Batman e a Tormenta Obscura do Cavaleiro escrita por Mersault


Capítulo 1
Batman e a Tormenta Obscura do Cavaleiro




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Bruce encontrava-se pensativo em seu quartel general.
Uma caverna escura, cujo silêncio não era perpétuo por conta de ruídos de suas paredes rochosas e úmidas, e algumas gotas d’água que caíam no rio que dava para a saída.

Seu rosto era coberto pela luz de numerosos monitores em tons de azul claro, que ligavam e desligavam sutilmente, fazendo-o em um destes intervalos, se dar conta de que estivera sendo perturbado por muitos pensamentos intrusos e desconfiava de que podia estar sofrendo algum transtorno. Sua mente lhe transmitia uma sensação de angústia e incerteza. Sempre tivera muitos planos e padrões de contingência para superar os desafios em suas missões, porém recentemente ele vem notando algo diferente, intenso e...
Repetitivo.

Sempre se sentira tranquilo com o fato de ser diferente de seus colegas de profissão, os membros da Liga, sua maneira de viver e pensar eram normalmente uma exceção, mas em um estalo de ideias, Wayne percebe que precisa ir trás de algumas respostas antes de tomar alguma conclusão.

 “ Preciso conversar com alguém sobre, expondo minhas ideias receberei um contraste do ouvinte, Ficará melhor para discernir o que é saudável e o que não é em minha mente.”

Pensou Bruce, com os punhos firmes, sabendo o quão custoso lhe seria expor este dilema para terceiros.

“ Alguém de confiança... Talvez Alfred... Não, ele fica muito tempo próximo de mim e talvez possa usar sua análise para outros questionamentos...

Preciso de alguém que também atue comigo em missão, cuja alcunha, por coincidência, é válida para casos onde homens perdidos procuram por respostas...

Preciso de um ‘Oráculo’!”

Após decidir visitar Bárbara Gordon, Bruce pensa que há chances de Alfred suspeitar de algum comportamento estranho e que pode usar seu tutor para descobrir outro tipo de pista em relação à si:

saber como alguém ao seu redor enxerga-o ultimamente, mas isto ficaria para outro momento, ele primeiro iria cumprir sua visita.


Ele vai até a base de operações onde encontra-se Bárbara, já tendo-a comunicado antes de sua vinda:


Após introduções e algum diálogo, os dois se põem a conversar sobre o problema:


— Bruce, talvez você esteja sofrendo algum tipo de transtorno obsessivo compulsivo. – diz Bárbara.

— É o que venho cogitando também, meu perfeccionismo em missões e outras experiências me levaram ao manifesto desses sintomas. Não sei se devo confiar nessas obsessões, se elas são de fato tão culminantes e decisivas.

Eu venho duvidando de meu próprio instinto...

— O que está acontecendo? - a Oráculo pergunta.

— Eu me sinto bloqueado, e acabei me dando conta de que estava perdendo tempo demais em análises e repetições, também percebi que ando me privando de lugares e coisas, por alguma espécie de medo, uma sensação ruim. - responde Bruce.

— Além de que suspeito que meu rendimento esteja caindo em meu trabalho, ainda que não muito aparente, mas creio que irá se agravar.
Meus demais colegas me respeitam muito, por isso tenho alguma liberdade ainda... – continuou.

Bárbara assente com a cabeça após o relato do detetive e em seguida diz:

— Eu já havia pesquisado sobre este assunto, feito alguns estudos em outras situações, talvez com mais profundidade eu possa te ajudar.
Também teríamos que procurar alguma ajuda especializada, e sei que isso pode atribuir problemas para seu disfarce...

— Antes de mais nada... Me diga o que se passa na sua cabeça, sei que falar é desconfortável e que você não confia em ninguém, mas estou curiosa.
E também sei que expor o problema, ajuda a trabalhar efetivamente contra este mal. – propôs Bárbara.

Bruce demonstra algum incômodo e hesita.

— Vamos, se não fosse grave não estaria aqui. – insiste a colega.

O detetive respira e então começa:

— Eu estou em uma espécie de loop mental, dou importância à coisas sem sentido, que parecem estar solidificas em minha forma de pensar, fico reafirmando pensamentos, procurando alguma certeza, acho que meu toc é mais subjetivo e não tão literal quanto os demais...

Bárbara ouve com atenção enquanto Bruce prossegue:

— Apesar de eu ter dito que são sem sentido, eu sinto uma angústia em não realizar os chamados “rituais”, os julgo de suma importância para que as noites terminem em sucesso quando vou atrás de algum criminoso de maior expressão em Gotham.

E me desapegar dessas tarefas mentais, me parece algo terrivelmente errado, que pode pôr em risco meu trabalho...

E mais grave ainda...

A vida de meus colegas...

***


De volta à Batcaverna:


— Não, senhor. Eu não havia percebido nada diferente em você.
O senhor sempre foi muito recluso e privado, pensei que estivesse trabalhando em algum plano enquanto estivera esse tempo todo em silêncio sozinho.

Há quanto tempo vens sofrendo com isso? – perguntou Alfred.


— Não sei dizer, nunca havia posto alguma atenção nisso.

As mesmas qualidades que me ajudaram a vencer e a sobreviver, são as mesmas que estão me pondo no fundo do poço agora.

Bárbara me disse que para alguém com este problema leva um considerado tempo até ser percebido.
Bastou eu dar um passo para trás e observar como estava agindo para perceber que havia algo de errado e estranho em mim. – disse Bruce.

— O senhor sempre tão reservado, Patrão Bruce. Talvez dialogar com outras pessoas, lhe dê novas perspectivas para refletir sobre sua maneira de pensar, especialmente, nos seus atuais “padrões”. E eu sei o quanto isso é incômodo para o senhor...

— Eu temo que não consiga resolver isto sozinho, Alfred...



 – E não precisa.



Bruce começa a ajustar seu uniforme, revelando à Alfred sua partida para uma caçada noturna.

Antes de sair, ele comenta:

— Alfred, eu temo que o Coringa suspeite de algo...
Ele me viu travado e confuso em ação...
E sua parceira de crime, a doutora Harleen Quinzel, pode possivelmente tê-lo sugerido algumas ideias sobre... – contou Bruce, já preparado como Batman para entrar em ação.

— E sabemos que o Coringa não economiza esforços para atordoar o Batman, Patrão Bruce.
Ele vai usar isto contra você, e se perceber que irá atingí-lo, continuará sem parar... – alertou Alfred.

— Preciso voltar àquela casa abandonada, onde ele está tramando algo novo. Preciso ir até lá e terminar o que comecei...




***




Batman retorna para o refúgio onde estava o Coringa, uma casa caindo aos pedaços e prestes a desmoronar, em um dos corredores com janelas ao redor, acaba encontrando-se com ele, que da forma mais elegante possível para um maníaco, o recebe com reverência:

— Retornou cedo, caro Bats! Precisava descansar? Estava machucado? Ou precisava verificar algo? O fogão ligado?! – dizia em tom deboche.

“Como imaginei, ele vai insinuar coisas a respeito pra tentar me afetar, não posso deixá-lo se aproveitar disso... Porém, nunca concordei com este verme em nada, se ele ficar me induzindo ao erro será até melhor pra mim.”

Coringa começa a ligar e desligar freneticamente a luz do lugar, fazendo alusão às manias dos pacientes enquanto ria freneticamente.

Batman começa a ter obsessões e se vê em um quadro escuro, cheio de incertezas.
O ato de seu inimigo em si é bobo, mas em sua mente, devido ao momento de grande tensão, algo mais perigoso se forma, o morcego se vê de novo em um loop de questões.

— Vamos, Batman, você sabe que precisa fazê-lo, é o certo. Pense na catástrofe que será não atender às suas manias... ! – proliferava o psicopata com veemencia.

Batman estava ansioso e começa a sentir seu corpo queimar. Neste mesmo cenário escuro no qual ele se encontra, ele enxerga uma luz.

Passa a sentir um alívio, a compulsão está próxima.

“Sim, eu vejo a luz... A saída, agh...” – pensou Batman.

Há uma tentação muito forte do mesmo, quando ele percebe:

“Não posso seguir a luz, se ela for meu conforto, cairei na armadilha mais uma vez.”

Ele se vê no vazio, sem atender a obsessão.

“Eu tenho que partir daqui, e pisar neste invisível, combater a própria insegurança...
A cura pode matar, mas é melhor que a doença, o medo...

Vamos, prossiga...”


Coringa bate em uma das portas do estabelecimento, toc, toc.


 – Tem alguém em casa??!! Há há há há – profere o palhaço – Olha quem chegou, Bats! – dizia o palhaço que soltava gargalhadas de forma ofegante, observando seu ouvinte em agonia.



“Devo seguir minha intuição? Geralmente sou bem sucedido em minhas missões...”


Batman estava de joelhos com as mãos no chão em angústia.


— Há há há há há. Batman, você é a piada da vez, há há há!
Vamos, deixe de ser imperfeito, e desleixado. Você precisa controlar tudo. – exclamava um Coringa eufórico, que ria sem parar.

— Se você ouvisse mais sua voz interior, talvez seu amiguinho Robin estivesse vivo! – respondia o palhaço em êcstase ao ver o mal que estava causando à seu arquirrival.

“Não... Não mencione ele...

Jason...

As pessoas com quem eu falhei...

Meus pais...”



— Você é tão louco quanto eu, Bats. Talvez devesse me fazer companhia no asilo, há há há há!

“...”

— Você é o Batman, ele sempre dá conta de tudo, pensa em tudo, vamos resolva mais essa. Não deixe o problema ir!

“...”

— Você sabe o que de ruim vai acontecer, e está fadado a falhar, vamos, sucumba, seu imbecil!

“...”

“Eu não posso entrar nesse ciclo, nessa floresta perdida...”


Batman se vê em uma floresta a noite andando com almas perdidas em um eterno loop, tochas estão sendo seguradas por estas calamidades, cuja face é a miséria.

“Preciso sair daqui...

Preciso me reerguer e não dar ouvido à estes pensamentos negativos...”


— É sua responsabilidade, Batman... Atenda ao chamado. – continuava a provocá-lo.

“... Não...”


Coringa ao perceber a resistência do morcego, passa a  inverter o jogo:

 – Sabe, Morcego. Acho que é melhor se desapegar disso mesmo, é o caminho mais fácil, não é?


— Seria muito mais difícil, e digamos, corajoso da sua parte, mergulhar nisso tudo e resolver não é mesmo?

 É o que eu faria...

 Quem sabe desta vez você acaba concordando comigo. – falou Coringa.

“ Ele me induz de novo à tentação de querer controlar tudo e mergulhar neste oceano de pensamentos, nesta lógica obsessiva, que me obriga a resolver cada incerteza, uma por uma...

Cujo castigo é a tragédia, caso eu não cumpra as tarefas...

Isto não pode ser verdade...
Eu não preciso ter todo esse controle...

Não é assim que as coisas funcionam...

Mesmo tentando pensar com clareza...

É difícil enxergar a razão...”


Batman se vê tentado mais uma vez a adentrar em sua ideia de obsessão, desta vez, ele se vê em um cenário branco, com seus pais lhe encarando, desapontados.

Nesta cena, ele é Bruce, quando criança.

Um Bruce pequeno, e ainda não treinado para se tornar um símbolo de resistência, que lamenta muito por tudo que aconteceu de ruim até ali.

As figuras dos pais se esvaem, evaporam-se.


Ele ergue a cabeça para cima ao perceber que estão indo embora, para aproveitar a última chance de olhá-los, e então percebe a própria figura do Batman o encarando:

— Você sabe que é o certo. Você sabe o quê é certo. – disse a figura do Batman, imponente e sólida.

“Mas eu não posso mais carregar esse fardo.”

— Há quanto tempo estamos nisso, e tudo sempre se resolveu, dentro do possível, olha aonde chegamos. Não vai jogar fora esse nosso esquema assim do nada, depois de tantos esses anos. Seria um prejuízo imenso. – disse a figura rígida num tom autoritário.

“Eu não posso mais, tenho o direito de não compactuar mais com isso.”

A figura do Batman se transforma em uma mancha bizarra aos poucos pedindo de forma miserável para que Bruce olhe para ele.

 – Olha o que você está fazendo com a gente. Fugindo assim do problema!
Isso não é digno, não é uma superação. Você está me dilacerando.
Depois de tudo... – dizia a figura com uma voz mais rouca e mórbida.

“Separar-se é tão difícil quanto superar.” - retrucava Bruce, exausto, mas aos poucos recobrando sua força.


“Me deixe em paz!”


— Cada vez que não me ouve, você fracassa, você mesmo vai evidenciar isso... – tentava ainda a criatura a persuadí-lo.

“Chega!”

Bruce levanta-se aos poucos, dessa vez ele não está mais como uma criança, e sim em uma versão adulta. Ele se ergue e caminha lentamente até sua figura de Batman e o pega pelo pescoço.

“Eu sinto muito.”

Ele estrangula Batman.

“Eu tenho que acabar comigo mesmo, em função de prosseguir.”

Batman em sua forma bizarra, começa a se enrijecer, ficar musculoso.

— Não adianta lutar contra mim, eu fico mais forte, cada vez que me bater. – dizia a figura cada vez mais monstruosa.

“Está certo, então vou deixá-lo ir.”

Bruce dá as costas para a coisa e põe se a caminhar, fazendo-a ficar cada vez
mais esguia e fraca.


— Seu idiota! Olhe para mim! Olhe para mim! ...

E passa então a obliterar-se em cinzas.

“Adeus.”

“...”

Ele se encontra de novo no corredor da velha casa abandonada, ofegante.
Coringa o encara, risonho, porém seus braços cruzados revelam um tom curioso sobre o que estava a observar:

— Que decepção, Batman. Você me magoou muito!
Pensei que eu era seu inimigo nº 1!

Bruce se ergue e observa com cautela e calma seu inimigo.

— Este não é o final perfeito. – disse o Coringa.

— É o final que me deixa livre. – responde Batman



As luzes se apagam. No corredor agora escuro Batman só ouvia os passos rápidos de seu inimigo que pusera-se a correr e chamar alguns poucos capangas no local para retornarem consigo. Aquele encontro já fora o suficiente para uma noite...

Era a resposta que ambos queriam.


***


De volta à Mansão dos Wayne, encontrava-se o herdeiro parado em frente à uma das enormes janelas da sala de estar. Calmo, o mesmo contemplava o jardim que ornamentava
a entrada da residência.

Estivera pensativo sobre tudo que passara nesses tempos recentes.

Alfred se aproxima e começa a dizer:

— Temos que entender que nossos julgamentos nem sempre serão certeiros, patrão Bruce.
Nossos defeitos, podem ser tornados em qualidade.

E não precisamos carregar todo o peso do mundo...

O diamante, uma pedra bruta, que precisa ser lapidada, é preciso que se retire tudo aquilo que a esconde, que a impede de ser de fato, uma jóia de valor.


É importante que retire alguns pesos de si mesmo,
para prosseguir a jornada... – o mordomo continuou.

Bruce em frente à janela, de olhos fechados, começa a meditar visualizando a si mesmo se libertando, enquanto escuta as palavras de seu amigo.

Batman então imagina-se em um navio voador,
jogando algumas coisas, como caixas, baús,
entre outros pertences para fora,
para aliviar o peso da embarcação,
para levantar voos mais altos...

Bruce abre os olhos.

— Afinal... – disse Alfred.

— Um morcego também precisa voar. – terminou.


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