Acordei como quem não tinha dormido nada. Era o dia em que Beatriz iria embora estudar em Londres e eu ficaria sozinho. Okay, talvez não completamente sozinho, mas sem minha melhor amiga e namorada. Desde o dia em que o Peter me deu a noticia, foi como se tudo que tivesse de perfeito em minha vida começasse a desmoronar. Eu iria passar quatro anos longe da garota que eu amava, da garota linda, perfeita, meiga, carinhosa e milhares de outras coisas que ela era. Isso estava acabando comigo, mas não podia ser egoísta o suficiente para pedir que ficasse, não podia simplesmente dizer: "fique comigo". Era o sonho dela, afinal. O pior de tudo é que passar o dia ao lado dela seria impossível, já que eu teria que trabalhar. Levantei da cama procurando meus óculos em cima da cômoda. Fui direto para o banheiro e me encarei no espelho, meu cabelo parecia ter acordado mais desgrenhado que o normal. Tomei um longo banho e fiz minha higiene matinal, em seguida vesti uma roupa e saí do quarto.
Desci as escadas e fui para a cozinha, meu pai estava ajudando minha mãe a preparar o café da manhã enquanto Luana estava sentada à mesa lendo uma das revista de fofoca teen que ela adorava. Ter uma irmã pré adolescente era ver esse tipo de coisa dentro de casa. Luiza estava senta no carpete da sala brincando com uma boneca e um ursinho, ela tinha só três anos e era o primeiro dia dela na escolinha nova. Sentei numa das cadeiras e minha mãe virou-se vindo falar comigo.
Bom dia, filho. - ela disse sorrindo minimamente e deixando um beijo no meu rosto.
Bom dia. - respondi. Na verdade eu tinha certeza que não seria um bom dia, mas minha mãe não tinha culpa de nada então tentei agir naturalmente.
Você vai querer uma carona para o trabalho? Eu vou levar as meninas para o colégio. - Ela me perguntou enquanto colocava o café sobre a mesa. Meu pai ocupou a cabeceira e me olhou com uma cara de que queria dizer alguma coisa mas não sabia como. - Quero, infelizmente eu não posso faltar lá. - respondi e coloquei até na xícara. Eu não tinha fome alguma aquela hora da manhã, quase nunca tinha. Só um café preto era o suficiente. - Lucas, eu não gosto de te ver deste jeito. - minha mãe falou preocupada e eu só suspirei, não tinha como ficar de outro jeito. Eu não conseguia ficar de outro jeito. E nunca fui bom em esconder coisas, principalmente o que sentia. Sempre fui um péssimo mentiroso. Porém arriscar era necessário.
Está tudo bem, mãe. Mesmo. - sorri minimamente para ela e tomei meu café. - Sobre a carona, eu acho que vou deixar pra lá. Preciso passar em um lugar antes. - Eu não precisava passar em lugar nenhum, além da casa da Beatriz que era quase ao lado da minha. - Vou indo. - Falei e levantei da mesa.
|MAIS TARDE|
Faltava cerca de cinco minutos para a aula daquela turma acabar, e a essa hora Beatriz já deveria ter saído de casa e estava a caminho do aeroporto. Ajeitei minha postura e fui conferir um aluno que havia me chamado. Era como se pudesse ouvir cada segundo sendo contado no ponteiro do relógio de parede. Quando finalmente acabou, eu fui até uma colega e pedi para que ela checasse todos os computadores antes de sair. Arrumei rapidamente minhas coisas e saí do prédio. Peguei um ônibus e dentro de mais ou menos trinta minutos cheguei ao aeroporto. Não era tão longe de onde eu estava mas um pequeno trânsito havia se formado no caminho. Corri até a área de embarque e procurei por ela, uma garota morena com 1,60 de altura, olhos claros e longos cabelos ondulados e tudo o que vi foram pessoas. E nenhuma era ela. Meu coração começou a acelerar umas boas batidas enquanto eu ia pedir informações no balcão de cheking.
— Boa noite, você poderia me dizer que horas sai o vôo para Londres?
— Só um instante, senhor.
— Tá. - Assenti e esperei impaciente até que ela me chamasse outra vez.
— Senhor, o voo para Londres saiu faz treze minutos. - Ela disse. Eu ouvi as palavras da mulher e foi como si todo o barulho ao meu redor tivesse cessado e só a voz dela ecoava em minha cabeça. Me afastei do balcão em passos lentos, sem acreditar no que acabara de ouvir. Não era possível. Não podia ser verdade. Ela havia ido embora enquanto eu não estava ali. Ela foi viver a vida dela e eu fiquei para tentar reconstruir a minha, embora a única coisa que eu quisesse fazer agora, fosse chorar.
Cheguei em casa depois de algumas horas, subi as escadas e entrei no meu quarto. A mochila junto com a camisa e os sapatos foram jogados em um canto qualquer e as mãos direto para o computador. Precisava conversar com alguém, mas quem poderia me entender?! Acessei meu tumblr e enviei um mensagem para uma garota que usava um jeito muito comum para interagir ali dentro. " Envie uma pergunta e eu reblogo suas autorias."