De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 36
Capítulo 35 "Deixar ir"


Notas iniciais do capítulo

Inicialmente, já queria dizer que vou melhorar nos próximos capítulos, não acho que esse tenha ficado muito bom não, ou talvez eu tenha colocado expectativa demais quando o imaginei na minha cabeça, mas juro que me esforcei.
Espero que gostem!



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Meu coração parecia ter parado de funcionar por alguns segundos, ainda estou o encarando. Ai meu Deus! Parecemos dois idiotas parados na chuva, olhando um para o outro, sem ter ideia do que dizer. 

—Entra no carro. -Duda finalmente falou, analisei atentamente seu tom de voz, mas não sabia o que esperar dele. 

—Não, obrigada. -eu disse, quase sussurrando. Não poderia brigar com ele agora, mal conseguia encará-lo. Quando vou finalmente parar de olhar pra ele com vontade de beijá-lo? 

—Posso te deixar na chuva, se quiser. Mas um carro suspeito pode começar a te seguir a qualquer momento, e então... Bú! -ele argumentou, e de repente meu coração pareceu aquecido de novo. 

É claro que eu já ouvi aquilo antes, é claro que reconheci as falas. O primeiro jogo que fui no ano, estava chovendo, ele foi atrás de mim e me convenceu a deixar ele me dar uma carona, e depois ficou me vigiando até eu entrar em casa. 

—Bú? -perguntei, seguindo o roteiro daquele outro dia que parecia ter sido a um milhão de anos. 

—Sequestro, estrupo, roubo... -ele continuou. Cravei meus olhos nos dele de novo, será que um dia vou conseguir deixar de amá-lo? -Vamos lá, vai?! -ele perguntou novamente, e eu assenti. 

Fechei o guarda-chuva e entrei no carro, ao seu lado. Observei enquanto ele tirava o capuz da cabeça e se virava para mim. 

—Eu ouvi os boatos... -ele disse, sei que está falando sobre as coisas que eu disse as líderes de torcida no almoço, e em tudo mais que elas tinham inventado, a essa altura, toda a escola também sabia.

—Eu não disse nada daquilo, quer dizer, eu disse algumas coisas. Mas não disse nada daquilo! —respondi, tentando me explicar, mas nada parecia um bom esclarecimento. Ele continuou me olhando, soltou um meio sorriso por um segundo, como se tivesse lembrado de algo engraçado, mas depois ficou sério novamente. -E além disso, você disse primeiro! -completei, na defensiva. 

—Certo, faz sentido. -ele admitiu e colocou as mãos no volante, mas não ligou o carro, continuou calado. 

—Duda, por que você... 

—Na verdade, eu vim por outro motivo! -ele me interrompeu de forma ágil, parecia já ter planejado todas as próximas frases na cabeça. -Eu estou ficando com outra garota, como já iria acontecer eventualmente, mas queria lhe dizer antes que você me pegue com alguém e ache desconfortável, algo assim. -ele continuou, parecendo frio e sério. Então foi pra isso que ele me esperou na chuva até eu sair de casa? Pra jogar na minha cara que já me superou? 

—Outra garota ou outras garotas? -perguntei justamente porque sei como Duda era antes de começar a namorar a Janu, sei que ele era o número um no top de "galinhas" do colégio.  

—Isso não é da sua conta! -ele me cortou, abri a boca para responder algo, mas a fechei antes que saísse. Não era mesmo da minha conta, e não havia nada que eu pudesse fazer pra mudar isso, fiquei calada. -A gente estuda na mesma escola, a gente vai se ver na sala de aula, e eu não quero que fique estranho pra você se... 

—Tudo bem! -afirmei o interrompendo, e logo em seguida abri a porta do carro.

—Eu posso te levar, não seja boba. 

—Não precisa, suas namoradas não vão gostar. -respondi, já saindo do carro, molhando todo o meu cabelo e batendo a porta o mais forte que consegui. Antes mesmo de conseguir abrir o guarda-chuva eu já estava andando o mais rápido que podia pra longe dele. 

(...)

Narrado por Viviane

Não chorar! Não chorar! Não chorar! 

Repeti minha única instrução várias e várias vezes. Se eu começasse a chorar no aeroporto provavelmente não conseguiria parar, Samuca iria ficar preocupado e eu iria perder meus últimos minutos com ele. Então, chorar estava fora da programação. 

Mas foi a coisa mais difícil que não fazer quando cheguei na casa dele e vi todas as malas feitas. 

Rafael e Binho surgiram de repente. 

—Isso aqui vai ficar a coisa mais vazia sem ele. -Binho dizia. Meus olhos começaram a marejar. Droga! 

—Mas ele vai voltar em um mês, não é tanto tempo, ele vai conhecer a arena primeiro. É muito ruim da minha parte querer que ele não goste? -Rafa me olhou ao fazer a pergunta, mas eu era tão egoísta quanto ele. 

—Cinderela! -Samuca afirmou assim que surgiu na sala e veio correndo até mim, me dando um beijo. -Olha só, eu só preciso que vocês fiquem vivos por um mês, tudo bem?! Talvez seja um pouco difícil, mas vou precisar que façam isso. -ele brincou, com os braços ao redor do meu pescoço. Ouvir sua voz acalmou um pouco meu coração aflito. 

Dona Rebeca surgiu pela porta da frente, com uma passagem recém impressa em sua mão. 

—Eu até ajudaria seus amigos por um mês, mas vou aproveitar a carona pro aeroporto e voltar pra minha casa!

—Vou sentir falta de cuecas limpas. -Binho diz, o que fez todos rirem, mas ele pareceu realmente chateado por isso. 

—Horário? -Samuca perguntou. O observei atentamente enquanto Binho conferia o relógio para lhe dizer a resposta, ele parecia ansioso e feliz. Segurei firme a mão que ainda estava ao meu redor. Sim, ele também estava com medo. Iria pro outro lado do mundo, é claro que estava! 

—Eu vou na frente! -Rafa afirmou, já pegando as malas do Samuca, só então me dei conta que nem se quer ouvi a resposta de Binho. 

—É claro que vai na frente. Você vai dirigir! -a mãe de Samuca disse, revirando os olhos para Rafa, como se ele fosse um grande imbecil. 

—Não é todo dia que minha mãe me empresta o carro. -Rafa respondeu, se explicando, enquanto Binho tentava pegar a outra mala, mais ela era quase maior que ele, então Dona Rebeca precisou ajudá-lo a levar até o carro. 

Quando todos estão do lado de fora, Samuca finalmente tira os braços ao redor de mim, me olhando frente a frente, entrelaçando nossos dedos. 

—É só um mês! Não posso deixá-la livre por muito tempo, tem muitos peixes grandes no oceano. -ele diz com um sorriso bobo no rosto. Como se fosse provável que eu me interessasse por outra pessoa. 

—Já tenho o maior deles! -respondi, sorrindo também e encostando minha mão no rosto dele. Vou sentir tanta falta daquele rosto. 

—Daqui a trinta dias vamos estar nesse mesmo lugar, Cinderela. -ele falou, tentando me tranquilizar.

—Vai me ligar todos os dias, certo? 

—Dezoito horas em Los Angeles, e vinte duas aqui. -ele respondeu, enquanto beijava minha mão. 

—Ainda não sei como dei tanta sorte de ter te encontrado! -afirmei sendo sincera. 

—Você não sabe? -ele perguntou, sorrindo novamente, com aquela expressão de "imagina eu" que só o Samuca fazia.

—Eu amo você! -afirmei, e em seguida o abracei o mais forte que consegui, fechei os olhos, desejando ficar ali para sempre. 

—Eu amo você! -ele respondeu com tanta convicção que eu tenho certeza que é verdade.

—Eu também amo vocês, mas se não formos agora, Samuca vai perder o avião! -Binho apareceu na porta, estragando todo o clima, e fazendo com que eu finalmente soltasse o Samuca. 

Assim que entramos no carro me arrependi de tê-lo soltado. 

(...)

Aquela coisa de repetir que não choraria, não funcionou. Assim que pisamos o pé no aeroporto, eu já estava com o rosto todo molhado por lágrimas. Rafa bagunçou o cabelo de Samuca, que estava mais arrumado que normalmente, e disse que era bom ele fazer sucesso. Binho ficou quase dez minutos o abraçando, o que atraiu vários olhares na nossa direção. Dona Rebeca e ele ficaram sussurrando pelo que pareceu uma eternidade, mas no fim, ele só revirou os olhos escondido e deu um abraço na mãe. Tirei uma foto dele com a mochila nas costas, cabelo totalmente bagunçado e um sorriso nervoso, e depois disso Samuca só soltou minha mão quando chegou sua vez na fila. 

—Eu amo você! -ele repetiu pela quinta vez no dia, assim que anunciaram seu voo, e em seguida trocamos um daqueles grandes beijos de aeroporto que nos filmes sempre são a parte que faz todo mundo chorar, mas na vida real é o beijo mais triste que já dei na vida. 

Que o mês passe rápido, por favor! pedi em segredo, depois que ele finalmente se afastou. 

—Vai ser difícil sobreviver até lá. -Binho disse, por fim, enquanto colocava a mão no meu ombro. 


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Notas finais do capítulo

quem também acha que vai?
Beijõões! S2



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