Eu via eles girar em torno do brinquedo. Quanto mais rodavam mais gritos soltavam, parecia uma espécie de brincadeira. Vários caiam e rolavam rindo. Eu ria junto mesmo não podendo ir com eles. Isso não tinha razão, eu só. Não. Podia.  

Me arrumei na cadeira e a toca em minha cabeça. Sentia a tontura da falta de vitaminas e alimentos, viver a base de líquidos, ninguém aguentava. 

Com o tempo a vida faz crescer e aceitar 
Que de repente tudo muda e troca de lugar 
Não se entregue e não deixe a maré te levar 
Só não deixe a maré te levar 

Me empurrei para cima saindo da janela. Andei pelo quarto rosa bebê desbotado e branco até meu guarda roupas, o abri, pegando minha única boneca. 

No mesmo estado que eu ( como sempre), usava uma jaqueta cinza surrada e quase toda sem cor, uma calça preta e meu tênis. E ah não esquecendo da minha toca vermelha. Eu olhava a boneca como eu. Magra, sem cor, sem cabelo, sem nada. Ter câncer é uma merda. Ficar trancada em um quarto de hospital era uma merda. Não poder sair, comer o que eu quero.  

Desde que eu fiquei sabendo disso eu perdi meus amigos, minha mãe vem forçada, ela odiava ir ali, desgastar sua beleza com uma enferma como eu. Dava para ver e longe isso. E eu querendo meu pai ali comigo. Eu também tive que terminar com meu namorado. O fiz sofrer, e me doeu... Mais do que eu pensava, mais foi para o bem dele. 

Só de lembrar eu sentia as lágrimas caírem... 

Tão igual vivendo o irreal 
Perguntei do final pras flores 
As flores são parte do total 
Já se tornou banal 
Me sentir mal, me sinto mal! 

"Eu andava na rua desesperada, como falaria isso a ele, merda eu estava grávida, isso não podia estar acontecendo logo comigo! 

Eu em tropeços sôfregos eu cheguei na casa dos Uchihas. Era agora eu teria que falar tudo, peguei a minha chave e abria a porta ao entrar eu pude ouvir ele feliz ao falar da gravidez. Senti as lágrimas virem com força, vamos Haruno você tem que fazer isso logo. Suspirei e entrei na casa. 

—Oi amor! - eu escutei ele e o vi vindo até mim mais o parei com a mão esticada. 

—Eu...precisamos conversar Sasuke. 

—O que foi ? O que aconteceu ? 

—Eu quero terminar Uchiha. - Eu disse as palavras que mais me matariam. 

—O que ?! 

—Isso mesmo, eu estou terminando tudo com você. - eu joguei a nossa aliança no chão, ao pés dele. - Estou acabando com esse namoro de merda que estamos vivendo, esta coisa degradante... - Eu senti o tapa. Eu merecia, deus como estava me doendo. 

—VOCÊ ME VEM AQUI PARA ME FALAR ISSO ?! ME DIZER QUE TUDO QUE PASSAMOS FOI UMA MERDA? O QUE ACONTECEU COM VOCÊ, VOLTOU A SER USUÁRIA? SUA PUTA BASTARDA!  

Eu senti o soco no estômago, mais não falei nada, só ri sarcasticamente para ele e me virei. 

—E eu abortei da gravidez. 

Ao sair eu escutei o berro irracional, e corri. 

Eu corri o máximo que pude, eu queria sumir desse mundo que me machucava a cada instante. Ao virar a esquina eu cai de joelhos e gritei alto para todos que pudessem me ouvir, eu via o branco flutuar entre as coisas na frente dos meus olhos, os fios rosas flutuavam em frente dos meus olhos. Perguntei no final para as flores.... Vou superar?" 

E se foi 
Se jogou num mar aberto de ilusões 
E as ondas te acertaram como eu planejei 
Eu exagerei 

 Eu cansei disso. Viver a pulso. Olhei meu braço e ergui a manga da blusa tirando a agulha que levava o soro de cor forte do meu braço, tirei a toca e fui até a porta do quarto a trancando.  

Ninguém me queria mais ali. Mandei meu único amigo embora. Mais eu fiz meu pedido.  

" - Salve ele Naruto. - senti as lágrimas baterem em meu lençol o molhando, o loiro o moreno e o ruivo me olharam com raiva. -  Ele precisa viver. E não se prender a um pedaço de carne podre igual a mim... Mande ele namorar, ter filhos, amar alguém e ter uma família. Inteira. -  solucei ao dizer a última palavra. - Não se apeguem a mim também. Vão viver... Vivam por mim. -  no meu último pedido eu vi eles saindo. Mais o moreno chorou, Itachi chorou, por mim por Sasuke por todos. E me mando um ' Adeus'  profano enquanto saia da sala... " 

Só Deus sabe o quanto eu corri 
E o que fiz pra chegar aqui 
Esse mundo não é mais meu 
Não me rendo nem me entrego 

Ele era o único que sabia de tudo que aconteceu comigo, me ajudou nessa empreitada que eu passei, ter que cortar os cabelos, os desmaios. Tudo ele ficou ao meu lado, pelo irmão e por mim. Afinal Itachi era uma pessoa humilde e simples. 

Neguei tirando os pensamentos da cabeça. E fui ao banheiro. Puxei o colar que continha um coração e o abri. Lá de dentro tirei uma navalha.  

O irônico era que ali tinha uma foto do casamento dos meus pais, eles comigo no altar. Uma farsa da mulher que mais fodeu com as nossas vidas. Aquela Puta!           

O tempo todo, o tempo todo é tempo demais 
Não é pra sempre, o pra sempre sempre se vai 

Me olhei no espelho e vi, o que um dia foi um belo rosto marcado pelos ossos e olheiras fundas e roxas. Tirei a toca deixando minha cabeça careca para fora, e aquilo me machucava muito. Fui a porta e a fechei trancando também.  

Tudo que eu penso parece que é você 
Eu tento, luto, venço, mas não vou esquecer 

Me sentei vagarosamente na privada e olhei meus pulsos, meu último suspiro iria vir..  
Forcei a navalha no meu pulso e senti a dor, vi o sangue e o  corte profundo. Com o resto de força que me sobrava eu fiz o mesmo no outro e me encostei na parede e fechei os olhos.  

Tudo o que eu falei, te fazia chorar 
Não te ouvia falar 
Só te peço perdão 
Hoje canto pra que ouça dos céus que eu não 
Duvidei do amor 

Eu ouvi ao longe gritos. Eu os conhecia, a voz, e ao abrir os olhos vi ele ali.. Sasuke, eu sorri, o que eu não fazia a tempos, mais não conseguia manter os olhos mais abertos, sentia as mãos dele me puxando e sentei em sei colo.  

— Aishiteru.. -  falei baixo e me deixei levar, meu  Oto-san... Mais eu ainda ouvi meu nome... Me chamaram com amor pelo última vez.  

— Sakura... Aishiterumo. 

Tão igual, vivendo o irreal....