A garota do clube escrita por Miss Lamarr


Capítulo 6
Annabeth


Notas iniciais do capítulo

Meio piegas, mas eu gostei, sorry haha Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703825/chapter/6

— Já está indo, Thalia? — Questionou Annabeth, enquanto a amiga envolvia sua bolsa no colo.

— Se já estou indo? — Riu. — Passei do meu horário. Eu nunca fico conversando com você e Loretta depois do expediente.

Era tarde da noite. O serviço no Buffalo Club havia encerrado a pouco tempo, Annabeth estava sentada na ponta da cama de Loretta, vendo seus próprios pés balançarem sem tocar o chão, conversara um tanto com suas companheiras de palco. Suas amigas estavam de pé, de lados opostos ao dela.

— Tudo bem, senhora Preciso Ir Antes Que Meu Marido Tenha Um Infarto. — Brincou Loretta. — Nós a liberamos, querida.

— Preciso preparar a lancheira das crianças antes de deitar. — Thalia reclamou. — Vocês sabem que não tenho nada de tempo pela manhã. Além do mais, Nico me ligou do orelhão umas três vezes, está me esperando com o carro na esquina a alguns minutos, juro que gostaria de conversar mais.

— Eu prefiro não ver Nico estressado. — Annabeth comentou. — Vamos, te levo até a porta.

— Obrigada, Annie. — Sorriu. — Até amanhã, Lorie.

— Até, Thalia. — Acenou.

As duas mulheres caminharam pela saída do quarto de Loretta, em passos leves e sem som, para não acordar Melvin que dormia por perto. Quando chegaram a porta, Thalia se postou na frente de Annabeth, impedindo-a de abrir.

— O que está fazendo, Thalia? — Annabeth pareceu confusa.

— Me diga, garota. — Cruzou os braços, encarando-a com seus grandes olhos azuis. — Você e aquele cara do bar... Qual é mesmo o nome dele?

— Percy. — Annabeth respondeu, engolindo seco. Tinha de admitir que as palavras de Thalia tinham incomodado ela. — Percy Jackson.

— Sim, Percy Jackson. — Continuou. — Vocês estão tendo encontros? Porque Loretta disse-me que ouviu os dois conversando ontem nessa mesma hora. Loretta imaginou que estivessem dançando.

— Loretta imagina coisas demais. — Annabeth erubesceu. — Estávamos conversando sobre o novo emprego dele.

— Em um horário bem interessante, acredito eu. — Thalia se aproximou, deixando a amiga mais desconfortável. — Loretta imagina coisas demais ou Annabeth mente demais?

— Ei, me respeite. — Deu um tapa no braço da mulher. — Seu marido está te esperando, vá logo.

— Eu vou, sim. — Thalia gargalhou. — Você é rápida, Annie, gosto disso.

— Espero que Nico tenha bebido o bastante para bater o carro e você morrer, Thalia. — Annabeth resmungou, empurrando-a para fora do clube. — Tchau, tchau. Durma com os anjos.

— Obrigada, meu amor. — Segurou o riso, mandando um beijo com a palma da mão para Annabeth. — Te vejo cedo.

— Infelizmente! — Annabeth fechou a porta, deixando sua colega do lado de fora.

Com as costas grudadas na porta, escorregou até o chão, sentando-se. Seu olhar era nervoso, e ela parecia estagnada e nervosa. Nunca alguém tinha deixado suas bochechas tão quentes com palavras tão poucas, embora invasivas. Esfregou os olhos, ouvindo sua própria respiração alta por conta do nervosismo.

Annabeth levantou para finalmente terminar seu dia de trabalho. Andou até o painel de luzes e desligou todas, fazendo um barulho chato e levemente alto. Correu de volta para a porta, com medo de algo no escuro pegá-la. A moça não sabia se tinha crescido totalmente.

— Adeus, Loretta. — Ela ergueu a voz e se pôs para fora, sem aguardar resposta e respirou fundo, aliviada.

Salva de algo que ela não sabia o que era, iniciou seu trajeto de volta para casa pelas ruas de Nova York, escuras, frias e malcheirosas.

Seus braços seguravam a si mesma, pressionando a jaqueta contra o próprio corpo, a fim de se livrar do frio que varria a cidade. Seu sapato preto em volta da meia fazia barulho pela calçada de modo que nem um salto poderia fazer. Se ela não queria chamar a atenção de pessoas suspeitas, já tinha começado errado.

Entre uma rua e outra, chegava cada vez mais perto de casa. Ela não via a hora de poder tirar a roupa e deitar-se na cama. Aquele seria um momento abençoado.

Enquanto esperava o semáforo fechar para atravessar, avistou algo do outro lado da calçada que poderia jurar ser uma aparição sobrenatural. Quem dera!, pensou. Forçou os olhos para reconhecer quem era e gostaria de não ter feito aquilo.

— Percy! — Gritou.

As pessoas em sua volta a olharam, algumas expressões desaprovadoras a atingiram.

— Que foi? — Perguntou, girando a cabeça para as pessoas na calçada. — É crime gritar em público?

Ela pode ouvir algumas risadas atrás dela, porém preferiu ignorar. Quando se voltou para frente, pode enxergar Percy a encarando, sorrindo e balançando a cabeça. O semáforo ficou vermelho, e ela atravessou o asfalto com pressa.

— Você gosta de passar vergonha na rua. — Foi a primeira coisa que ele disse quando eles ficaram lado a lado.

— Dá um tempo. — Devolveu ela. — O que faz na rua essa hora? Saiu mais cedo do trabalho hoje, não?

Eles desviavam de pessoas transitando por lá o tempo todo, o que tornava a conversa um grande labirinto.

— Fui despejado de casa. — Respondeu, por fim.

Annabeth quis rir. Perder a casa no segundo dia de trabalho parecia cômico. Forçou uma cara simpática, tentando ter empatia pela dor do rapaz.

— Nossa. — Suspirou. Era o máximo que ela conseguia dizer.

— Estava indo para o clube de volta. — Continuou ele. — Queria saber se Loretta tinha um espaço para mim. Não posso dormir na rua, não?

A moça o encarou por alguns segundos. Será que ela tinha mesmo que sempre trombar com os problemas desse homem? Que karma terrível. Poderia ignorar o homem e ir embora, todavia não era certo, e ela sabia disso.

— Eu tenho um sofá livre em casa. — Ela disse. — Não acho que tenha espaço para você no clube, e Loretta já deve estar dormindo.

— Sua casa? — Ele subiu uma sobrancelha.

— Que foi? Não posso tentar ser gentil? — Ela bateu o pé no chão. — Mas não é por muito tempo.

— Deve ter gostado muito da dança de ontem para isso passar pela sua cabeça. — Comentou, divertindo-se.

— Mais uma gracinha e vai mesmo dormir na rua. — Annabeth fechou o rosto.

— Desculpa, querida. — Ele engoliu seco.

— Senhorita! — Ralhou.

~~~~~~

Annabeth encaixou a chave na fechadura e girou-a, abrindo a porta e dando vista para seu apartamento. Era pequeno. Perto da entrada, tinha um sofá, uma poltrona e uma mesa baixa feita de madeira, mais para o lado esquerdo se via a minúscula cozinha e mais para o lado direito a porta do seu quarto. As paredes eram de cores escuras e os móveis, desgastados. Somente aquilo, ainda sim, seu cantinho.

— Fique à vontade. — Ela tirou o casaco e jogou perto do sofá. — Digo, nem tanto assim.

— Obrigado. — Riu. — Posso fazer uma pergunta?

— Já está fazendo.

Percy revirou os olhos, Annabeth sorriu e se sentou no sofá, fazendo um gesto para ele acompanhá-la, ele o fez.

— Não tem medo de um homem estranho na sua casa?

— De você? — Ela enrolou o cabelo em um coque, rindo. — Só pode estar brincando.

— Uma boa moça não faria isso.

— Não sou uma boa moça. — Annabeth tirou os sapatos do pé.

— Imaginei.

Percy rodou os olhos pelo local, e Annabeth o seguiu. Ela não tinha notado antes que seu apartamento era tão desarrumado. Entretanto, não foi isso que chamou a atenção de Percy.

— Você tem muitos livros.

— Sim, gosto de ler. — Ela disse. — Minha válvula de escape.

— Eu não gosto muito, tenho dislexia. — Murmurou o rapaz.

— Eu também. — Ela riu, baixinho. — Questão de paciência e treino.

— Eu deveria tentar mais vezes. — Riu de volta. — Qual seu livro preferido?

— O Retrato de Dorian Gray. — Respondeu. — Era o que me confortava quando eu vivia no meu caos familiar em São Francisco.

— Livro estranho para confortar alguém. — Percy falou.

— É bom termos um lembrete que nosso rostinho bonito não vai nos dar tudo para sempre. — Ela cruzou as pernas. — Além do mais, se você soubesse como meus pais faziam da minha vida um inferno, iria entender que qualquer coisa que não fosse olhar para a cara deles me confortava.

Percy sentiu dor na voz da garota, e por mais que fosse um comentário engraçado, se manteve sem rir. Em vez disso, adentrou em uma questão delicada.

— Fugiu de casa por causa deles, não?

Annabeth sentiu seu sangue congelar, não pela noite realmente gelada de Nova York, mas pela lembrança fria que carregava de seus pais. Mesmo que tentasse não ter rancor de seus progenitores, isso não deixava a história mais doce.

— Sim. Bem, em parte. — Tentou não envergar a voz na medida em que contava, e no fim, não foi tão difícil. — Eu queria ter liberdade. Nunca soube exatamente do que, mas eu queria. Achava que o problema era o lugar, uma maldita cidade da Califórnia. Descobri mais tarde que o problema estava comigo, aqui dentro e eu carregaria ele onde fosse. Teria economizado mais de mim se eu soubesse disso quando era mais nova.

Percy balançou a cabeça, e Annabeth entendeu que era para continuar. Por mais que doesse, ela gostava de falar sobre aquele assunto, e Percy não fazia o tipo que jogaria tudo na cara dela depois, ela se sentia completamente segura. Era um prazer que lhe matava e ao mesmo tempo lhe reconstruía. Annabeth achava que compartilhar sua experiências evitaria que as outras pessoas tivessem sequelas tão grandes e feias como as delas. Também era bom desabafar, colocar tudo para fora com alguém que não fosse julgá-la, se engolisse tudo de ruim para sempre poderia morrer envenenada um dia, e Annabeth não era muito fã de mortes.

— Acho que é da natureza humana culpar coisas que estão em nossa volta, mesmo que esteja tudo com a gente. — Ela falou, com calma. — Não é no entorno, é no interior.

— Entretanto, penso que seus pais não faziam disso fácil. — Percy colocou a mão no queixo dela, fazendo ela levantar a cabeça.

— Claro que não. — Piscou forte e demoradamente. — Sempre querendo que eu fosse o modelo de filha perfeita. Nem me apoiaram fazer arquitetura na faculdade, acredita?

— Infelizmente, sim. — Afirmou.

— Eles disseram para eu fazer algo mais feminil. — Revirou os olhos. — Como estudar para ser professora, ou fazer moda.

— Muitas meninas passam por isso. — O jovem tentou confortá-la. — Só que você é meio louca.

— Conte-me uma novidade.

— Acho isso legal.

Annabeth riu e empurrou seu peito, fazendo-o rir também.

— Eu juntei dinheiro e sai de casa. — Ela voltou para a história. — Trabalhei em muitas coisas antes do clube. Arrumando bibliotecas, lavando carros, cuidando de malas no metrô, mas passei longe de alguma faculdade de arquitetura.

— Ainda quer ser arquiteta?

— Querer é uma palavra forte, queria ser Marilyn Monroe. — Brincou. — Mas sobre fazer arquitetura, comecei a notar que a vida tem outro plano, e eu estou disposta a aceitar.

— A garota que fugiu de casa por não aceitar o que os pais diziam vai aceitar esse suposto outro plano da vida?

— Tem coisas que não vale a pena lutar. — Disse, levantando-se. — Estou a um bom tempo no clube, e apesar de tudo, gosto de lá. Ainda acho que algo especial vai acontecer naquele lugar.

— Ei, volta aqui, vamos conversar mais. — Percy a chamou, vendo ela se afastar.

— Consigo ouvir o sono na sua voz. — Virou o rosto para ele, abrindo a porta do quarto. — Vou trazer um cobertor e travesseiro para você quando terminar de escovar os dentes.

— Tudo bem, então. — Bocejou. — Acho que tem razão.

— Sempre tenho, vai ter que aprender isso. — Ela gritou, já no banheiro. — E não se esqueça de apagar a luz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

P.S. Para quem curte Solangelo e não curtiu Thalia casada com Nico, só digo uma coisa: Calma, calma.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A garota do clube" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.