De repente um jato de sangue jorra no piso, ao meu lado, respingando em meu rosto.

O gatilho fora apertado. A bala foi solta. Alguém foi acertado. Por mais que eu seja imortal,  sou capaz de sentir dor, e, neste momento,  não sinto absolutamente nada. 

Um medo percorre meu corpo, ouvi o som da bala, vi sangue, mas se ela não acertou em mim, terá acertado em quem?

Tomo coragem e abro os olhos me deparando com aquela horrível e traumática cena. Meu coração acelera, entro em desespero e, me jogando para o lado, saio debaixo de Luke. O corpo de Anne estava completamente inerte, dos olhos entreabertos escapavam um olhar vazio, do canto de sua boca escorria um filete de sangue que manchava a pele alva, mais branca que o nunca.

Então de modo automático me aproximo do corpo , busco raciocinar sobre tudo o que se passou, ainda estou um pouco tonta  e em meus ouvidos ainda ecoa o estampido agudo e seco; seguro o rosto dela com calma, a pele está fria, ela está morta.

Pouco depois ergo a cabeça tentando segurar as lágrimas imerecidas, então vejo o assassino... Kentin Francis Goodug. Ele ainda segura a arma firmemente,  está quase tão pálido quanto Anne, traz no rosto uns olhos esbugalhados, de medo. Por fim, deixa cair das mãos a pistola cor de prata, como quem busca se afastar da iterrível constatação: Ele a matou...

—O QUE VOCÊ FEZ? - Viro-me na direção dos gritos e é Lizzie correndo, quase tropeçando em seus próprios pés. Ela se joga sobre o corpo de Anne e chora convulsivamente. Aos prantos, exclama: - SEU MONSTRO!!! VOCÊ MATOU A MINHA IRMÃ!!!

A seguir, lentamente, ela se vira em minha direção , o ódio resplandece em todo o seu ser, está ofegante e se joga sobre mim.Suas mãos se firmam em meu pescoço, apertando-o com tanta força que mal posso respirar; rubra de ira, ela grita e chora apertando-o cada vez mais. Busco me livrar de suas mãos, mas não consigo.Todo o ódio que ela sempre sentiu por mim, as decepções, as frustrações, tudo que se acumulou desde que nasci, desde nossa mais tenra infância, sentimentos guardado por anos, irrompem numa fúria insana.

—Lizzie!!! Lizzie largue-a!!!

Ainda tento esboçar alguma reação, mas me parece impossível de tão fraca que estou. Eles tentam tirá-la de cima de mim, todavia ela simplesmente não sai. A minha visão vai se ofuscando cada vez mais e meu rosto está dormente, sinto como se fosse desmaiar, até que algo inusitado acontece. 

Mais um estrondo percorre o salão inteiro, tão alto que mesmo com eu quase desmaiando consigo ouvi-lo claramente, o que será? Outra bala? Outra morte? 

Antes que eu perca a consciência, do nada Lizzie é arrancada de cima de mim e jogada com força para o outro lado do salão batendo na parede. Puxo o ar com força tentando recuperar meus sentidos, olho para os lados tentando entender o que havia acontecido e Lizzie estava a mais de 20 metros de distância de mim, jogada no chão. Nenhum humano seria capaz de fazer isso. Então, como aconteceu?

De repente um urro enorme e alto ecoa por todo o castelo, as paredes chegam a estremecer e as pessoas tapam seus ouvidos, me assusto tanto que acho que se já não estivesse no chão eu com certeza cairia. Olho para o lado e meus olhos simplesmente não conseguem acreditar no que vêm. 

É Fergus, o dragão branco, o animal o qual veio de um dos ovos que meus irmãos me deram de aniversário a 2 meses atrás. Aquele bebê pequenininho, que mal conseguia se movimentar. Ele está gigante, bonito e principalmente, ameaçador. Ele me olha por alguns segundos e então volta a atacar Lizzie. Ele abre sua enorme boca cuspindo fogo em cima dela. 

Fico tão pasma que mal consigo abrir a boca para pedir que ele pare, eu simplesmente não tenho voz. Até que olho para o lado e vejo pelo menos uns 10 arqueiros apontando suas flechas de ferro para ele. O líder manda que eles ataquem. Não penso duas vezes, estico minhas mãos me concentrando e acabo segurando as flechas com minha telecinese. Eles me olham sem entender e então finalmente eu acordo de uma vez.

—FERGUS PARA!! - No mesmo instante ele fecha a boca e se senta no chão apenas observando o povo a sua volta sem entender a gravidade de praticamente ter queimado 50% do corpo de Lizzie. - Guardas levem Luke, Lizzie e Anne para a enfermaria! Pessoal a festa acabou!

Todos saem correndo apavorados, ninguém sabe direito o que está acontecendo, eles só sabem se perguntar o porquê de ter um dragão com mais de 5 metros de altura sentado no meio do salão real.

—Fergus...? É você? - Ele concorda com a cabeça e então se curva fazendo um sinal para que eu suba nele, me aproximo mas antes que eu possa subir ouço os gritos de Arya.

—Tirem a rainha daqui!! - Ouço Arya gritando. Ela corre para socorrer Luke,  então só o que vejo é minha irmã se aproximando e me empurrando salão à fora, me afastando de meu dragão. 

—Lauren, e o Luke? Eu tenho que vê-lo!! -Digo preocupada.

—Ele vai ficar bem, Irina. Agora vem logo, não sabemos se tem mais atiradores por ai!! E mais uma coisa... O QUE É AQUELE DRAGÃO? - Ela fala segurando com força em meu braço e me arrastando pelos corredores do castelo.

—Não interessa o dragão e sim que eu sou imortal, tenho que ser o escudo deste castelo, Lauren!!! Preciso defender meu povo, um rei não recuaria em uma situação como esta; eu, como Khaleesi, também não devo me esconder, e não vou! Eu fiz uma promessa naquela Abadia, e a cumprirei!

Ela finalmente para de andar e resolve me escutar. Lauren me encara impaciente mas tentando compreender o meu lado da história.

—E qual o seu plano, Khaleesi? - Ela pergunta.

—Se esconda com mamãe, vovó, nossas irmãs e irmãos. Protejam-se, eu irei ver se não há mais nada ao redor do castelo, qualquer bala que entre em mim, sairá logo, sem deixar nenhum arranhão. Não precisam se preocupar comigo. Sou a filha da Lua, lembra?
—Você quase morreu sufocada!
—Meu dragão me defendeu e mais uma coisa, se ele não aparecesse, meus poderes fariam algo, tenho certeza.

Ela evita meu olhar e por fim desiste de lutar contra mim expirando todo o ar de seus pulmões junto a angústia.

—Ta! Vá, eu irei buscar nossas irmãs. 
—Ok. Vão para meu quarto. 
—É o lugar menos seguro, Irina. 
—É o único lugar que caso haja algum ataque, vocês terão como sair! - Digo quase em um sussurro e ela acena com a cabeça se retirando.

Me encaminho de volta para a sala dos reis as pressas, andar com esse gigante vestido branco é difícil o que me faz demorar um pouco. Na metade do caminho acabo desistindo e arrancando os saltos. Finalmente chego na sala e vejo Arya parada ao lado da armadura.

—Demorou, hein!!- Ela diz debochada.
—O que faz aqui? Pensei que estaria com Luke!

—Ele vai ficar bem, o tiro não pegou em nenhum lugar importante, agora ande, vá trocar de roupa.

Pego minha armadura para me trocar, mas antes viro-me e pergunto:

—Arya...? Como sabia que eu viria? - Ela fica em silêncio por um tempo então me responde como quem já sabia que eu iria fazer essa pergunta.
—Você nunca foi de obedecer regras!!

Ela ri e então eu saio voltando para trocar de roupa. Tiro aquele enorme vestido de noiva branco e ponho minha armadura preta de 5 kg e não 40. Enquanto corremos pelo castelo eu a conto sobre Fergus e ela ri da história toda. Voltamos para o salão e o tiramos de dentro do castelo levando-o para o jardim. 

—Temos que verificar as redondezas, vai que Lizzie planejou algo a mais. 

—Mas como? Está de noite e o lugar é muito grande!- Digo. Mas antes que Arya pense em uma solução, Fergus faz um som chamando nossa atenção e então ele inclina a cabeça pedindo para que subamos nele. É impressão minha ou esse dragão é mais esperto que nós duas? Arya me olha com um olhar vitorioso e eu faço mesmo. 

Subimos nas costas de Fergus e ele começa a voar. Um nervoso invade meu corpo inteiro e eu me agarro a ele e Arya se agarra a mim, acho que ela acabou de descobrir que tem medo de altura pois a força com a qual ela se segura em mim é tanta que eu acho que estou ficando com falta de ar de novo. Sobrevoamos cada parte do reino, olhando atentamente cada canto e por fim temos certeza de que a área está limpa.