Vítima. escrita por G I Dallastra


Capítulo 16
E a Vida, Segue?




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Arnaldo havia sido hospitalizado e por uma tremenda sorte, nenhuma veia importante ou artéria havia sido atingida, a bala havia lhe quebrado uma costela, mas ficou alojada lá e desde a chagada ao hospital, Fabrício e Branca não haviam conversado ainda. Fabrício e Carolina ficaram no quarto com Arnaldo a noite toda. Fabrício dormiu na cama de visitantes do quarto e Carolina ficou acordada a noite toda, eles estavam evitando o assunto da maternidade de Fabrício. Pela manhã, Branca entrou no quarto de Arnaldo, sem saber o que filho estava ali e ele havia acabado de acordar.

— pode nos deixar a sós por um instante? - pediu Branca à Carolina.

— não sei – ela olhou para Fabrício – eu posso?

— pode sim meu amor, está tudo bem – ele respondeu.

Então Carolina saiu.

— como ele tem passado, ele está bem?

— sim, meu pai é duro na queda, sempre foi. Ele te aguentou ileso por todos esses anos, não ia ser um tiro que ia derrubá-lo.

— não seja cruel Fabrício, eu sou sua – ela pensou entes de concluir a frase, mas, mesmo assim, o fez – eu sou sua mãe.

— cruel, eu? Vindo de você soa como uma piada dona Branca. - Fabrício tentou não dizer aquilo, mas disse – minha mãe. Tem certeza?

— tenho sim. Eu sou sua mãe porquê eu te criei, teu te eduquei e te sustentei a vida toda meu filho, sim meu filho. Eu te amei desde o início da sua vida e vou te amar até o fim dela.

— você me comprou Branca, eu sou um produto pra você!

— nunca mais fale um absurdo desses meu filho! Pode ter sido de um modo torto, até mesmo opressor, mas eu te amei mesmo antes de você nascer! - uma lágrima escorreu pelo rosto de Branca – sabe, quando a Letícia apareceu lá em casa com você nos braços eu te amei muito e quando você tinha 3 anos ela apareceu novamente me extorquir mais, então ela me falou que você era filho sanguíneo do Arnaldo, o homem que eu mais amei nessa vida. Meu filho, eu tenho um jeito intransigente e posso até ter sufocado vocês durante todos esses anos, mas eu fiz tudo o que fiz por amor. Por amor, a mim mesma admito, mas por amor acima de tudo por você, eu te amo meu filho. É o único amor que eu encho a boca pra dizer eu te amo mais do que a mim mesma. Eu estou disposta a mudar, eu vou ser mais calma e paciente, mas eu te imploro, por tudo o que é mais sagrado nessa vida, pelo amor de mãe, não deixa esse laço sanguíneo idiota acabar com a relação de anos que construímos entre nós, com base na nossa relação de amor entre mãe e filho, o meu amor maternal!

Os dois se abraçaram e choraram, então Fabrício disse.

— você sabe qual é a minha condição para que possamos passar por cima disso não é?

Branca apenas sorriu e abraçou o filho novamente:

— eu aprovo Carolina.

Fabrício pediu que Carolina fosse pegar algumas coisas em sua casa pra que se instalasse com ele em seu apartamento, e ela aceitou, foi até sua casa pegar, ela achou uma ótima ideia mesmo, precisava se afastar daquela mansão por alguns dias mesmo, por mais que Letícia tivesse sido presa, ela precisaria processar um pouco a informação para poder voltar para aquela casa. Seria muito pior viver dentro daquela casa com Fátima tentando ocupar o lugar de sua mãe na casa onde ela havia sido assassinada do que o apartamento onde Laura havia os atacados.

Quando ela chegou, a primeira pessoa que viu na sala foi Fátima, ela estava muito bem-vestida, com um ar tentando ser elegante e foi direto a ela.

— que linda, a sobrevivente. Vem cá Maria de Fátima, me diz uma coisa, o que foi que você fez pra aquele pobre coitado te atacar. Quer dizer, ele te atacou mesmo ou foi tudo parte do plano sua vadiazinha sórdida.

— que modos são esses Carolina, uma menina educada como você – Fátima estava usando um tom baixo de voz – acho que agora que vou me casar com o seu pai e vamos viver juntas, seria bom pra todo mundo que a gente tentasse se dar bem. Fiquei tão feliz em saber que o assassino da Ângela foi preso e…

— você está proibida de falar o nome da minha mãe, sua cadela – interrompeu Carolina - você pode tentar o quanto quiser, mas nunca será uma mulher a altura da minha mãe, você não tem o lastro dela e nunca terá o prestígio que ela teve. Minha mãe era uma visionária enquanto você é uma prostituta. Hoje você está por cima mas você vai cair e no dia que você cair eu estarei lá, pra rir da sua cara, e vou rir alto e eu já tive o prazer de meter a mão na sua cara, prazer esse que se você não sair da minha frente agora eu terei novamente.

Carolina subiu e deixou Fátima falando sozinha. Ela chegou em seu quarto e começou a tirar algumas peças de roupa de seu armário então seu computador emitiu um aviso sonoro que havia recebido um novo e-mail, era de Marcela. O título era “Urgente!”, ela então o abriu. O e-mail trazia a seguinte mensagem:

 

“ Bom dia Carolina,

Recebi um e-mail programado essa manhã, daquele rapaz o tal Carlos que foi morto pela Maria de Fátima. A princípio não sei bola pois achei que tratar-se de uma pegadinha de mau gosto, porém quando vi o conteúdo dele fiquei bastante assustada, por favor, assim que possível compareça à minha casa pra eu te mostrar”

 

E Marcela finalizava o e-mail dando o seu endereço para que Carolina fosse até lá, Carolina ligou para Fabrício avisando que iria se atrasar um pouco e foi para a casa de Marcela.

— oi Carol, posso te chamar assim? - disse Marcela ao receber Carolina.

— claro, o houve?

Marcela levou Carolina até seu escritório e mostrou a ela o e-mail.

 

“olá Marcela,

Se você está recebendo esse e-mail programado é porque alguma coisa aconteceu comigo. Eu acabo de sair de casa para um encontro com a Maria de Fátima para resolvermos alguns negócios que temos em aberto e esse e-mail está programado para ser enviado na segunda-feira, caso você o receba é porque eu não pude vir para casa para cancelar o envio.

O motivo de eu estar lhe enviando este e-mail é para lhe contar a minha história com Maria de Fátima, que começou a anos atrás, antes mesmo de ela matar a própria mãe…

 

O e-mail continha três páginas contando toda a história de Fátima, desde o início do relacionamento dos dois, passando pela explosão da casa que acarretou na morte da mãe de Fátima, ela ter abandonado ele e fugindo com o dinheiro, disse que desde que conheceu Fátima ela só dois tramavam dar um golpe em algum homem rico. Ele termina o e-mail passando o endereço onde ficava a casa de Fátima para que fossem à cidade verificar a veracidade dos fatos pois todo lá comentavam isso.

Carolina não precisava ir até lá verificar nada, pois sabia que Maria de Fátima não era boa gente, ela agradeceu e pediu que Marcela enviasse uma cópia deste e-mail para o e-mail dela e ela foi correndo até o escritório do pai.

Maria de Fátima havia saído pela manhã para fazer compras e ficou horas fora de casa, ela chegou perto do meio dia novamente e notou que foi tratada com estranheza por todos, desde o porteiro aos funcionários de dentro da casa. Quando ela chegou na cozinha, ela pediu que Suzete, a cozinheira fizesse um prato que ela estava disposta a comer então a resposta foi “vá se foder sua piranha assassina, quer comer vá cozinhar, e vá logo lá pra sala que o seu Arnaldo quer falar contigo, sua cadela”, então ela se virou e saiu, deixando Fátima falando sozinha.

— mas essa gente deve estar completamente louca mesmo, eu vou fazer o Arnaldo trocar todo a criadagem desse muquifo! - então ela agora deu-se conta do que ela havia falado – assassina? Do que ela está falando?

Quando ela chegou na sala, estavam em pé Arnaldo e Carolina com duas malas a frente deles.

— oi meu amor, você vai viajar?

— meu amor? - Carolina gargalhou – eu falei que ela ia ser dissimulada até o último instante.

— Maria de Fátima, eu vou ser curto e grosso contigo – disse Arnaldo – eu tenho um e-mail do seu ex-cúmplice que você matou fingindo que ele havia te sequestrado confessando e descrevendo que foi teu cúmplice no incêndio que matou a sua mãe e vou mover céu e terra pra fazer com que a polícia monte um caso e te faça apodrecer na cadeia, na mais imunda das cadeias desse país.

— tivemos também a bondade de mandar a Matilde arrumar as tuas tralhas nessas malinhas pra você desaparecer daqui o mais rápido possível – Disse Carolina. Matilde e os demais empregados assistiam a cena na porta da sala e riam de tudo. Todos ali adoravam Ângela, ela era uma ótima patroa, o revés de Fátima – mas claro que ela arrumou somente o que você trouxe antes de vir para cá, nada comprado depois. Dessa casa você não leva nem o pó do chão no que depender de mim.

— pelo amor de Deus meu amor, que barbaridades são essas? - Maria de Fátima começou a chorar – como é que aquele infeliz te mandou um e-mail se ele está morto? Ele está inventando, quando ele me sequestrou ele disse que ia me destruir se eu não fugisse com ele.

— e-mail com horário programado para sem enviado, uma maravilha da tecnologia moderna, conhece Fátima? - disse Carolina.

— suma da minha casa, sua infeliz. Suma daqui e vá contratar um advogado, sua cadela! - gritou Arnaldo.

— a é, e depois de tanto tempo te aguentando na cama seu velho nojento eu saio daqui sem nada? - ela viu que era inútil tentar mentir nesse momento, afinal Carolina não deixaria o pai acreditar em nada – eu te aturei, te dei os melhores dias da tua vida, te fiz aguentar um casamento frustrado e te dei prazer. Você me deve uma indenização moral seu desgraçado!

Arnaldo ficou descontrolado e partiu para cima de Fátima, dando-lhe uma bofetada na cara, ela caiu sobre o sofá.

— isso velho nojento, me bate, me bate que eu chamo a polícia agora mesmo e te meto na cadeia por agressão, seu velho porco! - Fátima gritou.

— pai não, é isso que ela quer! Além do mais, homem não bate em mulher, pega as tralhas dela que quem vai jogar essa vadia na rua sou eu – disse Carolina afastando o pai de Fátima e pegando-a pelo braço, arrastando ela até o portão da mansão. Quando chegaram lá, Carolina soltou Fátima na calçada e Arnaldo jogou as malas em seus pés.

— pra onde eu vou agora, eu não tenho um centavo, eu larguei toda a minha vida por esse casamento! - Fátima estava com ódio.

— vá pra um prostíbulo que é o lugar de gente igual a você, aposto que será muito bem aceita – rebateu Carolina.

— e você é quem pra falar comigo nesse tom sua dondoca inútil? Eu vou fazer…

Carolina deu-lhe uma bofetada que a fez cair na calçada.

— some daqui, sua piranha, e sugiro a você ir para um prostíbulo mesmo, porque nessa cidade você não arruma mais emprego! - disse Carolina, ela virou-se e ela e Arnaldo saíram de lá. O porteiro veio, educadamente colocou na calçada uma das malas de Maria de Fátima que ainda estava para o lado de dentro da casa e fechou o portão, ignorando completamente a existência de Fátima ali jogada naquela calçada.

Maria de Fátima estava chorando e olhou a sua volta e a única coisa que lhe vinha a cabeça era “pra onde eu vou?” Mas ela tinha uma incrível habilidade de sempre ver o lado bom da situação. Ela levantou-se, secou as lágrimas de seu rosto e começou a andar, ela daria um jeito de ir para outra grande capital casar-se com outro homem rico. Aquilo para ela não havia sido o fim, e sim um recomeço.

 

Um ano se passou desde os acontecimentos, Carolina e Fabrício haviam se casado com a benção de Branca que agora era praticamente uma nova pessoa, havia deixado de ser tão intransigente e Antenor havia dado a ela uma segunda chance e recomeçaram seu casamento e haviam todos os envolvidos ido assistir ao julgamento de Letícia.

Carolina chegou com Fabrício e lá ela encontrou Branca e Arnaldo que já estavam sentados, próximo a eles também estavam Renato e Ricardo, que haviam aberto uma loja de roupas e assumiram seu relacionamento e Marcela que estava cobrindo tudo para a revista Fama, sua nova contratante, que mesmo sendo uma revista de moda, faria uma reportagem sobre o julgamento de Letícia em homenagem à memória de Ângela. Carolina havia largado a carreira de modelo e assumido um cargo editorial na revista, porém ela não era editora-chefe, esse era o cargo de Branca.

Quando o veredito foi dado, 23 anos pelo homicídio de Ângela e a tentativa de homicídio de Marcela e a invasão da casa de Branca, Carolina ficou indignada, ela achava que tudo aquilo era muito pouco, mas naquele momento não tinha mais o que fazer, apenas ficar feliz por ver Letícia ir para a cadeia. Mal sabia Carolina, mas Branca havia movimentado alguns contatos para garantir que Letícia fosse presa na pior cadeia do país, a mais violenta possível.

No primeiro dia que Letícia estava na cadeia, ela apanhou de uma detenta e foi humilhada por uma das carcereiras que cuidava a la onde ela ficava presa e então ela foi conduzida por uma carcereira para a sala visitas, onde estava Branca.

— eu não quero falar com essa vadia, me deixa sair daqui – disse Letícia tentando sair dali, porém a carcereira que havia levado ela até lá empurrou ela para dentro da sala e ficou na porta.

— pelo visto você já conheceu as minhas amigas Letícia – disse Branca, acenando com a cabeça para a carcereira na porta – só vim dar um recadinho bem breve minha querida – ela foi até perto de Letícia e deu-lhe uma bofetada na cara que a jogou sobre a mesa que tinha na sala – sua vida aqui dentro vai ser o pior inferno possível você vai ser mantida viva até o último instante e quando sua soltura for determinada, minha querida, daqui você não sairá viva.

Branca arrumou a mecha de cabelo que estava caída sobre seu rosto. Letícia nem teve coragem para responder, ela sabia que seria pior. Branca havia mudado, mas ainda era uma mulher poderosa e vingativa e Letícia sabia que ter saído viva dessa história toda seria a sua pior desgraça.

Branca havia mudado, mas nem tanto assim.


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