A Filha do Coringa: a Origem escrita por Apenas mais alguém qualquer


Capítulo 15
Crises


Notas iniciais do capítulo

Nossa, gente, desculpa mesmo por ter ficado quase 2 semanas sem postar nada...
É que eu queria adiantar uns capítulos antes de postar e também quase nem tive tempo de escrever... minha vida tá uma loucura nesse fim de ano...
Ah e se conseguir mais tempo essa semana, vou postar outro capítulo até sábado. Então rezem muito!!!
Mas eu estou empolgada, porque comecei escrever uma das melhores partes... então talvez vocês tenham sorte...



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Passei mal durante quase uma semana, os remédios mal me sustentaram. Não sei o que aconteceu para a minha “outra eu” ascender de repente, estava tudo indo tão bem sem o seu tormento. Podia sentir tudo o que já progredira se esvaindo lentamente durante aquela semana infernal.

            Talvez, o fato de nunca ter presenciado tal crise criminal em uma cidade juntamente com a situação que eu e Jason estávamos tentando resolver - já que eu tinha contado a verdade e ele continuava a esconder coisas de mim – e também com a frustrada investigação sobre a minha mãe até agora, tudo foi formando uma bola de neve que ia aumentando de tamanho, à medida que rolava pela montanha. E então essa bola achou um vilarejo e decidiu desmanchar-se lá.

            Os ataques de Gotham continuaram, só que foram diminuindo de intensidade à cada dia que passava, até cessarem quase completamente. E à medida que eles diminuíam, minha “outra eu”também se aquietava, só que eu ainda tinha fortes dores de cabeça, a qual os remédios quase não conseguiam suportar. Passei quase todas as noites em claro, tocando piano para aquietar os nervos. Tentei não olhar mais para a janela, com medo da minha segunda personalidade se manifestar.

            Mas mesmo assim, tive mais algumas crises durante a semana.

            Meus pais faziam o que podiam para me ajudar, até me deram remédios mais fortes, só que não foram muito eficazes. Chamaram uma ex-enfermeira do Asilo Arkham, amiga deles, para tomar conta de mim durante o dia. Ela foi muito gentil comigo, apesar de eu quase ter destruído o meu quarto em minhas crises e provocado alguns hematomas nela quando estava tentando me conter.

            Nesse meio tempo, nem chequei meu celular para ver se havia alguma mensagem de Jason, a minha dor de cabeça constante não me permitia e estava com medo da crise piorar ainda mais caso ele não tivesse enviado alguma mensagem. Minha enfermeira também achou melhor desse jeito.

            Depois de 3 dias seguidos sem os meus ataques o com os ataques da cidade quase que estagnados e controlados. Todos chegaram à conclusão de que o pior já havia passado, apenas restava uma pequena latejação no fundo de minha mente. Essa latejação significava que se eu me cuidasse por mais alguns dias,  estaria em meu estado “normal” novamente. Só precisava me manter longe de sentimentos fortes e que quebrassem o muro, ainda frágil, que estava construindo novamente entre eu e a minha outra personalidade.

            A enfermeira, Melany, passou a me visitar 2 vezes ao dia depois da minha melhora, só para checar se estava tudo bem. Ela me ajudou a limpar e organizar meu quarto, que tinha ficado uma catástrofe. Eu realmente não sabia porque a minha “outra eu” sempre descontava toda a sua raiva destruindo meu quarto.

            Enquanto estávamos arrumando-o, encontrei meu celular que havia perdido em meio à toda aquela bagunça. Paralisei. Será que Jason tinha me mandado alguma mensagem? E será que se eu ler as mensagens terei uma recaída? E se ele estiver preocupado?

            - Cecily? – Melany chamou minha atenção. – O que foi?

            Então eu me virei para ela e mostrei o celular. Ela entendeu imediatamente.

            - Será que eu ligo o celular? – perguntei, receosa.

            - Você está se sentindo estável? – ela chegou mais perto e colocou a mão em meu ombro. Melany encarava os meus olhos, procurando por algum sinal de fraqueza emocional.

            - Não completamente, mas acho que consigo suportar.

            - Então veja – ela assentiu com a cabeça, me encorajando. – Estarei bem aqui se precisar de ajuda.

            Ela se afastou e foi se ocupar em arrumar os livros da estante. Então eu apertei o botão para ligar a tela e a primeira coisa que vi foi a notificação de que haviam 31 mensagens não lidas. Todas do Jason.

            Meu coração bateu em disparada.

            Suspirei, me recuperando da surpresa e tentando controlar minha “outra eu”. Senti o oxigênio que absorvi se alastrar por todo meu corpo, me acalmando. Abri as mensagens.

            Lá vai...

            Li cada uma das mensagens em ordem. A maioria delas não era tão importante assim, era apenas Jason meio desesperado porque eu não o estava respondendo, mas isso fez ele pensar que eu não queria falar mais com ele e coisas piores também.

            As que mais se destacavam eram essas:

            “Cecy, vc esta bem? aconteceu alguma coisa com vc e sua família? vcs estão seguros?”— ele tinha enviado essa mensagem bem no ápice dos ataques à cidade.

            “Cecy, me responda, por favor. sei que esta irritada comigo, mas pode falar se vc esta bem ou nao?”

            “Cecy, ja faz dias que não me responde. eu preciso saber se vc esta bem. me desculpa por ter te abandonado naquela noite, nao era minha intenção. sei que está zangada comigo, mas quando eu tiver tempo vamos conversar. eu prometo.”

            “amanha eu vou dar um jeito de ir à biblioteca durante a manhã, me encontre lá. precisamos conversar. – haviam mais várias mensagens dizendo para nos encontrarmos em algum lugar.

            Entretanto, a última mensagem dele foi a que me fez paralisar e aumentar os batimentos do meu coração:

            “eu nem sei se vc esta lendo minhas mensagens, nao respondeu nenhuma até agora e nao apareceu na biblioteca em nenhum dia. Falei com a Kate e ela disse q nao te vê à uma semana. mas se estiver lendo essa mensagem agora, saiba q eu quero consertar as coisas entre nós. Cecy, eu gosto muito de vc e nao quero perde-la. Nao quero desrespeita-la e invadir sua casa e sua privacidade, vc tem o direito de não querer me ver nunca mais.

 se estiver disposta a me dar uma segunda chance, me mande uma mensagem com data, hora e local e eu irei aparecer de qualquer jeito, eu prometo.

mas se não quiser, saiba q eu te amo e irei guardar os momentos q tivemos juntos em meu coraçao. eu sinto muito mesmo, nao queria que terminasse desse jeito.”

 

“Eu te amo” – ele falou.

Ele me ama.

Faz muito tempo que alguém não diz que me ama.

Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local. Data, hora e local.

            “Amanhã, 4 da tarde e na minha casa.” – enviei.

Eram 3:40 da tarde do dia seguinte. Estava andando de um lado para o outro em meu quarto, já estava quase  formando um buraco pela área que passava. Minhas unhas já estavam todas roídas. Não parava de olhar o relógio em minha estante. Agora eram 3:42 da tarde. Precisava descer para a sala de estar daqui à pouco para abrir a porta para o Jason.

            Ele vinha. Tinha me garantido isso em uma mensagem que enviara em resposta depois da minha.

            “estarei lá”

            Ninguém estava em casa. Melany já tinha feito suas duas visitas diárias, tinha saído da minha casa às 3:30. Era certeza de que não voltaria para fazer uma surpresa, tinha aparecido uma emergência. E mamãe e papai só voltariam às 6:00 da tarde.

            Não tinha contado nada para eles, nem para Melany. Na verdade nada mesmo. Nem do encontro, no qual tirei minha máscara diante dele e Jason simplesmente me abandonou em um beco porque surgiu uma “emergência”. Como que eu ia contar para eles no estado em que fiquei nos últimos dias? Tudo o que eles sabiam era que eu estava evitando-o, porque não estava em condições de lidar com sentimentos.

            Mas agora eu estava. Forte o bastante para agüentar o segredo de Jason.

            Eu acho...

            Toc, toc, toc.

            Dei um pulo, assustada. Olhei para a janela, com quase certeza de que o barulho tinha vindo de lá. Era Jason, em cima do telhado do térreo, batendo na janela.

            A princípio ficamos nos encarando por um tempo, receosos. Mas era um alívio ao mesmo tempo, porque tínhamos passado muito tempo sem nos vermos e sem saber o que tinha acontecido com o outro. Talvez ainda houvesse esperança para nós.

            Jason foi o primeiro a acordar do devaneio, e fez um gesto para que eu abrisse a janela, pois estava trancada do lado de dentro. Pisquei algumas vezes, percebendo o meu devaneio também, e corri para ele.

            Abri a janela e ele entrou no ambiente com um pulo. Nenhum de nós falou nada por alguns segundos. Ele ficou vagueando pelo quarto, admirando-o e eu fiquei constrangida em um canto, encarando o chão.

            - Eu não ganho nem um “oi”? – ele perguntou, finalmente com os olhos em mim.

            - Oi – cumprimentei, cruzando as mãos no peito, tentando me proteger do desconhecido. – Por que subiu o telhado?

            Ele suspirou.

            - Porque eu vi você lá de baixo, andando pra lá e pra cá, nervosa. Então decidi fazer uma surpresa.

            - Bem, não funcionou. Ainda estou nervosa – respondi, secamente.

            Depois de fixarmos os olhares um no outro, temendo pela conversa que estava por vir e esperando quem iria perguntar primeiro, foi Jason que quebrou o silêncio.

            - O que aconteceu? – ele perguntou com ternura.

            - Eu que pergunto o que aconteceu – repliquei.

            Mais silêncio e olhares intensos.

            - Tá bom, eu começo então  - ele cedeu.

            Jason se sentou em uma poltrona e indicou a outra para eu me sentar. Eu não queria ficar muito perto dele, então quando me sentei, tentei afastar meu corpo o máximo dele, me comprimindo contra a poltrona,  como se eu pudesse me enfiar dentro dela. Também abracei os meus joelhos, tentando me esconder dele. Achei estranho esse sentimento de repulsa e estranheza para com Jason, nunca tinha sentido isso com ele antes, na verdade ele antes parecia o meu porto seguro, um local onde eu poderia atracar meu barco sem medo de ser roubada.

            Talvez ele tivesse me magoado mais do que pensei.

            - Surgiu uma emergência na empresa do meu pai – ele começou. – Ela basicamente entrou em colapso por conta de um roubo que um funcionário fez. Esse funcionário era um espião de uma empresa rival, então já pode adivinhar o que se sucedeu... entramos com um processo contra a outra empresa, mas antes de abri-lo precisamos encontrar evidências, o que demorou um pouco e deixou todos da empresa inquietos.

            - E seu pai foi descobrir isso no meio da noite? De madrugada? – perguntei, cética. Eu sabia que ele não estava contando a verdade, por mais que Jason fosse um bom ator.

            - É o horário em que ele é mais produtivo – deu de ombros.

            - Certo. E você ficou sem tempo de fazer absolutamente nada? – eu estava começando a parecer uma policial interrogando um suspeito.

            - Sim, porque meu pai me convocou para ajudar a procurar as evidências e também foi um jeito de aprender a como lidar com esse tipo de situação. Provavelmente eu irei assumir a empresa daqui a um tempo, ele já estava começando a me treinar.

            O engraçado, era que realmente parecia que ele estava dizendo a verdade. Mas eu tinha um pressentimento, de que não podia ser apenas aquilo.

            Tinha mais. Muito mais, que ele estava escondendo.

            - Porque você não ligou, então? Para me contar o que estava acontecendo?

            - Meu pai não proibiu qualquer um de revelar o que tinha acontecido. Afetaria ainda mais a empresa, que já estava em estado vermelho. Se os nossos investidores e patrocinadores descobrissem, a empresa iria à falência.

            Apenas fiquei encarando Jason, desacreditando parcialmente naquela história. E ele percebeu isso. Pude ver em sua alma. Mas o garoto diante de mim não se pronunciou para reforçar que era tudo verdade.

            - Me desculpa, mesmo. Não queria ter te abandonado desse jeito. Eu não podia fazer nada. É a mais pura verdade. Eu não queria envolvê-la nessa encrenca – Jason olhou para o chão, meio envergonhado e constrangido, realmente arrependido do que tinha acontecido.

            Pelo menos seus sentimentos eram sinceros.

            Pude ver em seus olhos toda a dor que estava sentindo, até então. Desse modo, desculpei-o, por mais que sua história não fosse de todo verdade. O que seja que tenha acontecido, o deixou torturado em relação à mim. Mexeu com ele. E isso já era o bastante.

            Jason se encontrava debruçado sobre as pernas, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos se esfregando no rosto. Totalmente torturado, consumido.

            Meu olhar inquisitivo se suavizou. Agora eu estava mais relaxada. Talvez o pior já tivesse passado.

            - E o que aconteceu com você? – Jason enfim perguntou, se recompondo, mas ainda frustrado. – Por que parou de me responder?  Simplesmente sumiu. Pensei que algo tivesse acontecido.

            Suspirei profundamente. E desabafei de uma vez.

            - Porque eu tive uma crise -  eu olhava para todos os lugares, menos para ele.

            Jason ficou imóvel. Eu continuava sem olhar para ele.

            Silêncio.

            Levantei da poltrona em direção à porta de entrada do meu quarto, que estava semi-aberta. Então eu a fechei. A mensagem entalhada na madeira da porta ficou visível.

            “VOCÊ NÃO PODE ME DETER”

            Olhei para Jason e para o chão, diversas vezes. Não sabia onde deixar meu olhar. Dizer que eu estava envergonhada era um eufemismo. Fazia muito tempo que eu não revelava meu maior problema para um amigo. Na verdade, eu só tive um amigo confiável durante minha vida inteira. E eu o tinha perdido.

            Fiquei encostada na parede, tentando – em vão – me fundir à ela. Eu só queria me esconder de Jason. Ele tinha levantado da poltrona e estava caminhando receosamente em direção à porta, os olhos fixos na mensagem que ela tinha deixado.

            Eu não agüentava olhar para as mensagens que ela deixava para mim. Meus olhos doíam e eu tinha sonhos que essas mensagens literalmente “sangravam”. Sangue escorria das letras.

            Jason estava estupefato. Não tinha comentado nada à respeito daquilo, apesar de estar parado à apenas alguns centímetros de mim.

            - Ela costuma destruir coisas ao seu redor – murmurei, encarando o chão. – Já arrumei a maior parte do meu quarto, mas algumas coisas sempre permanecem como uma cicatriz.

            - O que aconteceu? – ele perguntou, ainda olhando para a porta.

            - Foi na noite depois do nosso encontro. Estava com medo dos ataques que estavam por vir, então acabei me fragilizando e fiquei vulnerável à minha “outra eu”. Vi um helicóptero explodir aqui da minha janela... e eu acabei sucumbindo.

            “O primeiro momento é sempre o mais difícil de controlar, pois ela está com força total. Mas meus pais conseguiram me sedar. Acordei no dia seguinte ainda suscetível à ataques, com uma dor de cabeça terrível e vontade de desistir e deixá-la me dominar. Já passei por tantas crises que nem tenho mais vontade de lutar. E os dias seguintes se resumiam em mais dores de cabeça, remédios e crises, que iam diminuindo de frequência, até eu conseguir me controlar completamente” – estava com vontade de chorar.

            Jason pegou uma de minhas mãos e a sua outra mão livre foi em direção ao meu rosto, virá-lo para olhar para ele. Podia ver em seus olhos que estava meio tenso, mas tentando transparecer certa firmeza.

            - É mais sério do que pensei – ele afirmou.

            Ele ia me deixar.

            Neste momento Jason estava segurando meu coração em sua mão. Ele podia esmagá-lo ou guardá-lo no seu peito. Minha vida dependia dele

            - Você não é obrigado à ficar comigo, sabe disso.

            Mais silêncio.

            Eu só precisava ter certeza de uma última coisa antes dele me deixar.

            - Você disse que me amava... na sua última mensagem – fixei meus olhos, cheios de lágrimas esperando para escorrer, nos dele, temendo sua resposta. – É verdade?

            - É sim – então ele sorriu. – Eu te amo, Cecily. Não quero te abandonar, porque eu não agüento vê-la sofrer sozinha desse jeito. Eu também tenho demônios que me atormentam dia e noite, e eu sei como dói carregar todo esse fardo sozinho. Desde o dia que nos conhecemos, me senti mais leve, porque você me livrou de uma parte do fardo em meu coração. Me senti mais feliz. – ele tinha agora, minhas duas mãos nas suas - E eu quero ser esse alguém que vai livrá-la do seu fardo também, não importa o que você fale.

            Uma lágrima escorreu lentamente pela minha bochecha.

            - Você já me livrou – sorri.

            E então nos beijamos.


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Notas finais do capítulo

Pessoas, me contem o que estão achando da fanfic até agora... o que acham dos personagens e etc...
E muito obrigado pelos 50 favoritos!!! XOXO

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