Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 54
Isso não é castigo.


Notas iniciais do capítulo

Hello, darling's.
Ultimamente está sendo difícil escrever, então qualquer confusão... Não é a minha culpa, leia de novo. Eu sempre fico assim quando estou escrevendo algo, fica como se fosse entediante, monótono, porque eu já sei o que acontece, ai eu perco a vontade de viver - ops, escrever. Não sei mais quantos capítulos serão, mas eu já vejo o futuro e o final da história, ai bate a deprê.
Espero que gostem!
Stitches - https://youtu.be/VbfpW0pbvaU



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I thought that I've been hurt before (...)

Your words cut deeper than a knife

(Eu achei que tinha sido machucado antes (...)

Suas palavras fizeram um corte mais fundo do que uma faca)

 

54-Isso não é castigo. (Observe. E aprenda.)

Três anos atrás.

Tic toc. Tic tac.

Ficar esperando na recepção da diretoria era irritante demais, principalmente quando se está com fome, percebeu Julie. Ela queria comer. Ela estava com fome. Desde que saiu do hospital, Julie estava com uma fome constante – ela achava que sempre estaria numa fome constante e não estava reclamando, qualquer coisa para não estar trancada num hospital, presa numa cama.

Tic toc. Tic Tac.

Com fome, e entediada, Julie estralava a língua e mexia cabeça acompanhando o relógio, como se fosse um boneco de mola, só que ao invés de mexer a cabeça para cima e para baixo, ela mexia de um lado para o outro.

Tic toc, tic Tac.

—Pare com isso – sussurrou Ash ao seu lado.

—Não – respondeu Julie, alto. – Falta muito Lia?

—Vocês já podem entrar – disse Lilian, com sua voz monótona de sempre, olhando-a irritada. Como sempre.

—Obrigada, Lia. Não sei quem seria de mim sem você – disse Julie, sinceramente. Ela não sabia o quanto tinha sentindo saudades de Lia até agora... Ok, talvez Julie estivesse sendo só um pouco sarcástica. – Agora, Ashton, deixe comigo – tranquilizou ela, andando pela sala com o conhecimento não perdido durante os últimos cinco meses internada.

Quando Ashton deu um empurrão de leve nela, claramente duvidando de suas habilidades, Julie o encarou para mostrar que falava serio antes de girar a maçaneta.

—Julie, que saudades! – exclamou Klaus, sem levantar a cabeça de uma pilha de documentos a sua frente. – Espero que você esteja melhor. Eu queria dizer que é uma surpresa vê-la aqui, mas estaria mentindo. E... – Klaus parou ao ver Ashton atrás de sua afilhada. – Com o Sr. Irwin? Não sabia que se conheciam.

Julie abanou a mão, descartando o pensamento. Isso não era importante.

—Eu estou melhor. Estava com saudades também, Klaus. Então...
Julie olhou ao redor, procurando diferenças e não encontrando nem uma – a sala não havia mudado muito desde a ultima vez que ela esteve ali, era bom saber que algumas coisas continuavam como sempre.

Ashton não sabia de nem um desses pensamentos de Julie, ele só queria saber onde sua cabeça estava por ter acreditado por um pequeno pedaço de tempo que poderia acreditar em Julie Hemmings. Ela não era de confiança.

—O que você fez dessa vez? – questionou Klaus, confirmando a opinião de Ashton.

Julie gostava como Klaus era direto, nada de ficar falando coisas desnecessárias. Ele ia direto ao ponto, na sua ferida não cicatrizada.

—Sério? Vocês têm que... – Julie parou e respirou fundo antes de continuar: – É a aula de artes.

—Entendo – disse o diretor, lançando um olhar compreensivo a ela. Julie gostava desses olhares e de como eles se compreendiam. Oh, Deus, ela definitivamente tinha saudades desses momentos com seu padrinho. – Sra. Désirée?

—Sra. Desiré – assentiu Julie, pronunciando errado. De propósito. – Heloise nos mandou fazer um desenho representando nossos sentimentos. Ela deve realmente me odiar, porque tenho certeza que você conversou com todos os professores a meu respeito... Voltando. Eu não pintei o quadro e ela perguntou por que, eu disse que aquele era os meus sentimentos no momento. Nada. Ai ela disse que eu não havia aprendido nada em todos esses anos e que aquilo não podia ser considerado arte, eu também disse que ela não podia ser considerada uma professora, mas que mesmo assim lá estava ela, então ela não tinha o direito de questionar a opinião dos outros.

Julie respirou fundo e Klaus esperou, aquele foi um monologo longo. E incrivelmente sentimental, o que sua afilhada não era. Ela estava tentando chamar a atenção?

—Como Irwin está envolvido nisso?

—Eu estou aqui – pronunciou-se ele, acenando para chamar atenção. – Posso responder por mim.

—Ash puxou meu braço e me mandou calar a boca – continuou Julie, olhando-o irritada. Ele não sabia o que era “deixe comigo”? – Eu disse para ele ficar quieto que a conversa não chegou nele e que não me fizesse me arrepender de não ter contado a mãe dele o que ele andava fazendo...

—O que ele andava fazendo?

—Klaus, eu não disse a Anne e você acha que vou dizer a você? – perguntou Julie. Klaus ficou quieto, esperando inutilmente que ela confessasse, quando ficou óbvio que isso não iria acontecer, ele balançou a mão, incitando-a a continuar. Julie continuou. – Depois eu peguei a tinta e disse que se eu quisesse, eu até me pintaria, mas Ashton – disse, encarando-o – novamente, me impediu e a tinta acabou caindo em cima da Heloise. Não foi porque eu quis, sério, foi sem querer, mas ela– Julie apontou para ambos – nos mandou para você. Posso ir agora?

—E seu castigo? – murmurou Klaus, com a mão na mandíbula, intrigado pela história. Essas coisas aconteciam na vida real?

—É realmente necessário?

—Você está arrependida?

—De falar a verdade? Não. Porque eu estaria? Eu não menti. Ela queria que eu desenhasse um monte de corações e dissesse que tudo está bem? Porque não está. Nunca vai ficar.

Klaus a encarou. Julie o encarou. Ashton olhou de um para outro, sobrando na historia.

O que posso fazer?, pensou Julie. Eu e Klaus temos uma historia.

—Vamos ignorar esse assunto por enquanto – sentenciou ele, desviando os olhos primeiro.

—Qual é, Klaus? Você está amolecendo – provocou Julie, incapaz de ficar quieta.

Ashton balançou a cabeça, incrédulo, e cutucou-a disfarçadamente quando passou por ela em direção a porta, tentando dizer que ela foi longe demais, que ela deveria parar quando ainda estava ganhando. Claramente Julie não entendeu, porque disse:

—Posso ter um abraço?

—Eu ainda não terminei – disse Klaus quando Ash estava quase com a mão na maçaneta.

—Mas você disse que iríamos ignorar por enquanto... – disse Julie, sem entender, abaixando os braços devagar. A não ser que Klaus tivesse mudado de ideia por causa do que ela disse. Ela e sua maldita boca.

—Você precisa de aulas extras. Ashton precisa de aulas extras.

—E? – questionou os dois ao mesmo tempo.

—Vocês vão ter que participar de algum clube e...

—Basquete – disse Julie rapidamente. – Ash também. E meu abra...

—Ainda vai ficar faltando carga horária – disse Klaus, nem dando tempo de Ashton dizer que não queria basquete. – Você vai ser tutora do Ashton, Julie. Aulas extracurriculares. Vocês podem se encontrar na biblioteca ou em outro...

—Na casa do Ash – decidiu Julie. – A mãe dele faz um bolo delicioso. E eu estou com fome.

—Eu não concordei com isso – interrompeu Ashton. Os dois o ignoraram.

—Posso ganhar meu abraço agora?
Julie abriu seus braços, convidando-o a abraçá-la. Klaus sorriu, mas balançou a cabeça, rejeitando-a.

—Fora, Julie.

—Tchau, Klaus. Até amanha. Meu segundo tempo é do Josh, agende-o para mim, ok? – avisou Julie, fechando a porta devagar. – Agende o segundo tempo do senhor Acker para mim, Lia – disse Julie, friamente, tentando ser uma modelo ao caminhar altiva pela secretária, jogando o cabelo imaginário, antes de correr para acompanhar Ashton quando estava fora da vista dela. – Tá vendo? Sem castigo. Eu disse.

—Em compensação temos clube e aulas extracurriculares – disse Ashton, carrancudo.

—Teríamos isso de qualquer jeito. Nós dois precisamos de carga horária. Eu por estar doente, você por... Por que você precisa de carga horária?

—Não te importa – murmurou Ash. Como ele saberia que não comparecer as aulas reprovava?

—Ótimo, mal humorado – disse Julie, empurrando-o. – Você pode me dizer depois. Depois da escola. Em frente ao portão. Tchau.

 

Ashton ainda não acreditava em sua vida. Na sorte e no azar entrelaçado. Em Julie Hemmings. Como tudo tinha acabado... Assim? Eram tantas coisas inacreditáveis acontecendo, que Ash sentiu-se incomodado. Era como se alguém tivesse planejado tudo isso, tirando a sua opinião sobre o assunto. Era como se alguém houvesse colado-o na entrada da escola, porque ele não conseguia sair dali como tinha planejado.

Ashton não iria esperar-la no portão, não iria participar do clube de basquete, não iria ter Julie como tutora. Ou ao menos foi o que ele pensou.

—Então você é amigo da Julie? – questionou o irmão dela, Luke, caminhando em sua direção.

—Amigo? – Ashton riu. Eles faziam amigos parecer algo tão fácil, como se fosse dizer “oi, vamos ser amigos para sempre?” e pronto, eles eram amigos. Melhores amigos. – O que te faz pensar isso?

—Acho que isso é um sim – disse Luke, observando-o desconfiado mesmo ao entregar um pedaço de papel. – Tome.

—O que é isso?

—Meu número, o da mamãe, o do Calum, o do Klaus, o do...

—Para que tantos números? – interrompeu Ash, levantando os olhos do papel para Luke.

—Se você vai ser amigo da Julie, todos nós estamos no pacote.

—Eu não pedi para ser amigo da Julie – disse Ashton, não negando ser amigo de Julie.

—Ninguém pediria – suspirou Luke, observando-o. – Você sabe dos boatos, certo?

—Quais deles?

—Todos eles.

Ashton assentiu. Ele tinha ouvidos tantos boatos que era difícil saber qual deles Luke falava. Ou se algum era verdade. Era difícil acreditar que Julie seria tão má assim, má ao ponto de sair no tapa com alguém, de persegui-la durante as aulas, de fazer a vida de uma garota um inferno ao ponto da mesma ter depressão ...

Bem, na verdade não era difícil para Ashton imaginar Julie fazendo isso. Ou porque ninguém pediria para ser amigo dela, pois ela parecia pronta para pular em cima de qualquer um que se aproximasse durante todas as aulas – embora, a seu favor, Ash também queria.

Ninguém naquela escola tinha compaixão alheia? Porque cada garota apontava e falava de Julie, como se ela não percebesse, ou simplesmente não estivesse na sala (menos a garota ao lado de Ashton, que ele descobriu ser amiga de Julie), enquanto os garotos ignoravam-na parcialmente, sendo educados e tudo, mas não interferindo nas fofocas.

—Eles não são apenas boatos – disse Luke. – É a verdade. Ela fez tudo isso e mais.

—Ela ficou com todos os meninos da escola?! – exclamou Ashton, horrorizado.

—Menos esse... Onde você ouviu esse?

—Acabei de inventar – sorriu Ashton.

—Você dá certinho com a Julie – murmurou ele. – O que eu quero dizer é que Julie não é a melhor pessoa do universo, ela tem muitos defeitos, é até difícil saber quem é a vitima e a culpada da história, mas ela é minha irmã e eu a amo, e se ela decidiu ser seu amigo, ótimo, eu também serei, mas se você a magoar eu que irei fazer da sua vida um inferno.

—Por que parece que você está falando de mim? – questionou Julie, andado cautelosa até eles.

Luke lançou a ele um olhar de “não diga nada do que acabou de acontecer” antes de se responder a sua irmã:

—Porque eu estou. Eu sempre estou falando de você.

—A não ser quando você está falando de Calum.

—Exato. Minha vida gira ao redor de vocês dois.

—Você não vai ter namorada ou do desse jeito. Ela, ê, vai se sentir excluída ou o.

—Você já ocupa muito meu tempo, Julie – disse Luke. – Ou você quer que eu te troque por alguma loira oxigenada?

—Seu tipo são pessoas morenas, então isso não é possível. Por que você acha que eu me preocupo tanto em ser trocada? – perguntou Julie, apontando para o próprio cabelo.

—Eu vou ter que continuar aqui? – interrompeu Ashton. Ele não sabia o que era pior: ver essas declarações incestuosas na sua frente ou ter que ficar no sol quente.

—Você pode participar – sugeriu Julie. – Sempre tem lugar para mais um se opor a mim. Não importa quantos sejam ninguém nunca irá me vencer num debate.

—É melhor você participar – aconselhou Luke, batendo no ombro dele. – Vai por mim.

—Vamos embora, Julie – decretou Ashton, não dando nem um passo para longe daquele manicômio ambulante antes de virar-se. – Vai vim também?

—Não mesmo – sorriu Luke. – Vou aproveitar o tempo sem Julie para falar do meu assunto preferido.

—Eu? – piscou Julie, sorrindo docemente ao colocar o dedo nos lábios.

—Você – concordou seu irmão, apertando a bochecha dela.

Ashton não sabia se ria ou se internava. Era possível fazer ambos, não era?

—Eu pensei que seu assunto preferido fosse eu, Luke – disse Calum, também chegando.

—Você provavelmente é um deles – refletiu Luke, como se não houvesse acabado de dizer que Calum (definitivamente) era um deles.

—Você é um dos meus, Calum – confessou Julie, passando um braço ao redor da cintura dele e o outro na do seu irmão.

—Oh, Deus – gemeu Ashton, jogando a cabeça para trás. – Vocês são tipo o quê? Um trio? Vocês vêm mesmo em conjunto? Não posso levar um sem levar o outro?

—Por que você quer levar um? – questionou Luke, tentado a pegar o papel de volta. Ashton não precisava do seu numero! Ou da sua irmã!

—Nós somos gêmeos – disse Julie, balançando a mão entre ela e Luke, que acenou, concordando. – Nós somos um pacote. E, Calum, é adotado – sussurrou Julie, como se o próprio não estivesse ao seu lado, ouvindo.

—Ahn?

—Sério? – questionou Ashton, duvidoso.

Isso não explicava muitas coisas, pensou ele. Talvez pudesse explicar porque Julie vivia se jogando em cima de Calum cada vez que o via. Ou porque Luke não fazia nada, quando parecia que queria matá-lo apenas por Ashton ser amigo de Julie. Não era ele que estava agarrando-se com ela naquele instante!

—Não – riu Julie, soltando-se de ambos para cutucá-lo no peito.

Por um momento, Ashton achou que ela fosse agarrá-lo também e... E não sabia como iria reagir. Abraços eram tão... Urg, íntimos. Não que colocar a mão no bolso da calça jeans, puxá-la para um beco, ser socado, levá-la para casa, abraçá-la para aquecê-la (a lista era longa) não fosse intimo. Mas fazer aquilo conscientemente, sem nem uma desculpa plausível, era intimo.

Entretanto Julie não precisava de uma desculpa, porque ela era Julie Hemmings e não saia abraçando recém amigos, sem forte vinculo emocional!

—Eu tentei adotá-lo uma vez, mas papai disse que Calum era um são bernardo e não um hachiko, que era o que eu queria, então nada de Calum.

—Ahn? – repetiu Calum, encarando-a. – Você me comparou a um são bernardo?

—Não. Eu te comparei a um hachiko, papai te comparou a um são bernardo...

—Ahn?

—Tchau, tchau – acenou Julie antes que Calum pudesse retrucar, puxando Ashton pela mão e correndo para passar na faixa enquanto o sinal ainda estava verde. E Calum chocado.

—Eu não seria um hachiko ou um são bernardo! – gritou Calum, indignado. – Eu seria uma calopsita!

—Ahn? – gritou Julie, virando-se para ele, confusa. – Enlouqueceu? Você é um gato!

 

Andar ao lado de Julie era tão silencioso que Ashton perguntou-se se estava ao lado da Julie certa, porque ele podia não ser o melhor amigo dela, mas qualquer um que olhasse para Julie sabia que ela não era do tipo que ficava calada ao caminhar ao seu lado. Equilibrar-se em cima do meio fio? Com toda certeza. Ashton só não estava se preparando para o pior, quando ela abriu a boca, por causa disso, mas não podia imaginar que seria tão ruim assim.

—O que aconteceu com o seu pai? – questionou Julie, repentinamente.

Ashton devia ter previsto isso, mas se ela queria tanto assim saber disso, ela saberia. Julie podia não gostar da resposta (Ash torcia para que ela não gostasse da resposta) mas ele a diria do mesmo modo.

—Preso. Ele está preso – disse Ash, esperando que ela dissesse que não podia mais, que algum imprevisto tinha acontecido, que ela lembrou-se de algo... Qualquer coisa.

—Por quê? Ele também roubou? – questionou Julie, cética, sem nem cambalear.
Ashton a olhou surpreendido. Como ela...?

—Ei, Julie – cumprimentou alguém, aparecendo na frente dela.

—Marcus – acenou Julie, animada. – Você nem foi me visitar.

—Eu fui – disse ele. – Mas todos os horários de visita já estavam ocupados. E você saiu antes que eu tivesse minha vez.

—Claro, eu iria te esperar. Só eu para te esperar – zombou Julie, revirando os olhos antes de voltar a caminhar. – Tchau.

—Qual é Julie? Você esta falando sério?

—Tchau – repetiu ela. – Ashton?

—Ele está foragido – disse ele depois de um tempo.

—Ele está morto? – questionou Julie, olhando-o brevemente.

Ash queria saber como era que ela sabia que ele não estava falando a verdade. Ou porque ela queria saber essas coisas dele, conhecê-lo. Ou porque tantos garotos estavam surgindo. Eles viam de onde? Eles apareciam do nada!

—Julie – cumprimentou outro garoto muito parecido com o primeiro.

Ash estreitou os olhos e olhou para trás, para ter certeza que não era o mesmo. Eles eram gêmeos? Ou ele tinha dado a volta super rápido no quarteirão e voltou para mais uma dispensa?

—Malcom – disse Julie no mesmo tom de voz entediado. – Você não estava na prisão?

—E você num hospital?

—Sem coração! – reclamou Julie. – Você que me colocou lá! Por que você jogou aquele ataque quando sabia que eu não estava com nem uma defesa armada? Você deveria proteger sua rainha e não tentar matá-la!

—Era a única forma que eu conseguir de me infiltrar no reino vizinho – explicou ele, levantando as mãos para o céu, como se não fosse a primeira vez. – Como mostrar que eu não estava do seu lado? Te matando! Eu sabia que você não iria morrer!

—Você ainda vai ficar detido até a segunda ordem! – ordenou Julie, batendo no ombro dele e apertando forte ao ficar nariz contra nariz. – Como mostrar que você não é um espião? Te prendendo e descobrindo todos os seus planos! Eu sei que você entende, é muito difícil ser a rainha e fazer escolhas difíceis.

—O. que. Foi. Isso – questionou Ashton, pausadamente.

—Hum? – perguntou Julie, distraída. – Você nunca... – Ela balançou a cabeça. – O que aconteceu com o seu pai?

—Eu nunca o conheci – confessou ele, perdido.

—Por que não disse antes?! – revoltou-se ela, finalmente cambaleando. Ash segurou sua mão, para tentar impedi-la de cair, mas ela respondeu com um tapa e um pulo para a calçada. – Eu aqui, tentando adivinhar, quando nem você mesmo sabe.

—Vá reclamar com a Anne – disse Ashton, ultrapassando-a e abrindo a porta de uma lanchonete. – A culpa não é minha se ela teve um caso de verão e ele desapareceu depois, ao saber que ela estava grávida.

—Hunf – bufou Julie, dando um passo para dentro e dois para trás. – Sim, podemos ir na sua casa – disse ela, como quem não queria nada, como se estivessem conversando sobre isso e não sobre um pai inexistente.

Ash não sabia se agradecia pela troca de assunto ou ficava chocado com a falta de delicadeza dela para mudar de assunto. Julie nem tinha parecido um pouco envergonhada ou arrependida por ter perguntado sobre o pai dele! Se bem que... Ela parecia desconfortável, com algo.

—Não, não podemos – retrucou Ash, empurrando-a para dentro.

—Por quê? – rogou Julie aos céus. – Ninguém me ama?

A vida de Ashton seria simples se essa fosse a resposta, se a realidade não fosse sua mãe perguntando sobre a garota chamada Julie a cada segundo – talvez por isso, ele soubesse o nome dela, não tivesse se esquecido, porque era sempre “Cadê a Julie? Quando você vai trazer a Julie? Você deveria ser amigo dela! Você é amigo dela?”

—Ela te ama quase tanto quanto eu – suspirou Ash, sentando-se na mesa ao lado de algumas garotas, que usavam o uniforme da mesma escola que eles.

Por quê?, Julie repetiu, só que dessa vez em pensamento. Por que de tantos lugares para elas estarem tinha que ser ali? Por que Ashton tinha escolhido aquele lugar?

—Você ouviu isso? – riu uma delas, quando Julie puxou a cadeira.

—Pois é – concordou a outra. – Alguém a ama?! Dá para acreditar nisso?

—Você quer ir para outro lugar? – questionou Ashton, sussurrando.

Julie colocou o dedo nos lábios, pedindo silêncio. Ela estava realmente curiosa de como estavam boatos desde que foi para o hospital. Diziam que o acidente foi culpa dela? Que ela ficou internada mais tempo por que tentou se suicidar ou por que ela estava grávida? Uau, será que ela teve um caso com um dos professores? Ou o filho era um dos muitos garotos com qual ela ficava?

Seja o que fosse, Julie estava acostumada. Não existia nem mesmo um motivo real para que as garotas não gostassem dela... Além de inveja e de bode expiatório – alguém precisava ser o alvo para tanto ódio contra si mesmo!

Seu pai dizia que elas faziam o que faziam porque não conseguiam assimilar tudo de bom que estava dentro dela, que não conseguiam lidar com tanta coisa incrível que formava Julie Hemmings, com o fato dela não se importar com a opinião alheia.

Seja o que fosse, Julie agradecia. Menos tempo para separar o joio do trigo e mais para seus novos vícios incentivado por Calum. Ela realmente agradecia por Agatha e suas falsidades. Embora fosse socá-la da próxima vez que a visse – Julie arrependia-se de não tê-la socado.

—Era o que eu iria dizer! Como alguém pode gostar dela? Sabe o que aconteceu hoje na aula de artes? Ela veio com tudo um papo de sinta pena de mim, por favor...

—E na aula de educação física? Ela sentou-se no banco e disse que não faria nada, e depois todos os garotos a cercaram...

—É – concordou a primeira. – E foi tudo Julie tome cuidado, Julie não se esforce, Julie quer isso... E depois brigou com a Kate.

—Pois é. Ela chegou do nada, brigou com a Kate e saiu tão rápido quanto chegou. Ela sempre faz isso quando as coisas não saem como ela quer. Se não aguenta, não comece.

—Ela deveria ter ficado no hospital.

—Ela deveria ter...

—Vocês não têm nada melhor para fazer, não? – interrompeu Ashton, olhando para as garotas.

—Oh, meu Deus, Ashton! – gritou Julie, surpreendendo a todos, que se sobressaltaram da cadeira e a encararam. – Não atrapalhe – reclamou ela, chutando-o por debaixo da mesa. – Eu estava gostando. Eu posso cuidar de mim mesma, principalmente de pessoas que não sabem demarcar limites para bullying. Sabiam que elas usam qualquer coisa? Qual-quer coi-sa – soletrou Julie, encarando as duas garotas. – Inclusive pais mortos? E pessoas que ficaram internadas num hospital, sem poder andar? Porque se elas querem falar mal de alguém, sem nem um motivo justo, que eles também não sejam injustos. E que ao menos saibam o porquê de tudo isso, como tudo começou, e que não estejam seguindo a turba, mas é claro... – Julie sorriu. – Não se pode esperar muitos de pessoas assim, afinal elas não têm culpa de terem lares defeituosos e de terem aprendido a tratar os outros como foram tratadas. E que não saibam xingamentos melhores do que vaca, vadia, piranha no espelho do banheiro, como se tivesse fazendo um abaixo assinado. Quanta originalidade. Foi eu que colocou todo o resto a propósi... Oh, vocês já vão, tão cedo? Se não aguentam, não comecem.

—Hum, Julie? – chamou Ash, desconfortável. Ele queria perguntar o que foi aquilo, qual era a verdade por trás de tudo isso, contudo mais que tudo isso, ele só queria que ela esquecer-se o que aconteceu e deixasse daquela expressão triste. – Nós podemos ir para a minha casa se você quiser...

—Isso não tem nada haver com o que acabou de acontecer?

—Um pouco – confessou ele.

—Sua sorte é que eu não me importo com as suas razões – avisou Julie, já radiante. – Porque, se eu me importasse, eu me apaixonaria por você nesse instante.

—E se eu dissesse que tem bolo?

—Dã, eu perguntaria onde estão as alianças.


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Notas finais do capítulo

E ai, drama desnecessário?
Salve essa autora da internação!



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