➳ T R O U B L E M A K E R ➳ escrita por c l a r a


Capítulo 1
Capítulo 1 - O cara da janela




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Morar sozinho era horrível, definitivamente. Encarei o vazio da cozinha do meu apartamento. O dia hoje amanhecera frio o que contribuía imensamente para a sensação de vazio, voltei meu olhar para o único prato posto na mesa. Eu sei que eu havia escolhido morar sozinho por causa do meu toque de limpeza, mas ainda assim eu queria que aqui não parecesse tão... sombrio, tanto durante o dia quanto durante a noite.

Sempre que possível tento arrastar meus amigos até aqui, mas eles sempre estão ocupados com suas próprias vidas e a tanto eu acabo não vendo nenhum deles por um tempo.

Acostumei-me a cozinhar para uma pessoa, eu amava cozinhar apesar de fazer medicina, e sempre fora um prazer cozinhar, mesmo que só para mim.

Sempre sozinho.

Um barulho alto vindo do lado de fora da janela da sala me chamou a atenção.  Juntei as sobrancelhas e me aproximei para ver melhor. Barulhos altos naquela vizinhança eram algo incomum, tudo sempre fora quieto, cada qual vivendo suas vidas sem se preocupar com as vidas de seus vizinhos. Um caminhão de mudança estava parado no meio-fio do prédio defronte ao meu, fiquei surpreso, em todos os anos que estou morando aqui nunca vi ninguém morar ali. Abro a janela para ver melhor e me arrependo imediatamente quando o vento frio me envolve, subo meu olhar para o 4° andar – onde ficava o apartamento que iria ser alugado – e sou flagrado por um cara que está me encarando com um olhar assassino por eu estar espiando sua janela. Arregalo os olhos e imediatamente me jogo no chão, e é então que vocês me perguntam o porquê de eu ter feito isso e eu respondo... bom, eu também não sei. “Eu sou idiota?”, me pergunto rindo nasalado. Me virei para engatinhar até a cozinha e dei de cabeça com o criado-mudo perto do sofá.

— Ai – resmungo levando a mão à cabeça dolorida. “Qual é o seu problema, Seokjin?”

Voltei – engatinhando até sair do campo de visão da janela – para a cozinha, terminando meu café da manhã. Arrumei toda a bagunça da mesa e voltei ao quarto para pegar minha pasta-carteiro. Desci de elevador até o hall de entrada, me aproximei devagar da porta de vidro e olhei para os lados para poder me certificar de que o cara da janela – é assim que eu decidi o chamar – não estivesse ali. E não estava, mas só por precaução puxei a barra do cachecol até cobrir metade do nariz e sai apressado até o ponto de ônibus na esquina. Depois de uns minutos avistei o ônibus chegar, mas um movimento ao meu lado chamou a minha atenção, olhei e vi o cara da janela sair de uma loja e vir na minha direção com uma cara não muito boa. Senti minha espinha gelar e então o ônibus parou, suspirei aliviado e o adentrei com rapidez pedindo para o motorista acelerar. O cara da janela ficou parado onde eu estava segundos atrás encarando a traseira do ônibus parecendo frustrado. Sentei no primeiro lugar que vi pela frente, “que situação”.

Cheguei à universidade e fui em direção ao campus, encontrei o Hoseok sentado aos pés da árvore em que sempre nos encontrávamos.

— Jin! – Ele acenou elétrico. Acenei de volta, porém ele não estava sozinho, Jimin estava lá também.

Eles namoravam.

Joguei a bolsa no chão e descansei a cabeça nela.

— Vocês não vão acreditar no que aconteceu comigo hoje... – e contei sobre o cara da janela, dando ênfase na parte de seu olhar mortal.

Jimin soltou uma risada e deitou a cabeça nas pernas do Hobi que logo não demorou de começar acariciar seus fios ruivos.

— Ele vai te perseguir, cuidado para não invadir sua casa à noite e perguntar por que um pervertido, vulgo você, estava espiando a janela dele – Jiminie soltou uma de suas gracinhas.

— Vira essa boca pra lá – dei um tapa fraco em sua perna e ri, Hobi acompanhou nossa risada.

Ficamos em silencio quando as risadas cessaram.

— Eu e o Hobi hyung vamos dormir na sua casa – Jimin disse de repente. – Estamos menos ocupados hoje, e como faz uns dias que você nos chamou...

— Ótimo! – Me sentei rápido sorrindo. – Eu comprei aquele jogo novo que você queria jogar, Hoseok.

Ele sorriu e bateu palmas. Verifiquei as horas.

— Temos que ir Hobi, nossa aula vai começar – apalpei a calça me levantando e dei a mão para que o Hobi se levantasse também.

— Vejo vocês à noite – Jimin se recostou na árvore. – Vou esperar o Suga hyung chegar.

— Aposto que o Suga hyung deve estar babando no travesseiro – J-Hope murmurou enquanto nos afastávamos.

— Pode apostar – concordei.

➳➳➳

 Despois da aula voltei para casa. Desci no ponto de ônibus da esquina nervoso, vai que o cara da janela estaria por ali. Olhei o relógio no meu pulso e arregalei os olhos, eram 14h e 14h30min meu trabalho começava. Segurei firme a alça da pasta-carteiro e sai correndo – literalmente – em direção ao meu prédio e sem querer esbarrando algumas pessoas pelo caminho, elas me olhavam feio e diziam para eu olhar por onde andava ou simplesmente me chamavam de maluco e voltavam a fazer o que estavam fazendo.

Escancarei a porta do apartamento e enquanto começava a desabotoar a camisa tentei fechar a porta com o pé. Fui jogando tudo pela casa indo em direção ao banheiro. Eu sei que aquela bagunça me deixaria nervoso mais tarde, mas não importava, o que importava no momento era que eu não podia de jeito nenhum chegar atrasado de novo. Procurei o uniforme de trabalho e o coloquei de qualquer jeito. Voltei a descer correndo, só que dessa vez desci pelas escadas já que o elevador estava demorando demais. Agora só faltavam 5 minutos, eu tinha que conseguir. Agradeci a todos os Deuses possíveis que o café onde eu trabalhava as tardes era no fim da rua. O Red Velvet Coffe era um lugar agradável para se tomar um café ou comer um pedaço de bolo, mas o que eu mais gostava nele era as meninas que trabalhavam comigo.

— Jin! – Irene se assustou e Yeri quase deixou a bandeja que segurava cair quando eu cheguei abrindo a porta esbaforido.

— Chegou um minuto adiantado – Joy olhou para o relógio de parede.

— Olha só quem chegou na hora certa hoje – senti a mão pesada do Sr. Taeyang ser posta no meu ombro.

Sorri para ele soltando o ar que nem sabia que estava segurando. Wendy soltou uma risadinha para mim e voltou a varrer o chão enquanto Seulgi veio me trazer o cardápio do que serviríamos hoje.

— Que agradável, todos estão aqui. Quero que tomem conta do café hoje, vou ter que resolver algumas coisas. Boa sorte – disse e vestiu o casaco, saindo pela porta.

— Isso vai ser um desastre completo – Wendy murmurou.

Ri e fui direto para cozinha. E Wendy estava certa, foi um completo desastre, o café lotou 20 minutos depois de aberto. Talvez fosse por hoje ser sexta-feira, mas foi realmente impossível, a Wendy e a Seulgi estavam divididas entre me ajudar a preparar a comida e atender os clientes, então direto ouvíamos a Joy gritar elas duas para ajuda-la enquanto a Irene estava no caixa um pouco desesperada, ela tinha claustrofobia – ou seja, medo de estar em locais pequenos e fechados e o volume de gente ali a fazia se sentir um pouco sufocada. E a Yeri à todo minuto corria por entre as pessoas para pegar o pedido de todo mundo e vir me entregar.

Vi o último cliente pagar e ir embora. A Joy deitou-se no chão respirando fundo. Girei a placa de aberto que estava pendurada na porta para fechado.

— Que loucura isso aqui hoje – a Wendy veio da cozinha limpando as mãos molhadas num pano.

— Nunca vi isso aqui tão cheio – Seulgi gemeu indo se sentar numa cadeira.

— Que dor – Irene esfregou as pontas dos dedos nas têmporas fechando os olhos.

— Tenho que ir – digo deixando o avental dobrado encima do balcão. Dou um beijo na testa de cada uma e volto para casa arrastando os pés.

Quando chego faço uma careta e cato as roupas que joguei mais cedo no chão, o que me causou uma dorzinha nas costas por conta de me curvar tantas vezes na cozinha do café. Tomei um banho demorado, a sensação da água morna batendo contra minhas costas me aliviou. Voltei à sala sem camisa, afinal era a minha casa, enxugando meus cabelos loiros numa toalha. Me senti meio observado e abri os olhos dando de cara com o cara da janela me observando do seu apartamento com o lábio inferior entre os dentes. Agora eu quem era o tarado? Não mesmo. Tapei meu corpo com a toalha assustado e fechei as cortinas deixando a sala no breu completo, eu tinha que comprar cortinas um pouco mais transparentes da próxima vez. A campainha tocou, quem poderia ser?

— Jin hyung – a voz do Suga invadiu minha mente assim que abri a porta –, vá colocar uma roupa!

Tinha me esquecido deles.

— A casa é de quem? – Perguntei erguendo uma das sobrancelhas.

Ele bufou e me empurrou para o lado indo para o meu sofá, folgado como sempre.

— E tire os pés sujos da mesinha! – Reclamei com ele, mas não tive resposta. – Ah, pelo amor... pelo menos tire os sapatos Yoongi!

— Você está bem assim, eu gosto – Jimin piscou para mim, mas logo em seguida riu me dando um tapinha no peito. – Brincadeira, hyung.

Hobi entrou todo animado atacando o jogo que ainda estava na embalagem encima do sofá.

— Toma – joguei o telefone no colo do Suga –, pede algo pra’ gente comer.

Fui ao quarto colocar uma camisa e quando voltei encontrei o Jimin na janela acenando para alguém. “Ah, não”, penso o vendo rir.

— Aquele não é cara que queria te matar hyung? – Jimin perguntou ainda acenando.

Agarrei-o pelo pulso e fechei as cortinas.

— Jimin eu vou te matar, sua bola! Anão de jardim! – Corri atrás dele por toda a sala. Mas desisto quando começo a arfar, dou uma espiadinha pela fresta da cortina e ele não está mais lá.

A campainha toucou novamente.

— Olha a pizza chegando! – Suga disse se levantando.

— Chegou rápido – retruco ainda olhando feio para o Jimin que estava se protegendo atrás da ilha da cozinha.

— É que eles disseram que tinha já uma pizza pronta porque o cara ligou cancelando – explica. Logo volta com duas pizzas em mãos. Aquela seria uma noite legal.


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Notas finais do capítulo

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