Não sei o meu nome, tampouco como eu seria após te conhecer. Apesar disso, acredito que nós poderíamos ter sido muito felizes, se as coisas não tivessem ocorrido como ocorreram. Mas não lhe culpo. A verdade é que nenhum de nós estava preparado para isso. Você não estava preparada para ser mãe. Eu não estava preparado para vir á esse mundo cruel e hostil.

Antes eu era extremamente frágil, pequeno e indefeso. Totalmente passivo, você era a responsável por me manter vivo. Antes de você eu apenas ansiava fazer parte de uma família, ter alguém com quem contar, mas acho que cheguei de surpresa em sua vida em um momento onde eu não seria bem-vindo. Tentei encontrar os motivos que te levaram a essa escolha, porém não consegui encontrar motivo algum. Mas tudo bem, te entendo completamente. Eu não gostaria de ser um peso na vida de alguém.

— Eu mal posso conceber a ideia de parir uma criança agora. Você sabe... Eu não desejo ser mãe. Pelo menos, não agora. Não quero isso para mim e tenho certeza que você também não quer. Simplesmente não posso, entende? Me desculpe... - você dizia aos prantos enquanto era consolada por alguém que você chamava de ''amor''.

— Tudo bem, querida. Apoiarei sua decisão, seja ela qual for. Vai dar tudo certo, ok?

Não sei exatamente onde estamos agora. Ouvi dizer que é uma tal de ''clínica''. Não tenho certeza quanto a isso, mas posso perceber o seu nervosismo. Estou nervoso também, mamãe. Nervoso e amedrontado. Ainda posso sentir suas caricias tímidas em torno de mim. Seria isso talvez um pedido de desculpas? Você não sabe o meu nome, mas eu sei muito bem o seu. Eu tento te chamar mas você não pode me ouvir.

Já na sala desse lugar que me dá arrepios, antes de algumas pessoas estranhas e vestidas de verde manusearem alguns instrumentos esquisitos, de dentro de sua barriga eu ainda pude ouvir a pergunta que mudaria para sempre as nossas vidas:

— Você tem certeza de que quer seguir em frente, Juliana?

— Tenho... Só quero que isso acabe logo, doutor. Por favor.

— Como quiser. Respire fundo e relaxe... Quando acordar, tudo terá terminado.

Por um momento pensei no quanto gostaria que você voltasse atrás e me desse uma oportunidade. Nos desse uma oportunidade. Acredito que não há culpados nessa história, mas ás vezes, tudo o que precisamos é apenas uma chance para fazer as coisas valerem a pena. No entanto, não tive tempo para concluir meus pensamentos. Logo, fui sugado para fora de seu corpo sem ao menos poder me despedir.

Posso perceber quanto sofrimento isso te causou. Espero que esteja bem e não se preocupe comigo, mamãe. Estou melhor agora e posso acompanhar seus passos onde quer que você vá. E por favor: não se culpe por isso. Talvez tenha sido melhor assim para nós.

Apenas quero que saiba, antes de partir, que não tenho raiva de você. Apesar de tudo, ainda te amo. E te amarei por toda a minha pós-vida.