Rosalie não conseguiu nem fechar a porta da frente da casa antes que as lágrimas banhassem seu rosto. Ela havia mantido a conversa com Emmett educada assim como imaginara em sua cabeça, entretanto, por dentro, todos os sentimentos que ela combatera tão fortemente no passado voltaram com força total.  Todos os muros que havia construído para se proteger pareciam estar em ruina.

            Encostada a porta, a loira escorreu sobre os calcanhares até atingir o chão onde passou parte da tarde agarrada as seus joelhos. As lágrimas não duraram muito tempo, ela já tinha chorado todas as lágrimas no fim do noivado, mas agora era diferente. Rosalie não planejara reencontrar Emmett assim tão de repente, na verdade ela não tinha planejado reencontrá-lo em momento algum.

            O telefone tocou insistentemente nas horas que se seguiram até que finalmente parou. Um pouco mais calma, a loira trancou a porta e seguiu, sobre passos trêmulos e incertos, até seu quarto onde chutou as sandálias de qualquer jeito e jogou-se sobre a cama adormecendo em seguida.

****

            Emmett seguiu até o colégio onde Manu o esperava impaciente ao lado de uma das professoras, durante todo o caminho até a escola tudo que ele conseguia pensar era que toda a sua família o traíra. Tentou apagar esses pensamentos quando viu a garotinha que o esperava ansiosa.

            O rapaz seguiu a passos rápidos até a menina que pulou em seus braços imediatamente. Ali com Manu em seus braços todos os problemas se afastavam, ele a amava mais que tudo em sua vida.

            -Papai, você demolou!-reclamou ela impaciente quando o rapaz a colocou de volta ao chão.

            -Eu... tive alguns probleminhas no caminho, princesa, mas o papai já resolveu.  – o rapaz se justificou enquanto pegava a mochila rosa da garota com a mulher. – E você, se comportou?

            -Sim papai! –respondeu ela segurando a mão do homem que a guiava para o carro.

            Os olhinhos da garota brilharam quando viu o brinquedo que Emmett comprara para ela momentos antes no shopping, e falou diversas vezes que ele era o melhor pai do mundo. Era por esses momentos que ele vivia, por momentos que sua filha ficava tão feliz que seus sentimentos transbordavam com apenas um olhar, por instantes que ele sabia que apesar de tudo que acontecera ele repetira cada instante, apenas para tê-la ao seu lado.

            Durante o caminho até o prédio o carro foi preenchido com músicas infantis e pela voz da pequenina que acompanhava com facilidade cada uma delas, em certo instante a garotinha cobrou a atenção do pai e então Emmett passou a acompanha-la cantarolando as músicas que ele já havia decorado.

            Quando finalmente chegaram ao apartamento o rapaz ajudou a garotinha a se lavar e em seguida foi preparar o almoço.

            A tarde passou de maneira rápida para Emmett. O rapaz ajudou a filha a fazer a lição de casa e então lavou algumas das roupas que começavam a se acumular em seguida preparou o café da tarde para os dois e seguiu para a sala onde a criança assistia a um desenho na enorme televisão.

            Se manter ocupado foi a principal preocupação do homem naquela tarde, ele cozinhou, lavou roupa e limpou a casa – adiantando o trabalho que seria feito pela empregada que aparecia ali duas vezes por semana – depois brincou com a filha, ajudou a criança a arrumar seus brinquedos e cuidou de alguns assuntos do hotel. O celular permaneceu durante todo o tempo desligado ao seu lado.

            Em algum momento entre as 18 e as 19 horas a campainha do apartamento tocou fazendo Emmett acordar assustado no sofá e encontrar os olhos curiosos de Manu.

            - O interfone tocou? – perguntou para a garotinha que balançou a cabeça negativamente antes de voltar sua atenção às bonecas que segurava.

            Emmett desamassou a roupa como pôde e hesitou por um instante diante da porta confuso pela falta de um aviso prévio da chegada de um visitante. Finalmente completamente desperto, o rapaz não demorou a concluir quem era a visitante.

            Parado diante da porta, a campainha voltou a tocar algumas vezes até que Emmett resolveu que a ignoraria.

            -Não vai atender papai? –questionou a menina deixando as bonecas de lado.

            -É melhor não, meu bem. Olha só, porque você não vai para o seu quarto separar algumas bonecas para levar para o hotel? –sugeriu o rapaz, prevendo que a irmã poderia começar a chama-lo e então Manu iria fazê-lo abrir a porta.

            - A gente vai plo hotel hoje?

            - O papai tem que sair essa noite, princesa, você vai ficar com Jane, tudo bem?

            -Tá bom, papai. –respondeu a garotinha seguindo para seu quarto.

            Emmett seguiu para a cozinha e começou a preparar algo para a criança comer, enquanto a campainha continuava tocando insistentemente.

***

                Rosalie acordou pouco depois das dezoito horas, sua cabeça latejava e seus olhos ainda ardiam devido ao choro de antes. Sonolenta a mulher deixou a cama e seguiu a procura de algum remédio para dor.

            Após devidamente medicada e finalmente desperta a garota seguiu para a banheira onde preparou um banho digno de realeza e se afundou na banheira a música Love’s to blame ecoava pelo ambiente e tocou repetidas vezes até que a loira emergiu do banho. Enquanto secava o cabelo e apagava os vestígios de lágrimas sob uma camada de maquiagem a garota continuou a ouvir a mesma melodia. Aquela letra lhe era conhecida tinha sido uma espécie de vício no ano que sucedeu sua viagem ao continente europeu.

            A loira optou por um vestido preto e de corte simples, ela não queria que Emmett enxergasse alguma vontade de reaproximação de sua parte. Os sapatos que usaria seriam saltos, scarpins, pretos com vermelho, por fim deixou o cabelo cair liso sobre seus ombros.

***

            Emmett chegara no restaurante quinze minutos antes do combinado e escolheu uma mesa em um canto reservado. Era um restaurante de comida italiana onde Emmett e Rosalie costumavam ir quase toda noite.  Ele nunca mais tinha estado ali desde que terminara com a garota, mas o lugar continuava com o ar aconchegante e tranquilo como se lembrava, o frio que sentia não tinha nada a ver com a temperatura e sim com seu nervosismo.

            O rapaz estava de jeans, porém a camisa social e o sapatênis que arrematavam o look o deixara tão elegante quanto qualquer outra combinação. A garçonete tentou incentiva-lo a pegar algo para beber, mas ele não aceitou, tinha parado de beber e dirigir desde que tivera Manu, aquela garotinha tinha mudado completamente o seu jeito de ser. Mesmo agora, após tê-la visto a poucos segundo estar longe o preocupava e sentiu que talvez pudesse ligar para o hotel ver como a criança estava enquanto a loira não chegava.

            Emmett acabara de desligar o telefone quando a viu, parada ainda mais cativante do que nunca, recebendo instruções de maitre, ela usava um vestido preto que apesar de simples lhe vestia muito bem. O rapaz também reparou que aquele tipo de roupa não era o tipo que a Rosalie que ele conhecia costumava usar, mas como podia ele falar algo quando também havia mudado tantas coisas em sua vida?

            Rosalie seguiu com passos bambos até a mesa que o maitre indicou, torcendo que ninguém reparasse quão tremulas estavam suas pernas e, se alguém reparou teve a delicadeza de não demonstrar.  A loira chegou até a mesa antes que estivesse preparada e observou o rapaz. Emmett estava tão diferente do que costumava ser quando estavam juntos....

            Para a eterna surpresa da mulher, ele se levantou e puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar e então voltou-se para seu lugar. Rosalie tentou procurar em suas lembranças quando durante o relacionamento deles o rapaz tinha tido uma atitude semelhante, mas nada lhe veio à cabeça.

            -Você está muito bonita. –Emmett a elogiou sem saber outra forma de começar o diálogo.

            -Obrigada. – foi tudo que a loira lhe respondeu e então os dois permaneceram em silêncio até que a garçonete chegou para lhes trazer o menu. Tinham muita coisa para dizer, mas muita coisa que eles também tentavam esquecer.

            Observaram em silêncio o cardápio por alguns instantes, até que Emmett novamente tentou conversar.

            -E então, decidiu o que vai querer?

            - Tortellini e algum suco.  –respondeu ela sem encará-lo. Rosalie procurou dentro de si a mulher forte e decidida que tinha sido naquela tarde ao falar com o rapaz, fosse de qualquer lugar que ela tinha vindo a loira não havia a encontrado em mais nenhum lugar.  Tudo que restara era a mágoa de anos atrás.

            Quando a mulher voltou para obter os pedidos, Emmett lhe falou e então a mesa voltou a ficar silenciosa.