Tão lindo.

Era tão lindo, que Gray nunca se cansaria de ver.

Era um azul tão claro e sereno. Praticamente infinito aos olhos do rapaz.

Ele amava aquela cor, aquela imensidão azul. Era algo relativamente simples e que ele aprendera a dar tanto valor. Por mais que todos pudessem ver todos os dias, ninguém seria capaz de dar a devida atenção a algo tão bonito além do mago de gelo.

E naquele momento, naquele curto momento que parecia durar uma eternidade para o moreno, nada poderia fazê-lo desviar os olhos daquele azul.

Gray e Juvia voltavam de um trabalho. A intensão não era eles fazerem a missão juntos, porém, nada que pudesse impedir a Lockser de segui-lo de qualquer maneira. Indiferente àquele abuso e até acostumado, Gray não deu muita importância a parceria de última hora.  

O trabalho em si havia sido fácil e rápido, mas a vila ficava um pouco longe da cidade onde deveriam pegar o trem, que pararia em pelo menos dez estações antes da de Magnólia, o que se definia por: longe pra burro. Aquela vila era quase no meio do nada.

Sem carroças disponíveis, eles caminhavam pela estrada que cortava a floresta entre a vila e a cidade. Gray suspirou um tanto irritado, agora entendia por que apesar de pagar bem, não eram muitos os interessados no trabalho. Bom, o que estava feito estava feito. Agora era pelo menos um dia e meio de viagem, se não acontecesse algum contratempo.

Depois de algum tempo andando Gray deu por falta de alguma coisa. Não havia uma voz que ás vezes podia ser irritante de tanto que era carregada de bajulação, não havia ninguém agarrado ao seu braço atrapalhando-o a andar e nenhuma aura que o arrepiava lhe rondando fazendo com que se sentisse cansado. Parou e se virou procurando pela maga d’água.

Juvia não parecia notar estar sendo deixada para trás.

De costas para Gray, estava parada no meio do caminho com a cabeça um pouco inclinada para cima. A moça parecia estar em seu próprio mundo, um que não fosse feito de Fullbuster, absorta a qualquer coisa ao seu redor. Até mesmo ao amor da sua vida.

Gray estranhou. Ficou um tempo a observando esperando para ver até quando ela ficaria naquela posição.

— Juvia, qual é o problema? – teve coragem de perguntar, mas ela não respondeu. Não que houvesse perigo, ele mesmo podia constatar isso. Então o que era?

Acompanhando seu olhar, também inclinou a cabeça. Olhar para cima.

A única coisa que havia em cima era o céu.

Azul. Muito azul. 

Claro, seu azul claro chegava a brilhar com a ajuda do sol. Tão claro quanto um céu de meio dia deveria ser.

Sem imperfeições. Apenas poucas nuvens o adornavam. Finas como algodão doce, parecia que iriam desaparecer mergulhadas no azul, sinal claro de que chuva era a última coisa que poderia se esperar para o clima daquele dia ensolarado.

O céu.

— Tão bonito... – ela sussurrou no momento de uma brisa a qual pareceu passar apenas para levar suas palavras até Gray a fim de que ele pudesse escutá-la.

Gray baixou o olhar para ela novamente. Ele conhecia toda a história sobre Juvia, a ex-mulher chuva da Phantom. Saber mais sobre a maga era uma das consequências de passar tanto tempo com ela. No dia em que se conheceram ele não sabia, não entendia toda a chuva daquela batalha e nem a importância do céu aberto naquele dia para a Lockser, apesar de ele mesmo também ter se sentido bem com tal visão do tempo se abrindo.

Ela passara 17 anos sob um céu cinzento e chuvoso.

Não era de se admirar que mesmo depois de tanto tempo após a batalha da Fairy Tail contra Phantom ela continuasse a se encantar com o céu aberto.

— Juvia! – Gray a chamou um tanto mais firme depois de mais alguns minutos.

Juvia finalmente pareceu ouvi-lo e se virou ainda com um sorriso, o mesmo que direcionava para imensidão azul acima deles. Não era uma expressão qualquer que ela pudesse desfazer em um segundo.

Gray vislumbrou os olhos brilhantes da maga, suas bochechas coradas e principalmente o enorme sorriso que ela carregava. Tão puro e sereno como o de uma criança. Naquele instante, enquanto se virava, o sol a iluminou e outra brisa brincou com seus cabelos que ganharam uma atenção especial do ice maker.

 Os fios azuis misturaram-se perfeitamente com o céu.

Foi por um segundo. Ou talvez menos, mas independente de quanto tempo, naquele momento extremamente rápido Gray não pode distinguir o lindo cabelo de Juvia com o belo céu azul.

Gray sentiu falta de ar com tal visão. Algo o atingira e naquele tempo ele não saberia explicar exatamente o quê. Antes de paralisar feito um bobo, suou frio sentindo a boca seca, as pernas tremeram feito gelatina e ele ficou com vontade de dizer alguma coisa, mas não conseguiu.

Porém aquilo durou tão pouco que ele não se permitiu admitir que aconteceu.

— Desculpa, Gray-sama. – Juvia desfez a distância entre eles rapidamente ainda sem conseguir disfarçar a alegria de apenas ver o céu. – Vamos?!

Ele apenas afirmou com a cabeça e recomeçaram a caminhar.

Sim, Gray se lembrava daquele dia.

Agora, ele tinha quase as mesmas sensações. A visão era praticamente a mesma.

 A diferença era que suas pernas não tremiam e ele sabia exatamente o que sentia. Podia falar firme e com clareza, não precisava ignorar. Podia admitir para qualquer um e principalmente para si mesmo.  

Mais tarde naquele dia, eles já estavam no trem a caminho de casa. O trem estava relativamente vazio logo puderam ficar sozinhos em uma cabine. Gray sentara-se com os braços cruzados na poltrona ao lado do corredor e mantendo os olhos fechados, não por estar dormindo, mas por estar pensativo. Juvia, apesar de ter tal fama de grudenta quando se tratava do Fullbuster, sabia ter seus momentos de limite. Ela não se sentara ao lado de Gray, mas no banco de frente para o dele, assim como também não se sentou no lado do corredor e sim no da janela.

Ela apoiava os cotovelos na batente da janela e encaixava o queixo entre as mãos, totalmente virada em direção a paisagem. Gray seria invisível se ela não tivesse comentado:

— É muito bonito, não acha Gray-sama? – ela não esperava uma resposta o que de fato não veio de imediato. Entretanto, Juvia achava que deveria comentar sobre tal beleza.

Obvio, que outra vez ela falava do céu. Gray abriu os olhos olhando-a de canto e pelo seu leve reflexo no vidro ele pode perceber a serenidade e admiração do seu olhar. Seu sorriso não era tão grande quanto o anterior, mas continuava a ser tão puro quanto.

Depois de um tempo Juvia acabou caindo no sono. A viagem era longa e ela estava cansada por causa do trabalho e da caminhada. Apoiou a cabeça na janela e se permitiu dormir, mesmo que não fosse sua real intenção. Gray levantou-se do seu lugar e, agindo automaticamente, sentou ao lado da maga.

Ele a observou por alguns segundos. A cabeça dela ás vezes batia de leve contra o vidro por causa do movimento do trem, porém ela nem parecia se importar. Talvez fosse por seu corpo ser feito de água ou apenas por que estivesse muito cansada. Sem pensar, o mago moveu a cabeça de Juvia para que se apoiasse em seu ombro. O movimento fez algumas mexas azuis caírem sobre o rosto de porcelana da Lockser. Agindo, o que ele pensou ser, por impulso, Gray afastou os fios prendendo-os atrás da orelha da garota.

— Igual ao seu cabelo – num sussurro, deu sua resposta.

Gray não viu, ela sorriu inerte em seus sonhos e por sua vez Juvia, dormindo, não presenciou que ele também sorria. Bem consigo mesmo e com aquela situação.

Agora, com tais memorias, observando novamente aquele belo e brilhante azul, Gray não podia deixar-se de admirar. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

Aquele belo azul o encantava mais do que ele conseguia explicar, contrastando drasticamente com o ambiente escuro e cinza do dia chuvoso. Os trovões ressoavam do lado de fora misturando-se com o som das gotas de chuva que batiam contra a janela do quarto. Juvia, com seus longos fios soltos, estava sentada próxima a janela observando o clima um tanto deprimida.

— Não é culpa da Juvia. – resmungou tristonha tendo consciência da presença de Gray atrás de si – Desculpa... – ele podia jurar que ela fazia um biquinho.

 - Se não é culpa sua por que está se desculpando, baka?  - sua voz era fria por natureza, mas ele falou com um tom de brincadeira.

— Porque... – ela não tinha resposta. Aumentou bico ainda sem virar-se para ele.

Ele soltou uma risada abafada pelo comentário idiota acompanhado do comportamento fofo da Lockser.

Ficaram em silêncio. Viram mais um raio rasgar as nuvens, mas para Gray sua visão teve outro foco mais importante. A luz do raio fez sua atenção cair para o cabelo de Juvia novamente que graças ao clarão se iluminou como um céu aberto. Será que havia algum azul mais puro que o daqueles fios? Algo ainda mais bonito?

O Fullbuster se levantou da cama e sentou no chão atrás da garota que pela aproximação repentina se virou para encará-lo. Outro raio. E Gray teve sua resposta.

Seus olhos. Seus grandes e brilhantes olhos eram tão azuis quanto seus cabelos e consequentemente tão lindos quanto um céu aberto. Extremamente dignos de admiração.  

— Gray-sama?! – Juvia o chamou curiosa por ele ter chegado tão perto.

Gray suspirou. Três anos juntos e continuava a mesma coisa.

— Já falei... – pousou uma mão no topo da cabeça da garota e colou suas testas, apaixonadamente próximos – Sem esse maldito “sama”.

Meu céu...