Mark on me escrita por Tori Blackthorn


Capítulo 1
All the pretty stars shine for you, my love


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma fanfiction one-shot bem simples que resolvi escrever para exercitar um pouco (e porque estava com saudades de ver o Kieran com o Mark ♡). Revisei 30 vezes esse texto, mas algum erro sempre acaba passando. Então já peço desculpas por isso, haha.
Espero que gostem e tenham uma boa leitura!



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AS MARCAS NAS COSTAS DE MARK NÃO ERAM HOMOGÊNEAS. Existia vários tipos delas. Havia as cicatrizes de runas, prateadas e quase transparentes, dos tempos que ele ainda não tinha se juntado à Caçada Selvagem; e havia as cicatrizes das marcas de chicotadas que as fadas furiosas desferiram contra ele há alguns anos, o que de certa forma serviu para uni-lo a Kieran. Ambas cicatrizes eram a prova de que Mark era forte. De que ele era um escolhido do Anjo e um sobrevivente. Mas além dessas, havia as marcas preferidas de Kieran. Intrínsecas à pele alva de seu amado, havia pintinhas salpicadas, formando quase um mapa na tez de Mark. Essas marcas não tinham sido fabricadas, nem rasgadas ou queimadas com uma estela, nem eram fruto de machucados crueis. Tinham nascido ali e faziam parte do que Mark era em sua essência, antes de qualquer outra coisa. Antes de nefilim, antes de fada, antes de guerreiro; aquelas marcas lembravam que ele era humano e tinha uma alma tão preciosa quanto frágil, e Kieran amava cada parte dele como nunca amou nada em toda sua longa vida.

O príncipe beijou a parte de trás do ombro de Mark, sentindo o frio contra os seus lábios. Mark que estava quase dormindo, acordou quando sentiu o toque e o respirar quente de Kieran em sua pele. Ele se encolheu, retraindo o corpo como um animal acuado, envergonhado de suas próprias marcas. Suas costas nuas que estavam pressionadas contra o peito de Kieran desfizeram o contato, e ele sentiu a brisa gelada passar no espaço que se estabeleceu entre eles.

— Kier, você sabe que eu odeio isso. – Mark acabou por soar mais amargo do que pretendia, e então tentou se corrigir. – Não os seus beijos. Mas essas coisas na minha pele. – Ainda deitado, ele virou apenas o rosto de lado para olhar sobre o ombro para Kieran e tomou alguns segundos para admirar o príncipe de feições quase desumanas de tão belas. Os cabelos dele eram revoltos e amassados contra o improvisado travesseiro de relva e folhas. Os fios, há muito tempo sem corte, estavam coloridos por um tom de azul-claro, a cor do mar limpo e longe de tempestades, o que indicava que ele estava feliz, ou algo perto disso. Para Mark, era ao mesmo tempo honroso e intimidador ter uma obra-prima como Kieran tocando suas imperfeições daquela maneira.

— E você sabe que eu amo isso. – A resposta veio gentil. A voz de Kieran era quase musical. – É parte de você, e tudo em você é lindo.

            Seus dedos longos, leves e hábeis tocaram as costas de Mark, que fechou os olhos, sentindo com ternura aquele toque agora tão familiar. Ele sentiu a pressão delicada subindo devagar, desenhando linhas invisíveis ao longo de sua espinha, enquanto os sussurros suaves de Kieran contavam suas vértebras de baixo para cima “uma, duas, três, quatro, cinco... Omoplatas”. Mark voltou a abrir os olhos quando o outro parou de contar e sentiu a palma aberta dele contra uma de suas escápulas.

— Você sabe o que eles dizem sobre omoplatas? – Kieran perguntou. Mark não sabia a quem ele se referia com “eles”, mas acabou não perguntando sobre isso. A cabeça loura apenas negou com um gesto. – Que elas são o que restam de suas asas.

— Você acredita nisso? – Mark rolou de lado sob o cobertor aquecido e se virou de frente para Kieran, a tempo de ver um meio sorriso discreto no rosto do príncipe.

— É claro. Você é um anjo. Meu anjo. – Kieran soprou baixo as últimas palavras, como um segredo, e se inclinou para encontrar os lábios de Mark com a própria boca.

            Eles se uniram, corpo contra corpo, e Mark entrelaçou os nós de seus dedos nos cabelos mágicos de Kieran, o que ele sempre gostava de fazer. Respiravam o ar um do outro enquanto se beijavam da forma angustiante e prazerosa que lhes era familiar, como dois náufragos tentando resgatar um ao outro do mar aberto. Kieran tinha gosto de lágrimas e noz, e há algum tempo Mark tinha decidido que esse era seu novo sabor preferido.

            Debaixo do cobertor, Mark puxou Kieran para si pelas pernas, as mãos agarrando a parte de trás dos joelhos dele. Kieran estremeceu e encaixou o quadril contra o baixo ventre de Mark, abraçando-o com as pernas e cruzando os tornozelos, em um contato íntimo e libidinoso.

Um suspiro sufocado escapou pela garganta de Kieran quando um impulso áspero subiu de seus pulmões, pedindo por fôlego. Ele afastou seus lábios dos de Mark para respirar, e soltou um pequeno gemido afiado quando a boca de Mark pressionou contra a pele de seu pescoço, primeiro com um beijo, depois com mordiscadas e sucções. Ele traçava um rastro de marcas roxas-avermelhadas, do pescoço até as clavículas de Kieran, sugando a pele pálida do príncipe e formando um colar de marcas. Por baixo dessas, havia outras antigas. Kieran as adorava, pois para ele aqueles hematomas pareciam galáxias inventadas, e ele amava a ideia de Mark gravando um universo inteiro e só deles por todo o seu corpo.

            Os dedos delicados de Kieran apertaram as unhas curtas em volta dos braços de Mark quando o príncipe sentiu os dentes de seu amado cravarem em seu ombro, em uma mordida mais forte. Mark conteve-se um pouco e aliviou nas investidas, temendo que pudesse estar machucando Kieran. Ele soltou devagar os cabelos azuis que estava puxando e por último depositou um beijo afetuoso sobre a última marca que deixou no ombro do outro. Kieran o encarou com os olhos bicolores embriagados de paixão, e beijou a palma da mão que Mark usou para acariciá-lo no rosto.

— Essa aqui parece com a Eta Carinae. – Mark disse de repente, com a voz macia, apontando para um hematoma antigo, na forma de dois círculos roxos, desenhado na pele do tórax de Kieran.

            O olhar de Kieran vacilou e suas sobrancelhas contraíram.

— Quem é essa? – Ele perguntou inseguro, a voz ainda instável e arfando pelo beijo quente.

            Mark segurou o riso diante do ciúme ferido de Kieran.

— É o nome de uma constelação. – Mark esclareceu, e Kieran relaxou os ombros, aliviado. A ponta fria do dedo de Mark passou a tracejar os dois halos arroxeados no peito de Kieran. – Eta Carinae é um sistema formado por duas enormes estrelas, que ficam muito próximas uma da outra. Uma estrela é menor e mais quente; a outra maior é mais fria, mas é duas vezes mais luminosa. Apesar de formarem um brilho incrível juntas, elas estão destinadas a se chocarem e se destruírem, formando uma supernova com a explosão.

            Os dois ficaram se encarando no silêncio depois que Mark terminou a pequena história. Ele parou de traçar com o dedo o hematoma, e segurou a mão de Kieran sob o cobertor, acariciando as juntas da mão do outro com o polegar. No único olho negro do príncipe, aquele que Mark usava como espelho todos os dias, ele viu o céu noturno e, por trás disso, percebeu um flash de dor relampejar.

— Elas deveriam se separar então. – Quando Kieran falou, foi quase como um choramingo. – Às vezes a solidão é mais segura. – Ao fim de suas palavras, seu cabelo assumiu um tom de azul-prateado, similar à espuma das ondas do mar onde Mark costumava correr e brincar com Helen.

            Mark não evitou de lembrar da época que ele pensava assim. Antes de Kieran chegar à Caçada, quando ele era um lobo solitário entre as fadas e os mortos do exército de Gwyn. Ele tinha sido hostilizado e maltratado em todas as vezes que interagiu de alguma forma com os outros da Caçada Selvagem; ganhou inclusive aquelas eternas cicatrizes nas costas. Ele tinha dito a si mesmo que não deveria mais se envolver. Cavalgou sozinho por tanto tempo, e as estrelas com o nome de seus irmãos eram sua única companhia. Quando ele pensou que não seria mais capaz de uma interação com outra pessoa, Kieran chegou e mudou tudo. Eles se encontraram em suas diferenças, e se uniram, como dois aliados. O príncipe exilado e o escolhido do Anjo amaldiçoado por sangue de fada. No início, Mark era grato pela companhia, mas pensava que tudo não passava de uma simples aliança entre dois marginalizados. Até mesmo hoje ele tinha suas dúvidas se o que sentia era realmente amor ou se era dívida. Mas então, quando ele via o seu reflexo na escuridão do olho de Kieran, ele se pegava pensando que não havia mais outro lugar ao qual ele poderia pertencer.

— Elas não podem escolher isso. – Mark respondeu, depois do momento de silêncio. – Elas foram feitas para se pertencer.

            Kieran tomou mais um segundo para encarar o par de olhos prata e verde de Mark, e depois o envolveu em um abraço aflito, enterrando o rosto na curva do pescoço de seu amado. Após a surpresa do movimento repentino, Mark retribuiu o gesto, cercando o corpo esguio e magro do príncipe com seus braços. Por todo esse tempo, Kieran foi quem veio cuidando dele no mundo das fadas, sempre paciente e disposto. Ele nunca pensou que fosse capaz de recompensá-lo da mesma forma. Mas naquele momento, quando depositou um afago entre os emaranhados do cabelo azul-prateado e Kieran se encolheu mais contra ele, como um filhote inocente e indefeso, Mark percebeu que também podia ser aquele que cuida.

— E se uma delas se cansar da outra... Ela pode ir embora e escolher outra estrela para se unir? – Kieran murmurou, a voz abafada por estar pressionado no ombro de Mark.

            Quando ouviu a pergunta, Mark soube que eles não estavam mais conversando sobre as estrelas, mas fez de conta que estavam.

— Ela poderia... – Mark disse entre uma pausa que usou para depositar um beijo demorado no topo da cabeça de Kieran. – Mas ela não iria querer.

            A respiração quente e ofegante de Kieran contra a pele de Mark se acalmou. Enquanto acariciava as costas e os braços de Kieran, Mark fitava as marcas roxas pelo corpo do outro, as galáxias e constelações que ele pintou com a própria boca.

            Na pele da base da garganta de Kieran havia a constelação de Leão, um rugido feroz em seus lábios.

            Em volta de um dos braços a Ursa Maior se espalhava, embora somente Mark conseguisse ver o hematoma como a Ursa Maior.

            Para baixo da curva do quadril do príncipe estava a constelação de Dragão, orgulhoso e indomável.

            Quando Kieran olhou para cima, na direção de Mark, seu olhar prata e preto estava cheio de entrega e desejo, em uma súplica muda para que não fosse abandonado, embora já estivesse acostumado a ser deixado.

            Mark então notou que havia estrelas nos olhos de Kieran também. E das mais magníficas e brilhantes.


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Notas finais do capítulo

Kierark é um dos meus OTPs preferidos em TDA. Amo eles e eu vou defendê-los ♡
A insegurança do Kieran que foi mostrada em Lady Midnight me lembra muito do Alec no início da relação dele com o Magnus, embora sejam circunstâncias e motivações muito diferentes. Mas a questão é que eu estava lendo "Born to Endless Night" ontem e vi que o Alec está muito mais maduro e seguro em relação ao Magnus, e isso me encheu de esperanças para que aconteça o mesmo com o Kieran. Rezo todo dia pra Raziel para que o Mark consiga perdoar o Kier pelo o que ele causou e que eles voltem a ficar juntos. Se você também acredita nesse milagre, deixe um review com seu amém! huahuasyhauyhas
Enfim, espero que tenham curtido a fanfic, de coração. Tenho planos para postar outros projetos em breve, então vejo vocês na próxima. ♡