Ninguém e todo mundo escrita por clarissa
Então depois de passar o dia deitada na cama, triste demais para qualquer coisa, decidiu obrigar-se a estudar algo. Do contrário, por hoje, ela teria sido completamente inútil.
Sentou-se na sua tosca cadeira de plástico, que era mais confortável do que aparentava ser. Pensou “preciso estudar química”, e riu logo em seguida. É claro que não conseguiu. Seu cérebro parecia estar danificado, e o pior: sem previsão para conserto.
Passou para literatura. Pensou que por gostar da matéria seria menos dolorido.
Errou feio. A atividade pedia para que interpretasse um conto de Clarice Lispector. Botou a mão na cabeça e pensou “não pode ser tão complicado”. Mas foi, e no segundo parágrafo as lágrimas já caíam.
Não teve a mínima estrutura para ler o resto das questões. Tentou listar pela milésima vez todos os motivos de não cursar Letras, porque a cada obra-prima (como essa) lida, as razões para escolher outro curso diminuíam. A cabeça doía, e a garganta estava fechada.
As palavras eram a cura para quase tudo o que ela tinha de errado, e, ainda assim, faziam cada parte dela (tangível ou não) doer. Remendavam cacos que já nem tinham onde se encaixar.
Voltou a cama, e as lágrimas pararam. A vida precisava seguir, mesmo que sem movimento.
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