Piscou novamente depois de mais um flash. Suspirou cansada se perguntando quando aquela noite acabaria. Quantos repórteres a entrevistaram até ali? Perdera as contas há uma hora. Ela não era o destaque daquela festa, não era por ela que estavam ali.

Mais um Marra Fone estava sendo lançado naquela noite e a versão de 2019 apresentava grandes inovações como uma projeção 3D para as mensagens, um designer inovador e uma bateria que tinha dias de duração. O aparelho estava na lista de desejos de 9 em cada 10 pessoas no mundo e gostaria muito de dizer que tudo isso era graças ao seu trabalho como Relações Públicas da Marra International, mas sabia que muito daquele sucesso era mérito do nerd a sua frente e sua equipe de desenvolvimento.

Observou-o sorrir para mais um repórter e suspirou quando Anna lhe disse que alguns blogueiros ainda o esperavam por uma entrevista. Conferiu as horas em seu relógio e seus pés latejaram. Estava há três horas em pé acompanhando-o em todos os processos daquele lançamento.

— Miss Parker, I knew you are the major responsible for the success of this release (Srt. Parker, soube que é a grande responsável pelo sucesso deste lançamento). – O repórter lhe dirigiu um sorriso.

— We are all part of a great team (Somos todos parte de uma grande equipe). – Ela respondeu automaticamente com a câmera já direcionada a ela. – Could you turn off the camera? I am just working here, just like you. (Poderia desligar a câmera? Estou apenas a trabalho aqui, assim como você). – O repórter fez o que lhe foi pedido e agradeceu pela entrevista.

Ela entendia a curiosidade quase obsessiva de todos com sua vida pessoal e profissional, como herdeira de grande parte das ações da Marra aquilo era previsível, mas sua vida de adolescente polêmica estava no passado, ela era uma nova Megan. Todavia, muitos ainda a tinham como a garota inconsequente e mimada que tinha conseguido um trabalho na Marra apenas por nepotismo, todos os dias ela tinha que provar aos outros e a si mesma que era competente naquilo que fazia.

Suspirou mais uma vez, observou-o com uma mão no bolso sorrindo para um grupo de investidores a frente enquanto Anna acompanhava mais um repórter, desta vez de um site de tecnologia. O rapaz a sua frente não deveria ter mais do que vinte anos e era mais um fã do que um repórter, fanático pela empresa e pelo seu presidente. Já tinha visto muitos fãs venerarem seu pai ao longo dos anos e agora aquilo acontecia novamente com seu sucessor.

— I don’t believe that you think how the 3D projector could work from War and Monsters (Não acredito que conseguiu pensar em como o projetor 3D poderia funcionar a partir de War and Monsters).— O rapaz sorria para ele. Megan suspirou aliviada por estar sendo ignorada.

— I was playing and it was an insight. (Estava jogando e foi como um insight) – Ele sorria empolgado fazendo gestos com as mãos, explicando algo em que Megan não estava interessada. Olhou no relógio mais uma vez, aquela entrevista estava demorando demais, ainda havia outros repórteres e investidores e deveriam falar com todos. Olhou-o mais uma vez e apontou para o relógio, ele assentiu e se despediu do fã depois de ter tirado uma self.

— Você terá que ser mais rápido da próxima vez, Davi. – Ela disse em português, geralmente só com ele falava naquela língua.

— Não tire a diversão da coisa toda. – Ele se aproximou e ela pode avalia-lo mais detalhadamente. Davi Reis, então presidente da Marra International, em quase nada se parecia com o nerd carioca que vencera o concurso Geração Brasil há cinco anos. Ele estava com um terno exclusivo da Dolce & Gabbana e sapatos de couro italiano, além de um relógio Rolex, mas o cabelo ainda despontava para todos os lados, mais compridos do que ela se lembrava, a gravata não estava ali, o que lhe dava um ar mais despojado típico dos habitantes do Vale do Silício.

— O que lhe disse hoje a tarde? – Ela lhe perguntou levantando uma das sobrancelhas.

— Eu não vou tirar a barba apenas porque você quer. – Ele colocou as mãos nos bolsos enfatizando o você.

— Eu cuido da imagem dessa empresa e hoje você é essa imagem. – Ela se irritava com a atitude que ele sempre destinava a ela, era como se não ouvisse nada do que ela falasse.

— Que seja. - Ele revirou os olhos e como sempre acontecia evitou uma discussão inútil com ela. Ela suspirou pensando que essa era uma atitude típica dele quando não queria confronta-la. - Só me diga que essas entrevistas estão acabando.

— Mal começaram. - Ela bateu no ombro dele como se o confortasse e se posicionou a seu lado. - Sr. Takayama, gerente da Marra no Japão, a esposa não veio pois estava gripada. - Sussurrou no ouvido dele.

— Mr. Takayama - Davi o cumprimentou curvando seu corpo. - I hope your wife is better. (Espero que sua esposa esteja melhor.) - Megan sorriu, se parabenizando internamente por ser tão perfeccionista e não ter deixado o trabalho chato apenas para seus assistentes. Sabia quem eram todos os convidados, o que faziam, do que gostavam e sobre seus entes queridos.

As entrevistas tinham se encerrado, assim como a maior parte dos convidados já tinham ido embora. Megan estava satisfeita com o lançamento e bebia um gole de sua taça de champagne depois de brindar com sua equipe, agradecendo pelo trabalho de todos.

— We are on trend topics. (Estamos nos trend topics.) – John, membro de sua equipe, disse e todos comemoraram.

— Excellent work, guys. (Excelente trabalho, pessoal.) – Megan parabenizou a todos sorrindo.

— You’re dress was also a sucess on internet tonight. (Seu vestido também foi sucesso na internet hoje). – Anna acrescentou olhando o celular.

— You are wonderful. (Você está maravilhosa.) – Uma voz conhecida disse atrás de Megan e ela sentiu uma mão nas suas costas que o tecido transparente do vestido mal cobria. Megan fechou os olhos por um instante se maldizendo mediante o arrepio que sentiu com aquele toque. – The night was great. (A noite foi ótima) – A mão continuava ali enquanto ele falava com sua equipe. – Can you lend me your boss for a moment? (Podem me emprestar sua chefe nesse momento?) – Vendo todos concordarem com a cabeça ela se sentiu conduzida para longe dali, bem consciente da presença de Davi ao seu lado.

— What was it? Do you have a problem? (O que foi isso? Tem algum problema?) – Megan disse se desvencilhando da mão dele ao se colocar a sua frente e cruzando os braços.

— Não, claro que não. – Davi colocou as mãos nos bolsos da calça, encolhendo os ombros e a perscrutando com o olhar. – A noite está perfeita. Todos parecem satisfeitos e isso é mérito seu.

— Gostaria muito que fosse tudo graças a mim. – Ela sorriu tentando ser receptiva. Quando começara a trabalhar na Marra prometera a si mesma que não deixaria o passado atrapalhá-la. – Mas você tem sua parte nesta festa. O produto é seu.

— Podemos dividir o crédito por mais um sucesso de vendas. – Ele sorriu e ambos permaneceram em um silêncio incômodo por diversos segundos.

— Merecemos isso. A Marra merece isso. – Ela tinha que reconhecer que graças ao inicio do trabalho sério e intenso de Davi há três anos a empresa saíra do buraco em que se afundara devido à prisão de seu fundador, Jonas Marra, e aos diversos escândalos que tinha enfrentado ao longo dos anos.

— Nunca pensei que estaria aqui nesse momento. – Ele desviou o olhar ao dizer isso e Megan se perguntou onde exatamente ele se referia ao dizer aqui. Morando no Vale do Silício? Presidente da Marra? – Nunca pensei que trabalharíamos juntos depois de tudo. – Sua pergunta silenciosa foi respondida sem que ela esperasse e ela suspirou impedindo-se de pensar em todas as conjeturas que seu cérebro normalmente fazia como consequência daquela fala.

— Preciso ir ao banheiro. – Ela tentou sair dali o mais rápido possível, evitando-o, deu as costas ao seu interlocutor, mas sentiu uma mão segurar seu braço direito. Olhou-o novamente e pode ver seu olhar magoado. – Já conversamos sobre isso. Você prometeu, Davi. – Ela odiava quando ele os colocava naquela posição.

Davi apenas assentiu, sua mão soltou o braço da loira a sua frente voltando aos bolsos e ela se afastou do presidente da Marra fazendo o pequeno percurso até o banheiro impedindo que seus olhos marejassem. Ela não iria chorar por ele, não novamente.

Não pense nisso. Não pense nisso novamente. Você não tem mais dezenove anos. Não é mais uma inconsequente. Tem inúmeras coisas a perder. Megan repetia como um mantra em sua mente enquanto tentava retocar o batom, mas as mãos tremiam ligeiramente.

Ela desistiu do batom, o recolocou na pequena clutch que carregava e se olhou no espelho. Apesar das mechas ainda loiras e do corpo magro lhe lembrarem a Megan que um dia se apaixonou por Davi Reis, ela já não era a mesma. Ambos mudaram e ela gostava de pensar que tinha sido para melhor.

O cabelo estava preso naquela noite e ela usava um vestido dourado, totalmente bordado, seu colo estava nu, pois o modelo era tomara que caia e a saia era bastante rodada, estilo princesa. A peça tinha sido desenhada especialmente para ela por um estilista que era seu amigo e estava ascendendo no cenário da moda mundial. A única joia que portava era brincos médios combinando com o vestido. O relógio em seu pulso se moldava ao requinte que o vestido exigia. Megan ajeitou uma mecha que se soltava do seu penteado e sentiu falta do anel em seu dedo.

Por poucos minutos pode afastar seus pensamentos em outra direção, mas aquele detalhe a fez pensar novamente em sua vida pessoal que, nos últimos anos, ela tentara afastar da mídia. Abriu novamente a clutch e retirou de lá um anel, o recolocou no dedo anular da mão direita, admirando o diamante.

Aquilo era uma novidade que poucos, até então, sabiam. A fim de não ofuscar o lançamento do Marra Fone para o qual tinha trabalhado incansavelmente nos últimos três meses, supervisionando cada detalhe, ela preferiu esconder o anel de noivado, evitaria perguntas desnecessárias e olhares surpresos, mas ela não poderia fugir disso para sempre.

Suspirou ainda encarando o anel. Não queria que seus pensamentos voltassem a Davi Reis e ao que poderia ter sido. Ela evitava pensar naquilo desde que seus pés se afastaram do solo brasileiro há cinco anos. Encontrara alguém que a fazia feliz e esperava formar uma família com ele nos próximos anos, por isso havia dito sim aquele pedido inesperado, no entanto, agora pensava quão impulsiva havia sido sua decisão.

— Megan, everyone is... (Megan, todos estão...) – Anna entrou pela porta a surpreendendo e a primeira coisa que ela viu foi o anel. – OMG! It is... (Meu Deus! Isso é...) – Ela estava sem palavras, Megan virou-se na direção dela e lhe mostrou a mão direita.

— Yeah, I’m engaged. (Sim, estou noiva) – Ela respondeu a pergunta muda que sua assistente fazia e recebeu um abraço de comemoração em seguida. Sabia que Anna estava feliz por ela.

— It’s one more thing for us to celebrate. (É mais uma coisa para celebrarmos). – Ambas sorriram.

Megan se deixou levar pelo entusiasmo dela e saiu em direção ao salão em busca de uma taça de champagne. É isso que ela tinha que sentir, ela tinha que estar feliz e não nervosa ou receosa pela presença constante de Davi em sua vida. Aquilo era passado.