Just As Family escrita por Junebug


Capítulo 1
Capítulo Único




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Will não acreditava que aquilo estava acontecendo. Num momento, ele estava sozinho na enfermaria verificando umas caixas de suprimentos. No momento seguinte, o chão começou a tremer como se estivesse havendo um terremoto, de repente, ele já não sentia nada sob os pés. Era como se um alçapão inexistente tivesse se aberto. Enquanto gritava de olhos fechados, se preparou para um impacto contra o chão, que não veio.

Quando abriu os olhos, se viu de pé agora num lugar totalmente diferente, agarrando-se firmemente a rolinhos de atadura.Will estava num jardim escuro com flores de cores reluzentes. Will estava começando a associar o lugar diante de si a uma certahistória da mitologia e outras que tinha ouvido de seu namorado, quando ouviu:

— Filho de Apolo.

Por pouco ele não deu outro grito. A voz grave e profunda pareceu ressoar na espinha de Will ou talvez fosse só o medo mesmo agora que ele já acreditava saber muito bem onde estava.

Ele se virou lentamente e encontrou um homem de vestes negras sentado a uma mesa posta com o que parecia ser a louça para o chá da tarde de um palácio. Havia um serviçal a cada lado do homem. Bem, eles deviam de fato ter sido lacaios de algum palácio uns séculos atrás.

Will engoliu em seco.

— Senhor Hades – ele se admirou que sua voz saísse tão calma.

Mesmo sentado, o homem parecia bem maior que qualquer mortal. Will já tinha visitado o Olimpo junto com outros semideuses num solstício de inverno, mas nenhum dos deuses que vira, mesmo em suas versões de três metros de altura lhe parecera tão imponente e intimidador quanto o senhor dos mortos.

— Venha cá – Hades voltou a falar.

— O senhor me trouxe aqui? – Will perguntou, dando um passo incerto.

— Sim.

Will assentiu muito levemente, vencendo o caminho até a cadeira na outra ponta da mesa.

— Sente-se.

Will fez isso, pensando: “É o pai de Nico. Ele tem criados zumbis e mora num lugar meio sinistro, mas é o pai de Nico. Ele não vai me machucar... Não é?”. Nada na expressão do deus confirmava ou negava essa pergunta, mas suas feições pareciam ser naturalmente assustadoras.

Antes que pudesse evitar, o nervosismo fez Will sorrir. Hades ergueu uma sobrancelha e não disse nada, mas Will se adiantou:

— Me desculpe. É que... Parece que de repente eu entrei no livro da “Alice no País das Maravilhas”... ou ainda, mais precisamente, naquele filme do Tim Burton... Desculpe, eu estou tagarelando, é só que... – Will pigarreou. - Desculpe.

— Pare de se desculpar.

Will se conteve a tempo de evitar pedir desculpas mais uma vez, baixou os olhos e esperou.

— Eu fiquei sabendo sobre... eh... você e Nico.

Will sentiu que começou a suar frio. Estava tentando bravamente manter sua calma habitual, mas engoliu em seco encarando os olhos negros que pareciam avaliá-lo até a alma de um jeito nada agradável... Mas, espere, aquela leve esticada nos cantos da boca do deus... era uma tentativa de sorrir? Will logo começou a preferir que ele não fizesse isso.

— Eu então decidi convidá-lo até aqui, aproveitando que Perséfone está fora. Quero dizer, apesar de minha esposa não poder nos brindar com sua presença.

Will decidiu manter-se calado sobre não ter recebido nenhum convite.

— Eu ouvi falar que pais mortais costumam conversar com os pretendentes dos filhos sobre as vantagens de um futuro enlace e esse tipo de coisa.

Will sentiu as orelhas esquentarem, seguidas pelo seu rosto.

— Eh... Acho que isso é uma coisa de um tempo atrás. – Diante do olhar de Hades, acrescentou: - Mas claro que estou honrado com o convite. É... um prazer finalmente conhecer o pai de Nico. Sabe, ele fala muito do senhor.

— Hum, posso imaginar – Hades replicou com desagrado.

— Não! Não é bem assim...

O deus dos mortos estendeu uma mão calando Will imediatamente. Com um gesto de pouco caso, ele disse:

— É, é sim. Nico pensa que não, mas eu o conheço bem.

Will quase voltou a sorrir pensando em Nico esbravejando diante daquela declaração. Isso o ajudou a recuperar grande parte de uma calma verdadeira. Estava tudo bem, não é? Ele só precisava sobreviver a uma conversa com o Senhor do Mundo Inferior.

— Agora, deixe-me oferecer-lhe mais da minha hospitalidade – Hades fez um gesto para os criados zumbis que se dirigiram a um carrinho de chá. Percebendo os olhos arregalados de Will, acrescentou: - Não se preocupe. Eu sei sobre a questão da comida... Então mandei que conseguissem uma refeição num restaurante mortal...

Um dos criados zumbi aproximou-se de Will carregando solenemente uma caixinha vermelha com um famoso “M” amarelo.

— Mc lanche feliz?

— Nico costuma trazer muito disso para cá, então eu supus que era apropriado.

Will ainda não se sentia muito confortável em comer no Mundo Inferior, especialmente diante de Hades e seus criados em eterna decomposição.

— É seguro – assegurou o deus. - Não confia em mim?

Will se sentia passando por uma espécie de teste. Será que se não fosse aprovado, Hades o proibiria de voltar a ver Nico ou simplesmente arrancaria a alma de Will e enviaria para os campos da punição?

Sem querer descobrir, o garoto tratou de abrir a caixa vermelha e pescar uma batata frita para mordiscar. Estava morna e crocante, mas o ambiente não inspirava muito o apetite.

Seu gesto trouxe a volta do que Will supunha ser o mais próximo de um sorriso que Hades podia lhe oferecer. Hades entrelaçou os dedos muito longos e pálidos diante de si e começou:

— Então, filho de Apolo...

— Will.

— O que disse?

— Pode me chamar de Will – Will lhe ofereceu um sorriso conciliador que costumava funcionar em 70% dos inícios de acesso de raiva de Nico.

Hades estreitou os olhos como se avaliasse a gravidade daquela ousadia.

Will... – o deus experimentou o nome. – Da última vez que Nico esteve aqui, ele estava sempre mencionando seu nome. Ele queria que a missão que eu havia dado a ele nos campos de Asfódelos terminasse para poder voltar para o acampamento porque Will estava esperando. Ele estava sempre pedindo dracmas para mandar mensagens de Íris para Will... Eu estava começando a perder a paciência.

— Hã... desculpe – disse Will, mas não conseguiu esconder muito bem certa satisfação.

— A coisa só não é pior do que quando ele estava obcecado por Percy Jackson porque você não é tão intragável quanto o garoto de Poseidon. Eu vejo você e não tenho vontade de atirá-lo para Cerberus.

— Puxa... obrigado – Will fez uma leve careta.

— É. Mas isso não deixa de ser uma opção caso algo dê errado. Se é que você me entende.

Will queria não estar encarando o deus nesse momento. Tinha a impressão de que a escuridão dos olhos diante de si poderiam absorvê-lo. Por sorte, não precisou tentar dizer nada, pois nesse momento uma voz ecoou pelo jardim:

— PAI!

Will virou o rosto tão rápido que seu pescoço estalou. Ver Nico já o deixava feliz sem aquela sensação de alívio por acreditar que havia menos chance de sofrer uma morte horrível a qualquer momento.

— Nico, achei mesmo que você talvez fosse se juntar a nós – Hades se pronunciou, impassível.

— O que você pensa que está fazendo?

— Ora, eu só estou aqui tendo uma pequena conversa com Will.

Conversa? Isso...

Will sabia que Nico estava pronto para começar uma briga daquelas. Para tentar evitar, esticou a mão para segurar o pulso dele e disse:

— Nico, está tudo bem. Seu pai está sendo muito... amigável.

Nico olhou para ele como se estivesse preocupado que o ar do mundo inferior tivesse afetado sua sanidade.

— Ele estava me dizendo que não tem vontade de me jogar para Cerberus... por enquanto e também me serviu Mc lanhe feliz.

Nico levantou uma sobrancelha.

— Vamos, vamos – Hades falou, impaciente. - Sente-se e coma também.

Novamente um criado zumbi aproximou-se com outra caixinha vermelha tirada do carrinho de chá e depositou diante do novo assento surgido do nada, com uma reverência caprichada para Nico, que disse:

— Obrigado, Gustav – depois voltando-se novamente para Will. – Tem certeza que não quer ir embora agora?

Will queria ir embora, mas também não queria ofender o pai de Nico.

— Podemos... ficar só um pouco.

Nico suspirou e sacudiu levemente os ombros antes de se sentar.

— Então... – Hades voltou a falar. – Podemos falar do futuro... Quais são seus planos? ...Casais mortais fazem planos para o futuro, não é?

Will teve que se esforçar para engolir o pedaço de batata frita que tinha na boca. Ele se voltou para Nico, que estava concentrado em sua caixinha vermelha e não demonstrou nenhuma reação apesar da cor que surgiu em sua bochecha. Sua mensagem muda para Will era clara: “Você pediu por isso”. Will pensou um pouco e disse:

— Hã... Nico e eu pretendemos adotar Bruce, é um dos filhotes da ninhada que a coelha de nossa amiga Lou Ellen teve.

No fim, Will sobreviveu ao primeiro encontro com o pai de Nico, e, com os anos, foi se acostumando aos esporádicos e imprevisíveis “convites” do deus dos mortos para conversar e comer Mc lanche feliz no Mundo Inferior. Até agora Hades não achou necessário usar Cerberus contra o filho de Apolo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
O que você achou?



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