Nem parece que finalmente retornei daquele inferno. Graças a Deus me formei e estou de volta em casa, pronto para enfrentar os compromissos e assumir o lugar do meu pai. A casa não mudou muito, só meu quarto é que foi reformado para receber o novo monarca, como repetia sarcasticamente e incansavelmente o meu irmão caçula, Ben, imitando minha mãe! É, ouvir essa palavra realmente não estava sendo muito fácil! A referida expressão pesava toneladas sobre meus ombros.

Minha mãe manteve praticamente todas as minhas coisas pessoais no novo quarto. Olhando para as fotos em cima da mesinha de canto, percebi uma em especial, a dela! Como ela é linda! Como eu a amo! Ainda não a havia encontrado, como será que ela estaria agora? Quando viajei, ela era praticamente uma menina. Lembro que quando noticiaram a minha ida para a França ficamos loucos, eu não queria ir e deixá-la ali, desprotegida, tipo Lancelot e Guinevere, como meus primos nos chamavam jocosamente. O medo de que ela encontrasse outra pessoa e a colocasse no meu lugar, tomou conta de metade dos pesadelos que tive durante todo o período em que estive longe. Ao descobrir que ela estava encontrando Mike com uma certa freqüência, e que eles tinham se tornado confidentes, meu mundo virou de pernas para o ar! Não conseguia aceitar aquilo e isso me deixou revoltado e com medo de voltar para casa e vê-la com ele. No intuito de me tranqüilizar, minha mãe me dizia que ela estava constantemente sozinha, raramente saía e se o fizesse, era sempre acompanhada dos primos. Isso realmente funcionava como um analgésico para a minha dor. Dor da saudade, do desespero da distância física.

Bom melhor descer, minha mãe resolveu reunir toda a família para festejar o meu retorno e com certeza já estariam chegando. Me lembrei que ela também viria e tremi ante a possibilidade de poder tocá-la novamente.

Ao entrar pela sala percebi que todos estavam presentes, só Luiza ainda não havia chegado. Me sentei em meio a meus primos, que se mostraram excitadíssimos com a minha volta, me questionando como havia sido meu período de curso na França. De repente a porta se abriu e ela entrou. Imaginava que ela continuasse bonita, mas nunca daquela maneira! Ela havia colocado um vestido azul leve, que contrastava com sua pele alva. Seus cabelos, de um louro suave, voavam ao sabor do vento que batia de encontro a ela. Ela estava simplesmente maravilhosa, meus sonhos e a minha imaginação não lhe faziam jus.

Ao me avistar, seu sorriso iluminou seu rosto, ela saiu correndo pela sala e se atirou sobre mim, enroscando-se no meu pescoço. “Nossa Eddy, disse ela, que saudades de você!” Não me contendo, abracei-a com força, fazendo com que seu corpo se moldasse ao meu. Fechando meus olhos, respirei fundo, querendo registrar ao máximo na memória aquele perfume delicioso e delicado. De fato, minha escolha havia sido acertada. Ela era minha, de mais ninguém! Meus pais já tinham conversado com meu tio a respeito do nosso casamento. Assim que eu fizer 30 anos, ficaremos noivos. Mas até lá, o noivado se mantém sob sigilo. Nunca entendi muito bem o porquê de nossos pais me exigirem isso, porém eu nunca tive muita liberdade de opinião. Só que isso ia acabar, afinal eu já era um homem formado, pronto a assumir deveres de estado! Aquela palhaçada teria que parar, com certeza!

Ainda bem que acabou a tal da festinha, puxa como estou cansado! Já é uma hora da manhã e ainda não consegui pregar o olho! Só consigo pensar nela e em como ficou bonita e inteligente! Ela conseguiu manter-nos entretidos por todo o tempo em que estivemos juntos esta noite! O ambiente estava leve, aconchegante. Espero não ter demonstrado para ela o quão apaixonado eu estou. Ela não pode saber, não deve! Se desconfiar estou perdido! Percebi no pouco tempo que estivemos juntos hoje, como ela é dominante. Não, ela não pode me dominar, não vou deixar, está decidido! Preciso pensar em um meio de colocá-la no seu lugar, em uma forma de mostrar a ela como é frágil, e fazer com que precise de mim desesperadamente. Ridículo! Mas infelizmente não posso abaixar minha guarda, afinal de contas tenho um nome a zelar. Chatice isso! No fundo eu gostaria de ser um sujeito normal, com uma vida normal. Com isso eu poderia relaxar e demonstrar a ela todo o meu amor! Desposá-la e dar-lhe muito carinho. É claro que poderei fazer tudo isto por ela, mas por enquanto não. O que tenho que fazer no momento é mostrar a ela quem manda, o que vier depois é lucro! Com relação aos outros, bem, acho que terei que trazê-los na rédea curta, sem dar muita moleza para ninguém, deverei me impor em cima de todos, senão nunca irão ter respeito por mim.