Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 44
Isso não é quebradiço.


Notas iniciais do capítulo

Estou me sentindo meio que neutra em relação ao capitulo, não sei minha opinião sobre ele. Não está ruim, mas não acho que foi um dos meus melhores.
A demora para o capitulo não foi nem a falta de ideia, foi a falta de concentração. 07/01 é o aniversário de Killugon e eu queria escrever uma fic, mas não tinha ideia, mas eu realmente queria. No dia é que eu consegui pensar em algo e escrevi - só trabalho sobre pressão. Gostei muito, e quem quiser ler, mesmo que não viu HXH, não tem problema, mas é yaoi - https://fanfiction.com.br/historia/721372/Melhores_Amigos/
Eu acho essa música perfeita para a história, eu amo essa música. É a minha segunda musica triste favorita. Broken Home, 5sos, https://youtu.be/lqtVYN8iPZw



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704566/chapter/44

They would yell, they would scream, they were fighting it out

She would hope, she would pray, she was waiting it out

Holding onto a dream while she watches these walls fall down

(Eles berrariam, eles gritariam, eles estavam brigando

Ela esperaria, ela rezaria, ela já sabia que ia acontecer

Vigorando um sonho enquanto assiste as paredes desmoronarem)

 

44-Isso não é quebradiço. (Quebre até não sobrar nada, nunca será concertado mesmo.)

Sexta-feira, 13 de março.

Sua casa estava quebrada. Talvez ela não estivesse realmente quebrada, mas às vezes Julie sentia que sim. Quebrada do tipo caiu, despedaçou, colou e... E não ficou mais forte, mas com um pedaço faltando. Quebrada do tipo seu pai era o pedaço que faltava.

Esses eram pensamentos depressivos, Julie sabia. Normalmente ela sentia-se assim quando se encontrava em casa; raramente ela sentia-se assim quando tinha companhia. E, naquele momento, ela tinha companhia. Era apenas uma única pessoa, mas era a única pessoa que Julie gostaria de ter naquele momento. Era a única pessoa que Julie gostaria de ter em todos os momentos. Era seu irmão. Mas...

—Cadê o Calum?

Ela tinha subido as escadas, tomado banho, trocado de roupa, descido e... Cadê seus amigos? Eles tinham sumido e restava apenas seu irmão, e lençóis e travesseiros no sofá. Não seria ela a reclamar da conforto que seu irmão oferecia a ela, mas... Cadê seus amigos?

—Como se você quisesse saber dele – murmurou Luke.

Julie revirou os olhos, bufando enquanto jogava as pernas com força no colo dele. Ela sabia que iria demorar um tempo para seu irmão se acostumar a ideia dela gostar de Ashton – Julie não sabia se ela mesma tinha acostumado-se a ideia – entretanto também sabia que tinha que delimitar algumas linhas ali antes que Luke fosse longe demais.

—Comporte-se, Luke – disse Julie. – E controle seu ciúme. Ou você quer que eu...

—Você não faria isso – ofegou Luke, horrorizado.

—Tente-me e descubra – disse Julie, petulante e de nariz empinado.

Ter o controle da situação fazia isso com a pessoa. E ela não tinha apenas a situação sobre controle, Julie tinha Luke na palma da sua mão, fazendo o que ela queria; e não era como se quisesse muita coisa, Julie apenas desejava que Luke controlasse sua boca e em troca ela faria o mesmo. Era uma troca justa – a mais justa da vida de Julie.

—Mamãe vai vim realmente hoje? – perguntou Julie a Luke, mudando de assunto, porque normalmente sua mãe parecia ter um desejo de ser um dos pedaços que faltavam. E ela já tinha consertado aquele problema em questão, então não tinha para que se preocupar com ele.

—Ela disse que sim – respondeu Luke, hesitante.

—Ela está atrasada – anunciou Julie, suspirando enquanto cruzava as pernas. Por que ela não estava surpresa?

Sua mãe chegar na hora era milagre; sua mãe nem aparecer era normal. Julie deveria estar acostumada, mas ainda assim era um baque saber que as peças não iriam se encaixar não importa o que ela tentasse uni-las novamente. Talvez por isso, às vezes – Julie não toleraria se fosse sempre – ela ia na onda da sua mãe e parecia um pouco mais animada do que o normal ao vê-la, porque alguma parte dela ainda tinha esperanças que mesmo quebrada, sua casa pudesse funcionar.

—Mamãe – gritou Julie, pulando sobre ela quando a porta foi aberta.

—Oi – disse Liz, tropeçando pelo peso súbito em cima dela. – Isso é...

—Um abraço em família – afirmou Julie, como se fosse obvio. Retirando um braço da cintura da sua mãe, ela chamou: – Luke?

Revirando os olhos, Luke aproximou-se delas. Às vezes, Julie parecia bipolar. Num momento, ela parecia odiar sua mãe e em outros era a maior fã dela. Sua irmã não era normal, nem uma pessoa deveria ser tão de extremos assim. Isso era bipolaridade.

—Meus bebês já têm dezesseis anos... – chorou Liz, agarrando-se aos dois.

É claro que bipolaridade era hereditária e Julie herdou da mãe. Liz era outra que num momento era anti-sentimental e no outro a pessoa mais afetuosa que Luke já viu – Julie tinha essa mesma característica. Aquelas duas se mereciam.

—Mãe... – reclamou Luke, revirando os olhos novamente. – Eu não sou mais uma criança.

—Tecnicamente – interrompi Julie, dando um olhar que dizia saber das coisas – você é uma criança até os 18 anos.

Luke não disse nada, apenas a olhou de volta, tentando dizê-la que ela não sabia das coisas, que, como quase sempre, ela estava errada.

—Vou fazer a pipoca – disse Liz, soltando-os com um sorriso triste e olhos embaçados. – Escolham o filme para a gente pode começar, tenho novidades.

Começar era a palavra errada na opinião de Julie. Começar sugeria algo novo, não acontecimentos repetitivos e, sempre que acontecia uma reunião – reunião que Liz insistia em fazer todo mês, que se transformou numa tradição desde que Julie saiu do hospital, e que todos eram obrigados a comparecer – só tinha acontecimentos repetidos. Era sempre o mesmo: Liz os abraçando, Liz chorando, Liz cozinhando, Liz reclamando...

—Você está muito pensativa – falou Luke, sentando-se no sofá.

—Qual você prefere – perguntou Julie, levantando duas caixas de DVD: – Supernatural ou...

—Nenhum desses dois são filmes – interrompeu seu irmão.

—Sim, claro. Isso é obvio. – Julie revirou os olhos. Seu irmão era tão idiota assim?—Vai querer a primeira temporada ou a décima? Estou em dúvida...

—Daqui a pouco eu estarei sabendo todas as falas disso – murmurou Luke, remexendo-se desconfortável.

—“Disso”? – repetiu Julie, falsamente ofendida. Com direito a mão no peito e olhos arregalados. – Agradeça pela cultura e conhecimento que você está ganhando! Quando estiver cercado de monstros, você saberá o que fazer por causa de mim.

—Da minha irmãzinha que me forçou a assistir Supernatural porque diz que é cultura? – questionou Luke, cético, mas sorridente. Era difícil saber se Julie falava ou não verdade. Era difícil ate saber se Julie acreditava ou não nisso.

O que Julie mais gostava de dizer era que acreditava em tudo até que se provasse o contrário, e já que não podia comprovar-se que algo que não existia não existia, ela continuava acreditando. Logo, já que nada poderia comprovar que ela não era uma fada, Julie era uma fada. E as fadas eram constantemente alvo de ódio, ter conhecimento do mundo sobrenatural era a melhor defesa para Julie.

—Exato! – exclamou ela, sorrindo vitoriosa. – Vai ser a décima temporada!

—Por que parece que estávamos discutindo sobre qual temporada iremos assistir quando não estávamos?

—Porque eu gosto de fingir que estávamos – respondeu Julie.

—O que estamos fingindo? – perguntou Liz, distribuindo baldes de pipoca com chocolate para cada um.

—Bem, muitas coisas – respondeu Julie, tomando o balde do seu irmão para tomar seu brigadeiro. Luke não gostava de doces enquanto ela morreria por eles. – No momento que somos uma família feliz.

—Nós somos uma família feliz – discordaram Luke e Liz.

—Gosto mais da opção que fingimos ser uma – refletiu Julie, jogando um pouco de pipoca na boca. – Hum, eu gosto dessa.

 

—Abra seus olhos, Dean – ecoou Julie, arregalando os olhos a cada palavra que dizia. – Veja o que eu vejo. Sinta o que sinto. E vamos uivar para lua... Ai meu Deus, eu amo isso! Vocês sabem como eu amo isso?! É, fantástico! E aquela cena onde o Sam está possuído pelo Tio Lu e ele soca o Dean, e o Dean só fica dizendo que está tudo bem, que ele vai fica com Sammy... Vocês viram?

—Não – salientou Luke – porque você pulou esse episodio. Você pulou quase todos os episódios e foi para o final.

—Oh, sim – murmurou Julie, lembrando-se e descartando o pensamento ao mesmo tempo. – Esse episodio não é da décima temporada, que memória a minha – zombou ela de si mesma. – Mas saiba que esse também é bom. Não tanto quanto os que você assistiu agora, mas dá para levar.

—Certo – murmurou Liz, abafando um bocejo. Ela não estava dormindo quando o filme, ou série, tanto faz, passava na televisão. – Novidades.

—Hum, é, eu... – Julie olhou para Luke a procura de ajuda. Ela odiava essa parte. E Luke também, mas deu de ombros, pois... Ela vinha primeiro. Julie suspirou. – Eu não sou mais virgem.

—O que? – gritou sua mãe, arregalando os olhos. Sua filha pregava uma peça nela porque tinha dormido?

—Oi? – balbuciou seu irmão, piscando os olhos com a boca aberta e um punhado de pipoca a caminho dela.

—Eu esperava uma reação, mas não essa. E não de você, Luke – comentou Julie, surpresa pelo exagero. – Era inevitável que um dia eu não fosse ser mais virgem.

—Sim. M-mas você só tem 16 anos! – exclamou Liz, ficando de pé. – E nem tem namorado!

—E eu não quero saber de nada disso – retrucou Luke, jogando a pipoca de volta ao balde. Ele não estava mais com fome.

—Você sabe que não precisa de namorados para isso, mãe – disse Julie, observando-a andar de um lado para o outro na sua frente. E ela achando que era a dramática da família!

—Mas, mas... Mas eu pensei que seria apenas depois do casamento!

—Depois do casamento? – repetiu Julie, rindo. – Eu não vou beijar alguém só depois de me casar!

—Quem aqui está falando de beijar? – rosnaram ambos.

—Eu – recuou Julie, surpresa pela brutalidade que nunca era dirigida a ela. – Vocês estão falando do que?

—Você disse virgem! – acusou Liz, olhando-a irritada.

—Sim – disse Julie. – BV. Boca virgem. Virgem.

—Estou dizendo, Julie – avisou Luke, mordendo o lábio como fazia quando com emoções extremas – que essa sua mania de contar a história pela metade ainda vai dar mal.

—Eu beijei o Ashton – afirmou Julie, devagar, para não deixar dúvidas.

Ela não contava a história toda, mas também não a contava pela metade. Era um resumo menos resumido do que antes. Um resumo que poderia ser entendido mesmo por quem não leu a obra completa e não sabia todos os detalhes. E sua mãe não precisava de todos os detalhes.

—Eu já sabia! – comemorou Liz.

—Sabia? – repetiu Julie. Isso sim era uma surpresa. E ela precisava de todos os detalhes.

—Anne me contou – resumiu Liz.

—Contou? Ashton contou a Anne?

—Claro – disse Liz, deixando de fora a aposta que ela e a sogra da sua filha fizeram. Tinha coisas que os filhos não precisavam saber. Julie não precisava da história completa.

—Certo – disse Julie, encostando-se de volta no sofá, emburrada. – E eu pensando que seria uma surpresa e você já sabia.

—Pode ter certeza que foi uma surpresa – disse Liz, sentando-se no sofá com um suspiro. Ela devia ter envelhecido uns dez anos depois disso. – Isso me lembra que precisamos ter aquela conversa...

—Aquela conversa... – instigaram os dois quando a mãe deles não continuou.

—É, vocês sabem – disse Liz, esfregando o nariz.

Sua mãe estava constrangida. Julie sabia, porque ela fazia o mesmo quando estava naquela situação. Coçar o nariz era um tique para constrangimento; ou vontade de rir e constrangimento por estar com essa vontade.

—Não, nós não sabemos – disse Julie, por ela e por Luke, embora seu irmão parecesse ter uma ideia do que era. – O que foi, Luke?

—Eu já tive essa conversa com o papai, então que tal eu deixar você e Julie e...

—Ah, você está falando de... – interrompeu Julie, esfregando o nariz. Esfregar o nariz era contagioso.— Eu também já tive.

—Você não estava na hora – discordou Luke.

—É claro que eu estava na hora – retrucou Julie. – Ou você achou o quê? Que só por que o papai me pediu para sair, eu sairia? Eu estava atrás da porta, dã.

—Não precisa, mamãe – disse Luke. – Podemos pular isso?

—E você, Luke? – perguntou Liz, sem pensar duas vezes. – O que aconteceu?

—Nada tão interessante quanto a Julie – respondeu Luke, revirando os olhos para menosprezar sua vida. Ele teria preferido a conversa a isso, mas sua mãe parecia mais do que disposta para pular ela.

—Você nunca será tão interessante quanto eu – implicou Julie, cutucando-o com o pé.

—Nunca mesmo – concordou ele. Aumentar o ego de Julie era uma conseqüência que Luke poderia lidar, se isso significasse ser esquecido.

—Vamos lá, qualquer coisa – adulou Liz. – Você sabe o esquema, Luke. Uma novidade por mês.

—Pode começar, mãe. Eu não me importo de passar a vez, é sério.

—É do mais novo ao mais velho, querido – disse sua mãe, irredutível. – Eu consigo esperar minha vez.

—Hum, eu não me lembro de nada...

—Eu sei! – gritou Julie, esquecendo-se de qualquer coisa que tivesse prometido antes. Ou colocando-as de lado. – Você foi...

—Você não faria isso – disse Luke.

Julie podia não ter uma boa memória, mas ela lembrava-se do que tinha dito horas antes, mas não era como seu irmão, então... Julie não se importava. Era para o bem dele. Ou dela. Às vezes não fazia diferença com gêmeos. Gêmeos sempre sabem o que o outro vai fazer, é uma daquelas coisas de irmãos, então é claro que seu gêmeo sabia o que ela faria mesmo que ela tivesse dito que não faria.

—Luke foi suspenso – disse Julie, sem peso na consciência.

—Julie! – gritou Luke... E Liz.

—Mãe! – reclamou Julie. – Eu disse Luke, não Julie. Luke foi suspenso, não eu.

—Desculpe, força do habito. Podemos recomeçar, fingir que isso não aconteceu?

—Certo. Um momento – pediu Julie, fazendo caretas antes de dizer novamente com tanta dramaticidade que conseguiu (mais do que a primeira vez): – Luke foi suspenso!

—L-Luke? – gaguejou Liz, olhando para Julie em busca de aprovação. Sua filha levantou o polegar e Liz sentiu-se encorajada a continuar. – Eu esperava isso de Julie, não de você, Luke!

—Isso foi baixo – disse Julie. – Poderíamos deixar essa parte de fora, mas...

—É a verdade – disse Luke. – Você é mais suspensa do que qualquer outra coisa, enquanto eu nunca fui...

—Mentira – cantarolou Julie. – Mentira. Você foi suspenso. E adivinhe, mamãe, por quê?

—Não sei. Tem relação com você?

—Mãe – reclamou Luke. – Não dê ouvidos a ela, você só está aumentando o ego da Julie.

—O mundo gira ao meu redor, ouviu, Luke? – provocou Julie, cutucando-o com o pé. – Mas dessa vez não, mãe. O mundo de Luke está girando ao redor de Calum.

—O que você...

—Luke foi suspenso por beijar um amigo – informou Julie.

—Lydia... Espere, você está falando de um substantivo masculino antecedido por um artigo masculino? Que ami... Claro, que pergunta. “O mundo de Luke está girando ao redor de Calum” – repetiu Liz, lembrando-se das palavras de Julie.

Luke lembrou-se também. Como é que as duas conseguiam serem tão parecidas? Era surpreendente como as duas garotas da sua vida lhe davam dor de cabeça, sempre discutindo uma com a outra. Mas ele sabia o quanto elas eram parecida e esses momentos idênticos nem o surpreendiam mais.

Julie podia discordar e dizer que era uma cópia do pai – e podia até ser verdade, já que ela e Luke eram iguais (tirando os fatores óbvios: feminino e masculino) e Luke era uma cópia de Andrew – mas a personalidade dela era uma mistura dos dois e algo único. Principalmente o “algo único”; entretanto Julie era mais parecida com Liz do que Andrew, diferente do que ela achava.

—Calum – percebeu Liz. – Ele beijou... Luke! Você, você... você terminou com a Lydia ao menos? Eu posso não gostar dela, mas...

—Você não gostava da Lydia? – perguntou Luke, surpreso. Sua mãe era o exemplo de boa educação com Lydia.

—Quem gosta da Lydia? – zombou Liz, revirando os olhos para Julie. – Nem você gostava realmente dela, Luke.

—Então por que...

—Psicologia reversa – explicou Liz, simplesmente. – Então, você terminou com a Lydia antes ou depois de beijar Calum?

—Terminei com a Lydia – disse Luke pela segunda vez naquele dia (como elas podiam ser tão parecidas?) – ao mesmo tempo que Calum me beijava.

—C-Calum...? Uau, não esperava essa iniciativa da parte dele.

—Não é? – disse Julie.

—Droga – reclamou Liz, dividida. – Vocês sabem que eu não aprovo incesto.

—Eu disse – disse Julie, presunçosa.

—Mas posso relevar isso – continuou Liz – já que não é porque eu considero Calum um filho, que você o considera um irmão. E vocês ficam bem juntos.

—Não é? Ah, e mais uma coisa, mãe. Segunda você tem uma reunião marcada com a Cornélia.

—Cornélia?

—A diretora – explicou Julie, dando de ombros. – Posso ou não ter me exaltado no telefone e discutido com ela sobre a injustiça de dar três dias de suspensão para Luke e Calum.

—Ela não ligou para os pais de Calum, ligou? – questionou Liz, preocupada.

—Não, porque a Sra. Hemmings pode ter se exaltado com a diretora e dito que ela era a responsável por Calum...

—Você quer dizer você.

—A diretora acha que foi a Sra. Hemmings – disse Julie, dando as costas para sua mãe. – Quem quer refrigerante?

—Mãe – interrompeu Luke. – Que tal falarmos de você, agora? Novidades?

—Por quê? Eu estava gostando...

—Mãe.

—Certo. Hum, eu... Eu... Hum, eu...

—É hoje? – interrompeu Julie, retornando com seu suco de laranja extremamente doce e industrializado.

—Estou namorando – disse Liz, rapidamente.

—Certo, mãe – disse Julie, revirando os olhos, enquanto bebia. – Agora a novidade. Desista, o prêmio surpresa foi para mim, isso de você está namorando não convence ninguém.

—É... – disse Liz, passando a língua sobre os lábios ressecados.

—Não – negou Julie, apertando o copo na mão.– Não, mãe. Não.

Julie odiou conhecer-se tão bem, porque se conhecer era o mesmo que conhecer sua mãe, pois... Se passar a mão no nariz era um sinal de vergonha ou vontade de rir reprimida para Julie, passar a língua nos lábios era de nervosismo ou ansiedade. E aquilo não podia ser verdade.

—Julie... – começou Liz, devagar, dando um passo em direção a ela. – É verdade.

—Não se aproxime – disse Julie, começando a sentir-se sufocada. – Não, mãe. Por favor, por favor, é mais uma mentira, não é? Por que, por que... Porque não. Não, não, não...

—Julie... – levantou-se Luke, preocupado. Sua irmã não agia assim. Ela dava shows de vez em quando, mas não tão sentimentais.

—Não, Luke. Agora não! – gritou Julie. –Vai dizer que não está irritado? Ela, ela... Ela disse que está namorando justamente hoje! – apontou Julie para sua mãe.

—Sim, eu estou irritado – disse Luke. – Mas ficar acuada no canto da sala não vai adiantar nada.

—Fingir que está tudo bem também não! – rosnou Julie. – Ela, ela, ela... Precisava ser hoje? De todos os dias que você podia dizer, tinha que ser hoje? Você não tem... vergonha?

A própria palavra causava um mau gosto na boca dela, como sua mãe podia viver com isso? Há quanto tempo isso vinha acontecendo? Há quanto ela vinha escondendo isso?

Julie sabia que isso iria acontecer, que um dia teria que deixar de lado esses pedaços quebrados por algo novo, mas... Não assim. Não hoje. Não com sua mãe forçando-a jogar os pedaços. Julie sentia o próprio pedaço que equivalia a ela sendo retirado a força de seus dedos, cortando enquanto tentava ser arrancado da sua mão. Machucando, dilacerando... E sua mãe era a culpada.

—Papai morreu. E hoje... – Julie não conseguia continuar.

—Não é você que queria fingir que somos uma família feliz? – disse Liz, com um sorriso hesitante.

Julie a olhou cética. Sua mãe estava dizendo isso realmente? Ela tinha perdido a noção, estava louca?

—Acho que eu me enganei – disse Julie, abrindo a porta de casa e sentindo o vento gelado, que não a fez tremer como normalmente faria. – É, quem imaginaria? Julie Hemmings admitindo está enganada? – Julie riu, sentindo algo tampando sua garganta, quando voltava-se para Liz. – Ou que sua mãe seria tão, tão sem caráter?

—Julie... Por favor, vamos conversar – pediu Liz, mordendo os lábios. – Fugir não vai adiantar de nada.

—Eu não sei! – gritou Julie, levantando as mãos para o céu tempestuoso. – Você faz muito isso e parece que tudo está indo muito bem para você. Parabéns a propósito! – exclamou Julie, jogando o copo que segurava no chão antes de bater a porta. Não era essa a comemoração que os gregos faziam nos casamentos?— Parabéns, mamãe, já que papai não está aqui para o aniversário dele!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Ou odiado. Não sei o que preferiria nesse momento, apenas que tenha sido bem escrito, eu acho. O que acham?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Isso não é..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.