Era um dia frio, comum naquela parte da cidade, porém esse dia parecia estar mais cinza. Dona Joséfa levantou cedo da cama e percebeu que seu marido já havia saido ao trabalho, rapidamente ela se pôs de pé e caminhou em direção ao banheiro. — Que dor de cabeça— ela pensa enquanto observa seu rosto negro e sujo no espelho— Mais um dia nesta casa, espero ser chamada para aquela entrevista de emprego hoje.

Os gritos de seu pequeno filho a assustou, seus olhos começaram a brilhar desespero e correu em direção ao quarto da criança, —Ufa!— Ela bradou com uma certa calmaria — Calma filhinho, é só uma baratinha. Vê? ela não vai te fazer nenhum mal. Dona Joséfa pega seu velho tênis cheio de remendos e parte em direção ao inseto e o acerta — Viu filho? Já acabou ta? — Ela vai rapidamente em direção a seu pequeno e o abraça enquanto o afoga em beijos — Agora vai e tenta dormir mais um pouquinho ta?

Um pouco mais calma Joséfa tenta continuar com sua manhã, então ela partiu para fora de seu pequeno barraco coberto de velhas telhas esburacadas. Calçou uns chinelos velhos que insistiam em voltar com a correnteza, — Espero que o dia termine bem.

O dia passava devagar, mal haviam passado duas horas desde que acordou, dona Joséfa resolve ligar o rádio e ouvir um pouco as noticias: 

—Um acidente acaba de acontecer na rodovia dos tucanos, um ônibus capotou durante uma travessia perigosa, infelizmente os bombeiros ainda não identificaram todos os envolvidos no acidente. — Dona Joséfa ouvia atentamente ao noticiário, já prevendo que algo ruim aconteceu com seu marido — Temos poucas informações do ocorrido, porém já sabemos que o ônibus tinha como destino o centro da cidade! — Rapidamente Joséfa ligou para o trabalho de seu marido, ja temendo o pior.

— Alo? Alo? 

—Alo, calma, fale devagar! — A voz de um homem calmo a fez se sentir menos segura — Meu marido chegou ao trabalho em segurança?

O homem do outro lado da linha demorou alguns instantes para responde-la, tentando ignorar os berros e gritos da mulher que se encontrava em total desespero— Sinto lhe informar mas poucos funcionários chegaram até a empresa, já fomos informados que o acidente estava envolvido com o ônibus de nossos funcionários. Poderia me dizer o nome do seu marido? — Dona Joséfa se encontrava cada vez mmais tensa, com uma voz chorosa e tremula ela responde ao homem— Francisco Assiz... — O homem que já sabia do fato tentou acalma-la dizendo para que ela se sentasse, pegasse um copo de água e apenas o ouvisse. — Tá bom... apenas fale.

—O corpo do falecido Francisco Assiz foi encontrado a alguns minutos do lado de fora do ônibus. Acreditamos que ele tentou saltar a janela de emergência, porém acabou falhando. — O silêncio podia ser ouvido do outro lado da linha, o homem resolveu apenas terminar de falar enquanto a pobre dona Joséfa caía em prantos.

— Esperamos que você venha até aqui para reconhecer o corpo e receba a indenização pelo horrivel acidente. Sinto muito por todo o ocorrido e lamento em nome de toda a empresa por este acidente.