Ao perceber a chegada de Solomon, Sarah sentiu certo alívio.

— Fazia algum tempo que não vinha me visitar Sol, respondendo a sua pergunta, estou bem.

Respondeu ela com um sorriso sincero.

— Sua paz de espírito é realmente admirável Sarah, não é atoa que foi escolhida pela água.

Continuou ele ao perceber que ela estava sendo sincera.

— A água praticamente é imutável em sua calma mas, quando perturbada consegue ser bastante ameaçadora.

Os olhos azuis de sara exalaram um brilho diferenciado ao proferir estas palavras, era como se estivessem cravejados por mil diamantes.

— Parece que lhe treinei bem minha cara. - Disse ele a segurando respeitosamente pelos ombros. - contudo, preciso que me diga se houve alguma alteração no futuro sombrio que nos aguarda.

Ela suspirou.

— Não houve alteração alguma.

***

Joseph observava o movimento intenso de tropas e pessoas na base de operações.

Assentado abaixo de uma árvore tentava colocar os pensamentos em ordem, a brisa fraca do final da Tarde soprava em seus cabelos cinzentos, ele então passou a mão nas mechas e percebeu o quanto havia mudado, já não era mais o “gringo” que flertava com a garçonete de seu antigo emprego, agora ele pensava se estariam todos bem.

Ouvira em rodas de conversa dos soldados, em suas andanças pela base, sobre o plano de criarem Cidade-fortalezas para abrigarem os civis de forma segura, aquela noticia o confortava de alguma forma, uma centelha de luz onde tudo parecia trevas.

— Passei na ala médica mais cedo, me disseram que Inoue está reagindo bem ao tratamento, logo estará nova em folha.

Os cabelos vermelhos de Zafkiel balançaram enquanto uma brisa forte soprou.

— Graças a Deus.

Respondeu Joseph com um sorriso genérico.

— Não sei se alguém te perguntou mas. - Ele colocou a mão no ombro de Joseph. - Como está sendo Para você?

A pergunta do jovem arcanjo o pegou de surpresa.

— Como está sendo… O que?

Indagou ele de forma confusa.

Zafkiel sorriu enquanto sentava-se ao lado dele.

— Como está sendo pra você carregar o fardo de vencer esta guerra, carregar o peso de tantas vidas, superar a perda de alguém que foi sua única família por tanto tempo, perder-se dentro de si mesmo a ponto de quase não se encontrar?

Joseph ficou surpreso, realmente ninguém havia o questionado a respeito, tudo decorria de forma tão intensa desde o ataque a São Paulo que ele não havia tido tempo para respirar.

— Uma boa pergunta… Sabe…

Ele não sabia como falar, as palavras estavam engasgadas, um nó que parecia cada vez mais apertado em sua garganta.

— Eu estou exausto, estou com medo, raiva… está tudo misturado e eu não consigo por para fora.

Falou ele encaixando a cabeça nos joelhos.

— Sinto que estou afogando e estou estendendo as mãos… Mas ninguém segura elas pra me puxar de volta…

Zafkiel o olhou tristemente, era trabalho dos anjos dar conforto aos humanos, porém é complicado confortar quem não acredita em sua existência.

Mas com Joseph era diferente, não dava para perceber o que ele pensava, afinal, ele estava sempre sozinho.

— Não precisa carregar tudo sozinho John. - Zafkiel surpreendeu Joseph ao estender a mão. - O fardo se torna leve quando aceitamos dividi-lo com os amigos.

Joseph olhou para Zafkiel naquele momento não como ao um anjo, mas sim como um amigo.

Por um instante sentiu a mesma sensação de quando estava com Alex, alguém além de Inoue acabará de notá-lo, reconhecê-lo como um igual.

Ele estendeu a mão de forma relutante, até que ela encontrou a de Zafkiel que a segurou fortemente.

— Sabe, desde que cheguei aqui queria falar com você.

Disse o anjo o abraçando.

— Deus não odeia você Joseph, não pense nisso nunca mais.

O garoto não conseguiu mais se conter, havia muita coisa presa ali.

— Porque tinha que ser eu?

Questionou sendo traído pelas lágrimas.

— A prata mais fina precisa passar pelo fogo para ser purificada Joseph.

Joseph então começou a falar de todas as suas angustias e medos, e juntos ali um anjo e um humano firmaram um laço de amizade que seria forte o suficiente para superar qualquer dor.

***

Gaspar e Aion adentravam ao grande salão.

Era extremamente escuro e úmido, iluminado por tochas, havia uma enorme escadaria por onde eles subiam, rumando ate o topo da mesma onde havia uma espécie de espelho, nele não se viam Reflexos Mas sim, uma névoa espessa.

— Yuki está atrasada.

Rosnou Aion com uma cara de poucos amigos.

— Ela foi encontrar a irmã, deve ter sido bastante divertido ao julgar pelo tamanho daquela explosão.

Retrucou Gaspar rindo.

Aion o fitou ameaçadoramente.

— Ela deve parar de agir dessa forma desleixada.

Gaspar cessou o riso, seus olhos tingiram-se com um rubro ameaçador.

—Espero que não se esqueça do seu lugar no espetáculo caro Aion, ambos temos a ganhar.

—Já chega dessa conversa tediosa.

A voz que vinha do estranho espelho os fez ajoelharem depressa, estremecendo.

— Mestre, perdoe-nos por nossa inconsequência.

Desculpou-se Aion com grande temor.

Aquela estranha presença tinha uma enorme massa de energia espiritual, maior ate que Samael.

Gaspar então levantou-se.

— Mestre, peço sua permissão para relatar os resultados de nossa missão.

O medo na voz de Gaspar era notório, ele não ousava levantar a cabeça e olhar o espelho.

— Prossiga.

Ordenou o Mestre.

— Caim está morto, temos controle do exército mas…

Ele temeu continuar.

— Mas?

Questionou o mestre ameaçadoramente.

— Os arcanjos nos emboscaram, e na confusão que seguiu Samael escapou…

— Seus imbecis! - Exclamou o mestre enfurecido. - Estou rodeado por inúteis!

Aion ergueu-se para falar.

— Samael está ferido meu senhor, será uma questão de tempo até o matarmos.

— Calado seu inseto! - Explodiu a voz em insultos. - Vocês perderam o elemento surpresa, não pensem que será fácil assim matá-lo em uma luta aberta!

Os dois estavam visivelmente apavoradas.

— Quem de vocês matou Caim?

Perguntou o mestre.

Aion respondeu.

— Eu o matei.

O mestre ficou em silêncio por um momento.

—Quero que saia dos holofotes Gaspar. - Começou o estranho ser enquanto era ouvido atentamente.- Samael virá atrás de você Aion, veremos se você de fato merece fazer parte do meu exercito.

Gaspar não gostou muito da ideia.

— Não quero me esconder!

— Não ouse me desafiar! - Esbravejou o mestre fazendo Gaspar encolher. - O grande eclipse

Está próximo e você é essencial para minha libertação. Vai localizar os apóstolos e o Cristal dos anjos antes do eclipse acontecer, não tolerarei nenhuma outra falha!

Gaspar então aceitou as ordens.

— Logo poderemos iniciar a nova gênese, e dessa vez nem mesmo os arcanjos poderão me impedir.