Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 50
Isso não é uma complicação.


Notas iniciais do capítulo

Eu não sabia o que fazer no capitulo por isso a demora. Eu tinha dito a alguém que teria alguém sonambulo, Ashton tarado, mas... Foi por impulso - e eu sou uma mulher de palavra! - então teve que me virar.
Eu estava completamente HP esses dias. A conversa seria essa basicamente (péssima por sinal):
“—Estou sonhando com você... e você sabe o quê.
—Voldemort?
—Esse é você sabe quem – explicou ela. – Você sabe o quê é a pedra filosofal.
—Eu sou a pedra filosofal?
—Você é você sabe quem.
—Você não disse que esse era Voldemort?
—Exato. Estou sonhando com você sabe quem e você sabe o que.
—Se eu sou você sabe quem, quem... não, o que é você sabe o que?
—Segredo.”
Se eu continuasse com isso, nada de bom iria acontecer, mas não continuei, então apreciem!!!
Grow up - https://youtu.be/nuLLEhmpxJo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704566/chapter/50

Now you said some stuff that you can't take back

How did you think that I would react?

(Agora, você disse algumas coisas que não podem voltar atrás

Como você pensou que eu agiria?)

 

50-Isso não é uma complicação. (A vida não é complicada, as pessoas que a complicam.)

Sábado, 14 de maio

O som do flash a fez abrir os olhos rapidamente. Não pelo som, o som poderia passar despercebido – Julie era uma daquelas pessoas que continuariam dormindo com o fim do mundo batendo na sua porta – mas pelo clarão. A luz que brilhou através da suas pálpebras pesadas era vermelha e, por um momento, Julie sentiu sua respiração acelerar ate que sentiu algo na sua cabeça.

Estranhamente, Julie tinha um ótimo conhecimento a respeito de mãos, ela poderia até ser quiromante ou quiróloga caso tudo desse errado na sua vida. As coisas costumavam dar.

Todas as pessoas que Julie conhecia – menos Liz, Anne e Demi – tinham dedos delgados, logos e compridos, mas mesmo assim eles eram diferentes. Todos os dedos eram diferentes. Todas as mãos eram diferentes. Todos os destinos – que Julie não acreditava – e predisposição – que Julie acreditava – eram diferentes. E ela podia ver nas mãos.

Julie era tão boa em leitura das mãos – boa do tipo “sua barraca de vidente foi a que mais lucrou nos festivais da escola”, que seu pai teve que proibi-la de usar sua predisposição a adivinhação para ganhar dinheiro; boa do tipo “Julie era tão certeira em suas adivinhações normalmente negativas”, que Klaus a proibiu de continuar com a barraca, temendo suicídios em massa – que ela não fazia mais isso. Às vezes Julie se perguntava se saber das coisas fazia diferença, às vezes ela se perguntava se tinha como saber das coisas realmente.

Entretanto não é que Julie fosse maravilhosa em leituras de mãos – ela tinha apenas certo conhecimento em quirologia e quiromancia – mas o que tornava suas previsões certas era a observação. Talvez no fim Julie fosse ser uma behaviorista.

Por exemplo, ela sabia dizer quem alisava seus cabelos mesmo sem abrir os olhos, porque se as pontas dos dedos dela e de Luke eram arredondadas e as de Calum quadrada, as de Ashton eram de artista. Se existissem dedos de artista, Ashton os tinha. Ele podia ser um artista, saber desenhar com uma delicadeza impressionante nos traços, mas ele não sabia como passar a mão na cabeça de alguém. Luke alisava seus cabelos como se dedilhasse uma canção suave num violão, Ashton era como se tentasse arrancar cada fio da sua cabeça.

—Ash... – murmurou Julie, prendendo as mãos que arrancavam seus cabelos no seu cabelo enquanto abria os olhos apenas o suficiente para não ver nada. Ela odiava quando suas pupilas dilatavam.

—Oi – disse ele.

Julie semicerrou os olhos – ela podia ouvir o sorriso na voz dele. Ashton era sádico? Porque ela estava crente que seria a sádica da relação. Que não existia. Ainda.

—O que você está fazendo? – exigiu Julie, ainda grogue de sono, abafando um bocejo contra um travesseiro.

—Tirando uma foto.

Murmurando palavras incoerentes, Julie se virou para o lado até que a realização do que ele disse a atingiu e ela virou-se com tudo, podendo finalmente ver Ashton claramente – e seu sorriso.

Ashton estava sentado no chão, na altura dos seus olhos, numa posição indiana e com uma câmera nas mãos. E um grande sorriso no rosto. Ele não pode não sorrir; a visão de Julie deitado na sua cama, com a sua roupa, descabelada, deixava-o animado. E talvez ele precisasse dessas imagens para futuras chantagens.

—Isso é assustador – murmurou Julie, de olhos arregalados. – Por quê?

—Porque você olha bem – disse ele, dando de ombros ao olhar cético dela.

—O-olha... – Julie não podia acreditar no que ouvia. – Eu pensei que você preferisse desenhar a fotos.

—Eu prefiro. Mas elas não são de todo mal. – Como se para comprovar o que dizia, ele levantou a câmera e tirou mais uma foto. Julie piscou, vendo pontos negros. – Eu não acho que conseguiria reproduzir essa imagem tão bem e você não iria ficar muito tempo naquela posição para eu descobrir... – Mais um dar de ombros. – Eu disse que você olhava bem.

—Eu vou dormir – disse Julie para si mesma. E para a alucinação na sua frente.

Seu cérebro pegava pesado às vezes quando ela estava cansada. Felizmente era sempre fácil saber diferenciar a realidade da mentira. Como o fato de que, ao olhar para Ashton, Julie via uns espectros rosa na aura de Ashton, o que em vários graus mostrava o quão falso era aquela visão. Primeiro, rosa era para pessoas inocentes e de inocente Ashton não tinha nada – ou apaixonadas. Segundo, era impossível ver a aura das pessoas.

Ela estava tão cansada.

Tão cansada que pensou ter ouvido o colchão rangendo e alguém se deitando ao seu lado, enrolando-se ao redor dela como se ela fosse um grande e confortável ursinho de pelúcia. Ou alguém que precisasse ser protegida, como se Ashton Irwin fosse um casulo e Julie Hemmings a borboleta da relação – ela já tinha borboletas no seu estômago e asas em suas costas.

—Uou, Julie – suspirou ele, no seu pescoço. – Você é tão fofa.

Julie ignorou os arrepios, porque ela definitivamente sonhava. E, no sonho, era um grande e confortável ursinho de pelúcia, porque apenas se fosse isso para ser considerava fofa por Ashton.

—Meu Deus, Ashton – reclamou Julie, empurrando-o. Falar com alucinações era ruim, mas... Era difícil não falar. – Nem em sonhos você me deixa em paz.

—Você sonha comigo?

—Estou sonhando com você nesse exato momento – disse Julie, calmamente enquanto fechava os olhos.

Conte os carneirinhos, Julie, pensou ela. Conte os carneirinhos. Você irá acordar desse sonho a qualquer momento. Você abrirá os olhos e perceberá que está sozinha no quarto. Esperançosamente, tudo foi um sonho... A partir de qual ponto tudo foi um sonho, Julie não sabia para o que torcia.

—Acorde, Julie – disse alguém que tinha a voz de Ashton no seu ouvido. (Julie tentou ignorar o calafrio e se concentrar. Quem sabe o seu subconsciente queria dizer algo?) – Esta mensagem é para você, por favor, acordar do coma. Felizmente após inúmeras tentativas conseguimos nos comunicar com você. Julie, por favor, acorde, isso não é brincadeira.

Julie o cotovelou. Seu subconsciente era sádico contra ela mesma. Ao menos ter um subconsciente sádico era melhor do que Ashton está fazendo aquela brincadeira com ela. Aquela brincadeira era algo que ela faria, logo era o seu subconsciente que a produzia, não Ashton realmente.

—Isso não é engraçado – disse Julie mesmo assim. Seu falso Ashton precisava crescer; ela precisava crescer.

—Desculpe – reconheceu ele (ela mesma). – Eu fico meio insensível quando quero dormir e não consigo.

—Claro que sim – concordou Julie. – Você e eu somos a mesma... Não fale com a alucinação!

—Aquele sofá é tão desconfortável – continuou Ash, sorrindo.

Julie devia saber que ela era uma péssima pessoa e seria perseguida ate num sonho. Por ela mesma! Na verdade, pelo Ashton que seu subconsciente criava. Ela não sabia quem culpar!

—Você vai me deixar em paz? – gemeu Julie, batendo a cabeça contra o peito dele, que tremia pelo riso que ele tentava abafar.

—Eu acho – disse Ash, passando a mão no cabelo dela com uma delicadeza surpreendente (surpreendente não do tipo Luke faria, mas surpreendente para Ashton que vivia querendo arrancar seus cabelos) – que te amo.

Julie suspirou, mordendo a bochecha com força ao balançar a cabeça. Ela definitivamente estava sonhando. E precisava acordar – aquilo estava ficando patético.

 

Seu travesseiro se mexeu e Julie o acompanhou, pensando vagamente sobre o que poderia tê-lo possuído, porque, alem de ondulante, ele não era tão macio quanto um travesseiro deveria ser. Ele nem era um travesseiro.

—Pare de se mexer – murmurou Ashton, no seu ouvido.

—Eu vou me mexer quando achar que eu tiver que me...

Julie parou – ela culpava sua própria surpresa por isso. Ela não tinha sonhado tudo que aconteceu? Ou ela ainda estava num sonho? Entretanto o Ashton abaixo de si era muito real. Mais real do que jamais foi. Provavelmente porque não brilhava nem tinha um espectro rosa ao redor da sua aura.

—O que você está fazendo no seu quarto? – perguntou Julie, recompondo-se. Ou perdendo a compostura.

Ela tinha aberto os olhos e colocado as mãos no peito dele, empurrando-o para poder sair de cima dele – como foi que eles acabaram nessa posição? – mas Ashton estava tão perto. E completamente enrolado em Julie, contudo não era de modo algum do tipo “você é fofa”. A não ser que Ashton fosse um lolicon.

—O quarto não é... É, ele é meu – confirmou Ash, percebendo que Julie tinha falado certo. – Mas não estamos nele. Você está no sofá.

—O que eu estou fazendo no sofá? – perguntou Julie, retirando os olhos dos dele para olhar em volta. Ela estava no sofá. Ou, melhor, deitada em cima de Ashton que deitava no sofá.

—Boa pergunta – disse Anne, surgindo em sua visão. – E por que vocês estão... assim? Eu preciso de uma resposta, mas não sei se quero.

—Não fui eu – disse Ash, levantando as mãos, antes que Julie pudesse dizer o mesmo. – Ela caiu em cima de mim no meio da noite, murmurando algo sobre eu estar rosa.

—E você não a tirou de cima de você, porque...

—Eu não iria derrubá-la no chão quando ela claramente não estava bem. Não era culpa dela que ela precisasse de algum conforto.

—Eu não me lembro disso – interrompeu Julie, levantando a mão como se estivesse numa sala de aula. – Eu não sou... sonâmbula?

—Está vendo? – Ashton apontou, sentindo o sorriso crescer nos seus lábios. – Coitadinha. Ela nem se lembra disso.

Julie rosnou, pronta para avançar em Ashton como um animal ferido que foi acuado, quando sentiu Anne pegando seu braço, separando-a de Ashton.

—Ei, ei – disse Anne, sentindo-se como a mãe de duas crianças do fundamental. – Para a cozi...

—É – concordou Julie, pisando duro ao ultrapassá-la. – Eu acho que essa é uma ótima ideia.

—Melhor ainda – Anne parou (pelos olhares assassinos de Julie, ela previa uma dissecação de corpos na mesa da cozinha) – desapareçam da minha vista. Vocês arruinaram minha vida, eu já tinha até um script pronto. Eu iria acordar e não ver Ashton deitado no sofá como o deixei – contou Anne, com um tom levemente melancólico – então iria procurá-lo no quarto de Julie e ver ambos dormindo de um jeito que Liz não aprovaria, eu tentaria fazer Ashton passar vergonha no café...

—E eu? – perguntou Julie, sentindo-se excluída.

—Você é um caso perdido. Eu não iria desperdiçar meu tempo com algo impossível. Certo, onde eu estava? Ah, sim, ai eu diria que estava com sede e fui beber água, e não vi Ash deitado no sofá como o deixei – relembrou ela, culpando pelo fato dele não estar no sofá como tinha sido deixado – e que tinha ouvido barulhos, gemidos – sussurrou Anne, inclinando-se levemente em direção da Julie – vindo do quarto, ai você diria...

—Que você estava tendo alucinações – completou Julie.

—Exato – confirmou Anne. – Como você...

—Não sei. – Julie deu de ombros, tentando ser modesta.

—Mas ai você arruinou tudo com esse suposto ataque de sonambulismo! – reclamou Anne.

—S-suposto? Eu não me lembro! – defendeu-se Julie, levantando os braços.

E o que me lembro não faz sentido, pensou ela. Ashton não agia estranho e quem tinha acordado no lugar errado não fora ele.

 

Julie era estranha – era um fato. Ashton sabia. Todos sabiam. Tinha vezes que ele não sabia quando levá-la a sério ou não. Às vezes ela comportava-se como uma criança, em outras parecia alguém com um perfeito juízo, melhor do que perfeito na realidade. Quase constantemente Ashton suspeitava de múltiplas personalidades. E de que ele próprio tinha algum problema por amar Julie.

Ashton não estava dizendo que amava Julie da maneira que ela o amava. Ele amava Julie do mesmo jeito que ela, do primeiro jeito que ela o amava, como uma amiga. Uma melhor amiga. Mas não do outro jeito. E Ash não iria mentir para ela e dizer que algum dia iria amá-la desse jeito, contudo não seria uma mentira se ele dissesse que amá-la desse jeito não era algo que não pudesse acontecer.

Ashton conseguia pensar nele amando Julie romanticamente falando e apenas esse fato eram motivos de preocupação para o seu ego masculino. E aquele não era o momento certo para falar disso. Isto é, se existisse um momento para você criar falsas esperanças em alguém. Você não chega numa pessoa que está apaixonada por você e diz que pode amá-la. Você não dá esse tipo de esperanças a alguém para depois descobrir que não, que você não pode apaixonar-se por ela.

—O que deu em você e esses súbitos ataques de silêncio? – perguntou Julie, interrompendo um desses momentos silenciosos. – Você não é assim, Ashton.

—Bem, até onde eu me lembrava você não era sonâmbula, não é? – questionou ele, desviando o olhar da pista. Porque é claro que sua mãe cumpriu com sua palavra e mandou-os desaparecerem da sua vista. – Ou será que você sentiu saudades de mim e...

—Estou dizendo a verdade, eu não me lembro de como fui parar no sofá – disse Julie, devagar, olhando pela janela.

Se Ashton a conhecia como tinha quase certeza que sim, Julie não mentia. Mas também não falava a verdade. Mais um fato sobre ela – que nem todo mundo tinha conhecimento – era o seu uso cuidadoso das palavras, como se contar a verdade fosse demais e mentir impensável. Ashton não a entendia.

—Preparada? – perguntou ele antes de estacionar, dando tempo para Julie mandá-lo pisar fundo no acelerador e não parar ate que sua casa desaparecesse no horizonte.

—Com quem você acha que está falando? – perguntou ela, desviando os olhos para ele, com um sorriso no rosto.

Verdadeiro ou falso?, questionou-se Ashton. Caso fosse dar uma nota para aquele sorriso, ele diria que era um seis em cima do muro da honestidade. Mas antes que Ash pudesse ao menos pensar no que dizer, Julie já estava fora do carro dando um forte tapa em Calum.

Antes ela do que eu, pensou Ash, querendo fazer o mesmo. Mas com muito mais força. Como Calum pode ter deixado Julie beijá-lo? Ashton sentia-se traído.

—Ai – disse Calum, colocando a mão nas costas como se fosse um velho. – Por que você fez isso? Minhas costas estão doendo agora.

—Pare você parar de frescura e entrar... Ou estava me esperando?

—Estou esperando o Luke – corrigiu Calum, mal dando um segundo olhar nela.

—Owwwnnnttt. Vocês vão sair num encontro? – provocou Julie, empurrando-o com o ombro e fazendo-o companhia na observação da porta. Alguém iria abri-la porventura, não é? Não tinha para que se adiantar e abri-la então. – Porque isso parece uma atitude de cafajeste. Primeiro você beijou Luke na frente da namorada dele e depois beijou a irmã do cara que você beijou na frente da namorada dele.

—Eu não te beijei, você que...

A voz de Calum morreu à medida que a porta que ele observava abriu-se na sua frente em câmera lenta, como se quisesse prolongar o momento do seu sofrimento... E então a porta estava completamente aberta e Liz na frente deles, com uma expressão... Julie tinha sentimentos conflitantes por aquela expressão.

—Mãe... – disse Julie, vendo-a e temendo pela sua própria segurança por um momento. Liz não a mandaria lavar os pratos, mandaria? Julie odiava água. – Eu não...

—Não – interrompeu Liz, decidida. – Eu vou falar e você vai ouvir.

Julie parou, sentindo-se esmagada pela volta da culpa antes que pudesse reclamar. Liz tinha todo direito de estar irritada, mas ela estava estranhamente calma e isso era assustador. Sua mãe sempre tinha essa paciência em momentos difíceis e era assustador. E admirável. E impressionante. Sua mãe era impressionante. E Julie queria que ela fosse feliz.

—Acho melhor ir para casa – murmurou Ash, apontando sobre seu ombro enquanto dava passos cautelosos para trás sem tirar os olhos de Liz, como se ela fosse um animal prestes a dar o bote. Julie e Liz eram mãe e filha idênticas.

—Eu também – acompanhou Calum, mostrando as mãos em sinal de rendição. Ele planejava ficar e servir como mediador, mas Julie fez por onde, estava só naquela. Ela tinha que aprender a lidar com as conseqüências.

Traidores, pensou Julie. Eles nem tinham pensando por um segundo em levá-la junto!

—Vocês também vão ouvir – continuou Liz, olhando cada uma daquelas crianças. – Todos sentados.

Se Liz pensasse bem no assunto, o problema de tudo foi justamente isso: ninguém a ouvia, não existia nada para ouvir. Ela estava tão preocupada em ser uma boa mãe, que pensou que seus filhos mostrariam o caminho para ela, mas ser mãe era mostrar a eles o caminho certo e deixá-los escolher; era fazê-los escutar mesmo que não quisessem; era ficar ao lado de Julie apesar dela dizer o contrário, apesar de se sentir mal por não ter como sofrer no lugar da sua filha. Ser mãe era complicado, entretanto Liz não mudaria nada.

—Mãe...

—Eu disse que você iria ouvir, Julie – relembrou Liz – não falar, então...

Seguindo o dedo dela, Julie surpreendeu-se – não muito realmente – ao ver seu irmão já sentando no sofá. Ele parecia estar sofrendo. Julie perguntou-se enquanto arrastava os seus pés para o sofá o quanto ela que iria sofrer...

—Já sentou, Julie? – interrogou Liz, claramente sabendo a resposta e levantando a sobrancelha para que sua filha soubesse disso.

Julie estava de costas a ela, mas sabia de tudo isso e revirou os olhos pela metade, com medo de que Liz pegasse-a no flagra. Ou que os olhos arregalados dos garotos que já tinham chegado ao sofá e faziam companhia a seu irmão delatassem-na.

Bando de traidores, pensou Julie, não se sentindo corajosa o suficiente para ficar sozinha, espremendo-se desse jeito entre Luke e Ashton, porque Calum tinha preferido Luke e o braço do sofá. Duas vezes traidor.

—Eu mereço ser feliz – começou Liz, olhando ao redor. – Alguma objeção? – Cabeças balançaram-se. – Alguma objeção?

—Não – disseram todos, menos Julie, porque ela iria ouvir, não falar.

—Ser mãe é colocar os filhos antes de si mesmo, é querer vê-los felizes e fazer tudo por isso. Mas pelo visto eu estava criando-os para serem egoístas. Ou estou enganada? Não respondam! – avisou Liz quando eles abriram a boca. – Eu fiz tanta coisa por vocês. Desisti de tanta coisa... E o que eu peço? Nada. Na-da. N-A-D-A.

—Eu... – começou Julie, parando rapidamente. Liz não disse nada, mas tão bem como se fizesse, Julie sabia que era para ser calar.

—Eu amo Andrew. Eu amo tanto Andrew. – Liz sorriu. – Eu amei Andrew desde que falei com ele, mesmo que não tivesse entendido. Ele era engraçado, inteligente, gentil... E eu quis matá-lo. – Ashton se espantou, o resto sorriu. Esse era Andrew Hemmings. – Vocês me lembram dele. Cada vez que olho para vocês eu o vejo. Eu vejo Andrew na paciência de Luke, no brilho dos olhos de Julie, no sorriso de Calum...

—Eu não sou seu... – interrompeu Calum, levantando a mão timidamente.

—Andrew não se importava se você era ou não do seu sangue. Eu não me importo. Você é meu filho, eu te amo tanto quanto se fosse. E eu vejo Andrew cada vez que você sorri. Você sorri que nem ele, é gentil que nem ele

—E eu?

—Você me faz querer matá-lo, Ash – refletiu Liz.

Ela gostava do fato de Julie estar apaixonada e de ser Ashton essa pessoa. Ele era uma ótima pessoa, um ótimo amigo, ela sempre quis ele como seu genro, mas... Agora Liz não estava tão certa assim. E ela não daria sua garotinha tão facilmente – se Julie não sabia se fazer de difícil, Liz teria que fazer por ela.

—Cuidado, Julie – zombou Ashton, cutucando-a com o cotovelo. – Sua mãe me quer.

—Isso! – lembrou Liz. Todos esperaram a continuação silenciosamente. Ou (foi o que aconteceu primeiro) que Liz percebesse o duplo sentido de sua frase. – Não assim! – exclamou ela, horrorizada. – Eu não quero Ashton!

Mamãe era idiota, pensou Julie, Luke e... Calum. Ele gostava de pensar que Liz era como sua segunda mãe. E uma boa mãe.

—Eu quero ser feliz. Eu sou feliz – completou Liz, rapidamente, para não deixar mal entendidos. – Mas eu quero... Eu não sei. Eu me sinto bem com John. Não que isso signifique que eu não ame Andrew mais. Eu amo Andrew e o amarei até o último dia da minha vida, ele é uma parte importante da minha vida, ele faz parte de quem eu sou, mas isso não significa que eu não posso mais me apaixonar. Eu não estou traindo-o. Andrew não está mais aqui, Julie, e ele iria querer que fossemos felizes. Alguma objeção?

Julie não tinha o que objetar. Aquilo era incontestável. Sua mãe daria uma ótima advogada, com tantos argumentos validos. Liz estava de parabéns, Julie bateria palma para ela se não fosse as próximas palavras da sua mãe:

—Ah, e você está de castigo, Julie.

—Ahn... O que? – Julie piscou, surpresa. Ela nunca tinha ficado de castigo antes! – Certo, eu mereço – reconheceu ela. Se Julie Hemmings algum dia mereceu um castigo, o dia era aquele. – Então...

—Sem TV – disse Liz, rapidamente, como se temesse esquecer. – Sem celular...

—Hum, acho que esse é o melhor momento de dizer que quebrei o celular há um, dois meses atrás?

—O que?

—Nada não. Sem TV, mais o que? – incitou Julie.

—Sem aparelhos eletrônicos típicos de castigo – decidiu Liz. Ela não fazia ideia de quais eram eles, mas sabia que esse era o momento para Julie negar, não assentir, achando justo. Liz não gostou. – E sem vim para casa depois da escola durante um mês.

—Ahn, mas... As férias são daqui a duas semanas! – reclamou Julie. – E eu vou ficar na onde? Debaixo da ponte?!

—Você não vai poder ficar em casa apenas assistindo, comendo e lendo. Vá arrumar algo para fazer. Você pareceu gostar tanto de ficar fora de casa em vez nela, que eu pensei que seria bom esse tempo de só aparecer em casa para dormir.

—Mas, mas...

—Alguma objeção?

Os murmúrios de reclamação de Julie, o fato dela estar maldizendo-se, foi... Liz sorriu. Aquilo era música para os seus ouvidos. Ela deveria colocá-los de castigo mais vezes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tenho a infeliz noticia de dizer que Julie não foi a única que já teve a vida toda enganada por um sonho. Foi sonho ou realidade? Até que parte foi sonho? Até que parte foi real? Será que ela é uma Bela Adormecida da vida real? Será que ela acordará e descobrirá que tudo foi um sonho? Oh-oh. Eu não iria tão longe, mas não planejo dizer – eu nem sei ao certo se eu mesma sei.
Pequeno questionário:
1- Alguém compreendeu a frase “eu preciso de uma resposta, mas não sei se quero”?
2-Qual ano você acha que eles cursam? Eu não me lembro se especifiquei isso, ou se eu sugerir algo, e estou com preguiça de olhar novamente e tenho que saber disso para poder escrever os próximos capítulos.
3-Qual profissão você acha que se encaixa em cada personagem? Você pensa em Julie sendo... contadora?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Isso não é..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.