mais atenção.

— Do que vocês estão falando? - Ela perguntou enquanto fechava o enorme livro, fazendo com que flocos de poeira voassem pelo ar. 

— Anões. - Lindir disse com a intensidade perturbadora que Elora já ouvira antes. 

Emel referira-se aos pequenos barbudos da exata forma. 

Certamente os dois poderiam aproveitar a companhia um do outro e passar algumas horas praguejando sobre a vilania dos anões. 

— Nem todos são tão ruins. - Estel ria, encostando-se em uma das mesas enquanto cruzava os braços.

— Meu senhor, - O elfo fechou os olhos, respirando profundamente antes de prosseguir - se quiser convidar este seu conhecido... deve pedir pessoalmente a permissão para Lord Elrond. Não pretendo me envolver com tais criaturas novamente! 

Tendo deixado sua posição bem clara, Lindir deixou os papéis sobre a mesa de Elora e saiu bufando pela porta.

— Não devia provocá-lo, Estel. - Elora controlava um sorriso. - Lindir está com a cabeça cheia com os preparativos da festa, deixe-o cuidar de tudo em paz. 

— Ainda falta uma semana. - Ele respondeu com despreocupação. 

— Posso lhe garantir que para Lindir é como se fosse amanhã. Sabe como ele é perfeccionista. - Elora arrumou suas anotações em uma pequena pilha de papéis manchados. 

— Ainda está estudando? - Ele perguntou preocupado. 

— Sim. - Elora suspirou. - Já li tudo o que podia e ainda não entendo o que tenho que fazer para funcionar. 

Estel abriu um sorriso maroto que fez Elora desconfiar do que ele falaria em seguida.

— Você vai chegar lá, mas lhe garanto que não achará a resposta aqui. - Ele olhou ao redor. 

— Elladan quer sair de novo? - Ela já sabia aonde aquilo iria dar. 

— Estamos trabalhando nisso. - Estel sorriu. - Contamos com sua presença?

— Sabe que sim. - Elora deu-lhe um sorriso cúmplice. 

Havia ficado muito próxima de Estel, ele era uma ótima companhia. Claro, tinha Elladan e Elrohir que eram de fato seus parentes; mas os gêmeos eram muito diferentes dela. Eram agitados e incansáveis aventureiros. Se Elora fosse desbravar aquelas terras, certamente não trilharia o mesmo caminho dos gêmeos. 

Estel ajudava-a a guardar os livros em seus respectivos lugares quando Amyna, sua dama de companhia, apareceu no arco da porta meio arfante.

— Minha senhora, uma comitiva com as bandeiras verdes de Mirkwood está chegando aos nossos portões. - Disse a elfa com um leve sorriso nos lábios. Amyna ouvira Elora falar o suficiente para saber que ela se interessaria pela notícia. 

— Agora? - Elora sentiu um leve arrepio passar por suas costas. 

— Sim, neste exato momento. Lindir já foi recebê-los. 

Elora segurava-se para não começar a dar pulos de felicidade. Virou-se para Estel, mas ele já sabia o que ela ia dizer.

— Pode ir, eu termino de guardá-los. 

— Obrigada! - Elora disse antes de sair andando o mais rápido que podia sem perder a graciosidade élfica que estava aprendendo. 

Chegou ao pátio de entrada com Amyna em seu encalço. 

Elrond estava presente, recepcionando o grupo; e no meio do pátio, conversando com Lindir estava Emel. Elora chamou-a e correu para abraçá-la quando a elfa virou em sua direção.

— Não acredito que está aqui! - Elora afastou-se mas ainda segurava-a pelas mãos. 

— Sim! - Emel riu antes de sussurrar: - Devo confessar que também fiquei muito surpresa quando Aran Thranduil me autorizou a vir. 

Quando a ruiva mencionou Thranduil, Elora sentiu o sorriso vacilar. Então ele não viria.

Elora sentiu os olhos de Emel vasculharem sua reação e sorriu novamente. 

— Pare de tentar ver através de mim. 

— É um hábito difícil de perder, minha senhora. - Emel sorriu desconfiada. 

— Vejo que já conheceu Lindir. - Elora falou mais alto para atrair a atenção do elfo.

Emel olhou de soslaio e sentiu as mãos suarem quando percebeu que ele se aproximava novamente. 

— Lindir está cuidando de todos os detalhes da comemoração, - começou Elora. - e está fazendo um excelente trabalho, mesmo que os aniversariantes em questão não o estejam ajudado muito no quesito de decisões e escolhas. É aonde eu gostaria que me ajudasse Emel. 

Os dois elfos olharam desconfiados para Elora. 

— A partir de hoje, se aceitar, ajudará Lindir nos preparativos finais. Sendo incumbida de todas as decisões que caberiam a mim. 

— Minha senhora, não acho que eu esteja... 

— Bobagem! - Elora cortou-a. - Confio plenamente em você.  

— Como desejar, Elora. A ajuda será muito bem vinda. - Disse o elfo. 

Lindir e Emel entreolharam-se sem jeito. A elfa ainda esfregava nervosamente as mãos quando as bochechas de Lindir voltaram a ficar avermelhadas. 

Elora olhava contente a cena quando Elrond a chamou. Todos os guardas ainda estavam em suas montarias, exceto um. O qual encontrava-se em pé ao lado de Elrond com um baú nas mãos. 

— Minha senhora, - o elfo se aproximou, entregando-lhe a caixa de madeira. - Aran Thranduil manda suas felicitações. 

Novamente Elora sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao ouvir o nome dele.

— Hantalë (Obrigado). - Elora disse sentindo a boca seca. - Transmita a sua majestade meus agradecimentos pela amável lembrança e pela presença de Emel. 

O elfo assentiu e montou novamente em seu cavalo. 

— Vocês já vão partir? Poderiam ao menos descansar esta noite. - Elora falou indignada dando um passo a frente. Era uma viagem muito longa para voltarem no mesmo dia em que chegaram. 

— Agradecemos o convite, minha senhora. Mas nossa presença é aguardada na floresta. 

Com isso os guardas partiram em direção a fenda entre a montanha sem olhar para trás, deixando Elora com um pequeno aperto no coração. Devia estar acontecendo alguma coisa para que Thranduil exigisse o retorno rápido de seus homens. Mas durante todos esses meses Tauriel não havia comentado nada. Perguntaria a Emel assim que tivesse chance.

— Não se preocupe. - Disse Elrond ao seu lado. Elora quase deu um pulo de susto, havia se esquecido da presença do tio. 

— Eles ficarão a beira da exaustão por emendarem a viagem de volta desta forma. Algo deve estar errado. - murmurou.

— Thranduil é um pouco arisco, assim como os que vivem sob seus cuidados. Não gostam de permanecer muito tempo fora da floresta. Fico surpreso e imensamente feliz pela visita de Emel. Espero que isto se torne um hábito. - Elrond sorriu e Elora o retribuiu.

Elrond podia estar sorrindo, mas seus olhos não mentiam. Havia algo acontecendo sim. E ela iria descobrir.  

 

.o0o.

Enquanto Lindir ajudava Emel a instalar-se em uma das vivendas próximas, Elora correu para seu quarto com a caixa nas mãos. Estava com sentimentos conflitantes para com o embrulho. Queria muito abrir, talvez tivesse finalmente uma carta ou pelo menos um bilhete. Mas por outro lado alguma coisa a impedia, não devia estar criando tantas expectativas. 

Elora colocou a caixa na cama e sentou-se ao lado. Respirou fundo enquanto desenrolava o laço, era um presente... dele. Mesmo que fosse um pequeno pedaço de papel com seu nome escrito, ou uma daquelas escovas de cabelo pomposas, ela estaria feliz. 

Mas nem de uma forma, nem de outra ela estava preparada para o que viu dentro da caixa.   

Ainda surpresa e assustada, Elora tocou as pedras vermelhas com os dedos. Era a joia mais linda que ela já havia visto: uma tiara com tiras brilhantes entrelaçadas, ornamentada com folhas de cristais e pequenos rubis. 

Elora pegou-a e posicionando-se em frente ao espelho, colocou-a em sua cabeça. Não era um modelo tradicional élfico, o qual ficava no meio da testa, nem humano, o qual ficava em cima da cabeça. A joia era uma mistura harmoniosa dos dois estilos. Assim como Elora. 

Ela sentiu os olhos marejarem enquanto encarava o reflexo a sua frente. A coroa em sua cabeça lhe dava um ar poderoso, invencível. E era assim como ela se sentia, como se pudesse fazer qualquer coisa. 

Por que Thranduil lhe presentearia com algo assim?

— Por Eru! - Emel exclamou ao entrar no quarto e ver Elora. A elfa carregava um pacote nas mãos.

A menina imediatamente retirou a coroa da cabeça, pousando-a com cuidado na cama. A elfa aproximou-se devagar, alternando o olhar admirado entre a joia e Elora. Vendo a mente de Emel trabalhar, Elora adiantou-se. 

— Antes que diga qualquer coisa, sim. É um presente de sua majestade. - Elora virou-se novamente para o espelho, tentando ignorar o presente e o olhar curioso que Emel lhe dirigia. 

— É um presente muito grandioso. - Emel sorriu, pousando o embrulho na cama. - Aran Thranduil lhe deve ter na mais alta estima. 

— Não há porque exagerar. - Sua voz saiu mais nervosa do que pretendia. - Não há nenhum bilhete ou qualquer coisa do tipo. Ele provavelmente se viu na obrigação de enviar um presente depois que eu o convidei. E certamente deve ter milhares de joias guardadas para ocasiões deste tipo... deve ter enviado a primeira em que pôs seus olhos. 

Emel encarou-a com a sobrancelha erguida. 

— Não diminua seu valor, minha senhora. E acredito que a esse ponto conheça-o bem para saber que Aran Thranduil não faria nada que não quisesse. O simples fato de ter lhe enviado isso já diz muita coisa. 

Elora fechou os olhos, respirando fundo. Ela havia perdido os argumentos.

Emel tinha razão, ele nunca faria nada que não quisesse.

— Como... como ele está? - Elora perguntou relutante. A elfa abriu o sorriso, satisfeita por Elora parar de discutir e finalmente perguntar o que queria saber. 

— Irritado. Ainda mais nos últimos dias... 

— Está acontecendo alguma coisa na floresta? Não é? - Elora perguntou preocupada.

— Não. - Emel desviou o olhar.

— Não está me passando muita confiança no momento. Fale-me a verdade. - Pressionou-a.

— Estão acontecendo alguns ataques esporádicos nas estradas principais. - Emel falava rápido. - E um grupo de Wargs foi avistado nos arredores de Mirkwood. Não é muito comum, mas também não é perigosamente alarmante. Somos apenas muito cautelosos e gostamos de tomar precauções. Tauriel e eu combinamos de não mencionar nada para você, já tem muita coisa em sua cabeça no momento. 

— Vocês não deviam esconder essas coisas de mim. 

— Não queríamos que se preocupasse. Nas últimas cartas você estava tão triste por causa do treinamento que não quisemos piorar as coisas.

— Eu entendo. - Elora suspirou. - Mas tem que me prometer que não farão mais isso. Preciso saber o que está acontecendo lá fora, e se as pessoas daqui não me falarem, preciso que vocês o façam. 

Emel concordou com a cabeça.  

— E como está o treinamento? - a elfa perguntou depois de alguns momentos.

— A mesma coisa. - Elora sentou-se na cama ao seu lado. 

— Não se culpe tanto. Tudo vai dar certo, tenho fé em você. - a elfa sorriu. 

— Pelo menos uma de nós duas tem. 

Emel rolou os olhos enquanto colocava o embrulho que trouxera no colo de Elora. 

— Para te animar. - a elfa sorriu. - Não está a altura do primeiro, mas espero que goste. 

Elora começou a desembrulhar o pacote e puxou o vestido amarelo para fora. O tecido fora bordado com pedras amareladas formando borboletas de todos os formatos. 

— Emel... é lindo. - Elora levantou-se, rodando com o vestido em frente ao corpo. 

— Você gostou mesmo? Sei que não gosta de exageros mas...

— Ele é perfeito. - Elora abraçou-a. - Obrigada. 

— Fico muito feliz. Foi o primeiro que fiz inteiramente sozinha. - Emel abriu um grande sorriso, orgulhosa. - Quando soubemos de seu aniversário, achei o motivo perfeito para começar a desenhá-lo.

Elora ainda dançava com o vestido em frente ao espelho, quando uma ideia surgiu. 

— Talvez eu deva usá-lo em seu casamento. - Elora sorriu quando viu Emel corar.

— Não tive tanto trabalho para que você o deixe no armário por anos. - a elfa riu. 

— Talvez aconteça antes do que você espera. 

Elora soube, pelo pequeno sorriso que surgiu no canto da boca de Emel, que talvez tenha razão. 


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Notas finais do capítulo

Demorou uma era inteira, mas consegui postar o capítulo! :)

Espero não demorar tanto com o próximo, mas se eu demorar peço desculpas adiantadas. 'rs
Atrasei tanto com esse porque foi meio que um cap. de transição, precisava colocar uns pontos e fazer a passagem de tempo. Já tenho a história toda rascunhada até o final, então acho que o próximo vai ser mais fácil de desenrolar.

E por mais que ainda falte muita coisa acontecer, já estou pensando na próxima história e gostaria da opinião de vocês. Estou pensando em escrever sobre Perséfone e Hades. O que acham? Leriam?



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