A humana saiu do subsolo. Asgore morreu, e ninguém apareceu para tomar o trono. Os monstros ficaram apavorados. Eu pensei que Alphys poderia assumir, já que ela tem com certeza seria uma boa rainha, mas... ela não sai do laboratório à dias. Eu tentei procurá-la, mas os monstros desesperados não ajudavam muito. Minha única solução foi me tornar o rei.

Mas eu não era bom nisso. Eu sabia apresentar um programa de entretenimento, não comandar centenas de monstros! Eu não conseguiria sozinho, mas não tem ninguém para me ajudar. Decidi comandar do meu jeito. Por mais que forçar os monstros a construir estátuas minhas não fosse certo, foi a única maneira que encontrei de deixar todos entretidos com algo. Agora que virei rei, não tenho mais tempo para fazer mais episódios do meu show. Então, irei construir um reino só meu. Onde meu rosto aparecerá em todas as casas, em todas as paredes, em todas as lojas. Talvez assim os monstros se sentiriam melhores.

Mas ainda não estava satisfeito. Eu ainda precisava procurar por Undyne. Ela sumira sem deixar vestígio. Todos estão preocupados com a mesma. Ela era a protetora de todos, que lutava pela justiça e era admirada por todos. Impedia os humanos de nos matarem e nos ajudava a pegar almas. Agora que ela sumiu, preciso de algo novo, que dê aos monstros uma sensação de proteção. Por isso, contratei Sans e Papyrus. Os novos protetores do Underground.

As almas sumiram, e sinto que ficaremos presos aqui por mais um bom tempo. Mesmo que meu sonho seja fazer sucesso na humanidade, tenho que me preocupar com a felicidade do meu novo povo. 

Esses dias, ligamos para a humana. Sans e Papyrus queriam saber se a mesma estava bem, já que provavelmente nunca mais a veriam. E é claro que eu dei um oi para ela. Mas minha cabeça estava sempre voltada para Alphys. Eu queria que a humana pudesse ouvir a voz de todos nós ao menos mais uma vez, mas isso era demais para mim. Eu disse a ela que Alphys desapareceu. A humana se preocupou muito, mas a bateria do celular acabou. 

Agora, há muitas coisas que preciso resolver. Documentos, o pagamento de todos os monstros que fazem estátuas, a coroa que mandei fazer... tudo! O Underground é grande demais para um robô que tem que carregar suas baterias comandar! E eu ainda não posso trazer a felicidade de ninguém. Ando esquentando muito minhas engrenagens com isso, e ainda sinto que falta algo. 

Ah, já sei... eu fiquei tão preocupado com todas essas coisas, que me esqueci de Alphys. Eu fui ao seu laboratório e vi uma carta no chão. Estava dizendo que não poderia mais esconder isso de ninguém e que, quem quisesse saber a verdade sobre ela, era para descer a porta ao norte da carta. Eu desci. O elevador deu alguns erros, mas desceu normalmente. Eu entrei e vi um outro laboratório. Muito maior do que o de Alphys, que é o quarto dela.... antigo quarto dela. 

Experimentos com uma tal de Determinação, monstros derretidos, e o pior... a preocupação de eu parar de ser amigo dela. Porque ela não me contou antes?! Porque nunca disse que estava solitária?! Porque nunca disse que Undyne morreu?!

Sim.

A poeira da mesma estava guardada em um cilindro de vidro. Alphys provavelmente tentava dar a ela Determinação, mas algo sempre dava errado. Esta sala era depois de um corredor de flores douradas, e mais a frente uma outra porta. Antes, eu queria ver oque essa tela diz.

Entrada número 2-01

Eu tentei de tudo, mas toda vez que reconstruo um corpo artificial para Undyne, seu corpo derrete sem eu nem mesmo ter injetado Determinação. Nada funciona, e estou começando a acreditar que ela não vai voltar.

Continuei andando. Várias telas foram ligando, enquanto eu passava por vários corpos artificiais que derreteram e agora estão deformados. Alphys deve ter sofrido muito quando soube que Undyne morreu.

Entrada número 2-02

Eu não tenho mais amigos. Agora eu comecei a aceitar o fato de que não poderei trazer Undyne de volta, mas ainda dói... eu não tenho ninguém para desabafar, e não posso fazer nada.

—Eu estava aqui, eu juro! Eu sou seu melhor amigo, você podia confiar em mim!

Entrada número 2-03

Meu único amigo parou de falar comigo. Ele provavelmente não gosta de mim, e isso mexe comigo. Ele talvez tenha me usado para ter um corpo, fingindo ser meu amigo, para depois me abandonar.

—Eu não fiz isso! Eu estava ocupado com meu show, Alphys! Você sabe disso! Eu tentei te ajudar com a humana, lembra?! Eu estava lá por você!

Entrada número 2-04

Ele me abandonou quando mais precisei. Ele nunca foi meu amigo. Todas as vezes que ele me fazia rir... foi tudo forçado. Afinal, ele é um ator, certo? Ele sabe como fingir ser amigo de alguém.

—Eu era seu amigo... eu era...

Entrada número 2-05

O único que "gostava" de mim, apenas fingia. Isso é a prova que eu sou uma inútil.

—Não é verdade...

Andei até a próxima tela, mas ela não se acendeu. 

—Alphys, querida? - a chamei, mas ninguém respondeu

Cheguei perto da porta e ela se abriu. Estava um breu. Quando fui acender a luz, uma tela ligou.

Entrada número 2-06

É hora de acabar com isso

Liguei o interruptor e olhei para trás. 

Arregalei os olhos e tapei minha boca. Isso não poderia estar acontecendo... isso não pode estar acontecendo!

Alphys estava com uma corda enrolada no pescoço, pendurada no teto. O horror e desespero tomou conta de mim. Sem pensar duas vezes, peguei minha moto-serra e cortei a corda. Ela caiu e eu a paguei. Seu corpo estava frio. 

—Alphys! Alphys!

A chamei enquanto a chacoalhava. Ela poderia não ter aguentado tudo sozinha! Ela poderia ter me chamado, ter me contado a dor que estava passando! Eu estava aqui por ela! Eu estava...

Quem eu quero enganar? Eu sou o maior culpado. Eu deveria ter percebido desde o começo que algo estava estranho com ela. Eu... não fui um bom amigo. Ela sempre me ouvia quando eu precisava dela, ela sempre me ajudou quando eu precisei, mas eu nunca estive aqui por ela! Eu sou um ingrato! Eu nunca falei nem sequer um obrigado por ela ter me criado! Eu sou um... um monstro!

Eu nem ao menos consigo chorar, já que eu sou um robô... eu não posso fazer absolutamente nada. Eu queria ter agradecido pela "vida" que ela me deu, eu queria ter me desculpado por tudo que fiz. Eu não mereço tudo que tenho! Não mereço a fama, não mereço uma amiga tão boa, não mereço nada! Eu sou um merda!

Não... tem mais alguma coisa que eu posso fazer. 

Quebra de Tempo

Olhei a estátua orgulhoso. O sol entrando pelas janelas e batendo na coloração dourada da estátua, fazia-a ficar majestosa. Ajeitei meu manto e me sentei no trono. Me sentia um pouco melhor por ter feito uma estátua em sua homenagem, mesmo de não ter direito de fazer isso. 

Sorri chorando, apesar de nenhuma lágrima sair.

"Me desculpe"