Morning Light escrita por isa


Capítulo 1
6 AM


Notas iniciais do capítulo

Terceira songfic do desafio :D
Não era minha pretensão inicial fazer Rose aos moldes do que imagino que ela pareça em Cursed Child, mas a musica pedia, então...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704381/chapter/1

What's easy in the night... Is always such a bite in the morning light.

[Ha ha ha ha]

Quando Scorpius Malfoy amanheceu na mesma cama que Rose Weasley pela primeira vez, ele precisou de três minutos inteiros, duas esfregadelas nervosas nos olhos e uma breve suspensão de respiração para entender que estava realmente desperto.

Utilizando todas as suas memórias a respeito da anatomia do gato esquisito de Alvo, ele tentou se mover o mais silenciosamente possível, tal qual o bicho. E nos primeiros cinco segundos, ele obteve relativo sucesso: conseguiu desvencilhar o braço esquerdo do pescoço cor de canela absolutamente tentador de Rose, mas a consciência – agora completa - dela dormindo nua ao seu lado era tão perturbadora que o seu nervosismo fez o que sempre fazia, uma hora ou outra: foder com todos os seus momentos bons.

Os olhos da Weasley se abriram de imediato quando seu relógio de pulso enroscou sem querer em uma madeixa espessa do cabelo castanho dela.

And you've got a liquor stain on your uniform. I know where you're from.

— Inferno. – Ela murmurou, formando uma careta quase inconsciente. – Eu estava torcendo para não ser você. – Era apenas uma constatação, mas doeu do mesmo jeito que teria doido se ela tivesse dito com a intenção de ofender.

Scorpius abriu um sorriso amarelo, distanciando-se física e psicologicamente dela.

— Bom dia para você também, eu diria.

— Ah, por favor, nós já passamos dessa fase, não?

Scorpius encolheu os ombros, sem saber o que responder. Quando o assunto era Rose Weasley, não havia nada que ele pudesse presumir ou dizer a respeito. Ele começou a se vestir e sentiu um fisgar no coração quando observou de esguelha que ela recolocava a calcinha com estampa de Star Trek.

— ...Horas? – Inquiriu, agora com um tom mais contido, sabendo que tinha sido hostil demais.

— Seis. – Ele disse, terminando de abotoar a camisa. Rose parecia ter problemas com o fecho da saia, de modo que ele se aproximou em silencio e se incumbiu da tarefa por ela. Poderia ter sido só impressão, mas os pelinhos do braço direito de Rose pareceram reagir ao contato, o que o fez sorrir de maneira sarcástica.

— Eu não vou agradecer por isso.

— Bom, o problema é seu. – Ele disse, um pouco cansado. Rose adorava chateá-lo por nenhum motivo, e ele havia lidado relativamente bem com isso durante todo o tempo escolar. No entanto, agora que eles haviam passado por seis fracassados encontros ao longo do quarto, quinto e sexto ano, parecia apenas estúpido ser polido demais quando ela obviamente falaria o que quisesse e do jeito que quisesse independente de sua reação.

Rose arqueou uma sobrancelha e pousou o dedo sob o emblema da Sonserina dele. Odiava o modo como o verde se sobressaia em contraste com a pele leitosa dele. Ao menos dessa vez havia uma manchinha e o cheiro de álcool para atrapalhar todas as associações negativas que ela fazia instintivamente. Ela não sabia se queria acariciá-lo ou socá-lo. Na maior do tempo, esse era seu grande embate mental. Na duvida, ela o encarou: os olhos cinza ainda estavam injetados de sono e ele tinha uma maravilhosa cara amassada, além das imensas e incuráveis olheiras-Malfoy. Era algo de família, e eles pareciam nascer todos assim: prontos para uma vida fatigante cheia de insônia.

Era estranho, mas a verdade é que ela gostava dele, embora só conseguisse admitir isso depois de várias doses de whisky de fogo. O problema é que ele lhe causava uma série de crises de identidade das quais ela não queria lidar porque tinha a impressão de que acabaria percebendo que passara muito tempo tentando fazer coisas estúpidas e complexas. Rose Weasley era uma bagunça e ela projetava a raiva que sentia de si mesma na única pessoa que parecia disposta a encará-la.

And you know what I've got such a heavy heart. You can’t carry it.

[No no no no]

And you know what I've got such a mixed up mind… You can't sort me out.

— Olha, eu sinto muito. – Ela disse por fim e Scorpius não pode deixar de ficar surpreso. Era a primeira vez que via Rose se desculpar. – Eu não pretendia ser tão... Ham... Eu. É só que isso... Nós dois... Claramente não dá certo e de alguma forma nós apenas voltamos a fazer isso.

— Nós nunca tínhamos feito isso. – Scorpius a lembrou.

— Não, mas... Você entendeu. Eu, você e... – Ela apontou para ele e para si mesma com o dedo indicador diversas vezes seguidas. – Bocas. E a incrível idade de dezessete anos.  – Ironizou. - Não existe uma maneira real de adolescentes serem sensatos, existe? Quer dizer... Eu nem sei onde estamos, entende?

— Na sala precisa.

— Oh céus. – Outra careta. – Mais clichê impossível.

— Sugestão sua. – Ele pontuou novamente, colocando a capa.

— Fantástico. – Ela colocou as duas mãos em concha no rosto, antes de respirar fundo. – Eu só... Eu realmente sinto muito, Malfoy.

Scorpius meneou a cabeça sem encará-la.

And you've got a polished mask
Yeah, it looks like shit
Can't get rid of it

— Essa é a hora em que você diz alguma coisa. – Rose comentou, ao perceber que ele parecia prestes a ir embora.

— Ah, é? – Ele deu uma risada sem humor. – E o que diabos eu poderia dizer, Rose? Eu não tenho um arsenal de frases eloquentes. Eu não acho a pior coisa do mundo ter dezessete anos, nem transar com a garota que eu gosto. O que você quer que eu faça? Que eu jogue a carta da minha mãe morta para expressar o que eu realmente acho difícil de aturar? Eu também sinto muito por você não ser ou não ter seja lá o que você espera. Mas eu sinto ainda mais por mim que sou idiota por você, enquanto você ainda nem é o que espera ser de verdade.

— Isso é mais do que eu esperava. – Ela sussurrou, parecendo um pouco abalada.  Scorpius sentiu um misto de culpa e raiva.

— Eu não sei o que isso quer dizer, mas você deveria ir ou vai se atrasar para a aula.

Rose concordou em silêncio, mas ficou parada uns bons segundos na frente dele, tentando projetar alguma boa resposta. Scorpius sustentou o olhar dela e precisou se conter para não curvar o rosto em direção a sua boca. Ela era insuportavelmente bonita. Ele só queria abraçá-la. Não por achar que ela precisava disso e sim o contrário. Sempre.

— Isso seria horrível.

— É.

— Mas seria pior se eu saísse daqui agora.

What's easy in the night
Is always such a bite in the morning light

— Não. Está tudo bem. – Ele encostou a mão na dela. – Sem sentimentos difíceis. É sério. Eu não sou bom em situação de conflito.

Isso fez Rose rir de verdade.

— O que foi? – Scorpius quis saber, sentindo-se confuso.

— Você faz com que eu queira socar minha própria cara.

— Você é estranha, Rose Weasley.

— Esse é exatamente o meu ponto, Scorpius Malfoy.

Ele sorriu, fazendo-a sorrir também.

— Você também sente como se fosse adquirir uma ulcera toda vez que está tendo uma conversa constrangedora? – Ela perguntou, encostando os dedos nos dele.

— Com você? O tempo inteiro. Piora quando envolve suas caretas.

— Eu sou mestre em caretas. – Riu, sentindo-se estranhamente leve.

— Sim. Ninguém consegue retorcer tanto o nariz quanto você.

— São anos de prática. – Brincou, antes de ficar repentinamente séria. – Aquilo que você disse... Sobre gostar de mim...

— Você não precisa se preocupar. Não é como se eu fosse te perseguir ou algo assim.

Rose enrubesceu, mas segurou a mão dele.

— Eu gosto de você também. Mas acho que eu não sei fazer isso direito.

Scorpius fixou o olhar nas duas mãos juntas e sentiu a pulsação acelerar. De algum modo, era ainda mais intimo do que a noite passada.

— Não é exatamente como se tivesse uma fórmula. – Ele disse um pouco inseguro. – Então acho que não é para parecer fácil mesmo, apesar de livros e coisas do gênero tentarem dizer o contrário.

Rose concordou.

— Uma parte de mim ainda quer dizer algo cruel e sair correndo para não ter que encarar A Coisa Difícil. – Confessou. – Mas isso não tem produzido muito efeito até agora, então... – Ela encostou os lábios nos dele. E foi como sempre era quando isso acontecia: legal e assustador.

Scorpius esperou alguns segundos para ter certeza que ela não ia de fato correr, então colocou as duas mãos na cintura dela.

E nunca mais a largou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Morning Light" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.