Pássaros Estranhos escrita por Ophelia


Capítulo 1
Capítulo Único




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Minha mãe tinha uma fala muito óbvia quando se tratava de mim, como se eu sempre soubesse exatamente o que ela falaria e quando o faria, especialmente... Agora. Tinha plena certeza de que, com aquele longo ano após a morte de Gus, ela tentaria de novo, tentaria me animar como sempre fizera. E eu, como uma boa filha, ia sorrir e acatar sua sugestão por alguns dias e logo, voltaria ao ponto anterior.

A solidão começava a parecer tão insuportável que eu até me obrigava a ir ao centro de apoio ouvir a história do câncer nas bolas pela milésima vez, ouvir os nomes daqueles que já não estão entre nós e receber toques leves no ombro quando o nome Augustus Waters for dito, algumas condolências e sorrisos que não eram reconfortantes, e que só me faziam lembrar de que o mundo se tornara mais cinza sem ele.

Por alguma razão, meu exemplar de Uma aflição imperial estava pegando pó na prateleira. Desde a morte de Gus eu me recusava a pegar naquele livro, optando por outros gêneros, desde ficção científica, até aqueles romances baratos que as garotas da minha idade tanto amavam.

Mas... Era tudo vazio. Ou talvez eu estivesse vazia.

Tudo que eu fazia, desde comer ou tomar banho, era automático. Então... Eu ia automaticamente ao shopping e depois à livraria olhar a prateleira à esquerda daquela que eu olhei no dia anterior. Provavelmente era a infanto-juvenil ou a de Direito, não me lembro muito bem, mas o importante era que eu poderia ficar parada ali, escolher um dos exemplares, folheá-lo enquanto ouvia os adolescentes barulhentos irem e virem com suas pacatas vidas.

A garota tímida andando sozinha, o grupo de meninos e meninas babando pelo próximo CD/DVD de sua banda favorita, o casal que procurava presentes, as crianças espevitadas mexendo em alguns livros infantis e suas mães pacientemente adicionando outro exemplar a pilha de revistinhas em suas mãos.

Sempre que via algo referente à Star Wars, eu sentia um leve aperto no coração, mas com o passar do tempo, o aperto tornava-se uma lembrança gentil de que eu tinha sido agraciada por um infinito, e este infinito fora pequeno e maravilhoso demais para durar. E por esta razão, eu suspirava, voltando a ler as palavras do livro que eu nem olhara a capa.

Não era tão interessante, afinal de contas.

Levantei-me devagar, apanhando minha mochila do chão antes de ir até a estante e o coloquei de volta no lugar, fitando os outros exemplares de maneira mecânica até encontrar algum título, cor, nome de autor que me agradasse.

Ponto de Impacto fora um nome que soou agradável em minha cabeça, fazendo-me esticar a mão até ele, esbarrando em dedos que percorreram o mesmo caminho. Levantei o rosto e encontrei um rapaz bem alto, de pele amorenada e cabelos loiros escuros, o típico galã de livros da banca de jornal, de lábios grossos e olhos escuros e penetrantes.

Ele apanhou o livro e me entregou. — Desculpe. — Sorrira.

— Tudo bem. — Respondi, lembrando-me de sorrir um pouco ao apanhar o livro.

— Ahm... Desculpe-me, mas... Já nos vimos antes?

Eu ergui uma sobrancelha. — Se isso for uma cantada, você é péssimo nisso.

Aquilo o fez rir. — Não é uma cantada, desculpe. Mas... Você me parece muito familiar e... Ahm... Desculpe. Meu nome é Tobias. — Ele pigarreou, erguendo sua mão enorme para um cumprimento.

Apertei a mão dele levemente e o observei. Por alguma razão que provavelmente vinha do fato de eu estar sozinha, deprimida e vivendo no modo automático, Tobias me pareceu familiar. Talvez seus traços fossem mais comuns do que eu pensava.

— Hazel. — Falei, dando de ombros e parei por ali. Ninguém, além de Gus, tinha a minha permissão de dizer meu nome inteiro.

Tobias deu um meio sorriso, assentindo. — Então.... É, você vem sempre aqui.

— Isso é uma pergunta?

— Não, é uma constatação. — Tobias rira. — Eu venho aqui quase todos os dias comprar livros, e sempre vejo você sozinha naquela mesa, olhando pros livros com cara de pouco caso antes de devolvê-los. — Comentou num tom zombeteiro. — Está perdida?

— Isso depende. Nenhum desses livros está me interessando. — Falei. — Estou quase mudando de andar, pra área de faculdades e não de lazer.

Tobias riu de leve. — Você não encontrou o livro certo, então.

— E claramente não vou encontrar.

Aquilo o fez rir um pouco mais, dando de ombros. — Não seja tão negativa.

— Não sou negativa, sou realista. — Resmunguei, fazendo-o rir mais. — Qual é a graça?

— É que... Você me lembra duma pessoa que conheci... Ela também era realista. — Tobias comentou e foi o momento que notei outra familiaridade. Aquela mesma face cansada, cheia de saudade que se agarrava aos mínimos detalhes de algo que apaziguasse a dor, mas que no fim, só servia para aumentá-la até chegar ao estado em que eu me encontrava: o da nostalgia.

Eu esbocei um sorriso. — Quem... Quem era ela?

— O nome dela era Beatrice, mas... Ela gostava que a chamassem de Tris. — Ele sorriu de leve. — Você se parece um pouco com ela. Pequena, magra... Mas eu não tinha vontade de protegê-la, sabe? Eu queria empurrá-la até o limite porque sabia que, no limite, Tris era a mulher mais corajosa que eu conhecia.

— O que aconteceu a ela? — Eu me repreendi por aquela pergunta, mas Tobias não se incomodou, até mesmo sorriu fracamente.

—... Um dia, estávamos saindo do cinema... Fomos assaltados. Eu estava entregando minha carteira quando Tris reagiu e o homem armado atirou nela. O outro jogou minha carteira no chão e fugiu. — Sua voz era baixa, conformada. — Ela... Morreu nos meus braços antes da ambulância chegar.

Eu abri e fechei a boca, umedecendo os lábios. — Eu sinto muito.

Tobias assentiu. — Eu também. Tris achou que era invencível, sabe? Que nada poderia feri-la porque era autossuficiente... — Ele olhou para a estante de livros infanto-juvenis e retirou de lá um livro fino, entregando-o para mim. — Tente esse. Eu lia pra minha sobrinha.

Era branco, com desenhos infantis na capa e pelo título, eu sorri de leve.

— O pequeno príncipe? Quantos anos têm sua sobrinha?

— Oito e meio. — Tobias riu de leve. — Vai fazer nove no mês que vem e eu estou ponderando o que vou dar pra ela de presente. — Ele sorriu. — Tem... Uma frase nesse livro que é a minha favorita, é aquela... — Fez uma pausa, pensando por alguns instantes. — Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.

— Tris era sua rosa? — Falei, mantendo um sorriso leve enquanto folheava o livro.

— Era. — Tobias sorriu. — Tris era a minha rosa.

Levando por aquela premissa, eu também poderia dizer que Augustus Waters era a minha rosa. Que eu dediquei meu pouco tempo a ele, e ele fizera o mesmo por mim, e que no fim das contas, éramos um a rosa do outro daquela maneira adoravelmente romântica que, bem no fundo, eu queria aceitar.

Queria adorar frases românticas tanto quanto aquelas garotas de bochechas rosadas e olhos amorosos para com o garoto que nem olha para elas.

— Ei... Você quer tomar um café? — Tobias me perguntou, tirando-me de meus devaneios. — A conversa está interessante, mas você me parece cansada.

— Ah, claro, tudo bem. — Falei, coçando os olhos nervosamente.

Como um cavalheiro, ele puxou a cadeira e me ajudou a sentar na mesma mesa que eu ocupava todos os dias, ocupando a outra cadeira. Tobias apoiou as mãos sobre a superfície lisa e suspirou, observando meu rosto por alguns momentos.

— Você também perdeu alguém. — E, novamente, não era uma pergunta. Outra constatação.

— Sim. — Respondi. — Eu perdi alguém. Alguém muito importante.

— Sua rosa. — Tobias comentou e eu sorri, rolando de leve os olhos.

— É, apesar de essa colocação ser delicada demais. O nome dele era Gus. — Falei, passando os dedos pela capa do Pequeno Príncipe. — E... Eu disse a ele uma vez que eu era uma granada e que um dia explodiria, mas isso não o impediu de se aproximar, de gostar de mim... De me amar e de ser amado de volta. E no final das contas... Eu não explodi. Ainda estou aqui.

— E isso é bom. — Tobias falou com um sorriso divertido.

— Por quê?

— Porque se você, de fato, tivesse explodido, não estaríamos tendo essa conversa. Sabe, eu... — Ele riu. — Eu nunca tinha comentado tão abertamente sobre isso. Com detalhes... A morte da Tris, para nossos amigos, foi devastadora e... Eu simplesmente não podia dizer a eles que não tive reação quando ela tomou o tiro. Que congelei... Inventei uma mentira que digo com tanta convicção que passei a acreditar nela...

— Você não pode viver uma mentira para sempre. — Comentei de maneira serena, umedecendo os lábios.

— E acho que tem razão, Hazel. Eu posso dizer que tentei lutar, mas não enganarei ninguém além de mim mesmo. — Seus olhos encontraram os meus e eu desviei o olhar, achando bem mais interessante observar os desenhos no livro.

Éramos dois estranhos dividindo histórias de entes queridos, como uma premissa de romance ruim, mas... Era algo interessante, de certa forma. Não havia flertes, não havia interesse em algo mais, como fora meu primeiro encontro com Augustus Waters. Tobias era diferente, mais maduro e sério como se tivesse cinquenta anos.

Seus sorrisos eram fracos, de canto de boca, ou aquele sorriso de quem não sorri há muito tempo.

O meu próprio sorriso.

— Por que as cânulas? — Tobias perguntou de repente, fazendo-me despertar de meus devaneios.

— Porque meus pulmões são uma merda como pulmões. — Comentei, fazendo-o rir de leve. — Era câncer de tireoide inicialmente, mas depois apareceu uma colônia satélite nos meus pulmões.

— Isso soa terrível.

— É. E eu preciso andar com isso porque senão eu morro asfixiada e tal... — Falei, soltando um suspiro longo. — Uma história longa e cheia de clichês, se você quer saber.

Tobias riu. — Minha história também é cheia de clichês. Mas... Acho que todos têm clichês, mas o que realmente nos torna únicos é o rumo que nossos clichês tomam. Quer dizer... Você poderia ser uma garota normal, saudável e namorada de Gus. Poderiam estar juntos até hoje.

— Sim. Mas isso não seria uma história interessante. Seria extremamente maçante e cheia de clichês redundantes.

— Clichês redundantes, mas... Felizes, não?

Eu hesitei. De fato... Viver num clichê, numa bolha de felicidade onde não havia câncer, e Gus estava vivo era tentadora, mas... Não podia ser real. E eu seria uma tola por acreditar nessa possibilidade.

— Acho que, no fim, clichês são os futuros felizes que todos desejam, mas... Poucos conseguem. — Tobias apoiou as mãos na mesa, observando os próprios dedos. — É como ganhar na loteria. Podemos imaginar tudo, mas jamais saberemos a sensação se não acontecer conosco.

Aquilo me fez rir. — Que bela comparação... — Olhei brevemente para fora da livraria, acenando para minha mãe quando a vi com a bolsa no ombro e o livro firme numa das mãos. Ela sorriu ao ver que eu estava acompanhada daquele jeito bobo alegre e adentrou o estabelecimento.

— Oi querida. — Mamãe me cumprimentou, beijando de leve meus cabelos. — Olá...

— Tobias. — Ele se apresentou, sorrindo sem jeito. — Prazer em conhecê-la.

— O prazer é meu. — Mamãe riu de leve. — Encontrou algum livro, Hazel?

Fiz um bico. — Apenas O Pequeno Príncipe. — Mostrei o exemplar para ela. — E vou levá-lo. Se for ruim, a culpa é do Tobias.

Ele e minha mãe riram.

— Eu garanto que você não vai se arrepender. — Ele disse divertido. — Bem... Acho que já vou indo. Foi um prazer conhecê-las...

— Vocês trocaram telefone? — Mamãe perguntou com MUITO tato, fazendo-me coçar a cabeça.

— Mãe!

Tobias rira com gosto, mexendo no bolso da jaqueta e tirou de lá um cartãozinho e uma caneta, fazendo uma breve anotação na parte lisa do cartão. — Aqui. — Ele o estendeu a mim. — Me ligue, Hazel.

Não era um pedido, pensei comigo mesma enquanto ele se afastava. Tobias não me pediu para ligar para ele, fora apenas... Uma sugestão. Como Peter Van Houten ao ajudar Gus ao escrever a carta.

A carta que eu carrego no bolso desde que a encontrei e a mantenho comigo numa tentativa estúpida e sentimental de saber que Gus ainda estava comigo. De sentir seu cheiro e imaginá-lo escrevendo-a.

Mamãe me acompanhou até o estacionamento, falando sobre seu dia enquanto eu apenas sorria e concordava, mantendo-me distante de qualquer oportunidade de comentar sobre meu dia ou o que eu de fato estava pensando. Tinha uma sensação engraçada, de como se fosse desabar a qualquer instante.

— Mãe... Eu preciso ir ao cemitério. — A frase simples fez minha mãe parar imediatamente de falar e seu olhar tornou-se levemente entristecido, talvez por minha cara não ser uma das melhores e que fazia muito tempo que não comentávamos sobre o assunto do cemitério. Eu não visitei a lápide de Gus nenhuma vez desde o velório, parecia na minha concepção uma afronta a sua pessoa.

Era apenas um pedaço de pedra com seu nome escrito, não era como se ele estivesse lá... Mas ao mesmo tempo, ele estava. Seu corpo, vestido em no terno fúnebre que ele mesmo escolhera, os olhos fechados e o pacote de cigarros que eu coloquei sobre suas mãos cruzadas.

Algumas pessoas diziam que mortos pareciam dormir, mas não Gus. Gus não parecia estar dormindo, ele parecia forçado a dormir, cansado de tanto lutar contra o inevitável até que este o derrotou numa luta injusta.

Soltei um suspiro quando chegamos, era meio de tarde e o sol ainda estava brilhando. Mamãe me ajudou a sair do carro, mas depois voltou ao mesmo enquanto eu caminhava devagar, com minha mochila arrastando na grama verde pela fila de túmulos colocados de maneira metódica na terra, parando para respirar um pouco antes de chegar naquela pedra escrita Augustus Waters.

Nos primeiros momentos, eu apenas fitei as inscrições, sentando-me no chão devagar, encostando as costas na lápide fria.

—... Espero que você não esteja me ouvindo, Gus. Porque isso é terrivelmente humilhante. Eu estou no meio de um cemitério, falando com uma maldita pedra! — Disse indignada e os primeiros sinais de choro surgiram. — Estou falando com essa porra com uma esperança ridícula de que você pode me ouvir, sendo que acabei de dizer o oposto disso! E-eu...  — Minha voz falhou e eu passei os dedos pelos olhos numa tentativa de me acalmar. — Disse a você naquele dia que eu era grata por nosso infinito, mas... A verdade é que... Eu adoraria... Queria muito que nosso infinito não tivesse acabado... S-só isso... — Mordi o lábio superior e um soluço escapara, fazendo-me engolir a seco. — Eu sinto tanto sua falta, Gus...

—*-

Morrer não era necessariamente ruim. Havia uma parte de mim que acreditava nisso mais do que qualquer coisa. O medo natural e humano da morte, o medo do desconhecido que, no fim, torna-se conhecido e familiar, mas não menos dolorido. Às vezes me pegava observando-a, como lentamente passava por aquele processo de luto, suas noites mal dormidas...

Minha Hazel Grace.

Que sempre esteve tão ocupada sendo ela mesma, agora encontrava-se num estado de luto. Poderia me sentir levemente culpado por lhe trazer dor, por tê-la machucado, mas... Sabia que nossos momentos bons se sobressaíam sobre a dor, o luto e a perda. E também tinha certeza de que ela iria superar isso aos poucos.

Ouvi seu discurso e senti dor por suas lágrimas, apesar de nada poder fazer.

— Então esta é a Hazel. — Ouvi uma conhecida dizer e sorri.

— Hazel Grace. — Corrigi e Beatrice riu de leve. — Onde está Tobias?

— Em algum lugar. — Tris dera de ombros. — Não gosto de observá-lo, às vezes acho que ele me sente e isso interfere.

— Hazel não me sente e acho que isso é o que interfere. — Comentei e a loira apenas sorriu. — Ou talvez...

— Tobias e Hazel têm modos diferentes de lidar com a perda, Augustus. Assim como nós. — Tris dissera de maneira serena. — Venha, vamos.

Peguei em sua mão e nos afastamos, seguindo de mãos dadas na direção da luz branca, forte e acalorada.

~*~

Eu me sentia exausta. Mamãe teve que me ajudar a sair do cemitério porque eu simplesmente não conseguia fazê-lo sozinha, como tantas outras coisas em minha vida. E quando chegamos em casa, tudo o que fiz foi reler a carta de Gus e adormecer com a premissa de que amanhã ficaria tudo bem.

Como sempre acontecia. Amanhã sempre ficava tudo bem. Mesmo que nunca mais ouvisse Gus dizer que me amava, ficaria tudo bem. A vida era boa, justa... E nos faz crescer como pessoas, certo? Errado. Era apenas uma mentira que eu contava a mim mesma quando sentia que ia desmoronar.

Sentei-me na cama devagar de madrugada porque não conseguia dormir. Eram duas e meia da madrugada quando conferi meu celular e junto ao aparelho, estava o cartão de Tobias que eu não olhei bem. Era branco, simples e escrito com letras pretas e metódicas: Tobias Eaton. Advogado. Talvez fosse uma ideia ruim, mas meus dedos não se controlaram e quando dei por mim, tinha digitado todos os números e hesitava em apertar o botão verde.

— Dane-se. — Murmurei, pressionando o botão verde com força até demais antes de leva-lo até minha orelha.

Um, dois, três toques e escutei sua respiração.

— Tobias. — Falei, encarando o teto do meu quarto.

— Olá, Hazel. Não consegue dormir?

— Não. Você consegue?

— Menos ainda, mas já me acostumei.

Mordi a unha do polegar, levando alguns instantes para responder. — Sinto falta dele.

— Do Gus?

— Sim.... Você sente da Tris?

Até demais... Só que não posso fazer nada para.... Para voltar aquele dia e resolver tudo.

— Não foi sua culpa o que aconteceu.

Tobias respirou fundo e eu soube que ele não acreditava nisso. — Ainda quer conversar, Hazel?

— Na verdade, eu quero dizer que você estava errado. Eu li O Pequeno Príncipe como me sugeriu. — Falei de maneira descontraída.

E?

— E é uma droga!

Duas coisas aconteceram: a primeira foi o silêncio de Tobias do outro lado da linha e eu encarei aquele livro branco na mesinha de cabeceira. Tinha sido realmente uma droga e não conseguia entender como tinha virado filme e agora o mundo inteiro se derretia por causa daquela história idiota. A segunda coisa que aconteceu, no entanto, me pegou desprevenida.

Tobias começou a rir. Rir de gargalhar.

Sua risada era gostosa de ouvir e parecia que não era usada há muito tempo e por essa razão fora tão contagiante. Quando vi, estava gargalhando junto com ele, como dois idiotas no meio da madrugada.

Ele levou uns bons dez minutos para se recuperar e quando o fez, respirou bem fundo.

— Hazel, O Pequeno Príncipe é um clássico!

— E daí? Não é porque é um clássico que eu sou obrigada a gostar. E olha, vou te dizer mais, esse papo de rosa.... Talvez no fim, não é a importância que damos a nossa rosa que a faz especial, mas o tempo que passamos com ela. — Falei. — E olha, se você quer um livro de verdade, eu vou te emprestar Uma Aflição Imperial, apesar do autor ser um completo babaca.

—.... Estamos marcando de nos encontrar?

— É, quer dizer.... Se você quiser... — Falei.

Ele ficou em silêncio e eu também, limitando-me a prestar atenção em sua respiração ritmada.

— Que tal na livraria? Agora estou curioso com esse livro.

Aquilo me fez rir. — Está curioso agora, mas depois vai ficar frustrado. — Comentei divertida. — Então.... Até amanhã?

— Até amanhã, Hazel.

Troquei meu celular pela carta amassada de Gus. E pela primeira vez, eu compreendi sua última linha. A vida era boa, Hazel Grace.

E era.


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