Lizzy estava a olhar pela janela quando viu o carro de Jane estacionar na frente da garagem do seu prédio. Quis gritar a irmã e pedir que colocasse o automóvel em outro lugar, talvez, em um lugar que não impedisse a passagem dos moradores do condomínio. Porém, desistiu. Mesmo que Jane escutasse a sua súplica, iria ignorá-la e ostentar uma expressão inocente.

Voltou para o sofá e esperou a irmã entrar no seu apartamento exclamando alguma coisa sobre sua mãe e assim, aconteceu.

— Lizzy, você não vai acreditar na mais nova novidade! – Jane disse em tom brincalhão e colocou a bolsa no cabideiro próximo à porta. – Mamãe comprou um carro para Kitty! Acredita nisso?

— Acredito – murmurou e desligou a televisão, pois sabia que não conseguiria escutar o âncora do jornal com Jane tagarelando.  

Jane aproximou-se da sala e sem consultar Elizabeth, deitou no sofá sem tirar o tênis de corrida.

— O pior de tudo é que Charles disse que ela estava certa em presentear Kitty com a porcaria do carro. Acredita nisso?

— Claro.

Lizzy estava aérea e um pouco desapontada com os últimos acontecimentos. Sabia que se começasse a falar o que aconteceu na última semana Jane escutaria cada palavra e falaria alguma coisa para consolar seus temores. Contudo, não queria deixar a irmã mais velha sobrecarregada demais. Afinal, estava um pouco estressada ultimamente, bem diferente do seu temperamento normal.

— Posso contar um segredo? – Jane perguntou e pela primeira vez, desde que chegara no apartamento, a morbidez de Elizabeth ficou visível. – Nossa, o que aconteceu com você?

— Nada, estou ótima – Lizzy respondeu com um sorriso e fitou o teto. – E sim, pode contar o segredo.

Jane ficou em silêncio, encarou a irmã para analisar suas feições. Elizabeth era horrível em esconder seus sentimentos e o sorriso inerte que exibia era quase um pedido de socorro. A última vez que viu a garota assim estavam no velório do primo William Collins. Apesar de nenhum Bennet tê-lo conhecido antes de sua morte, saber que uma pessoal tão jovem falecera afetou a família.

— Não vou contar. Quero que fale o que está acontecendo – afirmou e de forma súbita, sentou no sofá.

Elizabeth suspirou e fechou os olhos. Estava frágil no momento e um nó crescia em sua garganta. Suspirou novamente para conter o choro que emergia, porém sua tentativa fora falha e lágrimas molharam suas bochechas.

— Minha querida, o que está acontecendo? – Jane perguntou com um sussurro e Lizzy sentiu os dedos da irmã pentearem os seus cabelos.

— Está tudo errado – balbuciou entre soluços e com hesitação continuou: - Mamãe não contou?

— Não… Aconteceu alguma coisa que eu deveria saber?

Elizabeth recompôs a postura, sentou de forma ereta e abraçou a irmã. Deixou as lágrimas descerem, estava deprimida demais para negá-las. A loira ao seu lado estava aflita e ao mesmo tempo, curiosa. Sentia o corpo frágil de Lizzy tremer e oscilar a cada inspiração. Em silêncio, decidiu que esperaria a enxurrada de emoções passar para depois interrogar sobre tudo.  

— George – a mais nova começou a segredar. – George foi embora.