Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 29
Isso não é medo.


Notas iniciais do capítulo

E aí? Tudo na paz?
Quais livros estão lendo? E fanfics? Aceito sugestões. O ultimo que li foi o Martelo de Thor e eu amei a Alex, sério. Leiam.
A música é Somebody's Love de Passenger - https://youtu.be/jPqVoaJZWFc



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You're gonna need somebody to call you

You're gonna need somebody's arms to crawl into

(Você vai precisar de alguém para te chamar

Você vai precisar correr para os braços de alguém)

 

29-Isso não é medo. (Repita até acreditar.)

Três anos atrás

Terça-feira, 16 de abril

O céu estava muito escuro, dando a impressão de que já era noite, embora nem passasse das 15 horas; o sol escondia-se atrás das nuvens sem possibilidades de sair tão cedo. Gotas pesadas de água caiam rapidamente, não era uma chuva onde cada partícula de água caia por si só e devagar, elas desciam de uma vez e ligeiras, como uma torneira aberta num fluxo constante.

 Ashton achava que era o ultimo aluno da escola, pois as aulas haviam acabado há muito tempo e qualquer aluno que se preze havia fugido assim que o sino tocou, finalizando o horário obrigatório de estudos. Ele era um desses alunos. Contudo teve que ficar mais tempo ali dentro, não porque queria, mas porque tinha que resolver a questão das suas notas baixas. Ashton realmente não era um desses alunos.

Passando pelas portas da escola, ele se surpreendeu com a escuridão, o frio e o vento que o atingiram. Ao ouvir um arquejo de surpresa, quando a porta bateu, fazendo barulho – e tendo certeza que não foi ele, ele não ofegava que nem uma garota – Ashton se virou, sendo surpreendido mais uma vez pela visão que teve.

—Julie?

No canto da parede, sentada no chão com as costas contra a parede, encontrava-se uma garota de cabelos loiros armados – num lindo modelo versão vassoura – e cativantes olhos azuis, que estavam vermelhos pelo vento, vestindo apenas calças jeans e camiseta contra aquele ar gelado. Ela devia gostar de sentir frio, pois sempre que Ashton a encontrava, Julie vestia-se inapropriadamente para as condições meteorológicas.

—Ashton? – questionou ela de volta.

—O que você está fazendo ai?

Movido por algo que não entendia, Ashton decidiu fazê-la companhia e deslizou para o seu lado, tocando acidentalmente seu ombro, percebendo o quanto Julie estava gelada. Inconscientemente ou consciente, era difícil saber quando se tratava dela, Julie se aproximou de Ashton a procura de calor. Não que isso fosse algo anormal, as pessoas viviam se abraçando para se aquecerem, a questão era que eles não eram amigos e tinham conversado apenas algumas vezes. Ou ambos tinham noções diferentes dessa palavra, porque Julie parecia muito confortável ao lado dele.

Vestindo somente uma camisa manga longa, não tinha como Ashton ajudá-la, se não ficaria nu na parte de cima e ele que morreria congelado. Assim, mais uma vez sem entender o porquê, Ashton passou o braço ao redor dos ombros dela e a puxou para si. Ele já estava se acostumando a pular etapas de relacionamento com Julie, não tinha como ficar constrangido com isso depois de ter empurrado-a para um beco. A proximidade de agora não era nada comparada a daquele dia.

Sem reclamar, completamente confortável, Julie aninhou-se nos braços do garoto. Ela não conseguia entender como ele estava tão quente. Ou talvez ela que fosse o problema. Julie sempre parecia uma morta, com as mãos e os pés gelados, tremendo de frio ao menor sopro do vento, batucando os dedos incessantemente a cada trovoada.

—Está tão quentinho agora. Obrigada – murmurou ela, empurrando as mãos (e batucando os dedos) contra a camisa do garoto, embora quisesse realmente colocá-las por dentro da camisa, não por cima, mas Ash podia ter problemas com isso e Julie não trocaria o certo pelo duvidoso.

—O que você está fazendo aqui?

—O que você acha? Aproveitar a temperatura é que não é.

Ashton não viu seu rosto, mas podia apostar corretamente que Julie acabou de revirar os olhos para ele. Ela era aquele tipo de garota que tinha um tique para revirar os olhos, revirando-os a qualquer momento, a qualquer oportunidade, mesmo sem que haja necessidade.

—Por que você ainda não foi para casa?

—Eu esqueci o guarda chuva – respondeu Julie, como se falasse do tempo, o que indiretamente era verdade.

—Está esperando seu irmão?

—Não, Luke já foi. Esta com raiva de mim, acredita? – perguntou ela, levantando a cabeça. E revirando os olhos. – Ele não quer aceitar que eu tenho razão. Luke já devia estar acostumado, eu sempre tenho.

—Sei... Como você vai para casa então? Não parece que vai parar de chover tão cedo – disse Ashton, mudando de assunto. Ele tinha o sentimento que Julie era o tipo de pessoa que não gostava de ser contrariada ou aceitava que errou, ela iria até o inferno ainda afirmado que estava certa.

Sem nem perceber, Ashton começou a fazer carinho na cabeça dela, alisando seus cabelos, como sua mãe costumava fazer com ele quando era menor. O cabelo dela era loiro claro, liso e cumprido – Ashton não entendia essa fixação das garotas por cabelo cumpridos – e estavam arrepiados, como se tivesse sido atingida por um raio. Era desconfortante olhar para aquilo, para a confusão de emaranhados que estava, e Ashton nem podia fazer algo a respeito, pois estava crente que iria enganchar os dedos ali e só cortando-os – os cabelos, não os dedos – para livrá-los. O melhor a fazer seria melhorar o exterior e deixar o interior do jeito que estava. Mudar Julie era impossível.

—Você. Eu. Carona – disse Julie, cutucando-o com o dedo no peito a cada palavra.

—Eu não me lembro de ter concordado com isso.

—Eu não me lembro de ter perguntado. Você vai me deixar aqui sozinha nesse frio? Luke não vai vim me buscar, ele é muito teimoso, e mamãe só vai chegar de noite. Você vai deixar essa frágil garotinha sozinha? – perguntou Julie, olhando para o garoto com os olhos arregalados e lacrimejando e o lábio tremendo.

—Você é uma garota frágil? – questionou Ashton, cético.

Frágil não seria um dos adjetivos que ele usaria para defini-la. Forte, teimosa, louca, ignorante, assustadora. Seria um bom resumo de Julie Hemmings. E, apesar de ser uma observação superficial, Ashton tinha o sentimento que sua primeira impressão a respeito dela estava correta.

—Não, eu não sou – disse ela, revirando os olhos. Novamente. – Mas estou com frio e vou acabar ficando gripada.

—Certo, vamos – aceitou Ashton, revirando os olhos para tanto drama.

Pulando, Julie se levantou rapidamente e ofereceu a mão a ele, colocando-o de pé. Pegando o guarda chuva da bolsa, Ashton o armou e, antes que a chamasse, Julie já estava do seu lado, embaixo dele – do guarda-chuva, não dele. Ashton odiava a puberdade e esses pensamentos que a acompanhavam, e os sentimentos que tinham, e a falta de controle sobre seu corpo.

Os dois andaram em silencio por um momento, mas tagarela também devia estar no resumo de Julie, pois ela não conseguia calar a boca por muito tempo. Ashton ate se surpreendeu por ela ter conseguido ficar calada durante dois minutos quase inteiros.

—O seu nome me lembra de Pokémon – comentou Julie, desviando das poças de lama. – Posso te chamar de Ash? Eu gosto de Ash.

—Não.

—Está bem, Ash. Eu irei te chamar de Ash – provocou Julie, empurrando-o com o ombro.

—O que você estava fazendo na escola a essa hora? – perguntou Ash, decidido a ignorá-la.

—Decidindo minha grande curricular. Você sabe – disse Julie, dando de ombros – perdi muita matéria por não poder vim a escola. E você?

Ashton não queria dizer o porquê dele está ali, entretanto se Julie não teve problema em dizer a razão dela, ele não deveria ficar com receio. Seu motivo não era nada comparado ao dela.

—O professor queria discutir sobre as minhas notas – disse Ash, o mais breve possível. – Estava com saudades de mim?

—Curiosidade – corrigiu ela. – Você ainda se lembra onde fica minha casa?

Antes que Ashton pudesse responder, a chuva começou a cair mais forte, assim como o vento que fez com que o guarda chuva virasse do avesso, sendo levado pelo vento. Não tinha como pegá-lo.

Por um momento, eles ficaram parados em choque, sentindo a água gelada infiltrar-se nas roupas. Eles demoraram a entender o que acontecia, apenas quando estavam quase completamente congelados foi que começaram a correr. Julie foi na frente e Ash a seguiu, apesar de poder ultrapassá-la facilmente. Julie estava mais lenta do que ele conseguia se lembrar e mais rápida do que ele esperava, todavia Ashton não podia passar na sua frente, pois ele não sabia o caminho correto ate sua casa, tinha somente uma ideia de onde ficava. Porque continuava seguindo-a, já que ficaria molhado de qualquer jeito – seja indo para a casa dela, que era mais próxima, ou para a dele – era um mistério.

 

Julie abriu a porta de sua casa rapidamente e entrou, esfregando as mãos nos braços. Os cabelos antes arrepiados agora estavam lambidos e pingando. Ash não estava muito melhor, mas ao menos tinha visto em primeira mão o resultado de um banho gelado e aprovado. No momento, Ashton não conseguia pensar em nada além de se aquecer e... Talvez o banho gelado não tivesse realmente funcionado.

—Ei, Luke – cumprimentou Julie, aparentemente sem nenhuma raiva por está toda molhada. Ela parecia apenas cansada por tudo.

—Você está toda molhada – declarou Luke, olhando o acompanhante dela rapidamente, antes de fixar os olhos na sua irmã, mas Julie recusou-se a olhar para ele.

—Você é um gênio. Sente ai, Ash, que eu vou pegar uma roupa para você – ordenou Julie, desviando o olhar do seu irmão. Olhando para qualquer lugar menos para o seu irmão. – Não pergunte, Luke.

—Ok, mas eu não ia – disse ele, voltando a jogar videogame. – E mamãe vai chegar daqui a pouco.

Luke tinha acreditado erroneamente que sua irmã havia deixado para lá o que ele disse, mas ele tinha se esquecido o quanto ela se preocupava com educação. E em ser mais inteligente do que os outros. E era claro que Julie não iria gostar quando ele a disse para não estudar naquele ano; ela tinha ate jogado um livro nele quando Luke sugeriu isso.

—Ele é um dos seus amigos, não meu – disse Julie, subindo as escadas e deixando aquele menino sozinho com seu irmão. Eles que se virassem.

Luke também tinha se esquecido o quanto Julie odiava fazer amigos, odiava apresentações, odiava iniciar uma conversa... Mas, em sua defesa, o simples fato dela chegar em casa com uma pessoa que ele não conhecia, deixou-o desorientado. Se ela tinha feito um amigo, Julie também podia ter superado o seu medo – Luke conseguia ouvi-la sussurrar em sua mente “receio”, mas foda-se sua eu imaginaria, a real já lhe dava bastante dor de cabeça – não? Aparentemente não, pois Julie desapareceu lá em cima sem nenhuma explicação donde ela conhecia aquele garoto.

Embora Luke soubesse de onde ele conhecia aquele garoto. Ele via aquele cara todo dia na escola, ou sentado no fundo da sala, escrevendo algo no caderno, ou em lugares escondidos com alguma garota mais velha.

—Então... – Luke era tão bom em iniciar uma conversa quanto Julie, e não podia fazer o que queria, que era colocar Ashton para fora, pois iria irritar sua irmã. – De onde vocês se conhecem?

—Da escola – disse Ashton, dando de ombros.

—Você acha que vou cair nessa? – questionou Luke. – Você começou a estudar lá esse ano e Julie ainda não foi para a escola neste ano.

Como era que ele e Ashton, que eram colegas de classe, nunca tinham conversado antes e agora Ashton era amigo da sua irmã? Como? Eles obviamente não se conheceram na escola e todos os amigos de Julie eram seus amigos, pois ela era péssima em fazer amizade e ser amigo dele tinha como pré-requisito basicamente ser amigo dela também. E, sinceramente, Luke não gostava da ideia dele perto da sua irmãzinha.

A única coisa que Ashton poderia dizer sobre Luke ao Luke era uma palavra: possessivo. Quem se importava de onde ele e Julie se conheciam? O que importava era que eles se conheciam.

—Pergunte a Julie – disse Ashton ao invés disso, sentando-se no sofá ao lado dele. – Vai me dar esse joystick ou não?

Não querendo ser mal educado nem nada, Ashton tomou o joystick de Luke, pois com falta de educação ele podia lidar, com aquela conversa não. Parecia ate que estava tendo uma conversa constrangedora com o irmão da sua namorada.

—Quer jogar, Ashton? – questionou Luke, pegando o outro joystick que estava do seu lado. – Obrigado, Luke, eu adoraria jogar com...

—Parece que vocês estão se dando bem – interrompeu Julie, descendo as escadas. Não parecendo nem um pouco com a garota que chegou. E jogando uma blusa para Ashton. – Aqui a blusa, Ash.

—O seu cabelo... – murmurou o próprio, atordoado, quase não pegando a roupa. – Seu cabelo não era... maior?

Ashton podia não ser muito perceptível, entretanto ele conseguia perceber a diferença notável na sua frente. Julie havia subido as escadas com o cabelo comprido e descido com ele mal chegando aos ombros, todo repicado e mal cortado. As garotas supostamente não deveriam cuidar do cabelo? Julie cuidava muito bem do dela, Ashton percebeu.

—Eu estava com calor e... – declarou Julie, jogando o cabelo por cima do ombro como costumava fazer. Ou não. Ela olhou para as mãos vazias, sem cabelo, e completou, hesitante: – Não encontrei nenhum... elástico.

Mas...

—Tem um no seu pulso – apontou Ash.

Ainda olhando para as mãos vazias, Julie percebeu que elas não estavam tão vazias assim, pois realmente tinha um elástico no seu pulso. Quando foi que ela ficou tão mal em mentir? Ah, sim, deve ter sido por causa do tempo que passou no hospital, onde mentir como estava só tornaria tudo pior. O que a falta de prática não faz?

Além de que sua roupa contradizia esse suposto calor. Julie tinha trocado a roupa molhada por uma seca e vestia uma jaqueta que se assemelhava muito a uma que Ashton havia lhe emprestado há alguns meses. Não tinha como ela está com calor. E não tinha como uma garota cortar o cabelo por causa de algo assim. Nenhuma garota sentia calor e cortava o cabelo por calor. Mas nenhuma garota também conseguiria trocar de roupa e cortar o cabelo em tão pouco tempo assim, e ainda arranjar tempo para pegar uma blusa para outra pessoa.

—O que você fez? – questionou Luke, recuperando a voz. – Mamãe vai enlouquecer.

—Eu aposto que ela não vai nem notar.

—O que eu ganho?

—Se eu ganhar, eu cozinho – disse Julie, nem pensando. – Se você ganhar, você cozinha.

—Feito.

Alternando o olhar de um para o outro, Ashton ficou crente que entrou num covil de loucos. Quem apostava para fazer os serviços de casa e não para se livrar deles? Quem cortava o cabelo por calor?

—Por que ainda está com essa roupa molhada? – perguntou Julie, voltando a se lembrar da existência de Ashton. Ele estava tão calado que ela havia se esquecido da existência dele.

—É, ah, hum... Eu acho melhor ir embora. Não esta chovendo tan... – Ashton começou a dizer, mas o resto da frase foi abafado pelo som alto da chuva batendo no telhado do nada, contradizendo o que ele dizia. Chovia muito.

—Se quiser ficar com tuberculose – comentou Luke, olhando para janela que mostrava o céu mais escuro do que antes.

—Meu Deus, pare de frescura e tire logo a roupa! – exclamou Julie. – Luke não é homossexual. Ele não vai te atacar.

—É verdade, mas você é atirada – declarou Luke, lançando um olhar de quem sabia das coisas a irmã.

—Você sabe que sou assexual – lembrou a própria, tentando mais uma vez jogar o cabelo e lembrando-se no ultimo segundo que não tinha mais cabelo suficiente para isso. Julie já estava ficando irritada com isso, mas nunca cortaria seu cabelo.

—Assexual? – repetiu Ashton. A única coisa que ele sabia sobre “assexual“ era que as bactérias se reproduziam ser sexo.

—É, eu não sinto atração por qualquer sexo. Veja, ainda nem beijei alguém porque todas essas pessoas são tão... – Julie não terminou, fingindo um arrepio de repulsão.

—Menos eu, é claro – completou Luke.

—Menos você, é claro – concordou ela. E Ashton não sabia dizer se era verdade ou não, tanto a parte de ter beijado o irmão quanto à de ser assexual. – Estou quase desistindo de tentar não levar a sério o meu amor por você, maninho. É melhor aceitar logo que vamos ter um incesto, porque acho difícil encontrar alguém melhor do que você... Você ainda está com isso? Sinceramente, Ashton, tire isso antes que eu arranque de você

Pelas conversas sem vergonha e um pouco confusas, mudando a pessoa que se referia sem aviso, Ashton não tinha dúvidas que Julie faria realmente isso. E pelo pouco convívio que teve com Luke, ele percebeu que o mesmo ajudaria a irmã. Luke faria qualquer coisa pela irmã.

Sem escapatória, Ash tirou a blusa molhada pela cabeça, ciente que era a primeira vez que ficava sem roupa na frente de uma menina. Julie devia ser assexual ou então lésbica, porque ela não mostrou o mínimo interesse pelo seu corpo, embora o encarasse. Mas não era um encarar de desejo, era uma observação quase clinica. Ashton sentiu-se como um objeto de estudo científico com os olhos de Julie sobre si.

Julie o encarava não como se perguntasse “Meu Deus, que corpo é esse?”, ela nem o encarava realmente. Julie olhava para o nada e não era sua culpa que Ashton estivesse bem onde o nada estava. Ela queria saber “Meu Deus, quando vou sentir algo?”, e sabia o que seu psicólogo diria; a mesma baboseira de sempre que envolvia fases do luto, busca por aprovação, substituição... E Julie concordava em partes com ele, somente a parte de “busca por aprovação”, pois ela era uma adolescente. Ela queria ser igual a outros adolescentes, ela tinha medo de nunca ser, o que envolvia ter uma paixonite...

E aqui estava ela tentando ser igual a todas as outras... Julie sabia o que ela queria dizer a si mesma, que seria basicamente xingamentos do quanto ela estava sendo uma idiota. Uma garota idiota. Igual a todas as outras? Julie estava sendo uma idiota e ela esperava que isso fizesse parte das fases do luto, porque sabia que não aguentaria a si mesma se continuasse desse jeito. E queria algo – alguém – para culpar.

—Vai querer ligar para Liz...

O resto da frase foi abafado pelo trovão que retumbou pela casa e o relâmpago que a iluminou. A energia caiu e agora escuridão era tudo que podia se ver. Mas Ashton podia sentir Julie próxima de si, agarrando-o pelo braço.

—Você...

—Você está bem? – interrompeu Julie.

Mesmo sem poder vê-la, ou ela a si, Ashton levantou uma sobrancelha para o lado que Julie estava. Ela que estava grudada nele!

—É, Julie, acho que sim – respondeu Ash, revirando os olhos. – Você já pode me soltar que não irei gritar.

—Sério? Vou continuar perto de você por via das duvidas – disse Julie, segurando o braço dele mais apertando e guiando-o. – Venha, vou te levar ao sofá.

—Cadê o Luke?

—Ele deve ter ido pegar velas. Você sabe, você não é o único que tem medo...

—Do escuro – completou Ashton, entendendo.

—Escuro? – repetiu Julie, atônita ate entender o que ele havia entendido. – É claro, eu não iria dizer trovão. Ha ha ha. Quem tem medo de trovão?

—Você tem medo de trovão?

—Eu não tenho medo de trovão. Cuidado com o centro – avisou Julie, apesar de saber que era tarde. E gostando de saber que foi tarde, pois Ashton bateu o pé na quina.


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Notas finais do capítulo

Quais são os seus medos? O meu se resume a escuro, ou se resumia. Eu tinha claustrofobia e escuro sempre me fazia sentir em lugares fechados, sem ar.
Alguma sugestão? (P.S. Amo criticas.)
E eu postei mais uma história, para quem quiser: "Quem é ela?" - https://fanfiction.com.br/historia/712850/Quem_e_ela/



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