Stay escrita por STatic


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Eu tinha essa one escrita há muitos meses e não pensava muito em postar, maas hoje é aniversário da Vanessa (rainha do incentivo disfarçado de ameaça), então resolvi postar como um presentinho.

Vane, feliz 2006! Pera... Feliz aniversário!! Obrigada por ser uma linda e pelo carinho, sempre. Espero que goste!

Boa leitura!



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Kate POV

Uma explosão. Assim como havia acontecido antes – horas antes –, eu ouvi a explosão antes de ver, antes de ser capaz de imaginar o que aquilo podia significar. O barulho ensurdecedor, o som ecoando em meus ouvidos mesmo agora, o segundo de silencio chocado que se seguiu. E então os gritos. O calor e a poeira cegante quando eu finalmente consegui me mover, a sensação de que meus olhos estariam me traindo porque não, aquilo não podia acontecer. O peso do meu corpo ficando insuportável, me impedindo de mover enquanto meu estomago dava nós dolorosos, meu coração afundando cada vez mais e dessa vez eu sabia que não voltaria a emergir, e então ficando leve, como se minha massa fosse desprezível e eu estava praticamente voando em direção a nuvem de poeira, em direção ao banco. Em direção a ele.

Eu ignorei completamente os gritos que me diziam para voltar, até que eles desistiram e eu sabia que estavam me seguindo. Não podia ouvi-los, não agora. Não assim.

Tudo que conseguia pensar enquanto passava pelas portas era ele não. Ele não, por favor. Não assim, não agora. Ele não. Uma parte de mim sabia que era egoísta, mas eu não me importava. Eu só precisava chegar até ele.

Desejei com todas as minhas forças, orando para uma força superior que eu não tinha certeza que acreditava, que eu fosse mais rápida, que minhas pernas se movessem mais e mais rápido. Desejei que pudesse vê-lo logo, o segurar em meus braços. Desejei tudo isso, apenas para me arrepender no momento que se tornaram verdade.

No momento que o vi, eu trocaria qualquer coisa para ter sido mais lenta, que me dessem tempo para me preparar.

Eu gritei por ele, minha voz apavorada ecoando pelo espaço e de volta para mim, assim como tinha feito mais cedo. Exceto que, dessa vez, ele não respondeu de volta. Castle não havia gritado para mim, e meu coração não havia sentido aquele alívio, apenas se apertando cada vez mais, se afundando, se fechando em si mesmo.

Ele não havia respondido.

Eu gritei novamente, mesmo quando o vi contra a parede. Ele não respondeu.

Meu corpo parecia pesar uma tonelada agora, e eu tive que praticamente me arrastar até ele. Uma parte do meu cérebro registrou as outras pessoas na sala, Martha sendo uma delas, e eu não conseguia olhar. Podia sentir o cheiro de sangue, de morte, em todo lugar, e minhas mãos começaram a tremer. As lágrimas faziam minha visão ficar embaçada, mas eu não as deixei cair. Eu devia olhar em volta, ver o dano causado a tantas vidas, mas não podia desviar minha atenção dele.

Minhas pernas desistiram quando finalmente cheguei ao seu lado e eu me ajoelhei, minhas mãos tremendo violentamente enquanto as estendia para ele, sem me atrever a tocar. O rosto dele estava coberto de poeira, seus cabelos estavam molhados e grudentos, e eu não precisava olhar mais de perto para saber por que.

Eu não conseguia respirar. A certeza de que não era devido a poeira e sim ao nó crescendo cada vez mais em minha garganta trouxe mais uma onda de agonia. Quão frágeis nós somos, com quanta facilidade podemos deixar de existir e com quanta facilidade nosso coração pode ser destroçado, deixando nada para  trás.

Deixei minhas mãos tocarem seu rosto, meus dedos limpando um pouco da poeira ali. Sua testa, a bochecha, as pálpebras que continuavam fechadas. Sua boca.

— Castle. – eu quase solucei, agora incapaz de lutar contra as lágrimas.

Para meu choque e completo alívio, seu rosto se contorceu sob minhas mãos, e ele abriu os olhos. Eu chorei ainda mais ao ver os olhos azuis, mesmo através da dor, e me permiti um momento de esperança. Se ele estava com dor significava que ainda estava vivo.

— Kate... – o ouvi sussurrar, os lábios roçando meu pulso.

— Castle! – respondi de volta, depois me virei e gritei por um médico. Quando voltei a olhar para ele, seus olhos estavam fechados. – Rick? Castle! Droga, a ajuda está aqui, você precisa abrir os olhos.

Ele não os abriu e eu me amaldiçoei por ter tido esperança. Gritei seu nome mais uma vez, me aproximando e segurando seu corpo junto ao meu.

— Castle, Castle! Rick... – eu repetia seu nome como um mantra, certa de que atenderia meu chamado, como sempre. Ele havia me prometido sempre.

Onde estavam os malditos paramédicos?

Minhas lágrimas desciam pelo meu rosto e caiam de maneira poética sobre o dele, lavando a poeira, e eu pude sentir o exato momento que seu corpo ficou mais pesado contra o meu.

Chamei seu nome e, mais uma vez, ele não respondeu.

.

.

Sentei-me na cama abruptamente, minha mão esquerda batendo na mesinha de cabeceira e derrubando algo. Eu não senti a dor. Um grito estava preso em minha garganta e eu tive que cobrir minha boca com as duas mãos para impedir que saísse. Eu estava tremendo e podia sentir o rosto molhado, a respiração não saindo do jeito que deveria. Minha cabeça começava a latejar.

Retirei a mão da boca quando tive certeza de que não gritaria e tentei respirar através do panico. Eu tinha pesadelos com uma frequência suficiente para saber o que fazer, para apenas respirar e esperar passar, então me foquei nisso. Respirar. Esperar.

Alguns segundos e não estava ajudando em nada. Eu ainda tremia, e as lágrimas não iriam desistir tão cedo, e de repente descobri que eu não estava no meu quarto. A cama não estava certa, ou os lençóis, e eu não devia ter batido minha mão esquerda em nada daquela maneira. Não era meu quarto, e não era meu apartamento.

Ainda no escuro, tentei pensar na última coisa que me lembrava, tirando meu pesadelo. Eu não estava pronta para pensar sobre ele ainda.

Eu havia tomado vinho, e jantado. Com Castle... E a família dele. Um sorriso mínimo surgiu quando pensei sobre isso. Sobre como eles eram maravilhosos e me fizeram sentir como se realmente pertencesse ali. As histórias e as risadas compartilhadas haviam sido incríveis, e o sentimento de família me fez sentir aquecida.

Oh, aquele não era mesmo o meu quarto. Eu estava no loft, no quarto de hóspedes que havia ficado alguns anos atrás quando meu apartamento explodira.

Depois de uma taça - ou três - de vinho, Castle não me deixara ir embora. O argumento de que não deixaria uma amiga dirigir embriagada não foi suficiente, e ele havia jogado a carta de que eu havia salvo a vida dele hoje, e o mínimo que ele podia fazer era não deixar que eu colocasse a minha em perigo quando ele não estava por perto para retribuir o favor.

“Mesmo que eu já tenha feito isso mais vezes que você.” Ele havia dito, o arrogante. Se ele ao menos soubesse...

E então o motivo de eu estar ali me fez perder o folego novamente: O banco, os reféns, os bandidos vestidos de médico. A bomba. Havia sido real, e embora eu soubesse que ele estava bem e vivo e respirando, eu precisava saber.

Apenas um minuto havia passado e eu me levantei, ainda tremendo levemente, embora conseguisse respirar melhor. As lágrimas não pararam, mas estavam controladas. Caminhei o mais silenciosa possível até a porta, abrindo-a e saindo para o corredor vazio e escuro. Devia ser tarde, e eu realmente não devia estar fazendo isso.

Mas eu precisava vê-lo, precisava ter certeza de que estava bem.

Desci as escadas e em um minuto estava em seu escritório, e então em sua porta. Sequei um pouco o rosto com a manga da blusa e girei a maçaneta.

O quarto estava escuro, mas eu ainda podia vê-lo na cama. Ele estava virado para mim, um braço embaixo do travesseiro, mantendo-o perto do rosto. Era adorável. Eu havia vindo até aqui me assegurar de que ele estava bem. Ele estava, então eu deveria me virar e voltar para o meu quarto. Mas uma mechinha de cabelo insistia em cair em seu rosto, e uma necessidade dolorosa de colocá-la de volta no lugar tomou conta de mim.

Antes que pudesse me impedir, eu estava parada em sua frente, afastando o cabelo de seu rosto. Não pude evitar sorrir com quão natural e familiar o gesto sentira, como seu eu o fizesse a vida inteira. Como se não mais controlasse meu próprio corpo, me vi abaixando e beijando seu rosto.

“Droga, Kate, ele está bem, vivo e você deveria voltar para o seu quarto” uma voz na minha cabeça orientou. Levantei-me, me virando e caminhando até a porta. Antes que pudesse sair, entretanto, o ouvi se mover, e então sua voz encheu o quarto.

— Kate? – ele perguntou, a voz tomada pelo sono.

Droga. Virei-me lentamente, por um segundo considerando sair dali de qualquer maneira.

— Oi. – eu respondi. Castle sentou-se na cama, parecendo confuso. Ele acendeu a luz ao lado da cama e me olhou.

Uma grande parte de mim esperava que ele perguntasse o que eu estava fazendo ali aquela hora, o observando dormir como um psicopata. Eu estava preparada para isso. Mas não para o que ele de fato disse.

— Você está bem?

Eu devia saber que essa seria sua pergunta. Considerei mentir, dizer que estava tudo bem e fugir dali o mais rápido possível, mas a preocupação em seu rosto e a necessidade de estar com ele, falar com ele, combinadas com meu cansaço deixaram meu julgamento comprometido.

— Hum, não? – minha resposta saiu como uma pergunta.

— O que houve?

— Só... Eu posso me deitar aqui? – apontei para o outro lado da cama. Julgamento definitivamente comprometido.

Se Castle ficou surpreso, ele fez um ótimo trabalho escondendo enquanto afastava os lençóis e me incitava a me deitar. Eu dei a volta na cama sem olhar para ele, me deitando ao seu lado e encarando o teto. Eu podia sentir seus olhos em mim, mas ainda não conseguia o olhar.

Ele não pressionou e após alguns minutos imaginei que ele havia caído no sono.

A exaustão e o resto do pesadelo que ainda brincava no canto da minha mente, combinado com a montanha russa emocional que havia sido o dia me levaram as lágrimas novamente. Eu não conseguia controlá-las, apenas tentei permanecer em silencio.

Minha teoria de que Castle havia dormido se desfez quando senti sua mão segurar a minha que ainda estava entre nós na cama. Ele não disse nada, apenas segurou minha mão enquanto eu chorava, apertando-a mais forte ocasionalmente. Um lembrete. Continuei com o choro descontrolado por um tempo, molhando o travesseiro caro, até minha garganta doer.

— Você não me respondia. – eu disse depois de um tempo, a voz rouca e baixa.

Ele não disse nada, apenas esperou que eu continuasse, mas eu podia sentir seus olhos em mim. Eu não o olhei de volta.

— Eu chamei por você, mas você não respondia. E eu te encontrei e depois... – finalmente virei a cabeça e o encarei, encontrando seus olhos preocupados. – Você não me respondia.

Castle se aproximou e levou uma mão ao meu rosto, secando as lágrimas e eu fechei meus olhos ao toque.

— Eu estou bem. – finalmente disse.

— Você estava morto!

— Mas eu estou bem, e eu respondi você, e estou bem aqui. Eu não vou a lugar nenhum. – ele parecia saber exatamente o que havia acontecido, sem eu precisar dizer.

Eu queria acreditar nele. Na verdade, eu acreditava nele e desconfiava que estava sendo ridícula, mas ainda assim.

— Mas... – comecei e ele me cortou.

— Foi só um pesadelo, certo? Eu estou bem, e você está bem. Seguros. Eu prometo.

— Certo. – eu disse e senti sua mão em meu rosto outra vez.

— Kate, olha para mim. Abra os olhos, por favor?

Seu tom não me deixava muita escolha. Como eu podia negá-lo alguma coisa quando ele me pedia daquele jeito? Respirei fundo e abri os olhos, nada surpresa de descobrir que ele me olhava.

— Viu? Bem aqui!

Castle sorriu então, e eu pude notar quão cuidadoso ele estava sendo. E quão bem ele me conhecia. Ele não havia pressionado, nem dito nada, apenas me dando o tempo que eu precisava. Embora estivesse claro que estava preocupado, ele colocara minhas necessidades acima, sabendo exatamente o que havia acontecido.

Ele era tão lindo! Tão lindo e cuidadoso, e me olhava como se eu fosse a coisa mais importante do mundo, a mais valiosa. E eu não era. Eu era uma bagunça, e apenas atraía problemas. Ainda assim, ele continuava ali, me amando e aquilo doía. E assustava. Seu sorriso, seu rosto amoroso, a maneira como ele agia... Era mais do que eu merecia e me apavorava que eu o amasse tanto. O simples pensamento de perde-lo era insuportável.

— Eu não posso fazer isso. – disse.

— Fazer o que? – ele perguntou de volta, me incentivando a continuar.

— Amar você.

Seu rosto se misturou entre choque e mágoa, e eu me apressei em explicar.

— Amar você assim... Tanto! Me assusta porque eu vou estragar tudo e é tão frágil! Eu não posso te amar assim, com cada célula em meu corpo, cada pedacinho do meu coração e da minha alma, e ter você tirado de mim, Castle. Eu não...

Ele me interrompeu, um pouco de desespero na voz.

— Eu não morri, Kate, eu...

— Foi tão perto! Eu pensei, Castle, por um segundo eu pensei que você estava morto naquele banco e eu não conseguia respirar, ou me mover, ou imaginar o que seria dali para frente. Eu ainda estou colando os pedaços da última vez que algo assim aconteceu, e dessa vez? Dessa vez os pedacinhos iam ser pequenos demais para serem colados.

Podia sentir meus olhos brilhando com as lágrimas que eu me recusava a deixar cair, e ele se aproximou, colocando um braço ao meu redor e me puxando para perto. Eu o deixei, precisando demais do conforto para me afastar. Escondi meu rosto em seu ombro e inspirei seu cheiro, deixando que me acalmasse.

Castle me segurou por um longo tempo, uma mão segurando minha cabeça firmemente em seu ombro, a outra ao redor da minha cintura, um dos meus braços agarrando sua camisa com força. Eu imaginava que me sentiria desconfortável e insegura em uma situação como aquela, com ele tão perto, mas estava quente e confortável demais para sentir isso. O medo persistia, entretanto.    

— Eu tenho medo também. Todos os dias quando estamos lá fora, ou quando vamos embora e eu não posso te ver. Me apavora porque eu vi você morrer, segurei você em meus braços... E eu tenho medo de você desaparecer quando não estou olhando.

Eu levantei minha cabeça agora, e ele encarava o teto.

— Eu fico apavorado e tenho pesadelos, e se algo acontecer com você... – ele me olhou. – Mas nós não podemos deixar o medo dominar! Esse é o preço de se amar alguém: Você está sujeito a ter seu coração partido. Isso não significa que vai acontecer. Não significa que você deva deixar de amar.

Nos encaramos por um longo tempo, e eu pensei no que ele dissera. Eu tivera meu coração partido. Partido a ponto de levar anos para deixá-lo – quase – inteiro e funcional novamente. Castle tivera um papel indispensável em curá-lo, e, ao que parecia, havia o tomado para si.

— Você vai me ajudar? – e agora eu não era capaz de olhá-lo. – A ficar aqui e não fugir?

Ele se moveu ao meu lado, e de repente seu rosto estava a centímetros do meu. Seus olhos estavam grudados aos meus, hipnotizantes, impossível escapar. Ele continuou me olhando, sondando, uma mistura de tirar o folego expressa em seus olhos. Confiança, felicidade, amor. Tanto amor e eu não sabia como eu podia ter medo. Ele me encarou daquela maneira com tanta intensidade, que eu fui incapaz de não sorrir. Desviei o rosto, olhando para baixo, e voltando a olhar para ele.

— Eu te acorrentaria a cadeira se me deixasse. –  disse e eu ri. – Eu disse sempre, hã?

— Sempre.

Ele me beijou levemente, apenas um encostar dos lábios, e se afastou, olhos fechados. Eu queria mais, mas não me atrevi. Não agora.

— Nós temos tempo, então. – disse e me olhou. 

Eu como a grande covarde que era me escondi novamente em seu peito, incapaz de encará-lo por mais tempo, incapaz de estar olhando para ele ao dizer isso.

— Está com você. Meu coração? É seu, totalmente, só... Cuida bem dele, tudo bem?

Castle apenas encostou os lábios nos meus cabelos, suas palavras saindo abafadas, mas ainda assim eu podia ouvir com clareza.

— Você tem o meu, também. Há muito tempo.

— Sinto muito sobre isso. – eu disse e ele riu. – Eu sou meio desastrada.

Ele não respondeu de imediato e eu senti sua mão deslizar pelo meu braço lentamente. Eu não imaginava que podia voltar a dormir hoje, mas agora, com isso...

— É um charme. – disse por fim, e depois: –  Nós vamos ficar bem.

Eu podia acreditar nele agora. Mesmo com tudo o que acontecera, eu podia. Não importava o que viria agora; tudo o que importava é que nós estaríamos lá para o outro, em todo momento.

— Se ficarmos longe dos bancos. –  concordei com um sorriso.


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Notas finais do capítulo

E então? Me contem o que acharam!



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