Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 18
Isso não é animado.


Notas iniciais do capítulo

Para quem já leu, recomendo que releia. Adicionei algumas coisinhas, mexi noutras... Remodelei o capitulo e consertei alguns erros. Qualquer coisa, comentem. Para que existem comentários se não para melhorar? Obrigada mais uma vez, Luci.

Olá. Estou tão feliz, até agora quatro de dez que acompanham comentaram (Ao menos imagino que essas quatro acompanham.) Olá para as fantasminhas também!
A música Bubbly, de Colbie Caillat (https://youtu.be/AWGqoCNbsvM) não combina muito bem com a história, na minha opinião, mas fui a que achei melhor e estou com sono para encontrar outra e prometi postar o capitulo hoje. Então, ignorem a quase não relação.



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Cause every time I see your bubbly face

I get the tingles in a silly place

(Porque cada vez que eu vejo seu rosto animado

Eu sinto arrepios num lugar bobo)

 

18-Isso não é animado. (E eu não estou com vergonha!)

Quinta-feira, 05 de maio

—Seus retardados – gritou Julie, apontando ferozmente para a equipe enquanto debruçava-se sobre a grade. – Joguem direito! Que droga de jogada foi essa de agora, Ashton?

—Oh, meu Deus – murmurou Demi, afundando-se ainda mais no seu assento, envergonhada.

Desde que chegou, Julie só ficava gritando e esbravejando ordens. Demi já via a hora dela ou ser expulsa do ginásio por desordem ou descer as escadas e tomar o lugar do técnico. Julie parecia mais a técnica da equipe de basquete do que o próprio técnico, esse que estava quieto no banco de cara fechada, sem opinar em nada, deixando seus jogadores fazerem o que quisessem. Ou seguir as ordens de Michael, que era o capitão.

—E use toda essa sua altura para algo, Luke! Michael, não me faça te mostrar como é que enterra! E Calum – gritou Julie, bastante animada e nem um pouco sem fôlego por toda a gritaria, ou incomodada pelos olhares estranhos direcionados a ela – okaerinasai.

—Eu sou meio escocês, Julie, não meio japonês – gritou Calum do banco, apontando para ela de volta. – E okaerinasai quer dizer “bem vindo de volta”, sua idiota.

—Você deveria estar jogando e não na plateia – rosnou Ashton, sem paciência para as “dicas” de Julie.

—E você no banco e não na quadra – retrucou ela, sorrindo para baixo. – Agora vá lá e tome cuidado com o armador ou faça algo quanto a essa marcação cerrada. Não vou perder a festa para ficar com você em casa ate que Anne chegue do restaurante, se você tiver alguma concussão.

—Como se eu fosse pedi algo para você – murmurou Ashton, embora o que ele realmente queria saber foi Luke quem perguntou, assombrado:

—Você vai para a festa?

—É – disse Julie. E Demi afundou mais um pouco na cadeira, ciente de que sua amiga só iria por causa dela. – Se vocês não perderem, nós, eu e Demi, iremos à festa.

Os murmurinhos que os cercaram – Julie e Demi numa festa? – e o brilho nos olhos de seus amigos deixou Julie feliz, ela tinha cumprido seu dever. Os caras estavam muito nervosos e não era à toa, já que o placar estava de dá pena. Eles estavam quase desistindo, mas Julie tinha dado a eles o que precisavam naquele momento: algo pelo que lutar. Quem não iria querer ver aquelas duas numa festa? Luke. Ele definitivamente não queria ver sua irmã numa festa.

—Calum, o número dois... – disse Julie, quando foi interrompida pelo próprio.

—Eu sei.

—Ótimo – disse Julie, sentando-se e batendo as mãos nos joelhos com um suspiro de satisfação. – Trabalho feito.

—Você acha que eles... – começou Demi.

—Não se preocupe – interrompeu Julie. – Esses idiotas irão jogar direito agora.

A surpresa de todos ali era irritante – e deixava Julie um pouco animada, era bom ser subestimada. Ninguém imaginava que uma garota saberia tanto de basquete quanto Julie, e que estaria auxiliando os jogadores ainda por cima.Na primeira vez que Julie opinou num jogo, Ashton hesitou em seguir suas dicas – ele demorou bastante para dá o braço a torcer e seguir suas instruções – mas só na primeira vez. Julie tinha um olhar sobre a situação que não deixava dúvidas que sabia do que falava. Ela sabia mais ate do que alguns ali, definitivamente mais do que o técnico. Mas nem todos sabiam disso sobre Julie – desde que entrou no colegial, ela não tinha participado de nenhum jogo – assim Jorg se recusava a seguir as sugestões dela, uma leiga sobre o assunto.

—Julie disse número dois, você sabe o que significa – murmurou Calum, passando ao lado se Michael. Ele não podia deixar ninguém perceber o que eles faziam.

—Certo – concordou Mike, sem desviar os olhos do quinto titular do seu time.

—Número dois? – repetiu Jorg. Ele não entendia nada, mas exclamou do mesmo jeito: – Vocês não podem estar pensando em seguir as ordens dela! Ela é uma garota!

A concordância entre os membros foi total, embora três deles, inclusive Michael, tenha concordado apenas pela parte "ela é uma garota" – era bem óbvio que Julie era uma garota com aquele vestido que marcava seu busto e deixava suas pernas livres, ainda mais para os jogadores que sentavam-se bem abaixo das escadas. O único que ficou calado foi Luke Hemmings, ele teve que se controlar para não mandar Julie sentar-se, pois não queria chamar atenção ainda mais para esse fato. Ou influenciar sua irmã a fazer algo pior, ela era capaz de fazer algo pior somente para irritá-lo.

—E eu sou o capitão, siga minhas ordens! – ordenou Michael, furioso. – Estou mandando você passar para Ashton, Jorg, então passe a porra da bola para o Ashton! – Virando-se, sem dar oportunidade para Jorg reclamar ainda mais, Mike completou a Ash: – Você sabe o que fazer. Número dois.

—Número dois – concordou Ashton, acenando.

—Número dois? – gritou Luke, horrorizado pelas ações drásticas que Julie sugeriu e Mike concordou. Ao perceber que falou muito alto, ele levantou uma mão a boca, mas Calum tapou-a antes.

—Não grite para todos ouvirem, seu idiota – reclamou Calum, dando um tapa na sua cabeça com a mão livre.

Idiota era o único insulto que ele usava, assim como o de Julie era droga. Se eles usassem algo além desses, isso significa que a situação estava critica. E, observando a reação de todos, eles sabiam que o jogo já estava ganho. Afinal, a diferença de pontos não era tão grande para eles estarem desesperados.

—O que é o número dois? – perguntou Demi, olhando para Julie em busca de informações. Ela não entendia nada de basquete além do “cesta é ponto”, e isso ainda era um conhecimento discutível. Julie era quem sabia de basquete, apesar das opiniões contrarias.

—Nada – respondeu Julie, abrindo um sorriso cruel, aproveitando-se mais da situação do que Demi acharia possível.

—Nada? – repetiu a garota, cética.

—Você vai ver.

Ao ouvir as palavras de Julie, Demi não entendeu nada e fez como todos os outros espectadores, e olhou para o número dois do time adversário que marcava Ashton desde o começo do jogo. Ele era um gigante até para Demi que vivia cercada de garotos altos; e mesmo ela, que não sabia nada de basquete, sabia que aquele cara precisava de mais do que um jogador marcando-o. Mas Julie não olhou para Ash ou para o número dois, ela olhou para seu irmão, que levantou o polegar para ela. Julie retribuiu o gesto. E a partida começou a ficar interessante e animada.

O plano que Julie tinha sugerido não era bem um plano, era apenas um chamariz para nada. Na-da. O plano era simplesmente nada. Apenas fazer o time adversário achar que tinha algo e deixá-los tenso e esperando algo surpreendente que não iria acontecer. Julie tinha sugerido fazer todas as pessoas dali de trouxa, simples.

Ashton começou o jogo marcando o número dois, contudo quando esse percebeu o que ele fazia logo se distanciou, deixando Ash sem marcação e livre para se locomover como quiser. Bem como era o plano de Julie desde o começo, quando começou a gritar no intervalo com Ash para que ele fizesse algo com o número dois. Se envolvia basquete, Julie pensava antes de agir, ela não fazia nenhum movimento por impulso; era tudo um jogo calculado para ela.

—Julie! – gritou Luke, depois da partida ganha.

Abrindo espaço na multidão que os cercava, ele chegou até sua irmã e a abraçou, rindo enquanto girava-a. Julie aproveitou por um momento aquela demonstração de carinho antes de se afastar – e era por esses poucos segundos permitidos que Ashton não tinha achado difícil acreditar em Julie e no seu amor não fraternal em relação ao seu gêmeo.

—Você foi ótima! – exclamou Ashton, sorrindo para ela.

—O que seria de vocês sem mim? – perguntou Julie, ignorando o sorriso que Ash deu a ela, ignorando como aquele sorriso a fez sentir e as lembranças que reviveu dentro de si.

Pensando mais profundamente no assunto, Julie decidiu ignorar tudo o que aconteceu, já que Ashton fazia o mesmo... O que aconteceu mesmo? Ela não passou ontem, durante a festa do pijama com a Demi, remoendo isso, ou hoje, o dia todo, pensando no que não aconteceu cada vez que via Ashton, Julie apenas ignorou. Aquele beijo que não aconteceu não significava nada – era meio óbvio, visto que não aconteceu nada.

—Eu não acreditei quando você sugeriu esse plano – contou Mike. – Fazia tanto tempo a última vez que fizemos isso que já tinha me esquecido!

—Não se pode usar o mesmo plano todas às vezes – disse Julie, dando de ombros.

—Minha irmãzinha é um gênio – gargalhou Calum, puxando Julie para um abraço também.

—Irmãzinha? – repetiu Luke, sem soltar a sua irmãzinha, olhando para Calum com ciúmes.

—Irmãzinha – concordou Julie, no meio dos dois. – Agora me soltem. Preciso reencontrar Demi, nos perdemos quando fui puxada por essa turba para cá.

—Nos espere no carro – pediu Luke, antes de voltar com Mike e Calum para as pessoas que clamavam sua atenção. Afinal, eles eram a estrela da noite. Julie pode ter oferecido uma saída, mas foram eles que a tornaram realidade.

—Você realmente vai para a festa? – perguntou Ashton, vendo-a se afastar.

—É claro que sim! Vou usar minha fama de hoje para conseguir algum gatinho – provocou Julie, piscando para Ash. – Os garotos devem estar de quatro por mim agora.

—Quem está de quatro por você? – perguntou Demi, surgindo do nada ao seu lado.

—Cristo, Demi! Não chegue assim do nada! – exclamou Julie, levando a mão ao coração. – E é óbvio quem está de quatro por mim. Todos estão.

—Inclusive Michael – afirmou Demi, sem nenhuma conotação.

—É claro que sim – concordou Julie, sem ver a expressão dela, revirando os olhos para si mesma por todo aquele ciúme não admitido, até se virar e completar com uma piscadela: – Principalmente Michael. Agora, me diga... Você está bem?

Os olhos de Demi perderam um pouco o brilho, mas ela continuou sorrindo. Era óbvio para Julie que aquele sorriso era forçando, ela apenas não sabia desde quando ele ficou assim. E isso era algo que Julie não gostava da amiga, ela sempre fingia que estava bem mesmo não estando. Qual era o problema em mostrar os verdadeiros sentimentos? Julie não iria julgá-la, ou sentir pena dela. Julie não sentia pena de ninguém. Aconteciam coisas ruins? Aconteciam, mas você pode escolher em continuar se culpando ou seguir em frente. E Julie não sentia culpa, e desse jeito ela não conseguia conectar-se a quem sentia. Ela era a típica garota coração de gelo e não recuaria de uma conversa que Demi não queria participar.

—Você ainda não está falando com Michael? – Demi não disse nada, apenas balançou a cabeça. – Ele te pediu desculpas? Você aceitaria se ele pedisse? Você só aprendeu não?

Não importava o que Julie perguntasse, Demi só balançava a cabeça. Apenas isso. Sem nem olhar nos olhos, concentrada em dar um passo na frente do outro, não trombar em ninguém e sair dali.

—Afinal, algo mudou depois que Ella e Nathan se casaram?

Mesmo sem saberem do namoro entre eles – embora dissesse que Julie desconfiava de algo – Demi estava quase sempre na casa dos Clifford com Mel. E Demi e Michael sempre se encontravam e se ignoravam, mas morarem na mesma casa deveria mudar algo e não era como se Julie nunca tivesse feito nada para jogar um para cima do outro. Contudo ambos eram lerdos de mais para perceberem ou sonsos.

—Eu divido o quarto com a Mel.

Definitivamente sonsa. Ou lerda em outro nível.

—Não é isso que eu quero saber – explicou Julie, paciente.

—Nós vamos para a festa? – perguntou Demi, mudando de assunto.

—Você está drogada? – murmurou Julie pela pergunta do nada, voltando-se para a amiga e quase trombando com a mesma, assim que chegou ao carro. Mas aceitou a troca temporariamente. Talvez Julie estivesse amolecendo. – Os garotos vão passar em casa antes de ir para a festa...

—Eu pensei que aqui tinha chuveiro – interrompeu Demi, confusa.

—Você está vendo muito filme, agora me lembro porque aceitei ir a essa festa – murmurou Julie para si. – E, em resposta a sua não pergunta que carece de resposta, sim. Aqui tem chuveiro, mas está quebrado. E eles são a nossa carona – disse ela, apontando para Luke, Calum e Michael que andavam na direção delas, embora nem conseguissem dar um passo sem serem parados.

—Ei, Julie. Cadê o Ashton? – murmurou Demi, olhando para os garotos. – Ele não vai para...

Julie até pensaria que sua amiga sabia o que ela não fez, se Demi não estivesse olhando ao redor ansiosa, quase desesperada, como se Ash fosse aparecer a qualquer momento. Aquele comportamento era patético. Depois de ser salva por ele, Demi tornou-se uma mais das “seguidoras” dele, que se animavam por um misero olhar.

Não muito tempo depois, Ashton apareceu atrás dos garotos e acenou para elas com um dos seus sorrisos de flerte, observando-as de cima para baixo. Um pouco surpresa por aquele sorriso, Julie acenou de volta envergonhada, sentindo-se um pouco confusa. Ashton estava ignorando-a o dia todo depois de beijá-la – ele só estava falando com ela na frente dos outros  – e agora sorria daquela maneira!  Julie sabia que Ashton estava brincando com a sua cara. Um troco pelo o que ela fez a ele, só podia ser isso. Droga, por mais que Julie achasse exagerado, a culpa não era toda dele, ninguém a obrigou a retribuir. Talvez por isso Julie se sentisse meio culpada.

Espere, isso é... Culpa? Mas pelo o que?, Julie queria saber. Eu não estou arrependida de nada, porque simplesmente não tenho do que me arrepender!

E completamente confusa, seus pensamentos não tinham sentido, começando pela culpa que nunca foi o forte dela. Ficar pensando e remoendo o que podia ter sido, não era com ela. Arrepender-se do que aconteceu também não fazia parte de sua essência. Mas aparentemente ela não tinha problemas em ficar com vergonha. Ficar com vergonha estava inclusive tornando-se um habito. Assim como mentir. Sua mãe amaria saber que ela estava seguindo seus passos.

—Você parece estar animada... – comentou Demi, surpresa pela mudança súbita de Julie. Julie, em algum momento dos seus pensamentos confusos, passou a acenar vigorosamente para Julie.

—Estou animada para a festa! – exclamou Julie, animada, ainda acenando para o nada pelo bem do personagem. Talvez ela estivesse animada demais para a festa. E ela nem gostava de festas.

—Muito animada – concordou Demi, olhando estranhamente para a amiga. Ela sabia que Julie não gostava de festas. – O que... Cadê o Ashton?

—Ele já foi – disse Julie, já não tão animada. Ela não sabia o que acontecia consigo! Essas mudanças repentinas de humor só podiam significar uma coisa...

—Ele não vai para a festa? Eu não vou vê-lo?

—Oh, meu Deus – gemeu Julie. Ela queria bate a cabeça na parede, ver sua amiga comportar-se desse jeito era mais do que ela conseguiria lidar, ainda mais com TPM.

—É brincadeira – riu Demi, travando o olhar com Julie. – Você está com ciúmes. -Eu estou enojada – corrigiu Julie. – E...

—Você está parecendo romântica de mais – disse Demi ao invés disso. Sonsa, pensou Julie novamente. – Algo aconteceu?

—Sem duvida, estou assistindo a um anime shoujo. Quer ver depois?

—Não.

Julie sabia que era um golpe baixo, Demi não gostava de desenhos, mesmo que animes não fossem desenhos. E, sim, Julie poderia dizer a Demi o que não aconteceu, mas ela estava certa. Ela parecia romântica de mais. E mais uma vez, a culpa bateu nela, tentando-a para contar a Demi o que não aconteceu, mas Julie deixou isso de lado. Ela já ia para uma festa que não queria somente porque Demi disse que queria uma “interação social”. Julie não devia mais nada e ela; as duas estavam quites.

Meu Deus, suplicou Julie ao entrar no carro, eu quero desaparecer e esquecer que isso aconteceu. Não o que não aconteceu, mas como eu estou agindo em relação ao que não aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Queria deixar claro que meus conhecimentos a cerca de basquete giram em torno de Kuroko no Basquet, que eu recomendo. O plano número dois foi em homenagem ao Número Dois.
Deixem comentários, tchau.



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