Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 4
Isso não é uma mentira.


Notas iniciais do capítulo

Como está? Bem, obrigada. E você?
O que acharam dessa música do McFly, Lies? https://youtu.be/hy_24IDiqUA



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704566/chapter/4

Living in a fantasy

Don't even know reality

When you start talking, I start walking

Don't even wanna know the truth

(Vivendo em uma fantasia

Nem mesmo conhece a realidade

Quando você começa a falar, eu começo a andar

Nem quero saber a verdade)

 

4-Isso não é uma mentira.  (Mas... – sempre tem um mas.)

Sexta-feira, 22 de abril

Enquanto observava Julie, Ashton agradecia a Deus pelo fato de que a régua que ela utilizava não ser a sua, até que se deu conta, tarde demais, de que Julie havia perdido a sua um dia depois de comprada. Aquela era a sua régua!

—Meu pé está coçando – lamentou Julie, enfiando mais uma vez a régua entre o gesso e sua perna.

Uma vez em cada lugar, ao menos, Julie reclamava do seu pé. Ate agora, ela já praguejou sem praguejar – Julie não gostava de praguejar, ela dizia que ia contra seu ideal de perfeição – umas cem mil vezes e o gesso foi colocado a o quê? Um dia? Julie já não ficava quieta antes, agora com uma razão verdadeira pronto, ela não conseguia mais calar a boca.

Ambos estavam na sala de aula e Julie tinha o pé sobre uma cadeira, coçando-o com a régua de Ashton e com a professora presente, dando aula. Ash não via a hora dela retirar aquele gesso. Julie parou por um momento, coçou o nariz e voltou ao árduo trabalho anterior.

—O que foi? – perguntou Julie, nem se dando ao trabalho de levantar a cabeça.

—Nada – disse Ashton desviando o olhar. Ele prometeu a si mesmo que definitivamente terei outra régua.

—Você está tímido – acusou ela, cutucando-o com a régua.

Ashton negou, dizendo a si mesmo ao se desviar “sem chance disso ser verdade. A explicação era outra. E eu não estou sendo fresco, Julie que está sendo nojenta.” Julie realmente estava sendo nojenta, Ashton já tinha visto ela fazer coisas piores do que aquilo, mas era sempre uma cena que o deixava traumatizado.

—Estou cansado de você reclamando – desviou ele do assunto.

—Vou quebrar essa régua na sua cara – comentou Julie, sem se ofender ou parar de se coçar. – Quando terminar a coceira infeliz do meu pé.

—A minha régua? Na minha cara?

—A sua régua. Na sua cara – concordou ela, séria.

Sorrindo, Ashton se virou para frente ao ter sua atenção chamada pela professora. Julie se esqueceria de sua promessa num minuto, se já na tivesse esquecido. Não se podia confiar na sua memória, ela era péssima.

—Eu estou com fome.

Não tinha nem passado 5 minutos quando Julie voltou a falar, Ashton nem se virou na cadeira e continuou encarando Natalie. Ela usava uma roupa muito bonita que realçava tanto a cor dos seus olhos quanto destacava seu sutiã, transparente contra o material fino da camisa.

—Eu sou seu pai? – murmurou ele, com a mão sobre a boca, entediado. Aquela era uma aula chata.

—E sono. – Ashton não disse nada. – Minha perna está doendo. – Silêncio. – Meu pé está coçando.

—Quando você vai retirar isso afinal? – questionou Ash, finalmente, virando-se na cadeira. – Não aguento mais ouvir você reclamando.

—Hoje à tarde – disse Julie, parecendo satisfeita com a atenção. – Mamãe vai me levar ao hospital e depois me deixar na casa da Demi. Você...

—Vocês entenderam o que eu disse? – questionou a professora para a sala. – Julie Hemmings – chamou a professora. Se bem que estava mais para ralhou. – Quer prestar atenção na aula? Você entendeu o que eu disse?

Ninguém prestava atenção na aula, todos a ignoravam – tinha gente até jogando bolinha de papel – mas Célia reclamou apenas com Julie. A maioria dos professores não gostava dela. Ashton não tinha o que dizer em sua defesa, Julie sabia ser chata sem se esforçar. Ele também não sabia nem o que a professora disse, imagine entender, mas a garota atrás dele sorriu.

—Eu não entendi.

A professora esperou por mais, uma desculpa especificamente, contudo ela não recebeu mais nada. Irritada com todos os alunos pela falta óbvia de interesse, Ashton percebeu que Célia mandaria Julie para a detenção e ninguém perguntaria o porquê disso lá. Ninguém nunca perguntava de tão acostumados que estava com Julie lá ao menos uma vez por semana.

—Julie terminou com o namorado semana passada – interrompeu Ashton. Se Julie fosse mais uma vez a detenção, ela seria suspensa.

Todos os olhos da classe se voltaram para Julie e seus dedos já teclavam a uma velocidade impressionante, mandando mensagens. A essa altura, todos da escola já sabiam que Julie não apenas terminou com o namorado, como traiu ele, ficou grávida, abortou,tentou se matar... A lista de coisas que ela fez era longa demais para apenas uma mensagem. Entretanto eram muitas mensagens enviadas por muitas pessoas, passadas e repassadas, tornando as mentiras cada vez maiores.

—Foi semana retrasada – corrigiu Julie, sem hesitar. Ela podia não mentir, não muito ao menos, mas ela sabia como fazer certo. Ou errado, no caso.

—Foi semana passada – corrigiu Ashton, gentilmente, pousando a mão na sua cabeça e coçando seu pelo como se estivesse fazendo carinho num fofo cachorrinho. Ele se virou para a professora com a melhor expressão de pena que conseguir fazer, completando, como se fosse um segredo: – Ela ainda está meio avoada.

—O melhor jeito de superar um amor é com outro – disse Célia e sua voz ficou mais suave, assim como sua expressão. Ela tinha sua própria experiência verídica em relação a isso.

—Quem disse que eu o amava?

—Ah...

Julie já estava se empolgando demais, contudo Célia já havia se esquecido da questão. O que fez Ashton decidir entrar na mentira. Por que não aproveitar também?

—Não precisa se preocupar, professora – disse Ashton, abanando a mão para dispensar as condolências da professora. – Julie tem uma agenda com os números de vários garotos.

—Ainda bem que é uma agenda, – assentiu a própria – porque quebrei o meu celular.

—Você queria o que jogando nele?

Ashton se virou para Julie, não era apenas ela que estava se animando com a mentira. Novamente, por que não aproveitar também? Contudo havia muita verdade naquela conversa: Julie tinha uma agenda cheia, de A à Z, só com números de garotos e havia quebrado seu celular jogando-o, embora não tenha jogado “nele”.

—Eu já disse não joguei nele – falou Julie, devagar, como se falasse com um idiota. O que podia muito bem ser verdade, porque ela realmente já havia dito isso tantas vezes, mas Ashton parecia determinado a esquecer que a viu jogado o celular no chão e não em seu irmão. – Eu joguei o meu no chão e o dele nele.

O que também era verdade, só que o celular de Luke não havia quebrado. O dela sim. Sempre que Julie estava com raiva, ela tinha mania de jogar as coisas que segurava no chão. Daquela vez, acabou sendo seu celular. Com raiva de ter jogado seu celular no chão, ela jogou o de Luke nele. Apenas isso. Julie não conseguia mais nem se lembrar o motivo da raiva, ela apenas continuava com o sentimento de raiva quando se lembrava daquele dia. Você pode esquecer tudo, mas o sentimento continua.

—Grande diferença – ironizou Ashton.

—Faz toda a diferença... Quer que eu quebre o seu para você ver?

Julie deu um sorriso a Ashton que o fez pensar que toda aquela conversa podia ser uma mentira total – ou verdades distorcidas – mas sua pergunta era verdadeira. E ela desejava tornar mais real ainda, jogando-o no chão e pulando em cima se fosse necessário para comprovar seu ponto.

—Não, obrigado. Não tenho uma agenda como você.

 

—Você acha que eu vou acreditar que vocês vão para uma festa do pijama, em duas casas diferentes e vizinhas, sem nenhum responsável, e que ela não virará uma festa mista?

Julie parou o garfo a meio caminho da boca e olhou bem, encarou-a fixamente. Liz era louca? Só podia para ser sua mãe, embora fosse incontestável que sua loucura veio da parte paterna da sua família, embora não conhecesse ninguém dela.

Estavam os três – ela, Luke e sua mãe – sentados na mesa, comendo e aproveitando o momento que Liz estava em casa. Era um almoço em família obrigatório, pois Liz quase nunca estava em casa depois que ela mudou de emprego e deixou de ser professora, assim o almoço de toda sexta-feira era obrigatório. Dias familiares eram os únicos dias que Liz chegava adiantada e preparava a comida. Nos outros dias, ficava a cargo de Luke. Julie sempre era expulsa da cozinha antes de entrar, ela era permitida apenas a fazer o café porque não gostava do de mais ninguém.

O macarrão escorregou pelo garfo antes que Julie voltasse à vida, ao menos ele caiu de volta ao prato e não no chão. Algo ruim iria acontecer a ela por causa dessa sorte... Ah, não. Seu tornozelo já estava quebrado, o que fez Julie se xingar mentalmente – xingamentos mentais eram autorizados – por estar pegando burrice no ar. O tornozelo dela estava torcido.

—Mãe – falou Julie, firmemente, chamando a atenção da sua mãe. – A senhora acha mesmo que eu vou preferir ficar com esses idiotas a ver Johnny Depp?

—É – concordou ela enfaticamente, meio que suspirando. Julie não ficaria surpresa se ela pedisse para ir junto. – Você está certa.

—Mãe, a senhora acha mesmo que eu vou deixar ela sozinha com Mike ou Ash? – disse Luke, tentando imitar o tom de voz de sua irmã. E foi muito mal por sinal.

—Claro que não – Julie balançou a cabeça negativamente, confirmando. – Se eu for me agarrar com alguém será com...

—Julie te disse? – interrompeu Luke, o irmão intrometido. Ele não queria saber com quem ela se agarraria.

Julie virou o rosto para Luke com os olhos arregalados. Liz olhou dela para ele curiosa antes de perguntar “o que?”. Julie não conseguia acreditar que Luke falaria sobre isso depois de tanto tempo...

—Ela terminou com o namorado.

Ele não falaria sobre... O que? Namorado? Julie franziu a testa. Liz não era a única desorientada. Do que Luke estava falando? Julie começava a achar que seu irmão bateu a cabeça forte demais quando o empurrou do berço.

—O que?! – exclamou Julie e Liz juntas.

—Não olhe para mim, não sei do que ele está falando – reclamou Julie ao se sentir sendo observada.

Mas ela não culpava sua mãe. Se tivesse um espelho na sua frente, Julie tinha certeza que estaria se encarando. Seu rosto, seus olhos, seu eu em completo transparecia... Julie não sabia o que encontraria. Culpa, arrependimento...? Vergonha? Não, desculpe. Esse foi um daqueles momentos passageiros e equivocados. Vergonha e Julie só estão na mesma frase se ela estiver provocando em alguém.

—Todos estavam comentando na escola sobre isso – retrucou Luke, girando o garfo no prato, enrolando o macarrão nele e colocando-o na boca.

—Ah, isso... – murmurou Julie, lembrando.

—Isso? – questionou Liz, levantado a sobrancelha. Ela parecia querer matar alguém com os olhos, se tivesse raios laser neles quem sabe Liz conseguisse.

—O quê, mãe? Você não quer que eu tenha um namorado?

—Eu quero saber por que você terminou com ele. Fumou maconha? Você acha que vai arranjar outro? Triste ilusão, querida.

—Puxa, mãe. Obrigada. Não sei o que seria de mim sem você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ninguém morreria com um comentário.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Isso não é..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.