All I Want escrita por Laurent


Capítulo 17
Fotos


Notas iniciais do capítulo

Oi genteeeee! Espero que curtam esse cap! Bjs ♥



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Quando cheguei em casa, as luzes estavam apagadas. Não era muito tarde (23:15, pra ser exata), por isso, quase não vi minha mãe sentada na mesa da copa, de roupão e pernas cruzadas, me encarando enquanto eu passava.

— Onde você estava? — quis saber ela.

— Com o Gabriel — respondi.

Ela empinou o nariz pra cima e fez uma cara de quem estava com uma indigestão.

Acendi a luz.

— A essa hora? — ela insistiu.

Deixei minha bolsa em cima da mesa e fui em direção ao sofá, sentando-me e ficando de costas para ela.

— São onze e quinze — falei.

— Onze é quinze é tarde para estar na casa de outro menino.

Demorei alguns segundos pra responder.

— Ele é meu amigo, mãe. Só isso. E nós estamos de férias.

Atrás de mim, ouvi um barulho de quem se ajeitava na cadeira, inquieta.

— Não acho certo, mesmo assim.

A maioria das outras mães diria isso por motivos tais como "é perigoso andar à noite na rua" ou "fiquei preocupada com você", mas os da minha mãe certamente não eram esses, eu tinha certeza.

Aquela conversa poderia perfeitamente ter acabado ali.

— Acho melhor você não sair mais à noite. — declarou ela.

Suspirei, começando a teclar no celular.

— Não entendo qual o problema — respondi. — Você sempre me deixou sair durante a noite, de dia, até de madrugada.

Na verdade, eu sabia qual era o problema pra ela.

— Mas agora não deixo mais — respondeu. — Pelo menos à noite.

— Posso saber por quê?

Um pequeno intervalo de tempo se passou até ela responder, como se estivesse inventando alguma coisa.

— É perigoso — falou, por fim.

Que era perigoso, talvez. Mas eu tomava o máximo de cuidado, e ia e voltava de Uber. Minha mãe sabia disso.

— Hum — respondi.

Depois disso, fui pro meu quarto e fechei a porta.

*

Eu passava muito tempo com Gabriel. Desde que ele e André haviam se desentendido, ele me procurava pra poder desabafar. E eu o procurava também, porque gostava dele. Éramos bons amigos agora.

— Você acha que a sua mãe não gosta de mim? — quis saber ele, certa vez, quando fora me visitar. — Às vezes ela me olha de um jeito estranho, sei lá...

— Não dê muita atenção a ela — falei. — Ela é assim com as pessoas.

Mas queria que não fosse.

— Espero que o fato de eu vir até aqui não esteja incomodando vocês...

— Você sabe que não, Gabs. Por que incomodaria?

Quando não estávamos conversando, jogávamos videogame na casa dele ou assistíamos alguma coisa na Netflix. Poucas vezes eu tinha feito algo parecido com as minhas antigas amigas. Não sabia nem se eu conhecia o verdadeiro significado de amizade.

Dani, Victória e Ana Julia eram da minha antiga escola, meninas endinheiradas que não viam muita coisa além de suas próprias vidas. Estavam comigo na última festa que eu dera. Ainda conversávamos de vez em quando, mas a cada dia que passava, eu me afastava mais delas, e elas de mim. Elas se tornavam um trio, e eu me aproximava de Gabriel. Acho que todo mundo saía ganhando desse jeito.

O que me incomodava e me fazia sentir uma ponta de culpa, era o fato de que eu sabia muito bem com quem Gabriel (até algum tempo atrás) passava seus dias. E não queria de forma alguma causar a impressão de que estava tomando o lugar dessa pessoa, porque não era minha intenção. Esperava ajudá-lo com toda a situação que ele passava, e não servir de "substituta" a uma amizade como a dos dois.

Ele realmente sentia falta de André. Às vezes, quando assistíamos Friends jogados no sofá da minha sala e comendo pipoca, eu olhava para Gabriel bem de soslaio, percebendo sua expressão. Eu sabia bem quando ele estava tendo um daqueles momentos. Era como se estivesse viajando mentalmente para outro lugar. Em algumas partes da série nas quais eu ria, ele parecia não se importar muito.

Como eu posso ajudar? Debatia em minha própria mente. Realmente esperava que as minha conversas com ele o estivessem ajudando. Nos últimos dias, ele ficava em casa até um pouco antes de escurecer, e depois ia embora.

— Preciso ir pra casa — falava ele.

— Não tem problema ficar mais um pouco — dizia eu. — O episódio tá quase acabando.

— Eu... tenho que ir, mesmo.

— Tudo bem. Qualquer coisa, é só chamar.

— Ok. Tchau, Maria... e obrigado por hoje.

Eu lhe devolvia um sorriso em resposta.

*

Depois de ter tido a breve conversa desagradável com a minha mãe, resolvi deitar na cama e ler alguma coisa. Folheei os primeiros capítulos de Dom Casmurro, e mais tarde, fui tomar banho. Quando estava de pijama, liguei meu notebook e naveguei aleatoriamente pelo feed de notícias do Facebook. Deparei-me com uma foto de filtro tão colorido que meus olhos se irritaram à primeira vista: Ana Julia tirava uma selfie sorridente, enquanto Victória fazia seu melhor cosplay de duckface e Dani sustentava uma expressão desafiadora. Legenda: Um é pouco, dois é bom, mas três é demais! 568 curtidas, 98 "Amei", 10 "Uau", 23 Comentários, mesmo com a legenda brega. "Love U!", disse uma outra garota da mesma escola delas. "Vocês são lindas demais, pqp!", comentou um menino com quem eu havia estudado há alguns anos.

"Três é demais!". É, aquela frase deixava bem claro que eu estava oficialmente fora do quarteto. Não sabia exatamente como me sentia em relação a isso, mas não era uma sensação ruim.

Fechei o computador, fui até a cozinha para tomar um copo de leite (minha mãe já fora dormir). Escovei os dentes, apaguei a luz do quarto e me deitei na cama. Deixei o abajur ao meu lado aceso numa luz fraca, enquanto eu me envolvia com os lençóis.

Abri a gaveta do criado. Sabia que não podia mais adiar aquele momento. No fundo do compartimento, peguei uma foto velha, do tipo de foto que você não vê mais hoje em dia, no século da tecnologia e fotos virtuais. Era uma foto real, imune de filtros e correções, palpável, que sentia os efeitos do tempo mas também ficava mais interessante com o passar dele.

Havia um homem. Ele colocava a mão nos meus ombros pequenos, pois na época eu era muito nova. Eu usava um vestidinho rosa-pastel com botões e mangas. Minha expressão não era das melhores: lembro que eu tinha perdido meu hamster horas antes daquela foto. Mais tarde, eu o encontraria, após quase ter pisado em cima dele, que milagrosamente ainda estava vivo.

O homem da foto sorria, tentando me animar. Não era para a foto ter saído assim. Mas, do jeito que saiu, ficou perfeita.

O aniversário dele é daqui a 3 dias, disse uma voz em minha mente.

Antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, meu celular vibrou incessantemente em cima da cama. Era Gabriel.

— Oi — falei.

— Oi — algo na voz dele estava diferente.

Esperei que ele dissesse alguma coisa, mas ele não disse nada.

— E então? — comentei.

Alguns segundos se passaram até que me respondesse.

— Ele vai embora amanhã. Pra Curitiba.


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Notas finais do capítulo

Playlist do Gabriel:
https://open.spotify.com/user/laurent123373/playlist/5jeQl18nsJ8q6bzt68ummb

Playlist do André:
https://open.spotify.com/user/laurent123373/playlist/7egp4Rp3P3qfssGqlXGRwR

Playlist da Maria:
https://open.spotify.com/user/laurent123373/playlist/3Ifa72tfUJZzIWkf7FZ2ao