Antologia - O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 3
III - A Confidente Indiscreta: Segredos e Embaraços


Notas iniciais do capítulo

E finalmente a terceira one-shot dessa Antologia, dessa vez dedicada à Sakura Lyne que me pediu uma one-shot com a perspectiva da Ino a respeito de Sakura e Sasuke. Espero que goste! ;)

Boa leitura!



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Antologia - O Peregrino

 

III

A Confidente Indiscreta

Segredos e Embaraços

⊱❖⊰

Aquela testuda de uma figa me paga!

Como ela pôde dar um susto desses em mim — e em todos da vila — e então voltar para cá como se nada tivesse acontecido?! Quem ela pensa que é para fazer pouco caso de mim, Ino Yamanaka, e, no processo, também menosprezar os meus direitos (assegurados pelos anos de amizade e rivalidade) de lhe dar uns bons cascudos pela imprudência?!

Foi por isso que, naquela manhã, marchei como um furacão pelos corredores impecavelmente brancos do hospital de Konoha e a surpreendi recontando suas peripécias para as enfermeiras (desocupadas) enquanto também era interrogada acerca do homem “gostoso e misterioso” que retornou com ela há dois dias.

Revirei os olhos teatralmente assim que pisei no recinto e fulminei aquela testuda traidora. Se bem que preciso reconhecer que ela voltou bem diferente do país da Cachoeira. Não consigo pôr em palavras, mas ela estava linda. E radiante.

Ela teve a cara de pau de me olhar com aqueles grandes e ingênuos olhos verdes. E, oh não, mocinha, você não vai me convencer com essa expressão inocente!, decidi-me ao me aproximar tanto de Sakura quanto das enfermeiras fofoqueiras.

— Ino? — Ela piscou para mim aqueles olhos claros e esbugalhados e eu me estapeei mentalmente para resistir ao instinto de abraçar aquela filha da mãe com todas as minhas forças.

Parei diante dela com as mãos na cintura, tentando soar mais intimidante do que realmente aparentava.

— É, é a Ino! — gritei. — A sua melhor amiga desde que você era um pingo de gente que mal batia no meu ombro, sua testuda ingrata! Como ousa se esquecer da minha existência?! Eu deveria te punir da forma mais criativa e cruel em que pudesse pensar só por esse descaso, sabia?!

A filha da mãe teve a audácia de rir da minha indignação.

— Perdão, Ino-porquinha. — E abriu-me um sorriso. — Aconteceu tanta coisa desde que voltei... Primeiro fui sufocada pelos meus pais e pela Tsunade-sama e Shizune-san. Depois, Kakashi-sensei foi praticamente forçado a me ocupar com o preenchimento de relatórios e mais relatórios sobre a missão. Mais tarde, fui praticamente intimada a participar de uma reunião com os cinco Kages e fornecer a eles todos os detalhes da minha missão. Bem, você conhece toda essa burocracia — agitou uma mão num gesto de descaso. — E também... — Aquela testuda teve o disparate de enrubescer e mexer no cabelo para disfarçar o constrangimento ao final.

Eu logo compreendi o que estava havendo ali. Essa testuda definitivamente me paga!

Sem delongas, estendi o braço e agarrei sua mão. Praticamente a arrastei para fora daquele lugar e dos olhos atentos de abutre daquelas fofoqueiras. Sakura não relutou em vir comigo. Ótimo, ganhou alguns pontinhos comigo com essa!

— Ino, onde estamos indo?

— Nós vamos bater um papinho entre melhores amigas agora! E você vai desembuchar tudo ou eu arranco a verdade de você!

Sakura riu com gosto do meu ultimato e eu continuei a rebocá-la para fora daquele hospital.

— Certo. Podemos tomar um chá enquanto conversamos, o que acha? — ela propôs e eu assenti, gostando da ideia. Chá, biscoitos e algumas fofocas. Era disso o que eu precisava naquele momento.

Levei-a para uma das nossas casas de chá favorita e nós nos acomodamos numa mesa mais isolada. Eu precisava de privacidade — e de respostas. E, honestamente, os olhos daquela testuda estavam brilhando tanto quanto os meus. Rá, ela não estava se contendo para me contar as novidades também.

Fizemos nossos pedidos e não demorou muito para que tivéssemos duas xícaras docemente fumegantes diante de nós, além de alguns biscoitos sembei cobertos com chocolate e bolinhos recheados de pasta doce de feijão azuki. Eu sabia como subornar uma informação daquela testuda, e disso eu podia me gabar.

Saboreei o chá de jasmim que eu havia pedido e aproveitei o ensejo para lançar um olhar firme para Sakura, por cima da borda fumegante da xícara de porcelana. Sakura estava ocupada com seu próprio chá de flor de laranjeira, tão alheia à minha curiosidade insaciável que eu poderia sentir pena de minha pobre presa prestes a ser acuada... Mas é claro que eu não sentia nadinha parecido com isso.

— Anda, desembucha — pressionei-a sem reservas e Sakura pousou a xícara no pires com motivos florais com um pequeno baque.

Apoiei meus cotovelos sobre a mesa, entrelaçando meus dedos, e pousei meu queixo neles.

— O que tanto aconteceu no país da Cachoeira? Não me poupe de nenhum detalhe!

Ela adejou os longos cílios negros e colocou um dedo no queixo, pensativa, recapitulando os eventos que certamente saciariam a minha sede por qualquer informaçãozinha escandalosa.

— Bem, como sabe, fiquei em coma por um tempo. E, três dias depois de despertar, Sasuke-kun me encontrou e...

— Não, não! — interrompi-a sem delicadeza alguma, confundindo-a por um momento. — Eu li um dos relatórios, baka! O que eu quero são os detalhes sórdidos, testuda!

Sakura enrubesceu fortemente e desviou o olhar para o chão.

— Não sei do que está falando, porquinha — desconversou e eu a olhei com deboche.

— Não se faça de sonsa! Essa sua fachada de santa não engana ninguém, sua testuda pervertida! Você e o Sasuke-kun ficaram sozinhos por dias num país estrangeiro. É sério que vai insistir nessa de que não aconteceu nada entre vocês dois?! Eu não nasci ontem não!

Sakura recuou com uma expressão fingida de mortificação e eu revirei os olhos.

— N-Não aconteceu nada entre mim e o Sasuke-kun! Por que você acha isso, francamente, sua porquinha enxerida?!

— Porque está praticamente escrito nessa sua testa enorme — disse-lhe ao cruzar os braços e as pernas.

Ela estava começando a negar de novo, decidindo se esconder de mim atrás da borda da sua xícara, quando me ocorreu o que verdadeiramente havia acontecido entre os dois. Sem demora, espalmei ambas as mãos na mesa. Estava chocada com a minha própria conclusão.

— Vocês transaram, não é?! Só pode ser isso!

Sakura engasgou com o chá e suspeito que tenha até queimado os lábios. Bem feito. Ela havia tentado esconder algo tão importante de mim, sua melhor amiga e única rival na vida.

— I-Ino, fala baixo! — suplicou entre uma tossida e outra. Ela realmente achava que ia me convencer com isso?! — E de onde você tirou isso?! — me dirigiu um olhar chocado como se eu houvesse acabado de dizer a besteira do século. Rá!

Bebi mais um gole do meu chá e mordisquei um biscoitinho. Sakura ainda estava com as maçãs do rosto coradas e os olhos grandes tinham as pupilas bem dilatadas. Ela nem estava se dando ao trabalho de negar. Menina esperta.

— Só espero que o Sasuke-kun tenha lhe proporcionado muitos orgasmos. Você merece depois de tudo o que passou por causa dele, testudinha — comentei casualmente como se falasse do tempo e tive o prazer de ver o choque atravessar a expressão dela pela segunda vez.

— I-Ino! — repreendeu-me gaguejante, tão vermelha como um tomate. Sakura ruborizada era uma gracinha, o problema era fazê-la perder a compostura. Bom saber que sua intimidade com Sasuke-kun me renderia esse deleite por muito tempo.

Dei de ombros ao mordiscar outro biscoito doce. Sakura afundou na cadeira, certamente acreditando que eu daria o assunto por encerrado. Heh, bobinha.

— Como ele foi? Vocês fizeram mais vezes, não é? Impossível que não tenham feito mais vezes — comentei no que não passou de um murmúrio para não agravar o constrangimento de Sakura, o que não aconteceu, é claro.

— Ino!

— Eu te contei tudo sobre a minha primeira vez com o Sai, não foi? Você até me deu conselhos de como abordar o assunto com ele e fazê-lo entender que eu queria dar esse passo. Pacto de melhores amigas para toda a vida, se não me engano. Sem segredos. — Simulei um falso ar de mágoa ao final para convencê-la e ela suspirou resignada.

Tanta curiosidade estava me devorando por dentro! E Sakura havia tido a sua primeira vez com aquele que foi o partido mais cobiçado de Konoha por anos. Ora, não tenho vergonha de admitir que até eu mesma já fantasiei com o Sasuke-kun antes de me apaixonar pelo Sai. Mas que mulher lúcida e não cega que viva no território do país do Fogo — ou em outros países, vai saber — já não o fez?! O homem era a própria personificação da tentação e da virilidade. Genes Uchiha ou algo do tipo certamente.

Ela tapou o rosto com as duas mãos, visivelmente constrangida. Isso estava sendo muito divertido. Quase tão divertido quanto foi fazer a Hinata confessar como havia sido a primeira vez dela com o Naruto. Cheguei a pensar que ela desmaiaria na ocasião antes de contar os detalhes mais picantes. E eu só não encurralava a Temari porque queria continuar olhando para o Shikamaru sem imaginá-lo nu e mandando ver. Rá, o clima das missões seria inimaginavelmente estranho e desagradável se eu fizesse isso. Não, Temari definitivamente estava a salvo.

— Foi... perfeito — Sakura cuspiu, finalmente, e eu me inclinei, ávida por mais detalhes. — Foi tudo incrível, Ino! Sasuke-kun foi atencioso e carinhoso de uma forma que eu nem imaginava que ele pudesse ser.

Relaxei os ombros tensos. Estava aliviada. Sasuke-kun podia ter sido a minha paixãozinha na infância e adolescência, mas se ele tivesse sido um ogro com a minha melhor amiga eu arrumaria um jeito de castrá-lo sem dúvidas!

— Aposto que foi você que pulou no pobre Sasuke-kun e o desvirginou no fim das contas, não foi, testudinha? — comentei com malícia e Sakura se retraiu nervosa, confirmando as minhas suspeitas. — Ah, eu sabia que tinha sido isso!

— Não faça soar como se eu o tivesse atacado ou algo do tipo, Shannaro! — reclamou e eu ri do seu bico zangado.

— Certo, certo — concordei com um floreio do pulso e Sakura voltou a se esconder por trás da sua xícara.

Nós terminamos o nosso chá tranquilamente depois disso. E caminhamos pelas ruas sossegadas da vila enquanto conversávamos bobagens.

— E como vão os preparativos para o casamento? — ela me perguntou com um sorriso doce e eu dei de ombros.

— Indo. Sai e eu ainda estamos tentando decidir a melhor data para marcarmos a cerimônia. Eu estava pensando em adiar para o verão, talvez meados de junho ou julho. Ele deu a ideia de ele mesmo desenhar cada um dos convites e me mostrou alguns rascunhos. Ficaram lindos!

— Me parece bom, Ino. Fico muito contente por ouvir isso — concordou com um aceno da cabeça e outro sorriso tão caloroso quanto contagiante, que eu acabei até por espelhar.

Vê-la tão feliz era gratificante. Eu sabia que apesar de tentar esconder de todo mundo que a amava, por não querer que ninguém se preocupasse, ela sentia muita saudade do Sasuke-kun.

Sakura era a única de nós duas que não podia esquecê-lo, a única que não podia seguir em frente porque o amor que ela sentia, eu sabia, era forte demais, intenso demais. Por anos, foi até mesmo doloroso demais amá-lo da maneira como ela o ama. Foi difícil admitir, mas eu também nunca conseguiria me conectar ao Sasuke-kun da forma como ela se conectou com ele. Eu percebi isso no dia em que vi Sasuke-kun se vingar com crueldade daqueles que a haviam machucado e Sakura fazê-lo parar durante o exame Chūnin.

Desde aquele momento eu soube que Sakura e Sasuke-kun estavam destinados um ao outro. Era inevitável que ele, no primeiro momento em que abandonasse seus planos de vingança, correspondesse os sentimentos dela. E eu estava muito contente por ela.

— E então? Como acha que serão as coisas entre você e ele agora? — perguntei e vi a felicidade no rosto dela vacilar por um instante.

— Para ser honesta eu não sei — admitiu num sussurro repleto de inseguranças e eu não gostei nada daquilo. — Tento não pensar muito nisso e deixar que Sasuke-kun dite o ritmo, mas, às vezes, eu me sinto ansiosa e um pouquinho insegura.

Sorri para ela como forma de encorajamento.

— Dê a ele o benefício da dúvida. E... — dei-lhe uma piscadela. — Se ele manifestar a vontade de sair da vila outra vez vá atrás dele.

— Certo, certo, porquinha — ela assentiu e voltou a sorrir radiante.

Já estávamos perto da floricultura da minha mãe — onde eu teria de me despedir dela —, quando me lembrei de não ter lhe perguntando algo muito importante.

— Sakura, me diz uma coisa... — chamei-a e ela voltou para mim aqueles grandes olhos verdes.

— O que foi dessa vez?

Hesitei na rua pavimentada até haver estagnado completamente e Sakura também o fez. Mordi o lábio para reprimir uma risada quando levantei os olhos para fitá-la.

— Sakura, me diz, por favor... O Sasuke-kun... Qual é o tamanho dele?

Ouvi-a arfar, pega de surpresa pela minha pergunta indiscreta.

— Ele é grande, não é? Aposto que ele é grande — pressionei-a, ávida para descobrir, e, como resposta, só consegui obter uma interjeição aguda seguida do meu nome que foi berrado aos quatro ventos num tom de reprimenda.

— INO-PORCA! SHANNARO!

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu me diverti horrores escrevendo essa one-shot. Quem nunca teve uma melhor amiga indiscreta como a Ino?! Daquelas que jogam na cara da sua paixão que você tem sentimentos por ele HAHAHAHA
...
Nos vemos no próximo!



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