H U M A N A escrita por Tagarela Anônima


Capítulo 3
Preciso Esquecer...




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PARTE 1

SAMANTHA WOODLAND

 

Essa palestra foi menos produtiva e interessante do que e pensei que seria. Renee ficou surpresa quando ouviu minhas perguntas e impaciência com Victor Sullivan. Eu vi mais defeitos no robô do meu próprio pai do que ele, que coloca defeito nas criações dos outros sem avaliar antes. Reclama minha mente. Fui a esta palestra para saber o que realmente eu poderia esperar da tecnologia para a criação de máquinas novas, mas vejo que os cientistas de hoje se deslumbram com a fama e esquecem de estudar um pouco mais.

Não vou negar que o escutar falando das máquinas do meu pai me deixou incomodada, e por mais que eu saiba que Renee ainda vai falar muita coisa no meu ouvido por Victor ser seu ídolo tecnológico eu não me arrependo. Victor precisava ouvir tudo aquilo para baixar o seu ego.

Ao sair da palestra fui para o centro de saúde e Raphael já estava lá me esperando. Entramos e nos sentamos no meio daquela platéia. O Doutor Schnutz é o mais jovem cirurgião geral de todos os Estados Unidos. E não se pode negar que este belo médico tem uma quedinha num buraco negro por Samantha. Meu pensamento grita eufórico ao vê-lo entrar. Ele é um homem muito bonito e muito inteligente. Tive a oportunidade de conhecê-lo em um evento que ele também estava. Além de lindo, é um cavalheiro.

O Doutor Schnutz é médico de pessoas importantes, como por exemplo o atual presidente dos Estados Unidos, Henry Knowles, o presidente mais votado e mais aceito em quase cem anos após o governo de Barack Obama, o primeiro presidente negro do país.

As primeiras palavras ditas por ele, com aquela voz calma e grossa já me fez sentir bem. Precisava ver alguém do convívio de Samantha para poder acalmá-la e trazer Caroline de volta. Aquele Victor Sullivan não me engana. Não era pra eu ter ido assistir aquela palestra, mas agora já passou. Victor Sullivan longe de mim.

Raphael estava maravilhado com o Doutor Schnutz, como sempre. Ele e seu lado me identifico com esse profissional. Acredito que se Raphael soubesse que sou filha de Maison Woodland e que conheço todos estes profissionais ele cairia duro no chão, assim como também penso que nunca mais seriamos amigos por omitir tanto tempo uma coisa dessas.

A palestra foi bem proveitosa e por mais que eu estivesse ali á duas horas sentada, foi muito produtiva para Raphael e eu. Escutamos e aprendemos coisas que nem em cem anos de profissão imaginaria saber manusear um esfigmomanômetro analógico. Os digitais são tão mais práticos e fáceis, e os próprios aparelhos que captam a sistólica e diastólica, marcando no visor digital. Os aparelhos de hoje são completamente seguros e não cometem erros como os primeiros digitais, dando mais credibilidade ao resultado. Agora vejo como era complicado e difícil a saúde de antigamente.

Já percebi que Raphael me olha diferente. Ele me olha com ternura, não de um amigo, mas de um irmão. Sou filha única e considero Renee e Raphael como meus irmãos, os irmãos que sempre sonhei ter, pois dois anos depois que nasci, minha mãe faleceu e me deixou sozinha com meu pai. Ele me criou sozinho, e agora Renee mora conosco. Eu quero um dia formar uma família tão unida quanto eu sou com esses dois, porque união maior que essa não existe.

Durante a palestra percebi que meu celular havia recebido uma mensagem de Renee, mas como meu SetPhone estava no silencioso, ele não tocou. A mensagem foi recebida minutos depois que sai de lá.

 

*Estou indo para casa. A palestra já terminou. Renee.*

 

Depois de mais meia hora, o Doutor Schnutz conclui sua palestra e Raphael e eu saímos do auditório. Como Renee já tinha ido para casa, provavelmente de táxi, eu iria sozinha. Raphael se ofereceu para me levar em casa, no intuito de ver onde era que eu morava, mas como sempre recusei. Fui andando para a saída do MIT, onde iria caminhar até aquela rua de trás deserta e acionar o controle. Eu já estava bem longe dos alunos e quase atravessando os portões, quando senti uma mão segurar meu braço bastante forte.

─ Raphael! ─ Eu grito para dizer que aquele gesto estava me machucando e fico surpresa ao ver que não era Raphael.

─ Senhorita…? ─ Pelo seu tom, ele queria que eu dissesse meu nome.

─ Victor Sullivan?! ─ Falo assustada ao perceber que era ele. ─ Me solte, por favor, isso não são modos de parar ninguém. ─ Eu o repreendo e ele faz o que peço.

─ Me desculpe.

─ Devia ter um pouco mais de educação! ─ Falo o encarando.

─ Eu vim conversar com você sobre…

─ Se veio atrás de mim porque se sentiu ofendido pelo que falei, me desculpe, eu apenas falei o que achava. Pensei que tivesse percebido todos aqueles detalhes. ─ Falo com dureza.

─ Você e sua mania de não deixar ninguém terminar o que vai dizer, não é? ─ Ele fala com ar de nervoso. ─ E não cheguei á abri-lo para avaliar, mas pelo que vejo a senhorita fez diferente, o abriu por completo, o revirou ao avesso para ver tudo. ─ Ele sorri.

─ Não, na verdade consegui um ingresso para os bastidores do lançamento do robô e consegui ver seus compartimentos internos. ─ Menti, claro. Eu fui com meu pai ao lançamento do robô. ─ Na internet também tem, mas preferi conferir com meus próprios olhos. Sou uma estudante, senhor Sullivan, nós somos a base da futura geração.

─ Me desculpe pela arrogância. ─ Ele muda de expressão, ficando mais sério. ─ Acredito que a senhorita deve ser uma das melhores alunas de sua turma de ciência da computação, assim como também deve amar a tecnologia. Só não entendo o porquê de ter saído da palestra daquela maneira. Aposto que a senhorita tinha dúvidas em mais alguma coisa, acredito eu.

─ Na verdade, senhor Sullivan, sou a que mais tiro notas altas da minha turma justamente porque não amo a tecnologia como os outros, mas como estamos em um mundo tecnológico, tenho uma área para estudar e preciso de facilidades tecnológicas para a minha medicina. ─ Falo o contrariando, quando disse que estudo ciência da computação. ─ Costumo chamar o que estudo de biotecnologia, a tecnologia que busca estudar a vida. Se me der licença, preciso ir. Ainda tenho muita coisa para estudar.

Eu simplesmente o dou as costas e vou embora. Ele é muito atrevido!. Grita meu pensamento. Conseguia sentir uma onda de calafrios perseguindo meu corpo enquanto caminhava. Eu sentia que ele estava me olhando ir embora, sem dizer nada.

Por que ele foi atrás de mim?!… Mas se eu ficasse naquela situação constrangedora eu também procuraria a pessoa para perguntar o porquê de tudo aquilo, a pondo na parede, mas ele não fez isso. Ele estava em desvantagem, ele que estava sendo posto contra a parede com argumentos meus de sua própria área. Deixando Victor irritadinho, Caroline? Se acalme, pois está mudando sua personalidade para Samantha, ouviu?!. Realmente, meus pensamentos tem razão.

Eu averiguo a área para ver se estava totalmente vazia e segura. Lanço o controle com o botão acionado e antes mesmo de tocar no chão, o carro já começa a se montar com o campo de ar ligado. Eu entro no veículo rapidamente, deixando os vidros fechados, retirando a peruca e os óculos em seguida e acelerando rumo a minha casa.

 

─ O QUE FEZ COM AQUELE HOMEM, SAMANTHA?! ─ Pergunta Renee, eufórica, já me aguardando no meu quarto, sentada em minha cama. ─ Você simplesmente deixou o homem que não se intimida por nada vermelho e sem palavras, a ponto de não conseguir terminar a palestra. Ele saiu e foi embora pouco depois que você saiu, assim como todos os alunos que estavam lá.

─ Ele foi atrás de mim.

─ Sério?! ─ Ela estava surpresa e eu confirmo com a cabeça. ─ Ele falou o que?

─ Na verdade quem falou foi eu. Ele é um cara sem educação! Puxou meu braço como se eu fosse filha dele! ─ Me deito na cama ao lado dela.

─ Ele fez isso?

─ Fez sim. ─ Afirmo levantando da cama e pondo as mãos na cintura, olhando-a.

─ Mas você sabe que como filha dele ele não te seguraria. Ele nem tem idade pra ser seu pai. ─ Eu ignoro-a andando até o espelho próximo á janela para tirar a roupa de Caroline. ─ Ele te segurou como o príncipe segurou a cinderela para ela não ir embora. Tenho certeza. ─ Ela sorri.

─ Não suportei ao vê-lo me segurando daquela maneira. Aquele cavalo indomável, bruto e ignorante! ─ Falo antes de pegar um lenço umedecido para retirar o batom vermelho.

─ Você fez o que? ─ Ela cruza as pernas e me olha profundamente, me avaliando.

─ Dei as costas e saí de perto dele. Vim embora.

─ Nossa! Victor Sullivan e Samantha Woodland, no mesmo ambiente. Incrível de se ver.

─ Você fala como se eu tivesse algo contra ele. ─ Ignoro-a sem olhar.

─ E não tem?

─ Não acho que seja um motivo. ─ Eu a olho. ─ Não tenho nada contra ele diretamente. Só o acho um aproveitador da fama familiar. Eu não tenho nada a ver com isso. Apenas fui a palestra dele em busca de algo mais, mas ele não me respondeu nada além daquilo que eu já sabia.

─ Por que você não perguntou o que realmente queria saber?

─ Se com um robô ele falhou, o que eu iria pergunta estava fora de cogitação de suas respostas.

Desvio meu olhar dela e me olho no espelho, mas não consigo manter meu olhar fixo á mim. Eu corro os olhos e meu olhar para o quarto procurando algo para mudar de assunto, pois estava sentindo que Renee estava me avaliando e odeio isso. Eu concluo que ela não vai poder saber de nada. Ela poderia contar ao Raphael. Quem sou eu pra falar de Renee?! Ela guardou meu segredo de Samantha e Caroline esse tempo todo!

─ Nada, Renee. Besteiras de Samantha, confusões de Caroline.

Ela não insiste, deitando-se em minha cama. Não quero que ela saiba, não quero que meu pai também saiba, afinal, meu pai não sabe nem que sou médica e tão pouco sabe que tenho um affair com a robótica e tecnologia, tendo que me esconder em uma outra profissão que me dá reconhecimento na mídia, o que será bastante preciso em alguma hora.

Não quero correr o risco do meu pai se oferecer para me ajudar, pois não quero ajuda de ninguém nos meus projetos, quero que eu mesma seja capaz de fazer tudo o que sonho sozinha. Ainda não é a hora de ninguém saber o que eu guardo naquele laboratório secreto. Um laboratório com meus segredos, que ninguém tem acesso ou sequer conhecimento deste lugar. Lugar tão misterioso quanto meus objetivos, cujas experiências se um dia reveladas, a humanidade pensará diferente sobre a vida e conhecerá a biotecnologia do ano 3000, valorizando ainda mais a minha verdadeira área, a minha verdadeira paixão: a medicina.

 

PARTE 2

VICTOR SULLIVAN

 

Respirar. Isto ninguém pode dizer o que acha. Aquela senhorita é muito inteligente com relação á tecnologia, apesar de não gostar de tecnologia. Preciso respirar! Preciso respirar!. Aumento a força do oxigênio do respiradouro, pressionando o botão digital com a seta para cima. Costumo usar este aparelho quando fico nervoso e a crise asmática ataca, ou quando estou com inicio de crise alérgica á perfumes fortes, pois um problema trás o outro e tenho que partir para o respiradouro com medicação bronco dilatadora, já recomendada pelo Doutor Schnutz.

Depois de alguns minutos, desligo a máquina que fica no meu laboratório e vou para meu quarto. Quando chego lá encontro um envelope dourado na mesa de cabeceira ao lado da minha cama. Quando seguro o envelope, escuto o barulho de Nano se aproximando para desligá-lo. Nano é um mini robô, pequenino e inteligente, mais conhecido como menino de recados, ficando ligado apenas quando não estou em casa. Ele é um robozinho que configurei, baseado em um modelo pequeno de robô, o NAO.

 

Convite

Caro Sullivan,

Temos a imensurável honra de convidá-lo para a cerimônia de premiação anual dos artistas de nosso país, por suas atuações em todas as áreas do meio artístico, tendo hoje como ênfase os artistas que protagonizaram em filmes. Um dos filmes homenageados desta noite será o filme SWares, em que a inspiração foi a história de seu pai, o senhor Jeremy Sullivan. Gostaríamos que estivesse presente para receber a homenagem em nome de seu pai e em nome da atual presidência da SWares, pois o senhor está fazendo um bom papel ao prosseguir com a empresa a qual ficamos lisonjeados e agradecidos pela autorização de fazer um trabalho incrível como esse sobre ela.

Agradecimentos,

Tom Watson.

 

Tom Watson… o diretor do filme SWares. Percebo que havia uma mensagem no meu SetGlass. Ele possuía uma pequena luz que fica piscando quando tinha algo que ainda não tinha sido visto. Ele também serve como aparelho para mandar mensagens de vídeo.

─ Victor, meu amigo! Tentei te ligar á algumas horas, mas seu SetPhone estava desligado, então resolvi deixar um recado rápido aqui. Acho que você já deve estar sabendo da premiação de hoje, assim como também acredito que já tenha sido convidado pelo diretor. A noite gostaria que você fosse meu convidado vip depois da premiação. Ganhando a premiação ou não, haverá uma festa aqui em casa e é obrigatório sua presença! ─ Ele gargalha, pois somos muito amigos e ele sabe que irei. ─ Te espero lá, eu e várias outras pessoas, incluindo várias gatas, meu amigo. Até mais.

Não tem como recusar um convite de Harry Knowles! As festas dele são cheias de mulheres bonitas e sempre duram a noite toda. Muito bem organizadas. Diz meu pensamento já marcando presença.

Harry é irmão do presidente dos Estados Unidos e ele interpretou a mim no filme SWares. Ele fez um bom trabalho, tenho que concordar. Ele realmente me imitou muito bem. Somos muito amigos. Estudamos juntos no MIT, mas ele seguiu a carreira artística, pois não se identificou muito com a ciência tecnológica como eu.

─ Estarei lá, meu amigo. Vai ser uma honra poder comemorar a entrega do prêmio á você. O prêmio tão sonhado de melhor ator anual será seu, sem dúvidas. Nos vemos. Até a festa. ─ Deixo uma mensagem no SetGlass para ele, o respondendo.

Ducha quente é o que eu preciso agora. Nunca ninguém me deixou tão nervoso quanto hoje. Aquela nerd não me sai da cabeça. O que ela tem? Fui colocá-la contra a parede, mas quando ela me interrompeu e pediu desculpas ainda me contrariando não tive mais coragem de continuar o que tinha ido fazer ali. Ela consegue analisar meus modos enquanto me olha, com aqueles óculos de nerd e aquele batom vermelho, aonde quer que a encontro. Tanto fora do centro como lá na hora da palestra ela conseguiu me analisar sem cometer erros. O que ela é afinal?. Ela utilizou da percepção física, emotiva e mental. Manipuladora! Isso sim é o que ela é!. Estou irritado, mas ao mesmo tempo admirado com sua capacidade. Vamos lá, Victor. Ela merece aplausos!. Cassoa meu pensamento contra mim.

Quando saio do banheiro, enrolado da cintura para baixo por uma toalha branca, ligo a WallScreen e fecho a cortina do quarto por comando de voz, assim como todas as coisas na casa são comandadas.

Justamente quando a WallScreen se liga, os âncoras jornalísticos do jornal de Massachusetts estavam comentando sobre o evento grandioso que aconteceria esta noite. Eles estavam dando enfoque a presença de Maison Woodland. A filha dele, Samantha Woodland, está concorrendo ao prêmio de melhor atriz anual juntamente com as gêmeas Leah e Hellen Hooks, super conhecidas e famosas por estrearem em filmes valiosíssimos produzidos por Hollywood, e a famosa e querida Lindsay Grifhood, a atriz super carismática que ganha este prêmio á três anos consecutivos.

Não conheço o trabalho de Samantha ainda, mas comparando com o grande trabalho destas atrizes que estão competindo também, ela é uma novata neste meio. Não vou julgar se ela tem capacidade para desbancar Lindsay, a quem conheço não só o trabalho, mas a pessoa que ela é. Já namoramos no tempo de faculdade, mas não combinamos muito. Só saberei para quem torcer quando eu ver o trailer do filme de cada uma. Meu pensamento já tinha sua opinião enquanto ouvia tudo aquilo que os âncoras estavam falando.

Me surpreendo ao ouvir a troca repentina de assunto deles. Não sei como esses jornalistas souberam, mas eles estavam comentando sobre minha presença confirmada ao evento. Perseguição por parte deles, imagino. Ponho uma calça de moletom preta e desligo a WallScreen e as luzes do quarto. Minha cama confortável praticamente me chama para dormir, para melhorar minha aparência depois da crise alérgica, antes da exposição física hoje a noite em frente as câmeras e aos flashes que elas emitem. Esta noite só festa, alegria e muita mulher bonita. Preciso esquecer meus problemas pelo menos uma noite.


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