O Livro Grimm De Teresa Rubel escrita por Tales of Grimm


Capítulo 2
Pais e Gnomos


Notas iniciais do capítulo

Ainda tenho que fazer o desenho do Gnomo. Ela escreve no diário após ver os gnomos, na segunda vez que escreve. É aí que ela faz o desenho. Ainda não fiz. Mas queria postar logo. Eu sei que a pressa é inimiga da perfeição.



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14 de Maio de 2005 

Eu não sei fazer um diário, mas acho que deve começar com o nome, né?  

Meu nome é Teresa Rubel, ou é o que me chamam no orfanato. E só me chamam pra lavar as louças ou brigar comigo por algo, não que eles não tenham motivo. Eles têm muito motivo, e essa é a parte ruim de tudo. O controle. É um saco. E pretendo fugir, deixar esse lugar para sempre. 

Roubei, ontem, a chave do dormitório. Peguei quando a secretária iniciou seus cochilos depois que seu programa favorito acabava. Eu não acho justo manterem as crianças presas nos quartos à noite. Muitas crianças não se importam, só seguem as regras. Fazem amigos. Por que eu não? Sou sempre excluída, e ficam olhando pra mim, como se eu fosse diferente. E não sou. Todos estamos aqui porque ou os pais não quiseram a criança e largaram-na ou morreram.  

Eu não sei qual é o meu caso. Os supervisores não dizem o que aconteceu para a gente parar num lugar desses, só falam, com voz doce de pena: "Os seus pais não estão aqui". E isso é tudo que devemos saber. E depois de um tempo, desistimos de saber e decidimos que esse lugar podre é o nosso lar. 

Estou saindo hoje. Nessa manhã fria, e uso o casaco do meu pai, a única coisa que foi deixada pra mim, e só recebi isso depois de um tempo.  

Onde estava o casaco, não sei. Mas me deram de aniversário quando fiz dez. Foi o único presente me deram, e o diário roubei da pilha de cadernos usados que doam pra cá.  

 Preparei minha mochila. Quase vazia, com apenas meu diário, uma garrafa com água e os minhas duas peças favoritas de xadrez: o cavalo e a rainha. São duas peças escuras, bonitas. 

Teresa fecha o diário, guarda-o na mochila e com cuidado, deixa o quarto. Abre a porta, que faz um pequeno rangido, mas não acorda sua colega de quarto, Betty, que dormia profundamente no canto esquerdo do quarto.   

Finalmente irei sair daqui, pensou. Sabia que adultos não escolhiam garotas de doze anos. Escolhiam as bebê. Ela não, e não queria ficar ali até os dezoito. Precisava da liberdade.  

De repente, ouviu passos próximos e risos altos. Apressadamente, Teresa voltou para dentro do quarto. Pelo som dos passos, sabia que já passavam pelo corredor. Deixou a mochila no chão e se enfiou nas cobertas . Já era tarde demais quando lembrou que havia deixado a porta destrancada.  

Sentiu a chave fria na mão e pensou em trancar rapidamente. Acalmou-se. Era improvável que a supervisora parasse para checar aquele único quarto.  

Ouviu um ruído de metal. Era a tranca. Um burburinho de um segundo molho de chaves podia ser ouvido atrás da porta. A tranca girou, e a voz da supervisora parecia confuso: 

—Ué... Mas eu tranquei?— ela exclamou. —Impossível... nunca deixaria uma porta aberta. 

Logo a tranca girava na direção contrária. 

—Sim, essa é a Teresa.— A supervisora respondeu à uma segunda voz. —A da cama esquerda. 

—Deveríamos acordá-la agora?— perguntou uma mulher. 

—Não, espere até às sete. Ela terá tempo de arrumar suas coisas. 

As outras duas vozes, provavelmente um casal, concordaram. Teresa segurou sua alegria. Iria sair dali! Iria, finalmente, se tornar uma garota normal.  

Agora mais acordada do que nunca, Teresa pegou seu diário, e escreveu a notícia nas páginas, fechou-o e tentou dormir, sem sucesso. 

26 de Dezembro de 2005 

Eu vi esse gnomo aqui em casa!  

Foi Natal de novo, e ganhei uma bicicleta. Foi meio estranho. Eu vi um bicho hoje, acho que foi um gnomo. Eu fiquei assustada, mas acho que eles também. Quase roubaram minha bicicleta. Eu desci, e  quando eles me viram pararam e rosnaram. Tinham olhos verdes brilhantes. Eles me chamaram de alguma coisa. Verde, eu acho. 

Na noite de Natal, enquanto os pais dela dormiam, Teresa ouviu barulhos de rasgos embaixo. Desceu as escadas e se deparou com pequenos humanos peludos... que tinham mais a aparência de macaco.  

—O que é isso?!— perguntou alto para chamar a atenção deles. Os macaquinhos viraram-se, e Teresa pôde ver pares de olhos verdes brilhantes no escuro. Eram quatro no total, jaziam embaixo da árvore de Natal. Suas orelhas eram pontudas, lembravam as de um gnomo nos Contos de Fadas. 

Os gnomos abriam as caixas apressadamente, e quase destruíam os brinquedos. Assim que viram Teresa, todos avançaram na direção dela, tentando agarrá-la. Cada um deles tinha dentes afiados, dos quais Teresa tentava o máximo para manter distância. Era fácil lutar com os gnomos, na verdade, eles não eram fortes, nem assustadores. Apenas aqueles olhos verdes lhes davam um brilho fantasmagórico, mas nem por isso. 

Teresa conseguiu imobilizá-los, até que saiu do escuro da parede, onde a luz que vinha da rua iluminou o seu rosto. Quando viram o rosto dela, eles haviam percebido algo que ela não conseguiu.  

Os olhos. Cada um dos misteriosos gnominhos havia percebido: se aqueles olhos verdes já davam um senso de fantasma, o que seria dos olhos pretos de Teresa? Eles haviam ouvido as histórias dos pais, mas nunca temeram tanto... até aquele dia.  

Olhos negros, um vácuo dentro dos olhos, uma escuridão. Isto os fez temê-la, e fugiram, assustados. Teresa não entendeu, apenas ouviu um sussurro pequeno vindo do último a sair pela janela. 

Green— ela pensou ter ouvido. Para ela seria a tradução do inglês para verde. Mas o que ele queria dizer com isso?  

Assim que percebeu que não voltariam, ela voltou à dormir. No amanhecer, foram ver os presentes, mas quando os achou já abertos e derrubados no chão, os pais perguntaram a Teresa se foi ela que abriu. 

—Foram os gnomos.— ela respondeu. Os pais riram. Achavam que havia sim sido ela, talvez ela não lembrou dos costumes natalinos, e ignoraram o fato de que ela quis dizer a verdade com gnomos. 

Aquela noite, pegou seu diário, e desenhou o que viu, e os olhos verdes.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? Comentem! Ou senão acabo antes como Grimm acabou :´( e ninguém quer isso, né?



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