Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 42
Isso não é arrependimento.


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo no último dia do ano! Quem gosta disso? Eu!!!
Obrigada pela betagem, Luci, e me desculpe pela possível irritação futura (eu estava ansiosa já!). Mas saber que está errado e tentar fazer o certo, nem sempre faz diferença, tentar não quer dizer que você vai conseguir... Hum, gostei dessa frase, vou utilizá-la depois.
A música é Basket Case de Green Day - https://youtu.be/NUTGr5t3MoY



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Do you have the time to listen to me whine

About nothing and everything all at once?

(Você tem tempo pra me ouvir reclamar

Sobre nada e tudo ao mesmo tempo?)

 

42-Isso não é arrependimento. (Por que desistência e arrependimento andam juntos por algum período de tempo?)

Sexta-feira, 13 de março.

Desistir antes de conseguir só trazia arrependimentos, Ashton sabia desse conhecimento popular, assim como entendia que nem sempre isso era aplicável. Ele tinha desistido de muitas coisas e se arrependido, e tinha feito muitas coisas que o fizeram se arrepender, tudo porque pensava que era melhor fazer e se arrepender do que não fazer.

Houve um tempo que, para Ashton, tudo era uma questão de experiência – às vezes ainda era. Ele seguia a linha do pensamento de “é apenas fazendo que você consegue se tornar bom no que faz...“ Se você não sabe de algo, tente e tente; tente até possuir bastante confiança em si. E habilidade. Se você não souber beijar, torne-se um beijador profissional beijando. Foi esse pensamento que o fez descobrir que é apenas roubando que você se torna um bom ladrão.

Mas Ashton não queria ser um bom ladrão – ele não queria nem ser um ladrão! – e hoje gostava de pensar que tinha evoluído, que aprendeu com os erros... Entretanto, por um curto período de tempo, ele caiu nos maus hábitos novamente e arrependeu-se de ter desistido de ser mau caráter. Não pela parte “mau caráter”, mas pelo fato dela vir ligada a sua experiência em briga.

—Você está... pegando – disse Luke, tremendo ao utilizar a palavra que Julie sugeriu – minha irmã?

—Eu não chamaria de pegar – respondeu Ashton, embora só conseguisse pensar naquela palavra para descrever o que ele e Julie tinham naquele instante.

Pegar era apropriado para a situação. Pegar sugeria segurar fácil e soltar mais fácil ainda. Pegar queria dizer falta de sentimentos. Pegar seria perfeito se Ashton soubesse a arte da indiferença, porque pegar podia ser a única palavra que ele conseguia pensar, mas não era a palavra certa.

Luke parecia achar o mesmo – e foi assim que ele socou Ash.

E Ashton se arrependeu de ter abandonado sua antiga vida, pois... As coisas não foram bem. Não foram nada bem. Ashton podia ter mais experiência, mais confiança, só que ele não tinha a motivação de Luke. Não tinha motivos para Ashton brigar com Luke, entretanto Luke tinha muitos motivos para brigar com ele. E eles só aumentavam...

Uma contabilização rápida dos danos enquanto estava em cima da mesa fez com que Ashton acrescentasse, por um curto período de tempo, mais um arrependimento; se arrependesse por um curto período de tempo de ter provocado Luke, mas não passou disso – um curto período de tempo – porque nada o impediria de colocar as mãos no quadril de Julie e puxá-la para si. Nada o impediria de ter Julie como sua enfermeira. Nada a não ser a própria Julie.

—Oh, claro – suspirou Julie, pousando a mão suavemente no peito dele. E dando um tapinha, completou inocente quando ele recuou: – Doeu?

—N-não – tossiu Ash, soltando-a. Ele definitivamente não iria se arrepender, embora Julie tornasse o não arrependimento difícil. – Nem um pouco.

—Por que foi um tapa de garota? – refletiu Julie enquanto segurava o algodão contra o gargalo do álcool e virava-o de um lado para o outro sem tirar os olhos dele.

Ashton desviou o olhar primeiro. Ele não iria se arrepender da briga, mas tinha quase certeza que iria se arrepender dessas palavras. Se as dores nas suas costelas não fosse o começo, o algodão contra sua mão cortada era.

—Aí – reclamou Ashton, puxando a mão da dela. Julie revirou os olhos e não a deixou ir, murmurando algo parecido com "mais fraco do que uma garota" antes de apertar o algodão contra mão dele mais uma vez, com mais força do que antes. – Klaus te mandou cuidar da gente, não foi? – questionou Ash, duvidoso. Esse era o cuidar de Julie?

—E?

—Klaus é seu padrinho? – questionou Ashton ao invés disso.

Ele tinha se surpreendido ao ouvir Klaus dizer isso e deixou a guarda baixa para um – ou vários – socos de Luke. Mas ele nunca tinha ouvido isso ou visto qualquer indicação de preferência com Julie ou Luke na escola. Klaus sempre era justo com eles – ou quase justo, mas Julie era muito boa em influenciar e cansar alguém para Ashton saber a diferença entre tentar se livrar dela e favoritismo.

—Por quê? Você não sabia que Klaus é meu padrinho?

—Você nunca disse... Aí. Tenha cuidado – reclamou Ashton mais uma vez quando Julie enfim pressionou o band-aid.

—Eu não precisaria se você não saísse brigando por aí. Ainda mais com o meu irmão, idiota – disse Julie, deixando-o e voltando logo depois com um comprimido e um copo de água. – Beba.

—Você não está com raiva, Julie, então pare de fingir que está... Esse remédio é tão ruim! – exclamou Ashton, surpreso e horrorizado. – Como...? Ele vai descendo doce quando do nada vem esse gosto...

Ashton nem precisou fingir o arrepio, ele fora real. Julie só observava a cena, divertindo-se. O remédio era realmente doce no começo e amargo no fim, mas Ashton exagerava. Tossindo – espalhafatoso, Julie diria – ele completou:

—Como foi que Luke caiu nessa farsa?

—Ele não caiu. Luke só está constrangido por ter agido assim. Comportando-se que nem um animal – gritou Julie a última parte, feliz ao ver seu irmão encolhendo-se no sofá ao lado de Calum. – Vocês dois estavam.

—E você gostando do que via.

—Não tanto quanto estarei quando você tirar a camisa – disse Julie, piscando o olho, tentando ser seduzente. Ela era sexy, lembrou-se Julie. Ashton me acha sexy... segundo Demi.— Ou você vai precisar de ajuda para isso?

—Ju... – começou Luke, mas Calum fez um “shiu!” para ele audível até para quem estava na cozinha.

Ashton sorriu quando Julie colocou as mãos na barra da sua camisa. E sabendo que Luke tinha uma boa visão do que acontecia ali – e precisando de ajuda – Ash levantou os braços, ajudando-a a tirar sua camisa, e não pode evitar o suspiro de alívio quando a pressão irritante contra suas costelas desapareceu.

—Mas que porra...

—Luke – avisou Julie com um olhar. – Sem palavrão!

—Luke – ordenou Calum com uma palavra. – Sente-se.

—Luke – zombou Ashton com um sorriso. Ele não precisava dizer mais nada...

Luke queria bater nele. De novo. Ashton sempre tinha sido tão irritante e atirado para cima da sua irmãzinha assim? Ou ele só tinha percebido – e se importado – agora?

—Me desculpe – rosnou Luke – se eu não posso ficar quieto quando vejo essa cachorrada na minha fren...

—Que cahorrada? – perguntou Julie, repousando a mão no cabelo de Ash e penteando-o. – Eu estou cuidando de Ashton, como cuidei de você e como Klaus me pediu para fazer.

—E para isso você precisa estar tão perto assim dele? Tire as mãos do cabelo dele!

Julie iria discordar do seu irmão – ela não estava tão perto assim de Ashton – quando percebeu que estava. Julie estava mais perto de Ashton do que era necessário, mas não tão perto assim ainda. E com a mão no cabelo dele, contudo ele era tão macio... Era confortável alisá-lo.

—Eu quero – disse Julie, dando de ombros. – E Ashton não parece ter nenhum problema com isso... Você não está incomodado, está?

—Claro que ele não vai estar! – exclamou Luke antes que Ash pudesse abrir a boca.

—Ora, cale-se – disse Calum, puxando-o de volta para o sofá já irritado.

—Mas... Mas...

—Eles são crescidos. Deixe-os.

Emburrado, Luke calou-se e deixou sua irmã trabalhar em paz, sem retirar os olhos deles por um minuto. Quem sabia do que Ashton era capaz? Quem sabia o que eles já haviam feito nas suas costas? Oh, meu Deus, mas nunca ele confiaria na sua irmã de novo depois dessa.

—Se eu tivesse a oportunidade de responder, eu diria que também não estou incomodado – confessou Ashton.

—Ora, cale-se também – disse Julie, revirando os olhos e se concentrando no que estava na sua frente

Felizmente – ou infelizmente, Julie não sabia – isso era a parte superior nua de Ashton, que ela deu um olhar puramente clínico para o tórax. Hum... Ela testou as costelas, deslizando os dedos devagar, contornando-as – vendo Ashton se contorcer de dor sob seu dedos – e concluiu que elas estavam apenas doloridas.

Nada que um pacote de ervilhas não pudesse resolver, decretou Julie dando um a Ashton. Ela iria ficar sem nem uma comida congelada desse jeito, depois seu irmão não viesse reclamar por só comer ovos. Era sua culpa, seu arrependimento.

—Isso parece nostálgico, não? – disse Ashton, segurando o pacote sobre o machucado.

—Você deve ter tido uma concussão – disse Julie, empurrando o pacote até que ele estivesse em cima das costelas, não pairando em cima. Ashton gemeu. – Não sei de que nostalgia você fala.

—Eu, você, machucado, pacote de ervilhas... – disse Ashton, com um pouco de dificuldade. Julie não tinha pena dele?

—Você teve uma concussão – concluiu Julie, por fim. Do que Ashton falava? Ela realmente não conseguia relacionar nada do que ele disse a algo que já aconteceu.

—Quando nos conhecemos...? – tentou Ash. A memória de Julie era tão ruim assim?

—Ah... Você está falando de... procure o que fazer, Ashton – disse Julie. Ele realmente esperava que ela se lembrasse de algo assim, tão antigo? Julie se lembrou de outras coisas. – Você deveria parar de entrar em brigas.

—Por você... – concluiu Ashton, inclinando a cabeça. – Percebe como sempre acabo em confusões com você?

—Você também não – gemeu Julie, batendo a cabeça no ombro dele antes de levantá-la. – Você vai dizer que brigou por mim? Não foi você que disse que não iria querer namorar comigo?

—Eu nunca disse isso – disse Ash, tirando os cabelos dela da frente do rosto. Aquilo o distraia e algumas mechas chegavam longe o suficiente para fazer cócegas no seu rosto. (Não que o cabelo de Julie fosse grande, a proximidade deles que era pequena.) – Você chegou a essa conclusão sozinha.

—Não importa... – retrucou Julie, batendo em sua mão. – E solte o meu cabelo.

—E você disse que não iria desistir de mim – lembrou Ashton.

—Você estava ouvindo?! – distanciou-se Julie, horrorizada .

—Seria meio difícil não ouvir estando ao seu lado, Julie – disse Ash, puxando-a tão suavemente para frente que Julie não percebeu que estava sendo puxada para frente... Até estar mais perto de Ashton do que estava inicialmente.

Isso era perto. Muito, muito perto, percebeu Julie. Inspire, expire, isso não é grande coisa, pensou Julie. Respire... Respire... Respire!

Dane-se o fato dela ser ótima em ser diferente, Julie conseguia sentir que começava a hiperventilar. Por que ela tinha que ser tão distraída ou doida para... Céus, como ela era idiota! Quem diz na frente da pessoa que você está apaixonada que não vai desistir dela? Julie! Porque ela era uma idiota! E respirar não funcionava. E ser indiferente tornou-se mais difícil ainda.

—Esqueça! – ordenou ela, empurrando-o.

Não porque estivesse tão perto assim dele ou temesse agarrá-lo – Julie não estava tão desesperada assim – mas porque alguma parte dela queria empurrá-lo; queria culpá-lo por tudo, por tê-la feito se apaixonar por um idiota e por ela ser uma idiota para se apaixonar por ele – e, talvez, alguma parte dela quisesse tocá-lo. Apenas tocá-lo, sem agarros nem nada. Sem segundas intenções, se é que Julie tivesse uma mente limpa, porque...

Alguma parte de Ashton deveria querer o mesmo – só que ao contrário. Ele a puxou para si, com um grande sorriso no rosto, parabenizando-se por ter sido capaz de ultrapassar a indiferença de Julie.

—Não vou esquecer, Julie.

—Esqueça!

—Não.

—Esqueça!

—Não!

—Esqueça! – E Julie completou rapidamente antes que Ash pudesse discordar: – Qual é o problema de você esquecer isso?

—Por que eu tenho que esquecer isso?

—Porque é totalmente vergonhoso ter seu alvo romântico ciente de seus planos!

—Eu não sei qual é o seu plano – discordou Ash, sorrindo mais ainda pelo "alvo romântico". Agora ele era o alvo romântico de Julie? Ashton gostava disso... E ele não deveria.

—Mas agora você vai pensar que qualquer coisa que eu fizer será um plano para te conquistar.

—Eu não faria isso – discordou Ash, percebendo que era uma mentira assim que registrou as palavras que saíram da sua boca. Julie chegou a mesma conclusão rapidamente.

—Você faria isso! – apontou ela, cutucando-o bem em cima da costela dolorida. – E você vai começar a ficar estranho também, arrumando desculpas...

—Eu não faria isso – repetiu Ashton, segurando o dedo insistente.

—Me evitando...

—Eu não faria isso – disse ele pela terceira vez, segurando o indicador da outra mão agora. Quantos indicadores Julie tinha? Porque suas costelas não aguentariam mais.

—E depois não seríamos mais amigos. Eu posso ficar sem um peguete, Ashton, mas você nem ouse em desaparecer da minha vida – ameaçou Julie, girando os braços para forçá-lo a soltá-la, e depois empurrou as mãos abertas contra o peito de Ash num só movimento.

—Certo, certo – respirou Ashton, ofegante, ao pegar ambos os pulsos delas. – Se, e somente se, você me disser quais são seus planos... Para o seu alvo romântico.

—Você não pode estar falando sério! – exclamou Julie, afastando-se dele. Mas não foi muito longe. Dele ou do sorriso divertido dele que era dirigido a ela.

—Qual é o problema? – perguntou Ash.

Pulando da mesa, ele a seguiu, divertindo-se muito com a situação para deixá-la ir. Ashton gostava de fazer Julie senti-se envergonhada, devolver um pouquinho do que ela fazia com ele... Era tão satisfatório. A vingança era tão doce... que chegava a rivalizar com os lábios de Julie.

—Você é ele! O alvo romântico! Isso é vergonhoso demais... – murmurou Julie, balançando a cabeça.

—Você não acha que eu vou desistir da oportunidade de te fazer passar vergonha, acha?

—Eu vou te matar – anunciou Julie, afastando-se dele até que sentiu-se presa.

Sufocada. Sem ter para onde ir. Contra uma geladeira. Com Ashton na sua frente. Quando foi que aquela geladeira virou seu plano de fundo? Quando Ashton chegou tão perto assim dela?

Tudo bem que a distância entre eles quando ela cuidava dele não era grande coisa – Luke tinha razão. Ficar entre as pernas de Ashton, numa posição parecida – quase idêntica – a quando Ash tinha roubado seu brigadeiro – e um beijo seu – era algo quase que íntimo. Mas estar quase que pressionada contra uma geladeira? Isso era outro nível de íntimo. Até porque a geladeira ficava fora da vista de quem se sentava no sofá. Julie sabia disso. Ashton sabia disso. E estar numa posição quase que íntima meio que sendo vigiada era diferente de uma posição sem possibilidade de vigilância.

Julie se sentia presa. Sufocada. Sem fôlego. Sem oxigênio para seu cérebro pensar coerentemente, porque o que ela queria...

—Vamos concordar com uma coisa: quando você for dar algum passo no seu plano – disse Ashton, tão perto que Julie podia ver manchas azuladas nos olhos castanhos dele (e talvez algo mais; talvez sentir a respiração e o batimento descompassado, os lábios entreabertos e ressecados, a língua molhando-os) – me avise.

—Por quê? – piscou Julie, desviando o olhar.

—Por que... – Ashton deu de ombros. – Eu não sei. Me preparar? Saber diferenciar a Julie amiga da Julie namoradeira? Saber quando posso me aproveitar de você?

—Eu vou te matar – disse Julie, empurrando-o e passando por debaixo do seu braço.

Talvez seu cérebro não tivesse tão sem oxigênio assim, porque ela concluiu que realmente queria matá-lo. Ainda mais quando ele passou um braço pela sua cintura e cantarolou, respirando no seu pescoço:

—Não quando estiver apaixonada por mim.

—Eu vou te matar – repetiu Julie, achando suas palavras cada vez menos convincente para os ouvidos de Ashton, embora para ela aquilo chegasse cada vez mais perto da realidade. – E me solte, o telefone vai... Não disse.

Muito surpreso para reclamar quando Julie forçou o braço dele, Ashton a deixou ir. Como ela sabia que o telefone iria tocar antes que ele tocasse?
Julie nunca lhe diria, mas Calum e Luke sabiam o porquê. Sabiam que ela sabia que eles sabiam que ela soube desde que eles apareceram em casa. Julie sabia que algo havia acontecido na escola, porque Calum nunca iria faltar a aula de violino, e não tinha como ser coincidência ele e Luke terem chegado ao mesmo tempo em casa.

—A Sra. Hemmings está?

—É ela quem fala – respondeu Julie, ponderando que aquilo não era mentira.
Ela era uma garota e era uma Hemmings, e era a Sra. Hemmings na falta da sua mãe, assim como Luke era Sr. Hemmings desde que seu pai morreu (e antes, quando Andrew não estava em casa). Não era uma mentira, apenas uma escolha apropriada de palavras.

—É a diretora Cornélia Wood, eu gostaria de informá-la, caso já não soubesse, que seu filho foi suspenso por beijar...

—Beijar? – gritou Julie, voltando-se para seu irmão que parecia consciente com quem ela falava. – Luke beijou quem? – perguntou ela, levantando a sobrancelha para o seu irmão.

Luke definitivamente ouvia a conversa, pois se encolheu no sofá. E, se Julie conhecesse seu irmão como achava que conhecia, ele tinha ficado constrangido. Mais constrangido do que antes, quando foi repreendido por ela. Por quê? O que ele e Calum tinham aprontado?

—Hum, Sra. Hemmings? – chamou Cornélia, parecendo desconfortável com a conversa. – Acho melhor você falar sobre isso com o seu filho...

—Quem? – Julie repetiu a pergunta. – Foi a Lydia?

—Não. Hum, foi um amigo. Então, ele está...

—Amigo? – interrompeu Julie, surpresa. E chateada por seu irmão não ter contado isso a ela. – Substantivo masculino antecedido por um artigo masculino?

—Acho que...

—Que ami... Claro, que pergunta – assentiu Julie para si mesma, percebendo a forma como Calum não estava tão relaxado assim.

Podia não ser claramente perceptível, mas Calum sentava um pouco rígido e afastado demais de Luke... Não afastado realmente de Luke, entretanto até aquela pouca distância entre eles, Julie considerava demais quando levava em conta que era Calum e Luke sentados juntos num sofá.

—Ele está suspenso por três dias – informou a diretora, rapidamente, querendo se livrar desse telefonema.

—Três dias? – repetiu Julie, incrédula. Virando-se contra a parede para não ver ninguém e ninguém vê-la, (ela não conseguiria manter a seriedade caso não fizesse isso) Julie incorporou a Sra. Hemmings e esqueceu-se da irmã gêmea traída. – Quando você quer dizer três dias você quer dizer hoje, sábado e domingo, não é?

—Acho que você sabe, Sra. Hemmings, que finais de semana não tem aula logo não são contados...

—E eu acho que você sabe, Sra. Wood, que tem outros casais que fazem coisas piores do que ficar se beijando nas dependências escolares, então porque apenas meus filhos estão sendo suspensos? Você não está os ignorando como faz com os outros só porque eles são dois meninos se beijando, não é?

—O que... Não! O problema não é eles estarem se beijando na escola, a questão foi o tumulto causado na sala de aula...

—Por que dois garotos se beijando é o fim do mundo, não é, mesmo? Segunda passarei aí para termos essa conversa melhor, mais alguma coisa?

—Hum, nos documentos escolares de Calum está o seu número como responsável – disse Cornélia, quase tímida – eu queria saber qual é o número dos pais...

—Se tem o meu número aí como responsável, Cornélia, então eu sou a responsável – interrompeu Julie, mal educada. Ela não queria nem pensar em como sua mãe reagiria quando soubesse que ela se comportou assim com a diretora. – Até segunda, passar bem.

Conte, Julie, ordenou-se Julie. Respire, expire; reflita; medite. Acalma-se. Você vai ser a garota indiferente que você é e não vai sair para brigar com Cornélia, você vai atormentar seus queridos irmãos.

—Você percebe que desligou na cara da diretora, não é? – questionou Ashton as suas costas.

—Não. Quem desligou foi a Sra. Hemmings – disse Julie, virando-se para ele. Mais uma coisa para não pensar: sua mãe teria que ir segunda a escola, porque Julie focou-se tanto no personagem que não percebeu isso; Sra. Hemmings não era ela, era um personagem, era sua mãe. – E que história é essa, Luke e Calum? Foi por isso que vocês estão aqui a essa hora? Eu posso não gostar muito da Lydia, mas beijar outro quando estar com ela é...

—Eu não estou mais com a Lydia – interrompeu Luke. Vermelho, amuado e enterrado no sofá. – Eu terminei com ela.

—Antes ou depois de beijar Calum? – perguntou Julie, realmente curiosa. Detalhes eram importantes. Muito, muito importantes. Podia ser a diferença entre a vida e a morte. Ashton parecia achar o mesmo.

—Luke terminou com a Lydia? – perguntou ele, alegre. – Então eu não preciso mais fingir que apenas não gosto dela? Graças a Deus, eu já não aguentava mais aquela menina!

—Ninguém percebeu – zombaram todos, revirando os olhos também em sincronia. Ashton achava que fingia não gostar de Lydia? O desgosto de Ash para ela parecia transbordar da pele dele.

—Terminei com a Lydia – disse Luke – ao mesmo tempo que Calum me beijava.

—Uau, Calum – sorriu Julie, tentando não sorrir (era difícil ser indiferente com um sorriso estampado no rosto) – você nunca me pareceu do tipo que tornava a iniciativa.

—Você não diria que foi um beijo – murmurou Calum, cruzando os braços.

—A questão aqui não sou eu, é você. E, você, como todas as outras pessoas, define beijos como lábios se tocando. Os lábios de vocês se tocaram?

—Julie... – protestaram os dois, suplicando. – Por favor.

—O que? Vocês não esperam que eu não pergunte, não é? Estou curiosa! Teve língua? Foi na onde? Como Lydia... – Julie parou. Ela não se importava com Lydia. Ou com seus colegas de classe. – Vocês ficaram com vergonha? Por que fizeram isso?

—Julie...

—Que tal não falarmos disso? – pediu Luke. – Só por um segundo.

—Certo – concordou Julie, não abandonando o sorriso. – Mas vocês sabem que eu estou shippando muito vocês agora, não é?

—Você shippa qualquer coisa, tenha duas pernas ou não – disse Calum. – Não entendo como você não é romântica desse jeito. Você não consegue ficar um segundo sem formar shipps!

—Eu também não sei! É mais forte do que eu! – disse Julie, sentindo-se elétrica. E nem tinha comido chocolate ainda! – Então... Gostaram do beijo?

—Julie!

—O que? Já passou um segundo! Eu ate dei alguns a mais de bônus... Mas, Luke, o sujo falando do mal lavado, né? Parece que o jogo virou, não é mesmo? De qualquer jeito, não precisa ficar com vergonha, não vou contar a mamãe... Ela não me parece alguém que iria aprovar um incesto.

—Julie!

—Oh, meu Deus! Estou realizando meu sonho por incesto indiretamente por vocês!

—Eu desisto – murmurou Luke.

Calum apenas suspirou, antes de pegar o controle e tirar a TV da pausa que tinha colocado assim que Julie começou sua confissão – não tinha como assistir daquele jeito. Quando ela olhou para a TV e sentou-se entre eles, Calum quis provocá-la de volta, mas se contentou em suspirar novamente. Ele já começava se arrepender do que tinha feito.

—Hum, Julie? – chamou Ashton, esperando pelo retorno de sua enfermeira Julie... que não aconteceu. E não seria Calum ou Luke que chamaria a atenção dela para eles. – Julie!


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Notas finais do capítulo

Como andam seus último comentários de final de ano?
Por mais impressionante que eu ache, eu sou igualzinha a Julie e shippo qualquer coisa que exista, tenha perna ou não. Seja lá quantas forem.



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