All I Want escrita por Laurent


Capítulo 13
Desaparecido


Notas iniciais do capítulo

Sim, gente, eu demorei anos. Tudo q posso dizer é: ME DESCULPEEEM PLS! Eu sei que eu também deixei muitos comentários sem resposta, mas vou ler e responder cada um hoje mesmo (ou no máximo amanhã!). A faculdade tomou 99% do meu tempo, e estava impossível escrever. Mas adivinhem quem entrou em greve agora?? EXATAMENTE! P.S: eu ainda tenho muita coisa pra fazer huashua n significa que eu vá postar todo dia. Eu queria agradecer a todos vocês que não desistem dessa história, estão sempre lendo ou comentando, vcs estao no meu ♥ seus lindossss!

É isso, aproveitem o cap! Bjsssss



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Começo do segundo ano. Era a primeira semana de aula, e os professores apenas explicavam de forma tediosa como seria o período letivo dali para frente. Ninguém havia dormido direito por conta do relógio biológico desregulado pelas férias, e eu fazia esforço para não deitar a cabeça na carteira e ir para outra dimensão. Era tudo tão chato e maçante.

Dessa vez, Gabriel e eu escolhemos lugares próximos para nos sentar na sala de aula, diferentemente do primeiro ano, quando éramos obrigados a nos separar sempre que o sinal tocava. Sentávamos lado a lado, e isso tornava o dia mais fácil de lidar.

Uma carteira da sala, porém, permanecia vazia.

As pessoas começaram a notar a ausência de Eduardo quando perceberam que não havia mais furtos na sala de aula. Às vezes, Gabriel me lembrava do episódio da blusa, e nós gargalhávamos ao pensar em tudo o que acontecera. Mas o tempo foi passando, e ríamos menos e menos a cada vez que tocávamos nesse assunto.

— Ele deve ter algum motivo pra faltar assim — disse Gabriel, certa vez, após soltar um riso seco, quase como se estivesse preocupado com Eduardo. Parecia que tudo já tinha perdido a graça.

— Deve — concordei. — Deve sim.

Suspiramos, comendo nossos lanches da cantina na hora do intervalo, sentados no chão do corredor. Poxa, eu não acreditava naquilo, mas de certa forma, nós realmente estávamos um pouco preocupados com Eduardo. Que ele sempre roubava as coisas dos outros e era um idiota, bem, isso era óbvio. Mas fazia tempo que ele não nos incomodava, mesmo no fim do primeiro ano. É certo que, durante as férias, ninguém o viu (nem os garotos que andavam em seu encalço na escola gostavam dele realmente).

— Eduardo? — perguntavam os professores na hora da chamada. — Eduardo Marinho Rinaldi Rosa?

— Esse é verdadeiro nome dele? — cochichou uma garota atrás de nós, entre risos.

— Ele não está aqui, professor — respondi.

O professor de Matemática balançou a cabeça e fez um gesto irritado com a caneta.

— Alguém diga a esse menino que ele vai reprovar por faltas já no começo do ano! — e riscava algo na lista. — Ele está doente, ou alguma coisa assim?

Cruzei as mãos na carteira, pensando no que poderia ter acontecido. Encarei Gabriel ao meu lado, e ele deu de ombros.

— Ninguém sabe — disse a menina que, há pouco, caçoara do nome estranho de Eduardo. — Não o vimos desde... bem, desde o ano passado.

O professor ergueu as sobrancelhas, mas sem parecer muito impressionado. Com certeza ele também conhecia pelo menos um pouco da má reputação de Eduardo e entendia o porquê de as pessoas manterem uma certa distância dele.

— Vou falar com o diretor e entrar em contato com alguém da família... Esse menino não pode continuar faltando desse jeito. — E o professor voltou o olhar para a lista de chamada novamente. — Fabiana?

— Aqui! — respondeu uma garota logo atrás de nós.

A aula foi extremamente arrastada naquele dia. Meus olhos se fechavam por mais tempo do que cada piscada exigia, e eu me recusava a dormir porque precisava anotar tudo. O professor de Matemática havia marcado uma prova para a próxima semana, e todos estavam um pouco tensos com isso.

— Vou me ferrar totalmente — disse Gabriel, quando saímos da aula, exaustos.

— Tirou as palavras da minha boca — respondi.

— Vou passar o fim de semana todo estudando, ah, vou.

Continuamos a andar em direção ao corredor que dava para a saída.

— Eu meio que estou me sentindo mal pelo Eduardo — falou Gabriel, como se estivesse dizendo algo não muito racional.

— Eu também estou — e tive a mesma sensação.

— Ele vai perder a prova.

— Vai.

— Isso não tá certo.

Ele suspirou e fez uma cara parecida com a de quem come limão azedo.

— O que eu tô dizendo? — perguntou-se. — Eu odeio o Eduardo.

— Mas isso não significa que nós desejemos coisas ruins pra ele.

— É. É, você tem razão.

Quando chegamos no portão da escola, Gabriel parou subitamente.

— Vou pra casa a pé hoje — comentou, ajeitando as alças da mochila nas costas e deu meia volta. — A gente se vê.

— Ei!

Segurei-o pelo braço antes que ele desse dois passos.

— Que foi?

— Me explica essa história melhor.

— Eu simplesmente vou a pé — disse ele, como se fosse algo óbvio.

Inclinei a cabeça, insistente.

— Conta.

Ele suspirou e pareceu envergonhado. Em seguida, usou um tom de voz tão baixo que tive que me esforçar ao máximo para ouvir.

— Eu sei onde é a casa do Eduardo — falou, olhando para o chão.

— Você... você o quê?

— Não me pergunte como eu sei... na verdade, não me pergunte nem por que estou fazendo isso. Eu vou e ponto.

— Mas o que você pretende fazer? Dar uma passadinha na casa do cara que você odeia como se fosse amigo dele?

— Olha, eu não sei — ele parecia estranhamente decidido. — Mas quem sabe eu possa avisá-lo de que tem uma prova muito importante semana que vem. E que ele vai reprovar por faltas.

— O professor já disse que vai avisá-lo.

Gabriel assumiu uma expressão resignada.

— Por favor, André... eu não estou com um bom pressentimento sobre ele. Eu já disse que vou até lá. Se eu não for, eu tenho certeza de que ninguém mais vai. Porra, esse menino não tem amigos.

Hesitei, sem saber o que fazer por um instante.

— Ah, que seja — falei, finalmente. — Mas eu vou com você.

*

Segui Gabriel através de uma rua ao lado da escola que, pelo que eu me lembrava, nunca tinha passado antes. Descemos uma ladeira, viramos uma esquina, e depois de uns sete minutos de caminhada, adentramos em uma avenida vazia. Perto de um prédio enorme de janelas quebradas (aparentemente abandonado), havia uma rua um tanto medonha de se entrar. Não me surpreendia que nela ficasse a casa de Eduardo.

As "casas"(pareciam mais próximas de barracos) eram todas de madeira, algumas com árvores tapando quase toda a fachada. Meninos de mais ou menos um seis anos brincavam ao longe, descalços e um pouco sujos. Eles olharam para nós quando chegamos perto, e pareceram ficar cautelosos com a nossa presença. Uma mulher idosa envolta em uma blusa desbotada os observava enquanto brincavam, sentada em um caixote velho na frente da calçada.

— É aqui — disse Gabriel, parando em frente a uma das casas.

— O que fazemos agora?

Receoso, Gabriel bateu palmas.

Fiz o mesmo.

Ninguém apareceu.

Continuamos batendo por mais algum tempo. A porta estava aberta, a janela da frente também. Mas ninguém vinha até nós.

— Num tem ninguém aí — disse uma voz. Viramos, e era a mulher idosa, que havia se levantado do caixote e agora estava recostada no muro da casa ao lado. — Ninguém que vai atender vocês, pelo meno.

— Perdão senhora — começou Gabriel. — Essa é a casa do Eduardo? Um garoto de mais ou menos 16 anos, bem alto e...

— Era — respondeu a senhora, ajeitando a blusa nos ombros. Um olhar triste recaiu sobre seus olhos. — Era a casa dele. Menino bão, o Eduardo.

Gabriel e eu nos entreolhamos, e senti um peso na minha garganta. Como assim "era"?

— O que aconteceu com ele? — perguntei.

Ela equilibrou-se em uma das pernas, mas apoiou uma das mãos no muro, como se não conseguisse ficar em pé sozinha.

— Ele foi embora. Ele fugiu. Foi pra longe daqui. O pai dele mora aí ainda. Ele é um demônio. Bebe todo dia, chega quebrando tudo em casa. Na última noite do Eduardo aqui, os dois brigaro tão feio que ele socou o próprio filho bem no olho. Cafajeste, covarde. Deve tar dormindo agora o véio. Ele não atende ninguém. Vai morrê sozinho esse ôme.

Em seguida, ela levantou o olhar, abrindo um pequeno sorriso banguela.

— Tô feliz que o Eduardo saiu daqui... tô feliz que ele foi embora. Qualqué lugar é melhor do que aqui, com esse véio. Tenho certeza que ele vai vencê na vida e vai compensá toda maldade do pai dele. Ah, eu tenho.

E, novamente, a mulher se ajeitou na blusa, como se não servisse direito para ela e fosse grande demais da conta. Foi aí que um olhar de compreensão recaiu sobre o rosto de Gabriel, e eu não demorei muito para perceber também. Aquela era a blusa que havia sido roubada no ano anterior.

— Bem... é melhor cêis ir embora meninos... o amigo do cêis não tá mais aqui.

— E a senhora sabe onde ele está agora?

Ela balançou a cabeça em um não consternado.

— Ele foi pra longe, espero... pra bem longe daqui.

— Tudo bem... obrigado, senhora. — agradeceu Gabriel.

A mulher deu meia volta, ainda apoiada no muro, e andou lentamente de volta até o caixote. As crianças ainda brincavam na rua, já não se incomodando mais com nossa presença. Olhei para Gabriel, e nada na expressão dele podia me dizer o que estava sentindo.

— Vamos — disse. — Tem um ponto de ônibus aqui perto.

Eu o segui, sem dizer mais nada. Ficamos em silêncio durante uma parte do percurso, sem saber ao certo o que dizer sobre tudo aquilo. Definitivamente, naquele momento eu não estava com um pingo de raiva de Eduardo.

— É claro — falou Gabriel, por fim. — É claro que ele tinha um motivo.

Em seguida, balançou a cabeça, perplexa. Fiquei mudo.

— E o que isso significa? — perguntei, refletindo.

Gabriel suspirou e me olhou profundamente.

— Significa que ele está desculpado. Por tudo. Eu... não esperava isso, sabe.

— Nem eu. Acho que eu pensava que o Eduardo era um daqueles vilões idiotas que não têm objetivo senão atrapalhar a vida dos outros. É estranho saber que... que...

— Que ele sofria — terminou Gabriel.

Senti alguma coisa mudar no meu peito.

— É.

Chegamos no ponto de ônibus: estava vazio.

— Cara, não tô acreditando — falei, olhando para o chão.

— Bem, nós só vimos um lado da vida dele. Só uma parte de tudo. Não dava pra adivinhar.

Encarei-o.

— Não dava mesmo.


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Notas finais do capítulo

Playlist do Gabriel:
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Playlist do André:
https://open.spotify.com/user/laurent123373/playlist/7egp4Rp3P3qfssGqlXGRwR

Playlist da Maria:
https://open.spotify.com/user/laurent123373/playlist/3Ifa72tfUJZzIWkf7FZ2ao