Parado aqui na janela, observo seus mais minuciosos passos.

Já cheguei a te amar? O que seria de fato o amor?

Lembro-me como se fosse ontem do dia em que nos conhecemos, seus olhos brilhavam constantemente, fazendo-me compará-los com estrelas perdidas no céu. Porém, não brilham mais.

Eu deveria sentir-me culpado?

No fim, foram apenas algumas noites insignificantes, momento de calor em que eu não pude evitar sentir prazer nos braços de outro alguém. Costumam dizer que quando se ama, não existe traição, por isso me questiono constantemente.

Eu amo você?

Continuo a observá-la, largado na janela, segurando meu cigarro de palha. Você mudou há anos, eu não havia parado para perceber. Seus cabelos que antes pairavam livres e belos por aí, agora não passam de um coque apertado sem graça alguma; suas unhas antes sempre feitas, agora estão acabadas e feridas por tanto trabalho. Seus olhos tom de mel que sempre hipnotizavam qualquer um com tamanha profundidade, agora não passam de olhos fundos e tristes, que traz a ideia que você não dorme há dias.

Por que se sacrificastes por mim?

Você não consegue me ver como eu te vejo, parece estar extremamente distraída, tão perdida no mais distante e solitário mundo da imaginação que sequer viu passar os anos de infelicidade ao meu lado. Parece diferente, por um motivo desconhecido não está gritando comigo e reclamando pela péssima vida que te dei. Agradeço aos céus por isso, calada você parece ser mais interessante.

Observo uma lágrima cair de seus olhos, você rapidamente a limpa e respira fundo, levando consigo todo ar contaminado de silêncio e solidão que formamos aqui.

Eu de fato te fiz infeliz?

Observo, com cuidado e talvez um pouco assustado, você apanhar uma faca e levá-la com suas mãos trêmulas até seu coração.

— Olivia, o que está fazendo? - Limitei-me a dizer.

— Não precisa dizer nada, eu sei que talvez essa seja uma decisão egoísta, mas, você acabou com o resto de luz que havia em mim. As traições com certeza doeram, mas, não foi apenas isso, tantas vezes você dirigiu palavras tão duras a mim, fazendo com que eu me sentisse um lixo. Onde foram parar suas jurar de amor eterno? Nossos filhos não merecem ver tantas infelicidade, essa não é a família que sonhei em ter. É triste saber, que em um momento tão difícil, minha maior preocupação é saber que você não vai dar a mínima para minha morte. Apesar disso, eu sinto muito. - Cada palavras que você dizia, eram seguidas por muitas lágrimas.

Eu não deveria sentir algo? Qual é o meu problema?

Em questão de segundos, vejo-a caída no chão.

Sim, eu te fiz infeliz.

Fito-a desacordada por alguns instantes.

O que direi aos nossos filhos quando chegarem da escola?

Pode parecer um pensamento egoísta, mas é a única coisa que consigo pensar ao ver seu último suspiro saindo, trazendo-lhe a morte. Desculpe-me, amor, por tê-la feito infeliz. Tenho plena consciência de que a culpa de tal desgraça foi minha, entretanto, não me sinto culpado. Ao contrário, consigo sentir uma pequena ponta de alivio por não tê-la mais.

É, eu não te amei.

Deveria me desculpar? Talvez o fizesse, se não fosse tarde demais. Provavelmente, eu já estava morto bem antes que você.

"Suicídio não é covardia. Vou lhe dizer o que é covardia: é tratar as pessoas de uma maneira tão mal, tão humilhante, ao ponto que elas querem acabar com suas vidas. "- Bárbara Flores