Touken Ranbu - Espadas Guardiães escrita por Sonnet


Capítulo 1
O começo




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O estridente sinal do Instituto Técnico Vargas tocara ressoando nos quarteirões que estavam em silêncio, os estudantes se levantaram com pressa rindo, comemoravam aquele sinal ensurdecedor que significava férias, as tão aguardadas férias de meio do ano, quatro meses de recesso. Alheia àquela agitação uma menina aparentando uns 20 anos ajeitava-se lentamente, os cabelos castanhos longos estavam presos por uma frouxa presilha e apenas sua franja lateral emoldurava o rosto redondo, limpou os óculos na blusa marrom que caia leve sobre a calça jeans quase indo ate metade das coxas, soltou um longo suspiro ao pegar a bolsa com cadernos, em ambos os pulsos ela usava munhequeiras pretas... Tinha que sair alguma hora daquela sala, sua mente estava vazia quando começou a caminhar devagar saindo da sala e atravessando o vazio corredor a passos firmes e rápidos ansiando apenas sair daquele lugar frio e falso, onde sorrisos carregavam punhais afiados, escutara alguns risos e cochichos abafados entre as paredes enquanto passava, quando chegou ao saguão principal e sentiu a imensa porta de vidro fechar atrás de si, sentiu um alivio tão grande que um sorriso brotou de seus lábios.

— Esta animada Nee-chan?! 

Uma voz familiar chamou-lhe a atenção, fazendo-a olhar lentamente para cima de uma árvore a um metro de distância do seu lado, fechou rapidamente os olhos por causa da claridade que transpassava entre as folhas verdejantes balançando de leve com a brisa e instintivamente ela ergueu a mão livre para proteger os olhos tentando fixar o olhar no dono da voz que se mantinha em pé em um dos galhos grossos, um rapaz de cabelos vermelhos carmesim revelava nos lábios um sorriso zombeteiro que contrastava com o brilho astuto dos olhos dourados, mantinha os braços cruzados na altura do tórax sob uma camisa vermelha tendo como estampa na frente o desenho de Aizen Myoo por baixo usava bermudas e tênis pretos; antes que ela se pronunciasse, com extrema agilidade ele se lançou aterrissando com  segurança e firmeza na sua frente, pela altura, devia medir por volta de 1,30 cm, batendo na linha de seus ombros. O ruivo se curvou respeitosamente e começou a falar.

— Aizen Kunitoshi veio para escolta-la.

Com um sorriso nos lábios ajeitou a bolsa ombro com uma mão e com a outra bagunçou os cabelos do menor dando um leve empurrão na sua cabeça, de forma carinhosa, para que seguissem em frente.

 

 

&

 

 

—Onee-sama... Por que continua lá?

O rapaz perguntara com a cabeça abaixada, os dois caminhavam lentamente se deliciando com o sorvete que haviam comprado minutos antes, a morena suspirou diante da pergunta, sabia que ele se referia ao Instituto, não por causa do local, mas por causa dos alunos e de suas ações.

— Aizen... O instituto é uma das cinco escolas mais conceituadas no mundo atual, e como não sei se sigo com a empresa do meu pai ou se sigo outros passos... Tenho que ter uma base solida.

O rapaz tinha uma expressão vaga e ficou em silencio por alguns segundos antes de abocanhar o seu sorvete, ele reduziu um pouco o passo e olhou para trás, para o imenso e extenso prédio branco com janelas fumê que se levantava imponente e silencioso no final da rua, mas o ruivo só o associava a sons de risos sórdidos misturado ao acelerar de um carro.

— Aizen...?

O ruivo sacudiu a cabeça ao escutar a voz dela lhe chamando, não podia em hipótese nenhuma deixar que notasse seus pensamentos, não queria que aquelas lembranças tirassem o sorriso que ela lhe dava naquele dia, suspirou fundo e correu até alcança-la para assim retomarem o caminho de casa, meia hora depois eles chegaram perto de um prédio de 20ª andares e antes de entrar Cristina estendeu ao ruivo um lenço umedecido enquanto limpavam seus rostos dos restos de sorvete riam cúmplices do mesmo crime. 

 

&

— Souza- san, Kunitoshi-san sejam bem-vindos, o elevador já está a sua espera. 

Um senhor vestido com um alinhado terno se curvara quando os dois entraram no imenso salão minimamente decorado, Cris balançou a cabeça de leve, agradecendo, enquanto entrava no elevador, após as portas se fecharem Aizen cruzou os braços olhando para o espelho do teto. 

— O Ryoma-san sempre me dá medo... Ele sempre sabe quando estamos chegando! 

Ele sussurrou para Cristina como se alguém os pudesse ouvir, o que provavelmente podiam, a morena olhou e relance para a câmera do elevador, por fora aquele imenso prédio parecia um residencial comum, mas apenas 4 pessoas moravam ali, Aizen, Cristina e seus pais adotivos, que ocupavam o 15º ate o 20º andar, dando-lhes mais conforto e privacidade, e nos andares abaixo ficava a empresa de segurança S.S.I. Klaus.

— Com certeza o sistema das câmeras da rua tem alguma integração com as da sala de segurança. — Ela suspirou olhando para parede as suas costas. — Nada se aproxima do prédio sem que eles saibam. 

Assim que terminara de falar um sibilo breve e sonoro foi ouvido ao mesmo tempo em que a parede as costas deles se abriu revelando um imenso corredor, os dois se viraram seguindo o caminho até a única porta naquele local, Cristina encostou a mão direita em um pequeno quadrado de vidro que emitiu uma luz fraca e fina e alguns segundos depois um leve clique foi ouvido mostrando que porta destrancara abrindo passagem para os dois, mas os dois pararam de forma brusca estranhando o silêncio no vasto apartamento, naquele horário seus pais já deveriam estar em casa, Aizen prontamente  levou a mão as costas no punho de uma tantou que ficava presa embaixo da camisa, de repente uma voz exaltada veio da biblioteca, furtivamente Cristina se aproximou estreitando os olhos pela porta entreaberta, assim que seus olhos se acostumaram com a meia luz dentro do local, conseguiu ver dois homens lá dentro , um deles estava em pé encostado na escrivaninha de madeira talhada, cabelos pretos umedecidos jogados para trás com alguns fios caindo ao lado do rosto fino realçando a pele alva e os olhos negros, ele parecia muito agitado segurando firmemente um papel fino timbrado em uma das mãos, que ele mostrava a um homem moreno sentado em uma poltrona a sua frente com os cabelos loiros perfeitamente penteado para trás que vestia-se de maneira social impecável com apenas a gravata vermelha frouxa no pescoço, os olhos azuis claríssimos estavam acompanhando a agitação do outro. 

— Rafael...  O alto conselho quer vê-la novamente... Não sei o que querem desta vez, não faz muito tempo que a chamaram e viram que ela não tem poder nenhum! — Nervosamente ele passou a mão pelos cabelos pretos que insista em cair no rosto. — O que querem agora!? 

A fisionomia do moreno era calma, mas seu olhar sério ia do rapaz para as mãos entrelaçadas na frente do rosto.

 

Aizen observava a morena parada com o corpo inclinado para a porta, seu olhar era vazio quando se afastou e com um leve puxão na camisa do rapaz o fez segui-la, ato que ele prontamente respondeu acompanhando-a quando ela entrou em um cômodo fechando a porta atrás de si.

Rafael suspirou fundo por varias vezes e passados alguns instantes se levantou afundando os dedos no cabelo do mais baixo. 

— Não se preocupe o selo está ativo e não deixarei que ninguém ameace nossa família Akihito. — Enquanto falava isso ele se curvou afundando seus olhos no do outro.

 

&

 

 

O ruivo encostou as costas na porta fechada enquanto acompanhava cada gesto dela com cuidado, por saber do que os dois homens tratavam na biblioteca a preocupação o invadiu, seu olhar a acompanhou quando ela se encaminhou para a imensa janela de vidro retirando as munhequeiras deixando visíveis as tatuagens dragão que lhe envolvia ambos os pulsos, se olhasse bem podia ver que elas se moviam lentamente, Cristina olhava-as com a mente totalmente em branco.

— Está doendo de novo?

Aizen falara com a voz preocupada se encaminhando da porta para a peseira de madeira da cama, a menina sacudiu a cabeça negativamente antes de desviar os olhos para a janela observando o mundo lá embaixo, eram tão pequeninos vistos lá de cima que pareciam um pequeno e coordenado formigueiro, indo e vindo em um ritmo frenético sem som... As batidas irregulares e acelerados do seu coração ressoam na sua mente, estava com medo e o tremor na voz seguido do franzir das sobrancelhas demonstrou isso. 

— Aizen será que eles descobriram? — ela se deixou cair sentada na cama os olhos perdidos com um brilho vazio. — O que querem comigo?? 

Sentiu o coração acelerar e o ar começava a ficar mais pesado, o ruivo segurou-lhe as mãos tremulas entre as suas com firmeza quando disse: 

— Rafael-Sama nunca deixará ninguém ferir você... E eu estou aqui como disse que estaria. 

Uma sensação quente de proteção a invadiu fazendo-a fechar os olhos e abraça-lo de forma desastrada fazendo-o cair de costas na cama enquanto enfiava seu rosto no pescoço do ruivo enquanto sussurrava:

“ — Domo.”

 & 

 

— Eu vou !!!

O sol se punha dando lugar as primeiras estrelas que anunciavam a chegada da escuridão da noite, Akihito e Rafael haviam chamado Cristina para uma conversa na sala, ambos estavam sentados nas duas poltronas que faziam jogo com o imenso sofá de três lugares a sua frente, na cor cinza claro, ambos não esperavam que antes mesmo de falarem algo, ao ver a carta, ela se pronunciaria, o que os deixou sem palavras.

— Quero saber o que aqueles velhos querem comigo!! — ela cruzou os braços se jogando e afundando no sofá. — Eles querem o que? Teste de virgindade?!! Vão se decepcionar!! 

No mesmo instante que ela falara, Rafael levava a xicara de café a boca sorvendo uma grande quantidade do liquido morno, que parou no meio do caminho diante das palavras da menina, engasgando-o, Akihito se levantou preocupado, dando-lhe leves tapas nas costas; no mesmo instante a menina notara suas palavras e sentiu o rosto queimar no instante que seus olhos cruzaram com os orbes azuis de Rafael, instintivamente ela tapou o rosto com as mãos. Esse seu mal habito de falar o que lhe vem à cabeça sempre a coloca em situações estranhas e vergonhosas.

— Rafael eu sou virgem... Ainda!!! 

Falou após alguns minutos quando teve coragem de olhar entre os dedos que lhe ocultavam o rosto, viu o moreno se levantar em direção a cozinha, tossindo de vez enquanto.

 Akihito tentava não rir da reação de Rafael, para o moreno, Cristina ainda era “inocente” perante o mundo... Mas aquela cena relaxante não durou muito, quando Akihito pousou os olhos na carta timbrada sentiu-se profundamente tenso, ele olhou para a menina afundada no sofá, corada ate as orelhas, sua filha... Ele suspirou fundo e tentou manter a voz calma com certo esforço. 

— Mas há um fator diferente desta vez... Cristina. — O rapaz falara pausadamente encarando a menina que lhe respondeu com total atenção. — Desta vez não ser só o conselho dos clãs... Um alto sacerdote vindo do templo principal do Japão estará comandando o inquérito, que será feito... No Templo de propriedade da minha família...   

Cristina olhou lentamente para Akihito e depois para Rafael que voltava da cozinha com uma expressão seria e olhar sombrio, lá não era um dos lugares preferidos dela, na verdade de nenhum deles, sempre que podiam evitavam a residência tanto quanto as pessoas que moravam lá, Cristina olhou para o chão pensativa, porem sua mente permanecia em branco e seu corpo estava tão tenso que começava a doer.

&

 

Alguns dias se passaram ate que a data da audiência finamente chegasse, a brisa gelada da noite era uma benção depois de um dos dias mais quentes do ano, temperatura que só acentuava o mau humor e ansiedade de Cristina, em especial, pois Akihito estava animado para vesti-la com o trajes tradicionais, algo que ela profundamente odiava... Rafael ajeitava o punho da camisa social branca e sorria lembrando-se dos tempos quando ela ainda era uma criança e Akihito cismava em lhe por vestidos fofos e laços, seus olhos tinham um profundo brilho de saudade... “— Bons tempos...” — pensou suspirando porem seu devaneio foi interrompido pelo sibilo sonoro do elevador e mal a porta se abriu pode escutar a voz macia e pausada de Akihito repassando novamente os passos que ela devia seguir no conselho, encostou-se no Subaru Legacy sedan preto e cruzou os braços observando o rapaz saindo do elevador em trajes cerimoniais de sacerdote , sorriu jogando a cabeça de lado, estava como no primeiro dia que o viu e foi nesse mesmo dia que se apaixonou.

— Vamos Cristina o quanto antes for mais rápido terminará... 

— Não!! 

A voz da menina saiu estridente do elevador fazendo Akihito suspirar olhando pra Rafael que se aproximava, seu olhar suplicava por ajuda. 

— Cristina, vamos... Ou eu te tiro dai de dentro!! — Rafael se aproximava colocando as mãos no bolso da calça social preta. — Você mesma disse que queria ir! 

Cristina saiu lentamente do elevador, vestida com uma roupa tradicional de miko, os cabelos negros estavam presos em uma presilha com pequenas flores e algumas mechas da franja caíam em seu rosto pelas laterais emoldurando-o, Rafael parou e colocou as mãos na cintura com um largo sorriso.

— Para que tanta resistência? Você está muito bonita... 

— Da próxima vez que quiserem me ver, fazemos uma vídeo-chamada… – Ela bufou alto fazendo ressoar em toda garagem.  — Detesto vestir isso, me sinto tão estranha! 

Ela correu se jogando dentro do carro no banco de trás sob o olhar risonhos dos dois homens que a criavam desde 8 anos, sem quererem demorar muito se encaminharam para o carro, Rafael se curvou fazendo uma referência para Akihito abrindo a porta do carona, usando todo seu cavalheirismo, fazendo o menor corar levemente enquanto sorria ao entrar no banco do carona  para em seguida o assumisse o volante e desse partida no carro pegando a estrada em direção a área mais nobre da cidade.

 

&

 

A noite já reinava totalmente com a Lua cheia coroando o céu escuro, Rafael parou o carro na frente do imenso portão com grades de ferro, aguardando a permissão para entrar. Os três permaneciam em silêncio dentro do veículo, Cristina apenas observava tudo desde o imenso portão de ferro com câmeras nas duas pontas e um pequeno interfone no muro, um extenso e imponente muro decorado com pedras rústicas e com cercas elétricas no topo, um rangido metálico lhe chamou a atenção fazendo-a olhar para frente no mesmo instante que  o imenso portão se abria revelando o amplo pátio à frente, tinha pelo menos quatro seguranças a vista deles e um deles sinalizou para Rafael estacionasse em um lugar próprio, o moreno suspirou resignado já sabendo que não podia acompanha-los.

Akihito foi o primeiro a descer e respirou fundo rezando que nada acontecesse ou que Cristina não decapitasse os sacerdotes, deu a volta no veículo indo para a porta que Rafael abria para que a ela saísse, no exato instante que ela pegava sua mão ele se inclinou levemente sussurrando: 

Qualquer coisa que acontecer, qualquer sinal de perigo me chame! 

“Ela assentiu com a cabeça se sentindo mais segura e se afastou andando ao lado de Akihito sendo escoltados por quatro serviçais, de longe Rafael os observava se afastarem e atravessarem o segundo portão,  “—Rafael, tenho certeza que há algo de errado... Nunca o templo principal se interessou por Cristina.”  As palavras de Akihito ditas dentro da biblioteca dias atrás ressoavam na sua mente, mesmo tentando demostrar força e segurança o moreno sentia o coração vacilar ao ver o portão se fechando ocultando aos poucos a imagem dos dois, quando o barulho metálico soou ele teve certeza que o portão fora trancado e se encaminhou para o carro tirando um cigarro da carteira que trazia no bolso, rapidamente o acendeu e tragando profundamente mas nem isso conseguia lhe fazer relaxar e apenas podia ficar ali e rezar para que tudo acabasse logo.

 

 

 

 Cristina olhava em silêncio para tudo aquilo, fazia tão pouco tempo que tinha estado lá, mas não conseguia deixar de se impressionar com o local, a propriedade da família ocupava tudo da base ao cume, a residência principal ficava na parte mais alta cercada por uma floresta de bambus e um rio cristalino que cruzava o terreno, a parte mais baixa tinha vários arbustos de lírios-do-vale até o portão principal... Cristina e Akihito cruzavam o jardim de entrada conversando em um tom de voz tão baixo que era mal escutado por quem estivesse perto, tomavam cuidado para que seus lábios não pudessem ser vistos, ele lhe dava as últimas instruções antes de chegarem ao portão da casa principal, a menina olhou os degraus que levavam ao portão e começou a subir sentindo o coração bater tão rápido que achava ter perdido pelo menos dois anos de vida naquela subida, a sua frente dois guardas abriram o pesado portão de madeira talhada, revelando o jardim do lado de dentro e uma serviçal vestida com um kimono preto que a aguardava, seu rosto tinha uma expressão indecifrável e um olhar frio quando a viu, Cristina suspirou profundamente, “— Nada mudara, não é?”, Antes que o portão fosse fechado as suas costas se virou vislumbrando Akihito, que em seu rosto demonstrava tensão e medo, ela apontou para o pulso e sorriu gesticulando com a boca “tudo vai dar certo”  e antes que o portão fechasse o viu sorrir confiante.

 

Quando aquelas pesadas portas se fecharam, os serviçais se aproximaram dele curvando-se e mostrando o caminho até o templo que era destinado à sua família, ele respirou fundo contrariado se preparando para quem encontraria lá... Sua mãe. 

 

Ω 

 

Caminhava lentamente em direção ao templo principal seguindo um caminho de pedra, sempre acompanhada por uma serviçal. Cristina a observava com curiosidade, a mulher a sua frente não tinha nenhuma expressão facial...  “— Será que ela respira? Parece uma boneca de porcelana!” , um calafrio percorreu seu corpo ao pensar que nem parecia ser humano... Embora, ninguém naquela casa parecia ter alma; às vezes se perguntava se seu pai era mesmo daquela família... Na tentativa de afastar tais pensamentos ela se voltou a algo mais agradável, os arbustos de lírio do vale que seguiam ate a entrada da casa, emoldurando o caminho de pedra, exalavam um aroma delicioso e contrastava com a densa floresta de bambus Imperiais, que cercava toda a propriedade até além da casa principal, balançando ao ritmo do vento em uma dança única e emitia um som como se sussurrassem uma canção, bela e incompreensível, ela se viu perdida admirando aquele pequeno espetáculo, quando chegaram a frente à imensa casa a serviçal se curvou fazendo um sinal para que esperasse e entrou, observou aquela imensa construção japonesa que se assemelhava as casas dos antigos e poderosos lordes, desde base até o imponente telhado com peças de toras envernizadas de madeira e telhas de cerâmica vermelhas, uma longa varanda com piso de madeiras que levavam para cômodos do lado de fora da casa, “— É um lugar belo, porém frio...”, pensou analisando toda estrutura, mas de repente, do seu lado direito, algo lhe chamou a atenção, um vulto branco caminhava entre os bambus; curiosa e sem ponderar nada ela olhou em volta, certificando-se de que não havia ninguém por perto antes de se encaminhar em silencio para o local do vulto, “— Os velhos podiam esperar.”, concluiu para si sorrindo enquanto abria caminho entro os caules. Quando conseguiu ultrapassa-los parou de forma subida espantada com a visão a poucos metros; Alguém vestido com as mesmas roupas de seu pai, mas o que a impressionara foi a aparência, a pessoa aparentava ter uns 16 anos, a pele era alva como a neve, os cabelos eram uma mescla de cinza claro e escuro, presos em um coque firme com um enfeite de flores sakura, seus gestos eram suaves e delicados quando falava com um rapaz, um pouco mais alto, imóvel poucos centímetros atrás, vestido com calças, camisa e um sobretudo pretos com pequenos detalhes em vermelho, no pescoço uma ostentava  uma longa echarpe vermelha, os cabelos negros lisos eram presos em caprichosamente por uma fita branca, porem deixava uma franja solta caindo ao lado do rosto, escondendo um par de brincos dourados, na cintura levava uma espada de cabo preto e bainha vermelha, artefato que lhe chamou a atenção, ela vira aquela espada em algum lugar, não lembrava onde por mais que forçasse a memória e sem perceber, soltou um forte suspiro inconformada;  ato que não passou despercebido pelo rapaz, que pigarreou de forma ríspida como se a repreende-se. Cristina ergueu a cabeça, assustada e constrangida, não era sua intenção bisbilhotar , só que Cristina não conseguiu desviar o olhar , a pessoa que estava com o rapaz se virou e a encarou com uma par de profundos olhos roxos , cordialmente acenou para a menina chamando ate onde estava. Cristina sentiu o coração a acelerar e o pulso formigar, mas como se estivesse anestesiada se encaminhou, passando pelos caules de bambus.

— Você é um Hamadríade?... — Afirmou observando aquela presença quase etérea que parecia com uma menina.

O silencio caiu entre eles ate que a pessoa diante dela ocultou a boca com a manga do kimono antes de rir de forma leve seguida do riso do rapaz as suas costas, Cristina continuava sem saber o que falar e os olhava sem entendera. 

— Acho que estão a sua espera, ela esta voltando. — Falara apontando pra a casa, sua voz era baixa porem nítida e suave. — Seria bom se apressar. 

Cristina piscou várias vezes ao sentir a queimação no pulso e desviou o olhar para entrada do templo.

 — Quem...

Ela parou espantada ao voltar os olhos para frente, os dois haviam desaparecido sem deixar vestígio, atordoada olhou em volta para confirmar, demorou alguns segundos para que se mover antes de correr em direção da casa, assim que parou escutou o barulho de chaves vindo da porta... “— Será que foi uma visão?”

Ω 

— Você tem certeza? — O rapaz indagara olhando para a menina que entrava na mansão. — Não senti nada vindo dela. 

— Sim é ela... — Suspirou apoiando a cabeça no ombro do rapaz. —Mas há uma retenção muito forte camuflando-a. 

Cristina corria os olhos de vez enquanto pelo grande salão, além dela tinha mais quatro pessoas, três sacerdotes a sua frente e um atrás deles um pouco mais afastado. Já vira aqueles três sacerdotes, em todas as vezes que fora convocada pelo conselho, eram os representantes das famílias influentes do templo principal... Seriam quatro, se seu pai Akihito não tivesse abandonado a família para ficar com Rafael, mas numca vira aquele quarto sacerdote, um senhor de idade , estatura baixa, cabelos e barbas branca.

“— Quem...é?”

 Ficou perdida nos próprios pensamentos e tinha passado tanto tempo que tinha perdido a conta de quantas vezes suspirava, enquanto, constantemente, após as baterias de perguntas eles passavam os papeis com anotações para o quarto sacerdote que lia todos com atenção e a fintava com um olhar enigmático. Estava cansada não sabia que horas eram, mas já devia ser bem tarde, pois suas pernas estavam dormentes, lentamente fechou os olhos para tentar descansar e quando os abriu, levou um susto tao grande que quase se levantou, mas conseguiu se conter, do lado do quarto sacerdotes estava um rapaz, o mesmo do jardim, que lhe sussurrava enquanto o sacerdote balançava a cabeça e no final o rapaz a encarou com um leve sorriso confiante, notou naquela hora os olhos vermelhos como rubis e de imediato seu selo nos pulsos começaram a queimar e o sacerdote se voltou para ela. 

— Bem senhorita você está liberada… 

O Sacerdote falara se levantando e caminhando devagar em sua direção. 

— Posso saber por qual motivo fui chamada? – Cristina o interrompeu sua voz soou com impaciência sem perceber. 

Os três sacerdotes resmungaram desaprovando sua atitude, como se ela ligasse, mas ele apenas deu um largo sorriso. 

— Compreensível, já que me foi informado que por diversas vezes você foi chamada sem motivo aparente… —  Ele lançou um olhar de desaprovação aos sacerdotes a suas costas. — Estamos passando por um ciclo de energias muito delicadas e queríamos ver se você não havia sido afetada. 

O senhor  respondeu estendendo a mão para ajudá-la a levantar, sua voz era calma, amável e instintivamente ela estendeu a mãos aceitando a dele, mas se lembrou do selo e a puxou fingindo se apoiar para se levantar e se curvou ao falar: 

— Perdoe-me pelo modo como falei… 

Ele fez um movimento com a cabeça indicando os outros. 

— Visto o jeito como era tratada, é compreensível, mas agora pode descansar. – Ele acarinhou o topo de sua cabeça. – Só quero ter umas palavras com seu pai adotivo, a muito que não vejo o jovem Suzuki, uma serviçal ira lhe servir algo para comer ate que seu pai venha.

Ela consentiu e se retirou indo para a entrada lateral da casa, para um pequeno jardim com uma fonte, suspirou fundo relaxando e fechou os olhos sentindo o vento gelado tocar-lhe a pele e embrenhar nos cabelos, mas a sensação de estar sendo vigiada a fez abrir os olhos rapidamente e olhar em volta, mas não via ninguém.

— Cris-chan… psiu! 

Um sussurro vindo de cima lhe chamou a atenção fazendo-a ergueu o rosto, acima dela, nos telhados estava Aizen, que acenava discretamente com uma das mãos, parecia estar atrapalhado com algo, Cristina sorriu tentando vê-lo melhor, sorriso este que logo se desfez ao lembrar das advertências de Akihito e Rafael para que ele não fosse ao local.

— O que você está fazendo aqui? – Ela exclamou em tom baixo quando ele pulou para junto dela. 

— Eu não podia deixar você vir sozinha... – Ele coçava o nariz enquanto falava de forma moleque, ela balançou a cabeça sorrindo enquanto ele ria. – Mas eu descobri uma coisa, vi uns homens carregando várias espadas para uma Van, todas com lacres espirituais. 

— Podem ser tesouros da família, eu notei que a segurança estava reforçada. 

— Eles são como eu… – Aizen tinha uma expressão carregada de seriedade quando falou isso. – Espadas como eu!!! 

“– Por que estavam lacradas?” – Ela arregalou os olhos sentindo uma angustia crescente. 

— Mas encontrei uma que caiu e eles não viram… 

Aizen falou triunfante apontando a espada envolta em um veludo vermelho em cima do telhado. 

— Boa Aizen! – Cristina o abraçou sentindo alivio. – Vamos tira-lo daqui! 

Aizen concordou sorrindo, Cristina se virou e indagou com uma das sobrancelhas levantadas: 

— Como você chegou aqui no templo? 

— Eu vim dentro do porta malas… Quando você não saía do elevador eu aproveitei que o Rafael-Sama saiu de perto do carro e entrei! — Ele se sentia orgulhoso do feito, se Rafael o tivesse pego ele ia precisar de um bom restaurador. — Você lembra que desde do seu incidente  ele deixa o controle reserva do carro no porta mala??... e quando ele adormeceu eu sai.

Ela ficou boquiaberta balançando a cabeça sem acreditar, Rafael parecia mesmo cansado hoje, isso poderia ser uma vantagem para que Aizen entrasse novamente no carro, tinha que apenas ter a sorte dele estar dormindo ainda. 

— Rafael deve estar no carro…Vou tentar distraí-lo enquanto você entra e rezemos para que ele não desconfie.

 

 

 Ela andava até o portão olhando para o imenso muro de relance para não perder Aizen de vista, ele carregava a espada com cuidado enquanto corria de forma furtiva se escondendo nas sombras ou nas copas das arvores, Akihito seguia ao seu lado e tinha uma expressão tensa e respirou fundo quando os seguranças abriram o portão, parecia profundamente aliviado com isso... Cristina olhou de relance para o lado e viu Aizen fazer sinal, estava pronto, a morena correu os olhos pelo carro e notou mesmo que o porta-mala estava entreaberto, sua mente trabalhava em varias idéias mirabolantes para que Aizen conseguisse entrara no carro e nenhuma com conclusão  fazendo sua cabeça doer, mas no exato instante que chegaram perto do carro, Akihito fez um sinal para Rafael e tocou de leve o ombro da menina falando com uma voz carregada porem suave.

— Minha querida, pode nos esperar no carro?  Tenho que falar com Rafael... um instante.

Algo havia acontecido, tinha certeza, Akihito estava com um semblante vazio mesmo quando tentava sorrir, a menina concordou com a cabeça positivamente enquanto se encaminhava lentamente para o carro e ao se virar sentiu uma mão pesada lhe bagunçar os cabelos presos deixando-os em situação de calamidade total, Rafael passou rindo arrancando-lhe a presilha fazendo-a resmungar e bufar indo em direção ao carro, chegando perto do veiculo ela fez um sinal para Aizen ao notar que s dois estavam absortos no assunto, o rapaz prontamente obedeceu e de forma rápida e silenciosa se aproximou do carro correndo se jogando no porta mala fechando-o após entrar, ela se jogou no banco tentando relaxar e sorrir sem sucesso seu estomago se retorcia de fome e nervoso, o que eles conversavam?  Pensava olhando-os de soslaio e notou que Akihito estava tenso demais, algumas vezes parecia que suas mãos tremiam e Rafael o abraçou falando algo antes de irem em direção ao carro, o moreno pegou o celular do bolso e discou um numero enquanto falava: falando:

— Vou pedir para o Aizen pedir a pizza… – Rafael começou a bater o pé impacientemente. – O que ele está fazendo que não atende?? 

Cristina gelou, claro que não ia atender ele estava atrás deles, no porta mala segurando uma espada milenar !! Ela começou a pensar pois tinha que falar ou fazer algo. 

— N-não a-acho uma boa ideia… – Ela parava para pensar e a voz saia gaguejando. – Sabe o Aizen da outra vez pediu aquela pizza estranha que ninguém comeu… podemos passar no ... Ukitake !! ... a massa é boa e macia… 
Rafael ergueu uma das sobrancelhas enquanto encarava a menina como se tentasse desvendar sua alma, aquele olhar era extremamente intimidador mas  não podia deixar que ele a olhasse nos olhos senão estava tudo perdido. 

— Me lembro bem dessa pizza que o Aizen pediu e meu voto é não! 

A voz de Akihito soou um pouco melhor do que antes.

 “– Salvo pelo apito do juiz!” 

Akihito apoiou a cabeça no peito dele que o envolveu acarinhando o cabelo, Cristina notou o ar pesado e se saiu do carro segurando a manga do kimono dele. 

— Otousan… – Akihito a olhou, ela sabia que quando ele estava preocupado chama-lo assim o deixava mais calmo. – Aconteceu algo? Fiz algo de errado? 

Akihito a abraçou forte, algo raro dele fazer, foi então que Cristina teve certeza algo de ruim estava acontecendo. 

 

 Ω

Rafael dirigiu rápido até a pizzaria, ao seu lado Akihito estava deitado com o banco recostado, mantinha os olhos fechados, Cristina olhava para fora tentando entender que estava ocorrendo, normalmente akihito contava sobre as reações dos sacerdotes... mas ele e rafael se mantinham em total e absoluto silencio, sua mente começou a criar varias teorias de conspiração, levando em conta a sua avó adotiva não era algo muito fantasioso... De repente o carro deu uma curva brusca e parou, ela levou alguns minutos ate entender o que acontecia, Rafael parara no estacionamento da pizzaria, ela se ajeitou antes de sair, estava frio e aquele kimono, mesmo longo não dava a devida proteção que gostaria... Enquanto cruzava o pátio do estacionamento sonhava com suas calças jeans e botas de couro forrado, rapidamente  colocou a mãos na porta de madeira e entrou sentindo o ar quente e o cheiro de orégano e queijo que perfumavam o ambiente a sua frente  viu um rapaz de cabelos longos loiros, presos em uma longa trança, os olhos mel estavam atentos a todos a sua volta e cumprimentava a todos com um sorriso caloroso, assim que escutou o sino da porta tocar se virou pondo um sorriso caloroso no rosto. 

— Cris... — Ele deu a volta no balcão indo até ela. — Você está linda! 

Cris corou ao escutar isso e passou a mão pelos cabelos. 

—  Ukitake... Houve uma reunião do templo do meu pai então tive que ir de vestida assim... 

— Você fica bonita assim... A pizza vai demorar mais uns dez minutos. 

Ele apontou uma mesa perto da janela onde ela podia ver toda a movimentação do restaurante, também podia ver o carro, Akihito e Rafael conversavam e quando a viram na janela ela fez um sinal abrindo ambas as mãos informando que iria demorara dez minutos, Rafael acenou com a cabeça e voltou sua atenção para o companheiro. 

— Rafael esta lá fora? 

Ela olhou para o lado e viu Ukitake com um copo na mão, ele temia Rafael e ela não sabia por que. 

— Uki o Rafael te fez algo? Se fez me diz que eu converso com ele... 

Ele sorriu para ela 

— Não fez nada, mas meu sexto sentido me diz para ficar longe quando ele estiver perto... — ele colocou o copo de suco na sua frente. — Abacaxi com hortelã, Eliot que mandou para você... Em comemoração por que você está linda. 

— Sei muito bem por que ele ta me mandando isso... é raro me ver bem vestida eu sei!! 

Ela falou em tom alto para quem tivesse na cozinha escutasse, revirou os olhos fazendo bico, minutos depois alguém veio lhe trazer a pizza em uma caixa com um saquinho com vários saches de catchup, Cristina levantou os olhos e viu diante de si um moreno com o cabelo com corte haircut e um sorriso largo no rosto. 

— Obrigada pelo suco... — ela olhou em volta e viu que não havia mais ninguém no estabelecimento. 

— É raro ver você assim... 

—Sei... 

— Vestida como uma delicada menininha... 

O tom zombeteiro na voz não a irritava de um todo, era sempre assim um provocava o outro, Elliot era um bom amigo parecia ser uma pessoa sem grandes preocupações, mas era muito responsável. 

— Uki se seu namorado não me deixar em paz eu acerto seu parque de diversão... 

Ukitake saiu da cozinha tirando o avental jogando-o na cabeça do moreno. 

— Deixa a menina em paz!!!  Rafael esta aí fora e já deve ter te visto!!! 

Elliot ficou branco e olhou para os lados saindo rápido resmungando baixo, Cristina pegou a pizza e acenou para o loiro que virava placa para fechado, na porta. 

Quando ia atravessar a rua notou que não havia ninguém no banco do motorista do carro e olhou em volta. 

— O que aquele rapaz queria? 

Cristina segurou o grito de susto e se virou quase chutando a perna de Rafael. 

— Você quer me matar do coração?? — Ela ajeitou a caixa em uma das mãos e pós à outra na cintura. — O que você fez com ele?? 

Rafael fez um bico olhando para o outro lado. 

— Nada... só vim conversar com ele. 

— Não acredito... Rafael!!! — Ela atravessou a rua em direção ao carro. — Para de ameaçar meus amigos, Elliot é noivo do Uki!! 

Ele veio andando rápido junto dela, abriu a porta ajudando-a a entrar, Akihito olhou para ela e depois para Rafael. 

— O que houve? 

Perguntou assim que Rafael se sentou no carro ligando-o, Rafael fez um aceno com os ombros como se não soubesse de nada.

— Ele ameaçou o Elliot! 

— Elliot? O loiro? 

— Não Elliot o moreno, o loiro é o Uki... — ela olhou para frente vendo Rafael fechar os olhos. — Você ameaçou o Ukitake?? 

— Rafael... Quem você ameaçou desta vez??? — Akihito se inclinou para ele com um olhar reprovador. 

— Desta vez??? — Cristina indagou indignada 

 

 

Cristina se jogou na cama king size exausta olhava o teto sem sinal nenhum de sono, Akihito e Rafael estavam estranhos, tentavam ao máximo parecer normais, rindo às vezes, falando trivialidades... Mas sabia que o que acontecera no templo não fora algo normal, sua mente vagou ao lembrar-se da menina de cabelos brancos e olhos claros, de repente o sorriso confiante e um par de orbes vermelhos veio a sua mente e uma quase certeza a fez levantar da cama tremendo.... Eles sabem.

As horas passaram arrastadas, sua cabeça latejava com tantos pensamentos, decidida ela se levantou e foi até a cozinha, toda vez que ficava ansiosa ficava com fome e naquela hora as sobras da pizza gelada eram um prato suculento, enquanto comia ela olhou para a escada que levava aos cômodos superiores, o quarto do canto era do Aizen, do Akihito e Rafael ficava na outra extremidade... O silencio tomava conta daquele ambiente, olhou para a pequena faca em sua mão, a lâmina, o cabo... Lembrou-se de Aizen... Seu grande protetor desde que tinha 8 anos... Era naquela época que suas lembranças começavam, antes disse era apenas paginas em branco de um livro desconhecido.

 “— Aizen é uma tantou forjada por Rai Kunitoshi e que durante o grande terremoto no Japão me salvou e naquele momento meu sangue o transformou em um menino que nunca envelhece. ”

Entrou no quarto em silêncio e ao fechar a porta um brilho ofuscou seus olhos, ela se encaminhou para o local que emitia a luz fraca, em cima da cadeira viu a espada enrolada no veludo vermelho e escondida embaixo das roupas de miko que ela usara no templo, a luz da lua que entrava por uma fresta da cortina batera na bainha dourada. — O que eu faço? — Sussurrou para si mesma enquanto pegava com a espada e delicadamente colocava-a sob a cama sem notar que o pano que a envolvia cairá no chão, ajeitou a camisola vinho que ia até metade das coxas enquanto a observava soltou um assobio baixo, a bainha da espada era dourada como ouro e o punho envolto em um tsuka-ito azul metálico, como se estivesse hipnotizada tocou com as pontas do dedo o tecido de algodão puro, sem se conter tomou a espada para si e tirou a lamina da bainha se impressionando, mesmo estando meio suja era muito linda. — Vou te limpar, estou sem sono mesmo e preciso de algo que me acalme. — Repousou novamente a espada na cama e abaixou-se pegando uma caixinha de madeira embaixo da cama.

 

 

 

A lua reinava alta no céu, seu brilho prateado se mostrava ofuscado pelas luzes artificiais da cidade, Cristina olhava aquela beleza quase ofuscada e suspirava fundo, seu olhar  acompanhou a luz da dama prateada que iluminava as partes da espada repousadas em cima de sua cama, já limpas. Sentara no chão com as pernas cruzadas para ter mais espaço se dedicando com mais atenção a lamina e por varias vezes se pegaram admirando a sua beleza e às vezes conversando com ela. 

— Nem consegui falar direito com Aizen sobre você... Quem será você?... É uma Wakizashi? — Ela falara baixinho pois já era bem tarde e a casa em si tinha uma boa acústica. — Por que estavam selados e queriam trancafia-los?? — Ela usou o uchiko para pôr o pó na lâmina, limpou, pingou o óleo. — Isso é maldade, eles devem saber que vocês estão vivos!! —  Sentia sua indignação crescer só de pensar neles sendo trancafiados, isolados ... Olhou fixamente para lâmina limpa que brilhava ainda mais. — Acho que você nem deve me ouvir né? E eu aqui falando como uma tagarela... Gostaria de saber se você aprova eu ter lhe tirado do templo... — Cristina sorriu feliz pelo belo trabalho, suspirou vendo trabalho feito e para finalizar, era só monta-la de novo, sem se dar conta do formigamento em uma das pernas ela a puxou rapidamente forçando o apoio sem sucesso, mas a falta de equilíbrio a fez, instintivamente apoiar a outra perna que não aguentou o peso desequilibrado do corpo, prevendo uma inevitável queda e na tentativa de proteger a lâmina, ela girou o corpo abraçou-a caindo de costas, instintivamente ela fechou os olhos se preparando a queda e para a pancada na cabeça, mas só sentiu as costas latejarem e uma das mãos arder, como se a folha de um fino papel a tivesse cortado. 

— Aí minha cabeça... 

Murmurou abrindo os olhos sentindo algo macio embaixo da nuca amparando sua cabeça da queda, e algo lhe roçava delicadamente o rosto, lentamente abriu os olhos e antes que gritasse tapou a própria boca, contemplava um par de olhos bicolores que lhe encravam de volta, um verde lima e outro vermelho, as mechas verdes do cabelo liso caiam em seu rosto que estava a apenas alguns míseros centímetros do dele, seus olhos corriam analisando o rosto fino parando nos lábios finos que tinham um sorriso enigmático ao notar que ela lhe observava, eles estavam no chão, caídos em um quase abraço, o braço dele estava embaixo da sua cabeça protegendo-a da queda a outra mãos estava segurando-a pela cintura.

— Oh então você está interessada em mim? — ele falara de forma sedutora retirando a mão da cintura puxando as pequenas mãos no rosto para expor seus lábios entreabertos. — O que está planejando? Despindo-me assim? 

“— Despir? ” — Cristina ergueu uma das sobrancelhas indagando-se e desviando os olhos para baixo, o rapaz estava totalmente nu, sentiu o rosto queimar de vergonha, ela puxou sua mão e pôs no peito nu para afasta-lo foi quando viu sangue descer pelo pescoço indo em direção ao abdômen, olhou para a mão e viu que se cortara na lâmina... Ela o olhou assustada, ele era a lâmina que estava limpando? 

— Eu sou Nikkari Aoe... Sim eu sou uma Wakizashi, mas já fui Oodachi. 

— Nikkari... Aoe? — ela levantou uma das sobrancelhas achando estranho o nome enquanto tentava se afastar dele que já estava muito perto. 

— Sim, sim você acha meu nome estranho, não é? Mas me pergunto se ainda vai rir ao saber que ele se origina por eu ter matado o fantasma de uma mulher que ria. 

Cristina se afastou assustada, mas ele ainda segurava firmemente sua mão e beijou-lhe os dedos. 

— Qual seu nome? 

— Cris-chan??? 

Os dois olharam para a porta semiaberta e viram Aizen com os olhos arregalados. 

Ω 

— Não sei por que ele apareceu nu!! 

Cristina gesticulava para Aizen que olhava com desconfiança para Nikkari que estava enrolado em um lençol branco. 

— Pode ser por que você o desmontou para limpar... Talvez se você o remontar. 

— Vale a pena tentar... — Cristina se virou pegando a lâmina dele e começando a montar. 

— Pode levar o tempo que quiser a visão daqui e muito... Bela... 

Cristina se tocou que usava a camisola e que era relativamente curta, Nikkari estava sentado no chão olhando para suas pernas. Aizen pegou um travesseiro e o arremessou com força. 

— Mais respeito com ela!! 

“— Legal uma espada tarada.” — Cristina pensou enquanto terminava de montar o punho e encaixar a lâmina guardando-a na bainha. — Pronto! 

Mas nada aconteceu, Aizen coçou a cabeça e Cristina suspirou fundo massageando a testa. 

“— Ok, o que eu fiz de errado?” — indagou para si, sua mente dava voltas tentando descobrir o que fazer quando sentiu a mãos latejar. — Minha mão?... Isso minha mão!! — Rapidamente ela desenfaixou a mão deixando seu sangue pingar na bainha e no punho, uma energia densa emergiu da espada e tomando a forma de um uniforme policial da era Meiji e uma capa branca. Cristina logo as pegou estendendo-as para o rapaz sem olha-lo, seu rosto queimava de vergonha. Nikkari se aproximou observando cada reação dela e sorriu de forma leve e travessa ao pegar o uniforme deixou o lençol desenrolar caindo aos seus pés deixando-o novamente nu, ela fechou os olhos com o rosto em brasa. O rapaz sorriu achando aquela atitude muito interessante e de repente sentiu vontade de importuna-la mais, botou seu melhor e mais lascivo sorriso nos lábios e ao pegar o uniforme estendido por ela, de propósito, roçou a ponta dos dedos sensualmente nos dela olhando-a de soslaio. 

— Você quer me ajudar? 

A voz dele saia cada vez mais sedutora e macia, não sabia por que, mas seu coração se acelerava mais ainda mais por que tinha total noção que havia um homem adulto, nu à alguns centímetros de distancia, quando ele retirou as roupas de suas mãos ela rapidamente se virou de costas tentando respirar fundo para acalmar-se

— Estou mais apresentável agora... — ela sentiu-o pegar suas mãos e dar um leve puxão forçando-a a olha-lo e levando-a novamente aos lábios. — Ojou-sama... — ele falou roçando os lábios nos dedos dela.  

Cristina sentiu a cabeça girar e seu coração bater tão forte que lhe faltou ar, Nikkari se virou para Aizen e sorrindo e disse: 

— Assim foi mais respeitável? 

— Abusado! 

Aizen falou tirando a tantou da bainha e Nikkari fez o mesmo com um sorriso no rosto. 

 

Ω 

 

Aos pés de uma montanha, um templo japonês de arquitetura antiga se destacava pelos jardins de cerejeiras que desabrochavam fora de época, diante das magnificas arvores uma menina de longos cabelos brancos sorria satisfeita.

— O que te deixou tão feliz?

Três pétalas róseas tocaram sua pele clara como se esculpida em porcelana antes de serem levadas pelo vento indo cada uma para uma direção diferente, a menina fechou os olhos sorrindo e uma áurea suave e rósea fluiu ao seu redor se espalhando por uma distancia quase irreal.

Uma das pétalas atravessou delicadamente a fresca de uma janela semi aberta repousando em cima de um documento posto em cima da mesa de mogno, debruçada sobre a mesa uma mulher de cabelos ruivos presos em uma presilha de flores suspirava, seus grande solhos verdes se arregalaram ao ver a pétala repousada ao seu lado, em um movimento rápido ela se levantou jogando a cadeira no chão se virando rápido para o Shoki que dava para o jardim abrindo sem medir sua força, um rapaz que estava sonolento em uma das poltronas se levantou, ele vestia um kimono todo branco e seus olhos dourados se arregalaram observando-a.

— Mestra ...o que acont...

Ela se vira para ele e uma suave energia invade o local.

Levada delicadamente uma das pétalas atravessa uma imensa porta de vidro, um rapaz estava sentado na frente de um cavalete, pintando um quadro com atenção, de repente a pétala cruzou a sua frente caindo na sua palheta de cores, ele desviou os olhos azuis claríssimos para aquela pequena e delicada pétala, lentamente ele se levantou olhando para fora na mesma hora que a energia quente e rósea tomava todo o local, ele sorriu olhando para o retrato disposto na cabeceira da cama, único móvel naquele imenso quarto, onde duas crianças estavam abraçadas.

 O fogo de uma lareira crepitava no silencio da sala escura, duas pessoas estavam sentadas em poltronas afastadas, de repente o mais jovem se levantou fechando o pesado bloco de notas que escrevia apenas fazendo um cumprimento rápido antes de sair, ao passar pela porta um rapaz de cabelos castanhos claros acinzentados o reverenciou.

— Venha comigo.

Em silencio os dois foram ate os aposentos que se destinava a ele, os olhos verdes do rapaz pousaram em uma pétala que planava suavemente em cima da sua cama, e não tardou para que a aura quente invadisse todo o cômodo.

— Mestre... A Ahmya-Sama.

— Vamos voltar ao Japão, fala com todos para estarem prontos ao nascer do sol.

— Aconteceu... — A menina sussurrou ao abrir os braços conduzindo com as mãos a energia que emanava dela.

Diante dos três, ao mesmo tempo, a energia tomou a forma de uma pétala de cerejeira, com um tom de róseo fora do normal.

 

 


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