De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 17
Capítulo 16 "E se as coisas boas não compensarem às ruins?"


Notas iniciais do capítulo

Fala galera, voltei!
Esse capitulo vai mostrar bastante a evolução da Bia, pra "nova" fase dela, o motivo dela finalmente se entregar e se deixar apaixonar pelo Duda, eu espero que vocês consigam entender e gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703021/chapter/17

—DROGA, DROGA, DROGA! -gritei, sem ao menos me importar com o fato de estar gritando comigo mesma, já que não havia ninguém em casa para ouvir meus lamentos. E era melhor assim, sem pessoas ao meu redor, sem ninguém pra sentir pena de mim.

Mas a campainha tocou assim que eu gritei o primeiro palavrão. Eu poderia apostar que se tratava da Dona Maria, vindo reclamar dos meus surtos, para variar. Mas eu apostaria errado, porque assim que abri a porta me deparei com Vivi, com a típica roupa de líder de torcida, um guarda-chuva amarelo e segurando várias sacolas.

—Tá uma chuva lá fora, parece um dilúvio. -ela disse, mas eu não respondi, apenas deixei a porta aberta para que ela entrasse e voltei ao meu quarto. -Eu trouxe DVD´s de todos os gêneros: terror, drama, romance, aventura, comédia… -ela me seguiu após fechar a porta.

—Não foi a aula? -eu a interrompi enquanto me sentava no fundo da cama.

—Quando eu cheguei na sala de aula e percebi que você não estava lá, eu me lembrei, ai inventei que estava com cólica e vim pra cá. Sempre passamos esses dias assustadores juntas, lembra? -ela explicou, enquanto se sentava ao meu lado, ficamos um tempo caladas, talvez refletindo sobre “esses dias assustadores” e como eles eram difíceis de lidar, então Vivi me abraçou, fazendo com que eu colocasse minha cabeça no seu ombro.

—Eu também havia me esquecido, Cinderela. E você sabe que eu nunca me esqueço, nunca! -contei a ela, respirando fundo, e ela sabia que eu não estava exagerando. Eu definitivamente nunca esquecia do aniversário de morte do meu pai, mas naquele ano eu quase esqueci.

—Isso é bom, não é? -ela perguntou, eu levantei a cabeça e ela me olhou. -Quer dizer, significa alguma coisa?!

—Sim, eu esqueci porque estava ocupada demais com outros pensamentos, com outras pessoas…

—Você quer dizer, o Duda?!

—Sim, eu confesso, ele está invadindo meus pensamentos mais do que qualquer um. E isso é um problema.

—Um problema? Bia, você sabe que se seu pai estivesse aqui ele iria gostar de ver você assim: pensando em garotos, com problemas de adolescentes comuns, líder de torcida, e não espalhando ódio por aí como costumava fazer.

—Mas ele não está aqui. Nada disso importa se ele não está aqui para ver.

—Está na hora de começar a importar, não acha? Não por ele, não por qualquer pessoa, e sim por você.

—De que adianta? De que adianta eu estar apaixonada pelo Duda, ou sorrir ao em vez da minha típica expressão de deboche que costuma esconder a tristeza que está aqui dentro. Tudo vai acabar, sempre acaba. Acabou junto com meu pai. Sabe… -me levantei da cama. -Ele esta mudando tudo, ele invadiu minha vida em algum momento, e agora está mudando toda a minha forma de pensar, minha forma de agir, eu sempre vivi mantendo uma distância confortável, pra não me magoar e pra não magoar a outra pessoa, porque eu simplesmente não sou boa nisso, relacionamentos envolvem emoção, são complicados, cheios de idas e vindas e alguém sempre acaba chorando. Prefiro decepcionar as pessoas no começo, porque assim elas não criam expectativas.

—Por que não decepcionou o Duda? -ela perguntou e eu dei de ombros. Teria sido tão mais fácil.

—Cinderela, você é minha melhor amiga, eu te amo, sabe disso, certo? Obrigada pelos DVD´s, mas eu preciso ficar um pouco sozinha. -eu digo a ela, andando de um lado para o outro, começando a sentir vontade de chorar.

—Claro, tudo bem. -ela já ia se levantando, mas eu continuei:

—Não, pode ficar se quiser, eu só vou sair para caminhar um pouco.

—Mas esta chovendo. -ela retrucou, mas eu a ignorei. Coloquei minha blusa de frio e sai pela porta.

(...)

Assim que senti a chuva sobre mim, as poucas lembranças que me restaram sobre o dia que meu pai morreu tomaram conta de mim. Lembrei-me de minha mãe me contando, de como ela chorava, e só de vê-la triste daquele jeito meu coração já estava quebrado. Lembrei-me que só depois de dois dias eu realmente senti o luto, eu era uma criança, ainda não entendia essa coisa de “morte”, a verdadeira ideia de que eu nunca mais o veria só chegou depois de alguns dias, e foi ai que eu comecei a me isolar.

E depois disso, nunca mais fui do tipo que costumava amar, ou alguém te magoa, ou você é magoado, então qual é o sentido? E depois de tanto tempo, sentir algo assim de novo com o Eduardo me assustava mais do que qualquer coisa. Como eu poderia deixar algo assim prosseguir? Eu não quero me magoar de novo, não conseguiria suportar, e eu sei que é importante.

Respirei fundo, parando de caminhar, e levantando a cabeça para encarar o céu nublado, tudo para não chorar. Mas não adianta, as lágrimas saíram da mesma maneira.

—Bia? -ouço a voz que me faz parar de olhar para cima.

Se trata do Samuca, ele está parado na porta da padaria, como se estivesse apenas esperando a chuva diminuir pra ir para casa, mas ele se livra do teto seguro, e vem até mim, molhando-se também.

—Você está chorando? -ele perguntou, me fazendo desabar de vez. É realmente um ótimo dia para organizar todo o choro atrasado. Ele faz a inconfundível expressão de quem está com pena de mim, mas eu não me importo.

—Por favor, diga-me que não sou a única tentando sobreviver a cada dia. -perguntei, entre soluços, e por algum motivo ele sorriu.

—Não, você não é. -respondeu o garoto do violão.

—Eu não quero me magoar! -comecei a me perguntar por quanto tempo as lágrimas continuariam.

—Ninguém quer. -ele grita quando o barulho da chuva aumenta. -Mas é inevitável, Beatriz. Não há como evitar chateações, pode passar a vida trancada no quarto se quiser, mas uma hora terá que sair e vai quebrar a cara. Mas também vai passar por coisas boas, e acredite em mim, elas compensarão às ruins. -e por alguns segundos, eu realmente quase acredito. -Meu avô costumava dizer que pobre é quem não se arrisca, pois têm sua vida desperdiçada. -ele completa, ele realmente diz como se fosse fácil, mas e se as coisas boas não compensarem às ruins?

A chuva diminui, junto as minhas lágrimas.

—Não quer sair da chuva? -ele perguntou, mas eu fiz que não com a cabeça, limpando o rosto com a mão. Ainda precisava de um pouco mais de tempo sozinha. -Me liga quando as coisas melhorarem, e me liga se elas não melhorarem também, eu gosto de você líder de torcida roqueira. -assinto com a cabeça, queria dizer algo á ele, mas eu não consigo, apenas sei que um outro espaço do meu coração está aberto para Samuca, um espaço que não costumava ficar aberto tão fácil.

Ele se afastou, e meus olhos viraram-se para o chão, fico vários segundos assim.

Mas se as coisas boas não compensarem às ruins?

Levanto a cabeça novamente, e me lembro do único lugar que é capaz de me fazer ficar melhor agora. Preciso ir ao telhado da escola.

(…)

Mesmo que não passasse das duas da tarde, a paisagem ainda estava linda, me lembrei imediatamente de estar ali com Duda, quando ele me mostrou o lugar á algumas noites atrás e nós conversamos sobre nossas péssimas vidas a noite inteira, lembrei de como tudo estava lindo naquele noite. E de como tudo estava cinza agora. Tento me lembrar mais sobre o dia da morte do meu pai, enquanto olho para o céu ainda nublado, imaginando se ele está olhando para mim agora, certamente decepcionado.

Tudo que minha mãe havia me dito era que homens ruins tinham tirado a vida dele em uma briga, mais nada. Inevitavelmente as lágrimas saem novamente, enquanto começa a anoitecer, estou tão cansada de chorar, hoje eu realmente bati o record. Torço para que as estrelas apareçam enquanto me sento ali mesmo e cubro minha cabeça com as pernas, chorando cada vez mais. Eu queria tê-lo de volta, eu queria me lembrar de todos os nossos momentos.

—Bia? -ouço a voz, e me levanto imediatamente, assustada.

Mas então avisto o Duda, um pouco molhado e mancando, ele deveria estar de repouso. Nossos olhos se encontram, e ele vê minhas lágrimas, mas nenhum de nós dois diz nada. De onde esta saindo toda essa gente? Ele se aproxima devagar, parece tão surpreso quanto eu por me encontrar ali.

—A Vivi me ligou. -ele diz, e eu começo a entender tudo. -Ela disse que eu precisava te procurar e que seria muito bom se eu te encontrasse. Pensei que talvez você estivesse aqui.

—Me desculpe por roubar o seu lugar. -digo a ele, que dá de ombros.

—Você deve estar precisando mais do que eu. -ele se aproxima um pouco mais, e agora estamos a um passo de distância. Quero matar e abraçar a Vivi ao mesmo tempo.

Poucas lágrimas ainda rolam sobre meu rosto, e ele a limpa com o dedo, não pergunta o motivo do meu rosto inchado e eu agradeço mentalmente por aquilo. Ele continua passando os dedos sobre meu rosto, vagando por ele até chegar em minha boca. Não consigo deixar de olhá-lo.

Mas e se as coisas boas não compensarem às ruins? De qualquer maneira, eu só iria descobrir se tentasse. E eu estava tão cansada de resistir, queria tanto saber. Talvez ele fosse a coisa boa que compensaria às ruins. Então o beijo, me entregando de uma vez por todas, dessa vez sem retorno, sem chance de eu mudar de ideia. Eu precisava descobrir, e o beijo é tão bom que eu só quero vivê-lo de novo, de novo e de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey, hey. Finalmente um beijo BiDu sem nenhum estresse envolvido e sem ninguém por perto, né?
Galerinha, o ultimo episodio não contou com muitos comentários, então quero pedir pra vocês que estão lendo não deixarem de comentar não, ta? É muito importante pra mim e vai fazer eu aparecer mais rápido.
Beijõões! :*