"Querido diário...

Acho que ja faz quase uma semana que a prisão caiu. Foi simplesmente horrível. Tudo o que construímos, tudo o eu chamava de lar, foi destruído por aquele homem, o Governador. Ele matou o meu pai. Aquela cena não sai da minha cabeça.

Não sei como estão os outros. Me perdi da Maggie no meio da correria. Eu rezo todos os dias para que ela e Glenn estejam bem. Ainda tenho esperança de que mais pessoas do grupo tenham sobrevivido.

Estou sozinha com Daryl. Ele me ajudou a sair da prisão e está comigo desde então. Nunca pensei que ele seria uma companhia tão boa.

Machuquei meu tornozelo enquanto Daryl me ensinava a caçar, e agora estamos em uma casa funerária que encontramos no meio do nada.

No começo, Daryl e eu tivemos nossas desavenças, porém agora estamos nos acertando. Ele está cuidando muito bem de mim, ele se tornou minha nova família.... Pode ser presunção da minha parte dizer isso, porém acho que me tornei a família dele também.

Daryl tem sido muito mais do que um amigo. Ainda é cedo para afirmar, mas, tem grandes chances de eu estar me apaixonando por ele..."

Beth saiu do quarto em que Daryl estava e ficou um tempo parada perto da porta. Um turbilhão de sensações invadiu o seu peito. Até pouco tempo ela era apenas uma enfermeira sem memória e de uma hora para outra, seu passado veio à tona. Ela estava muito feliz de saber que sua irmã estava viva. Embora não se lembrasse de Maggie, ela se importava com a irmã, e sentia que mais do que nunca Maggie estava precisando dela.

Ela andou pelo corredor e andou em direção ao seu próprio quarto que também ficava na ala da enfermaria. As instalações do Santuário eram bem modestas, já que se localizava em uma fábrica abandonada. O lugar era bem protegido e seguro e pelo que Beth sabia, eles tinham outros postos avançados além da fábrica.

Para a maioria foi fácil se adaptar à nova vida, já para Beth parecia impossível se acostumar com o sistema dos Salvadores. Ela nunca concordou com a “Nova Ordem” que Negan impôs e com a maneira como ele consegue o que quer, usando sempre de violência. Algumas vezes até ela pensou em fugir dali, só que sempre lhe faltava coragem, ou motivação. Ou talvez as duas coisas. No entanto agora que soube que sua irmã está viva, ela ficou mais do que determinada a sair dali. Só ainda não sabia como.

(...)

Logo que Beth acordou ela deu um jeito de ir ver como Daryl estava. Antes de ir até o quarto dele, pegou algumas roupas limpas para ele, pois agora ele não precisaria mais usar aquelas roupas sujas de um prisioneiro. Quando ela entrou no quarto dele viu que ele ainda estava dormindo. Ela sentia pena dele, e sabia que ele tinha passado por muitas coisas nas mãos dos Salvadores. Ela deixou as roupas dele nos pés da cama e aproveitou que ele está descansando para comer algo e logo foi para as suas tarefas na enfermaria.

Começou pela limpeza do lugar, até que ouviu alguém se aproximar. Parou para ver, e quem chegou foi Simon, o braço direito de Negan.

— Oi gracinha! - Falou ele medindo - a de cima a baixo.

— Oi.. - Respondeu ela sem encara-lo.

— Sabe.. Você não faz o tipo do chefe, mas faz totalmente o meu tipo. - Falou ele de um jeito malicioso.

— Você é tão lindinha, ficaria mais ainda na minha cama, a gente podia sair, bater um papinho... Depois quem sabe... - Falou e deixou a frase no ar. Aquela não era a primeira vez que ele a importunava daquele  jeito. 

— Veio aqui só pra isso? - Perguntou ela já impaciente. Sabia que ele não a forçaria a nada, pois isso violava as regras, e Simon era o capanga mais fiel de Negan. Então ele se divertia apenas a assediando com palavras. Ela não era à única a passar por aquilo.

— Não, embora você mereça toda minha atenção, eu vim por que preciso que você conte o estoque de medicamentos. Vai ter oferenda essa semana e quero saber o que falta. – Falou Simon para Beth que apenas concordou com a cabeça.

— A gente se vê então gracinha! Me liga!   - Disse ele rindo e mandou um beijo para ela que apenas revirou o olhos e se direcionou para a sala de medicamento.

 Beth pegou algumas caixas e se sentou no chão para fazer a contagem, quando Sherry se aproximou dela.

— Oi Beth. – Falou Sherry. – Quer ajuda?

— Se quiser me ajudar, preciso fazer a contagem do estoque. – Falou Beth e Sherry se sentou no chão de frente para ela e pegou uma caixa de medicamentos para contar.

— Como está o Daryl? – Sherry perguntou e Beth ficou surpresa por Sherry perguntar isso.

— Você o conhece? – Perguntou Beth tentando parecer imparcial.

— Na verdade sim. Foi ele quem nos ajudou na floresta quando eu e Dwight fugimos. – Falou Sherry de modo casual.

— Ele vai ficar bem. – Respondeu Beth.

Ela se lembrava bem daquela história. Já fazia alguns dias que Beth estava no Santuário. Ela havia se tornado bem próxima de Tina a irmã de Sherry. Tina, era uma garota doente, e precisava de remédios. Negan então a propôs em casamento em troca do tratamento dela. Tina não aceitou. Beth já estava trabalhando na enfermaria, então ajudou Dwight a roubar os medicamentos que precisavam. Depois ele fugiu dali com Sherry e com Tina. No caminho eles se arrependeram e voltaram, só que sem a Tina.  Sherry acabou se casando com Negan, para que Dwight não fosse morto, por sua traição. Como se isso não bastasse, Negan queimou o rosto de Dwight com ferro em brasa. Beth na epoca ficou com medo de ser descoberta também, porém Dwight e Sherry mentiram dizendo que roubaram os medicamentos sozinhos.

Desde então Dwight se tornou um dos homens de confiança do Negan, e Sherry faz parte do harém de esposas dele. Sherry se tornou Melhor amiga de Beth no Santuário, na verdade ela era sua única amiga. E isso era recíproco pois Sherry se sentia muito grata pela ajuda que Beth dera, no roubo dos remédios. Beth sabia da história que um homem havia ajudado Sherry e Dwight na floresta, porém ela nunca que ela iria imaginar que esse homem era o Daryl.

— Sherry, se eu te contar uma coisa, promete que não conta para ninguém? – Falou Beth meio incerta se deveria confidenciar um assunto tão sério a ela, já que ela nunca falou para ninguém dali sobre seu passado.

— Claro Beth! Pode confiar em mim. – Sherry garantiu a olhando e incentivando a falar.

— É que esse é um assunto sério...  É sobre meu passado... – Falou Beth depois de pensar alguns segundos.

— Recuperou sua memória? – Perguntou Sherry segurando a mão da amiga.

Antes de responder Beth se levantou e foi até a porta, para se certificar de que ninguém estava por perto para ouvi-las.

— Eu não recuperei a memória. Foi ela quem me recuperou. – Falou e Sherry não entendeu o que ela queria dizer.

— Como assim? – Perguntou Sherry por fim.

— O Daryl... eu já conhecia ele. Ele fazia parte do meu antigo grupo... me contou que minha irmã está viva. – Falou Beth arrancando um olhar de espanto por parte de Sherry.

— Beth isso é incrível.... Eu nem sabia que você tinha uma irmã. Onde ela está? – Perguntou Sherry.

— Está em Hilltop– Responde Beth e Sherry lhe dá um sorriso animado.

— Isso é maravilhoso, mas e agora? O que você pretende fazer? – Sherry pergunta preocupada com a amiga.

— Vou fugir daqui! – Disse Beth confiante.

— Beth você é louca.... Não dá para fugir daqui! – Falou Sherry, ela sabia disso por experiência própria.

— Eu não sei como mas vou fugir! E vou levar o Daryl comigo! – Disse Beth, fazendo Sherry ficar mais apavorada ainda. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes e realmente não sabia o que dizer para convencer Beth a ficar.

— Sherry eu sei que você tem medo, e eu te entendo, só que para mim não dá mais... eu preciso sair daqui e reencontrar minha irmã! Ela precisa de mim. – Falou Beth e Sherry concordou. Ela não queria perder sua única amiga, mas não seria egoísta, pedindo para que Beth ficasse por ela.

— Como eu posso te ajudar? – Perguntou Sherry.

— Não precisa fazer isso! Não quero te colocar em risco! – Falou Beth balançando a cabeça em negação.

— Eu quero te ajudar! Me diz como! – Falou Sherry decidida. Ela devia isso a Beth, e de certa forma ao Daryl também.

— Eu ainda não tenho um plano. – Disse Beth frustrada. – Mas faz o seguinte, só me mantenha informada, quero saber o máximo que puder.

— Ok, então eu vou ficar atenta e te mantenho informada. – Diz Sherry concordando com a decisão de Beth.

— Obrigado Sherry! – Beth falou abraçando a amiga.

— Não tem que me agradecer! Você é minha amiga! – Disse Sherry e as duas se uniram em um forte abraço.

Terminaram de fazer a contagem e Beth deixou anotado em um inventário os medicamentos que faltavam. Depois foi até a dispensa, preparou um sanduiche e foi para o quarto de Daryl ver como ele estava.

— Bom dia! – Falou ela vendo que ele estava sentado na cama. Estava limpo e tinha trocado de roupa. Agora usava a camiseta branca e a calça de moletom cinza que ela havia deixado mais cedo para ele. Estava muito bonito. Ela o olhou por alguns instantes. Aquilo era tão estranho, ela sabia tanto, e ao mesmo tempo não sabia nada sobre ele. Ela se sentia confusa com relação a Daryl, e ela simplesmente não sabia se era atração ou só curiosidade. Era horrível.

— Achei que não vinha. – Falou ele um tanto mal-humorado. Não aguentava ficar trancado naquele quarto olhando para as paredes.

— Desculpa não ter vindo antes, é que eu tive que fazer a contagem dos remédios. – Falou ela indo até ele e colocou a mão na testa dele para ver se não estava com febre. Para ela aquilo era um procedimento normal, mas para Daryl, cada vez que ela o tocava, sentia como se uma eletricidade percorresse o seu corpo. – Como passou a noite? – Perguntou ela.

— Bem... – Disse ele e ela lhe ofereceu o sanduiche que ele devorou em poucas mordidas. – Não vejo a hora de sairmos desse lugar! – Disse depois limpando a boca com as mãos.

— Eu também. Mas temos que ter paciência! Você vai ter que ficar aqui nesse quarto, eles precisam pensar que você não está bem! – Falou ela e ele concordou.

— Sherry vai nos ajudar! – Falou e ele franziu a testa. Quem diabos era Sherry? Pensou ele.

— Quem é Sherry? – Perguntou ele.

— Você a conhece! Ela me falou que você salvou ela e o Dwight na floresta. – Disse e ele ficou ainda mais confuso.

 - Sherry não é agora a esposa do Negan? Por que quer nos ajudar? – Perguntou ele.

— Ela é uma das esposas... Negan tem um harém de mulheres. Ela só casou com ele para proteger o Dwight. – Disse Beth, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— Você também faz parte desse harém? – Perguntou ele preocupado. Só a hipótese de Beth ser uma mulher daquele Diabo o deixava com raiva.

— Não... eu sou enfermeira. – Disse ela com uma cara de nojo. Ela preferia morrer a ser esposa de Negan. – As mulheres dele não trabalham. - Falou depois.

— Tem certeza que podemos confiar nessa Sherry? – Ele perguntou e ela concordou com a cabeça.

— Sim ela é minha amiga! – Falou depois e ele aceitou. Precisavam mesmo de apoio.

— Já tem alguma ideia em mente? – Daryl perguntou e ela negou com a cabeça.

— Ainda não! Sherry vai me manter informada, de qualquer coisa que possa nos interessar. – Falou e sentou na poltrona perto da cama dele.

— Vou ter que ficar o tempo todo nesse quarto? – Perguntou Daryl desanimado. Ele não via a hora de sair dali. Aquilo era tão claustrofóbico, e para ele que estava acostumado a viver na floresta caçando, era um inferno estar confinado naquele cubículo.

— Infelizmente sim! Pelo menos por dois dias! – Disse Beth e Daryl suspirou e deitou na cama olhando para o teto. Ele começou a repassar em sua mente tudo o que havia se passado com ele nos últimos dias. Mortes, prisão, torturas, o retorno de Beth. Repassou a conversa que teve com ela e lembrou que ela disse que escreveu sobre ele no diário. No momento ele ficou curioso, contudo não deu atenção para aquilo, mas agora que estava com tempo ocioso a curiosidade tomava conta dele.

— O que escreveu sobre mim? – Perguntou por fim e Beth o olhou ficando confusa por alguns segundos. – No seu diário? Ontem você disse que escreveu sobre mim... – Disse ele e logo se arrependeu por perguntar, já que ela ficou vermelha e ele presumiu que coisa boa não era. Talvez ele não estivesse preparado para a resposta, mas de todo modo ele já tinha perguntado.

— Escrevi que você me salvou... depois da prisão.... E sobre a casa funerária... – Disse ela sem encara-lo. “Meu Deus se ele soubesse tudo o que escrevi”, pensou ela envergonhada.  

— Lembro bem daquela casa... – ele falou com uma certa nostalgia. Aqueles foram tempos difíceis, mas a casa funerária era uma lembrança boa que ele guardava com carinho na mente.

— O que aconteceu com você depois? – Ela perguntou curiosa e olhando para ele. Sempre teve curiosidade sobre isso.

— Eu corri a noite inteira atrás do carro que levou você... – Falou ele sentindo um nó na garganta e desviando o olhar do dela. 

— Sinto muito... – disse ela e sentiu o seu coração bater mais forte. Ele procurou por ela a noite inteira! Será que ele sentia algo por mim também? Pensou ela, mas logo afastou aquela ideia. Não se iluda Beth!

— Onde estão as outras pessoas do grupo? – Perguntou mudando o foco da conversa.

— Lembra de algum deles? – Ele perguntou. No fundo ficaria frustrado se ela lembrasse de alguém e dele não.

— Na verdade não. Eu só os conheço pelo que escrevi no meu diário. – Respondeu ela olhando para baixo.

— Bom, nós achamos uma comunidade, Alexandria é o nome. Vivemos lá, e o Rick se tornou o líder do lugar. – Resumiu ele.

— E porque minha irmã está em Hilltop e não em Alexandria? – Perguntou ela intrigada.

— Nossa medica foi morta, e Maggie estava doente. – Ele responde triste.

— Doente? – Perguntou Beth preocupada.

— Não sei o que ela tem. Quando a vi ela não estava bem. Por isso presumo que ela esteja em Hilltop, para ter tratamento. – Respondeu ele verdadeiramente triste pela situação de Maggie.

— Ela precisa de mim! – Falou ela em voz baixa e lagrimas começaram a se acumular em seus olhos. Era tão estranho como ela se compadecia do sofrimento de uma pessoa que ela nem lembrava como era.

Daryl percebeu que ela estava prestes a chorar e se levantou da cama ficando de frente para ela, que se levantou também, fazendo com que eles ficassem cara a cara um com o outro.

— Nós vamos conseguir encontrá-la. – Ele diz e um pouco relutante tocou no ombro dela. Ele não sabia como ela reagiria se ele a abraçasse então manteve uma distância razoável. Para surpresa dele, ela tomou a iniciativa em abraça-lo. Ele ficou tenso por um tempo, mas depois aabraçou também. Lembrou do dia em que Zack morreu, e Beth falou que não chorava mais, e depois o abraçou dizendo que estava cansada de perder pessoas. Aquela era uma situação quase igual.

Beth por sua vez se sentia acolhida no abraço dele, sentia também uma sensação de Deja vu. Mal sabia ela, que não era só sensação.