Mister D escrita por Bruninha


Capítulo 5
Capítulo 5




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— Onde estamos? - Falei assim que Mister D pediu que eu parasse meu carro na frente de uma casa. Ele havia me mandado mensagem 9 horas da manhã e eu tive que sair de casa antes de tomar café da manhã, então meu humor não era dos melhores.

— Você verá. Não sou namorado de aluguel apenas, também tenho um outro trabalho. - Ele estava incrivelmente de bom humor hoje, o que era estranho. E se vestia diferente, parecia até um bom moço.

— Namorado de aluguel… - Ironizei revirando os olhos, não sei porque ele ainda insistia em se chamar assim, ele não tinha nada a ver com um namorado, era apenas um passatempo para satisfazer o desejo de mulheres solitárias e com raiva da vida. Nossa, ele parecia ser um passatempo para mim, mulher solitária com raiva da vida, mas além disso, eu também era sensata e decente, então não, ele não era pra mim.

Descemos do carro e ele logo tocou a campainha, esperamos alguns segundos até que uma idosa abriu a porta para atendê-lo, no inicio pensei “não é possível que esse idiota me trouxe para conhecer sua mãe”, mas depois de algum tempo percebi que ele não a chamava de mãe e nem ela de filho, ela o chamava de Dante, e ele tinha uma forma cuidadosa de falar com ela, cuidadosa e educada, a chamava de senhora Lilian, e algumas vezes de doce Liliam. Ela era uma senhora muito doce mesmo, assim que me viu esboçou um sorriso e perguntou se ele havia trago a namorada, ele sorriu e nego, dizendo que eu era apenas uma amiga, nem amiga eu era.

— O que é isso? - Perguntei a ele assim que a senhora foi ao banheiro. - Quem é ela e por que estamos aqui?

— Eu cuido dessa doce senhora. - Ele sorriu alegremente. - Ela confia em mim e não sabe com o que trabalho, e nem deve saber, ela é adorável.

— Nossa… como pode cuidar de idosos e ser um garoto de programa? Não tem nada a ver.

— Fale baixo… - Ele falou com raiva, parecia se importar com a opinião da senhora. - Você não sabe de nada.

— Ela te paga mais do que suas noitadas?

— Não, não tenho coragem de cobrar muito dela. Cobro 150 apenas, só porque preciso, se não cuidaria dela de graça. Eu gosto de estar aqui.

— Meu Deus… você tem um coração.

Ele jogou uma almofada em mim naquele momento e riu, nunca o tinha visto rir de algo que eu havia falado, em seguida comecei a rir junto com ele, até a senhora Liliam voltar do banheiro, ela havia demorado um pouco até, talvez pela sua idade avançada.

Passei a tarde com eles, almoçamos, o Mister D havia pedido quentinha para todos nós. Pra ela ele pediu uma sopa e a ajudou a comer, logo depois ele a ajudou a subir as escadas até seu quarto, ela queria descansar um pouco e ia tirar um cochilo. Subi junto com eles e analisei as ações dele, primeiro deitando a senhora cuidadosamente na cama e depois puxando o cobertor até o pescoço dela. Por fim, ele perguntou se ela queria que desligasse o ventilador e acendeu o abajur, apagando a luz em seguida, aquela atitude dele me surpreendeu, não esperava que ele pudesse ter uma bondade, achei que ele fosse apenas um homem que dorme com as mulheres em troco de dinheiro. Ele era isso ainda isso, e também era alguém que pensava mal sobre pessoas com condições, ainda era alguém que só se interessava pelo dinheiro, mas agora eu sabia que ele tinha algo mais.

— Dante.

— O que?

— Meu nome é Dante. - Ele me olhou de um jeito diferente, seu olhar parecia calmo. - Tenho 24 anos.

— Eu tenho 21.

Ele sorriu, agora eu estava começando a socializar com ele. Comecei a pensar, já que eu ia fazer uma história sobre ele preciso aprender a socializar mais com ele, assim ele pode começar a conversar comigo e se abrir. Já conheci um lado que ninguém esperava que pudesse existir, o lado carinhoso e bom, ele sempre aparentou ser rude, apesar de sorrir, sempre dava a ideia de estar sempre de mal humor, mas nessa manhã não, ele estava visivelmente feliz, gostaria de saber se era assim todas as manhãs com aquela senhora, ou se foi apenas hoje.

— Muito legal o que você faz aqui. Se tem a opção de cuidar de idosos, por que não entrou em um asilo? Trabalhar lá, teria outra escolha, algo melhor que…

— A prostituição? Não me julgue Sasha, você não sabe nada sobre mim.

— Eu quero saber, e escrever sobre você… - Falei enquanto entravamos dentro do carro.

— Tem coisas que ninguém pode saber. E eu não entrei porque não posso… Não posso trabalhar assim, ninguém me aceitaria, apenas em casos particulares, assim em casa.

— Por que não te aceitariam?

— Sou um ex detento. Agressão domiciliar. Bati em alguém e não consegui parar.

Naquele momento eu quase bati com o carro. Ele me deu um esporro e perguntou se eu queria nos matar, mas no momento em que ele disse “ex detento” algo em minha mente começou a temer que ele fosse me matar. Ele havia sido preso, era um criminoso, e estava no meu carro, perto de mim. Agressão domiciliar é sinal de que ele possivelmente bateu em alguém dentro da própria casa. Se ele era capaz de bater em alguém que conhece e que mora com ele, imagina em mim. Meu Deus, ele precisava sair do meu carro, eu precisava parar com essa história, estava indo longe demais, estou arriscando minha vida andando com um garoto de programa, o que eu estava pensando? E a pobre senhora, será que ela sabe que ele já foi preso por agredir alguém?

Mas se eu parasse, será que ele aceitaria? Como reagiria? Ele queria o dinheiro, era seu único interesse, e se ele se irritasse por eu estar saindo fora? Viria atrás de mim e me mataria? Eu não sei o que fazer, não posso terminar com essa história, a única saída seria paga-lo e continuar uma história por mim própria, que com certeza não seria verdadeira, já que não conheço muito esse mundo.

— Vamos parar pra comer algo?

— Estou sem fome. - Respondi seco, só queria deixa-lo no seu bairro o mais rápido possível e ir pra casa.

— Mas eu não, para ali no restaurante da esquina. - Ele engrossou a voz, e eu optei por parar, não queria deixá-lo nervoso, já havia percebido que ele não tinha um temperamento muito bom.

Mas e se ele mudou? Ele disse que já havia sido preso, e agora cuida de uma idosa, e eu vi o jeito como ele se preocupava com ela. Mas mesmo tendo mudado, alguém que perdeu a cabeça uma vez corre sempre o risco de perder a cabeça novamente. Estar perto dele era um risco que eu precisava correr. Se eu morresse pelo menos meu pai veria que eu me arrisquei por algo, que eu fui além do medo para conquistar algo de bom na minha vida.

— Você está calada. - Ele disse assim que o garçom trouxe nosso prato. Ele havia pedido almôndegas com maionese e arroz e feijão, um prato bastante simples, dava pra se ver o porque dele gostar tanto de dinheiro. Eu pedi um fricassê de salmão com arroz apenas, ele sorriu ao me ver fazer o pedido, balançou a cabeça negativamente e murmurou algo como “riquinha”. Eu apenas o lancei um olhar de repudio.

— Eu disse que estava sem fome.

— O que isso tem a ver com falar? Você só fala com fome?

— Não… - Revirei os olhos e fiquei quieta em seguida.

— Me responde… - Ele olhou pra baixo, pela primeira vez na vida parecia inseguro. - Se eu não fosse quem sou, se não… se não fizesse o que eu faço, e se você me conhecesse, você ficaria comigo?

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Ele sempre tão auto confiante, sempre tão convencido, perguntando se eu ficaria com ele. Será que ele também precisava de alguém que o fizesse se sentir incrivelmente lindo? Isso ele já era, não precisa de alguém o dizendo isso, muito menos precisa dessa pergunta se ficaria ou não com ele. Se ele não fosse quem é, com certeza eu ficaria, quem no mundo não? Ele era lindo, se vestia bem, era cheiroso, tinha um sorriso maravilhoso e uma altura excelente. Se ele não fosse garoto de programa, possivelmente ele seria uma boa pessoa cuidando de idosos e também teria um emprego decente no qual eu poderia dizer, eu beijei um administrador de uma empresa, ou até mesmo um faxineiro, seria menos pior do que dizer que eu beijei um garoto de programa. Quantas já beijaram? Pior, quantas pagaram pra beijá-lo? Não seria muito agradável.

— Sim. - Ele sorriu quando eu respondi e logo chamou o garçom, pediu um sorvete pra mim e pra ele. Não sei se era ele que ia pagar aquilo, estava pedindo bastante e provavelmente ia por na minha conta.

— Esse sim significa que se eu enfiasse a mão por baixo da mesa agora e tocasse em você, você não recusaria? - Ele sorriu malicioso. - Só não gema alto, tem gente em volta.

— Você é ridículo. Se você não fosse você eu ficaria sim, mas você sendo quem é, não quero que encoste um dedo em mim.

— Você é brava, eu gosto disso, espero que não termine a história com você de perna aberta.

— Isso nunca acontecerá.

Eu tinha raiva de quando ele falava daquela forma, minha vontade era de segurar seu pescoço e enforcá-lo, mas isso não seria uma boa ideia, pois com toda certeza ele era mais forte do que eu. Mas o jeito com que ele falava, a forma como confiava em si próprio era insuportável, ele achava que qualquer garota no mundo iria para um quarto com ele, talvez estivesse certo, mas o que ele ainda não sabia é que não sou qualquer garoto. Não vou pra um quarto só por ser alguém bonito, eu precisava de algo mais, de um sentimento a mais, coisa que eu não tenho e nunca vou ter por ele.

 


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