All I Want escrita por Laurent


Capítulo 2
Pop vs Hipster


Notas iniciais do capítulo

Aí está o primeiro cap, gente! Bjs no ♥ :* e comentem se quiserem :DD



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André estava deitado na grama, as mãos apoiando a cabeça, observando as nuvens espessas que passavam pelo céu da tarde alaranjado. Eu, bem ao seu lado, fingia encará-las também; mas na verdade o que eu estava olhando (bem de soslaio) era ele. Um sorriso leve percorria sua expressão enquanto seus olhos erguiam-se sonhadores para o lindo cenário vespertino.

— Existe algo melhor do que não fazer absolutamente nada nas férias? Ficar de bobeira e tals — indagou ele, suspirando tranquilamente. — Tudo isso é impagável.

— É sim — comentei, dando um sorriso torto. Nós estávamos no Parque do Igapó, um dos melhores lugares da nossa cidade, no qual íamos toda semana aos domingos. — Não existe coisa melhor do que isso.

André abriu ainda mais o sorriso, semicerrando os olhos e me lançando um olhar empolgado. Assim que ele voltou a encarar o céu, continuei imediatamente a observar seu rosto de forma discreta, sem que ele percebesse. Ele estava tão feliz; E eu adorava vê-lo assim. Ele retirou uma das mãos detrás da cabeça e repousou-a na grama.  Minha mão sentia o forte impulso de se esticar e tocar na dele. Mas eu sabia que não iria fazer isso. Porque eu não tinha coragem. Não ainda.

— Quero ir na festa da Maria — disse André de forma repentina, e isso me trouxe de volta à realidade bruscamente. — Vamos?

Refleti por alguns momentos, pensando nos motivos que levavam André a querer ir a essa festa. Maria era uma de nossas colegas de classe, e era notoriamente uma das garotas mais atraentes que tínhamos em nosso círculo de amigos. Não era surpresa nenhuma que André ou qualquer outro cara se interessasse misteriosamente por ir a todo lugar aonde ela ia. Só que isso me deixava irritado. Eu sentia ciúmes da situação, e me sentia rejeitado.

— Quer ir ou não? — ressaltou ele ao observar minha demora em responder.

— Ah — comecei. — Eu não tô com muita vontade de ir, na verdade.

— Por que não?

— Todo mundo vai ficar louco nessa festa — menti. Ou nem tanto assim.— As festas da Maria são muito zoadas.

André me encarou, confuso.

— Eu não acho.

Porque você quer ficar com a Maria, talvez seja por causa disso, não?, tive vontade de falar. Mas era outro daqueles momentos que eu não tinha coragem de enfrentar.

— Não sei, André... — falei, ao invés disso. — É amanhã?

— Sim, é. Ah, vamos, Gabs. Se você não for, não vai ter nenhuma graça pra mim.

Apesar da minha chateação, isso me deixava feliz. Eu gostava de ser importante para André, de representar algo pra ele. De ser uma companhia com quem ele gostava de passar o tempo. Isso era meu orgulho, um orgulho que eu havia conquistado através dos meses que passamos juntos.

— Ok — respondi. — Posso fazer um esforço. Você sabe que eu não sou fã de festas, ainda mais dessas em que o povo exagera demais.

Ele riu, balançando o pé na grama.

— Você é muito hipster antissocial — disse.

— Algum problema? — brinquei. — E você é muito pop.

— Eu não sou pop. Prefiro estilo underground.

— E isso seria um tipo de coisa hipster?

— Não... quer dizer... ah, esquece — terminou. — Acho que de um jeito ou de outro sou um pouco hipster também. Não que eu goste disso.

— Você só será hipster de verdade quando tirar uma foto de chapéu e óculos escuros num show do Lollapalooza.

— Com filtro preto e branco.

Nós dois rimos muito depois disso. O céu ficava de um tom cada vez mais escuro, porém a luz ainda estava muito presente. A pele de André cintilava com os raios de sol, e encará-lo me fazia querer nunca mais parar de rir. Não queria que aquele momento acabasse. Eu não queria ficar longe dele.

— Preciso ir, cara — disse André, porém, levantando-se após algum tempo. — Minha mãe vai trabalhar daqui a pouco.

Suspirei, um pouco triste. Quase todo dia era assim, exceto nos fins de semana. André precisava estar em casa antes das sete, pois a mãe — que, aliás, era única pessoa de sua família responsável por ele — trabalhava na administração de uma faculdade particular. André já me convidara para passar o tempo com ele e a irmã, porém meus pais não gostavam que eu chegasse em casa muito à noite, da mesma forma.

— A gente se vê amanhã? — disse André, me envolvendo em um abraço amigável.

— A gente se vê amanhã. — confirmei, embora não com o mesmo entusiasmo.

A pior parte é que André e eu morávamos em cantos opostos da cidade, o que tirava vários minutos da nossa convivência. Imagine quanto tempo a mais teríamos juntos se nossas casas ficassem próximas uma da outra? Voltar juntos todo dia da escola... voltar juntos de qualquer lugar. Eu já até tinha falado pra minha mãe que gostava da ideia de nos mudarmos para outro bairro — porém ela sempre me olhava como se eu estivesse escondendo algum motivo especial por trás disso. E obviamente ela estava certa.

Assim que nós dois nos despedimos, peguei minha bicicleta e desci a rua que me conduziria até o bairro da minha casa. Olhei para trás, a fim de ver onde André estava, mas ele já havia cruzado a esquina, também de bicicleta. Subitamente senti um pequeno vazio bem dentro do meu peito. Mas eu procurava ignorá-lo: sabia que iria encontrar André novamente no dia seguinte ou falar com ele no Whatsapp ainda durante aquele dia. Sua presença me agradava, me fazia esquecer de muitos problemas.

Lembrei-me do sonho com ele que eu havia tido noite passada: eu realmente tinha um enorme desejo por ele. E queria mais do que ele estava me dando. Bem mais.


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