Leal a seu senhor escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 18
Ryuka e Izanami




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—Yon!! —Gritava Izanami por seu servo.

Como um raio Yon veio ao seu encontro, o Shinki parecia acabar de acordar, suas olheiras denunciavam isso.

—Sim mestra—Disse Yon ajoelhando-se e evitando contato visual com Izanami —O que a senhora deseja?

—Acha um kimono apresentável para nossa convidada? —Disse Izanami mostrando um kimono dourado que ela mesma havia feito.

—Creio que Ryuka irá sem dúvida preferir essas vestes aos trapos que ela veio para o submundo.

—Perfeito!! —Disse a deusa tomando um cálice de sangue— Faz quantos dias que ela está na câmera de regeneração?

—Fez sete dias essa manhã, minha mestra.

—Ótimo, acho que já foi o suficiente para ela conseguir se recompor. Guarde esse presente Yon, por favor.

Ryuka estava em uma sala cheia de Onryo, todas se banhavam em uma água barrenta e haviam aproveitado a presença da semideusa para dar uma forma semelhante a seu rosto sem feições. A única que não desfrutava da água barrenta era Ryuka, que estava nua sobre uma rocha, abraçando seus joelhos e pensando profundamente na vida, para ser sincera, mais na morte que na vida e isso a angustiava.

A semideusa levantou o rosto e se deparou com a Deusa do submundo logo a sua frente, lhe sorrindo, como se sua presença não fosse um incomodo para ela. Yon estava ao seu lado segurando um enorme embrulhe e desviando o olhar de Ryuka, mantendo assim o profissionalismo que sempre tinha.

—Não se preocupe, a culpa de matar um dia some—Disse Izanami.

—Não é isso que sinto culpa—Disse Ryuka cobrindo o rosto com os enormes cabelos brancos.

—Hum.... Então é seu pai.

—Não.

—Hum...Então por que se sente culpada? —Disse a deusa sentando-se ao lado de Ryuka— Você pode me contar?

—Se eu te contar, você me diz por que está sendo tão legal e simpática comigo?

—Hum...Vou considerar...Mas te dou esse presente se me contar o que passa na sua cabecinha.

—Eu me sinto culpada por ser tão ingênua a ponto de não perceber a semelhança minha entre minha mãe e Bishamon, ambos são a mesma pessoa, falam e pensam do mesmo jeito e mesmo assim eu fui estupida o suficiente para não ver isso.

—Ah, então era seu pai o problema.

—nunca duvidei que fosse...Mas o problema sempre foi eu, eu queria ter um motivo para sentir raiva de tudo e todos e acabei escolhendo a pior de todas as alternativas, acabei odiando aquele que mais me amou e cuidou de mim em todos os reinos.

—E você  já disse isso para ele?

—Não tive oportunidade—Falou Ryuka olhando no fundo dos olhos de Izanami—Nem nunca terei, pois por minha culpa agora eu estou destinada a servir a você nesse fim de mundo até sabe lá quando...

—Ora, eu não fiz um kimono tão bonito como este para você ficar presa aqui em casa—Disse Izanami apontando para o embrulhe cuidadosamente preparado por Yon.

—Hã?! Você costurou um kimono.... Para mim?

Ryuka levantou-se e foi até Yon, que fechou os olhos ao ver que ela estava de pé. A semideusa sorriu de forma a segurar uma risada ao ver o ex-shinigami apertar os olhos e desfez os laços cuidadosamente feitos por ele, desembrulhando calmamente o kimono mais bonito que ela já havia visto em toda sua existência.

—Gostou? —Perguntou Izanami vendo a semideusa ficar catatônica perante seu trabalho.

—Por que me daria algo tão bonito para vestir?

—Tenho planos para você Ryuka, filha de Bishamon, protegida de Emi e daqui em diante…. Minha serva.... Ou quase.

—Protegida?! Daquela sacerdotisa?

—Sim, na verdade se não fosse por ela eu não teria te recrutado aqui.

—Torno a perguntar, por quê?

—Ela é minha filha, não é evidente?

—Não... Espera, aquela criança é uma deusa?

—Sim, quer dizer...Quase...Ela se tornará a próxima deusa do fogo em alguns anos, no momento eu a classificaria apenas como...Confusa.

—Kazu-tsuchi é o deus do fogo, seu filho, isso eu até entendo...Mas como ela é sua filha e ainda vai tomar o lugar do seu filho? Que aliás está aqui preso com você.

—Simples, ele não está aqui e Emi nasceu do sangue de Kazu, então tecnicamente ela é minha filha também.

—Tá, isso é estranho e confuso demais para mim. Mas o que eu posso fazer que te interessou tanto minha existência aqui?

—Banhe-se, vista-se e venha comigo, te mostrarei em outro lugar.

Alguns minutos depois Izanami levou Ryuka até o covil de Tennon, uma cratera de mais de 60 metros de profundidade, rodeada de lava pura. Ryuka não entendeu o ato de Izanami, ela sabia como controlar Tennon e isso era uma ameaça para a deusa, então por que ela a havia levado justamente naquela área do Yomi?

—Já testou seus poderes Ryuka?

—Não tive cabeça para planejar fugir novamente desde que voltei, se é o que quer falar Izanami.

—Bom, se não testou, saiba que eles mudaram. Tente controlar a lava dessa jaula.

—Como?!

—Faça o que eu falei, não discuta.

—Eu nuca consegui fazer isso Izanami, que tipo de loucura wc acometeu a deusa do submundo?

—Eu disse para não discutir—Disse Izanami mudando o tom, sendo mais firme ao falar—Faça logo o que eu te pedi, não custa tentar.

Ryuka sentia que aquilo não iria chegar a lugar algum, lava é uma rocha aquecida a temperaturas exorbitantes, ela só conseguia controlar o lodo que em sua maioria era energia densa que ela condensava e manipulava, nada muito complicado. Mas manipular a lava, só um elemental muito antigo poderia fazer isso, era uma das matérias mais difíceis de manipular no mundo. Mesmo prevendo o fracasso Ryuka obedeceu, fechou os olhos e tentou sentir aquele material plasmático ao seu redor, esticou a mão e forçou a mente pensando que aquilo não levaria a nada, ela só estava parada de olhos fechado. Ryuka pensou nisso por alguns segundos e logo em seguida abriu os olhos.

—Viu eu disse que... —Ryuka assustou-se ao ver que uma faixa de lava havia se levantado se mantido em pé, ficando a poucos centímetros da sua mão e estava se mantendo assim —Como isso é possível?

—Emi.

—Como ela fez isso comigo?

—Ela te salvou Ryuka, você era somente uma casca do que um dia foi um ser, então Emi te preencheu com parte do que ela mesma é.

—Ela é lava?

—Sim, seu corpo é lava, sua alma é fogo, assim como Kazu. Por isso a famosa história do nascimento do fogo e minha morte—Izanami riu de forma meiga— Imagine a dificuldade que é pôr no mundo uma criança feita de lava.

—Eu devo muito a essa tal de Emi então.

—E você vai pagar?

—Pagar, como assim?

—Izanagi só concordou em te deixar ser julgada por mim porque eu jurei te dar uma punição feita sob medida para seus atos. E eu te sentencio a trabalhar para mim, servindo a Emi—Inconscientemente Ryuka deixou um ligeiro e tímido sorriso escapar—Já está gostando da ideia?

—Não é bem isso, eu jurava que iria ser torturada, servir a quem me salvou não me parece se quer uma punição.

—Acredite, é sim, ela está entrando na adolescência...Fase difícil...E digamos que o temperamento dela é instável.

—Não é nenhuma penitencia isso.

—Que bom que vê assim. Bishamon está lá para orientá-la e protegê-la, mas nem ele sabe como cuidar dela, já que nunca houve nada igual a ela no mundo até hoje e é aí que você entra, minha querida. Quero que você esteja lá quando ela precisar de um concelho, que brigue com ela quando ela errar.... Seja minha voz como mãe para ela.

—Eu não entendo, mas por que eu?

—Ora, ela te ajudou.... Nada mais justo que você a ajudar também, sem contar que Yon tem mais afazeres e poupa tempo para ele alguém ajudando por aqui.

—Obrigada mestra—Manifestou-se Yon, sorrindo pelo reconhecimento.

—De nada querido, falando nisso, pode tirar essa noite de folga.

—Tem certeza minha senhora? E se Ryuka tentar fugir ou te ferir?

—Não se preocupe, vamos só conversar, ela não está disposta a perder a chance de poder andar livremente pela superfície como você... Certo Ryuka?!

—Oi?! Andar...Livre? - Indagou Ryuka.

—Sim, parcialmente, mas ainda assim é mais liberdade do que você não vê a séculos.

—Certo mestra, vou buscar um pouco mais de sangue na superfície, mas tenho que perguntar mais uma vez, só para ter certeza...Acha mesmo que essa mulher é confiável?

—Nenhuma mulher é realmente confiável Yon...Nem eu —Izanami sorriu maliciosamente— Agora, pode se retirar...Vá beber um pouco de sangue, você merece também.

Yon retirou-se bem a tempo de sair e ir encontrar seu irmão, como havia combinado, mas isso é história para outro capítulo....

—Agora que ele foi embora Ryuka, aceita tomar um chá comigo? Eu mesma preparo.

—Espera, até mesmo eu te pergunto...Como vai confiar em mim...Depois de tudo que eu fiz?

—Hum...Vejamos... —Izanami mexeu em suas mangas, as revirou várias vezes, até que achou uma carta dourada com uma face em branco—Isso é minha garantia.

—E o que é isso exatamente?

—Seu nome, você é uma semideusa, não pode ser nomeada Shinki de maneira tradicional. Mas esse selo de almas é a solução para esse problema.

—Pensei que selos fossem para prender demônios à pedras—Zombou Ryuka.

—Depende.... Esse foi feito para calar insolentes—Disse Izanami sorrindo maliciosamente mais uma vez.


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