Diário de um guarda-chuva escrita por P Shiro


Capítulo 1
Por que guarda-chuva?


Notas iniciais do capítulo

Foi bem difícil escrever esse capítulo e espero que não tenha ficado tão ruim, sou boa para escrever mas não tenho tanta criatividade em coisas dissertativas e foi necessário argumentar bastante nesse começo. O próximo começa a narração de verdade, espero que gostem!



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Antes de começar a escrever pensei em falar um pouco sobre quem sou eu. Já dizia o oráculo do filme Matrix “Nosce te ipsum”, que significa, “Conhece-te a ti mesmo”, é um grande desafio conhecer a si mesmo e todos os dias por mais que inconscientemente, nos conhecemos um pouco mais. Então, baseando no que me conheço até hoje, vou tentar me descrever.

Nasci no último dia de libra, com ascendente em touro e lua em virgem, se quem estiver lendo entender um pouco sobre signo vai presumir que algumas das minhas maiores características são sensibilidade e indecisão, mas não me enxergo dessa forma, não sou tão sensível quanto deveria e talvez isso seja o que me salva das recentes situações que tem acontecido, sobre a indecisão, desde criança sempre consegui me decidir sobre tudo, desde meu sabor de sorvete favorito até o que seria quando crescesse.

E agora cresci, completei dezoito anos a duas semanas e mudei para um pequeno apartamento no centro da cidade, aqui moro com meus melhores amigos: Charles, Davi e Angel.

Conheço Charles desde o ensino fundamental, estudamos na mesma sala até ele reprovar o segundo ano do colegial, fiquei muito mal quando aconteceu, não gostava da ideia de continuar naquela sala sem ele.

No terceiro ano de Charles ele reencontrou Davi e por um acaso do destino, eles haviam estudado a pré-escola juntos e eram melhores amigos naquela época, no começo os dois se odiavam, mas quando veio à tona as lembranças de infância, algo aconteceu e se apaixonaram. Eu já tinha me formado e trabalhava em uma lanchonete perto da escola, como a escola era em tempo integral, os dois apareciam na hora do almoço para bater papo, em uma dessas visitas, me convidaram para morar com eles e aqui estou.

Angel é uma gatinha que adotamos ontem, mas como todo bom animal, ela conseguiu me conquistar facilmente e já a considero como minha melhor amiga. Estava muito frio quando encontrei Angel, ela estava na chuva toda arrepiada, seu pelo é branco, mas estava suja e bem laranja, começou a me seguir miando sem parar e não tive escolha, a trouxe para casa, tivemos sorte por Charles e Davi aceitar, eles são alérgicos.

Eu decidi escrever esse diário pouco antes de sair de casa, foi uma semana agitada, meus pais brigavam muito por minha causa, sabia que não ia dar certo continuar ali, então resolvi conversar com eles. No começo imaginei que podíamos encontrar uma solução, se cada um levasse em conta as necessidades do outro, talvez desse certo. Não deu.

Minha mãe descobriu que está grávida e meu pai não me aceitava mais como antes, dizia que eu faria mal ao bebê. Não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas para evitar discussão, tive que ir embora.

Eu imagino que não esteja entendendo muita coisa sobre isso, mas para entender melhor, o que acha que sou? Menino ou menina?

Desde o começo do texto não usei nenhum pronome que me definisse nesse sentido, e como dizem meus pais, é isso que sou, sem definição. Alguns chamam de genderqueer ou gênero x, uma vez fui pesquisar no Google sobre isso e encontrei a explicação:

“Genderqueer (GQ; ou não-binário) é um "termo guarda-chuva" (termo que, neste caso, embarca várias identidades diferentes dentro de si) para identidades de gênero que não sejam exclusivamente homem nem mulher, estando portanto fora do binário de gênero e da cisnormatividade.”

Desse dia em diante, resolvi me identificar como guarda-chuva, primeiro porque genderqueer é um nome muito complicado, GQ parece sigla de jogo e gênero x me lembra x men.

Meus pais não entendem, na verdade, poucos entendem.

Há 18 anos sou criada como uma garota, quarto rosa, bonecas e maquiagem. Não porque sou uma garota e sim porque acham que por ter nascido com órgão genital feminino, sou do gênero feminino. Meu órgão genital não define minhas vontades ou minhas escolhas, eu não me enxergo dessa forma, e também não me enxergo como garoto, por que é tão necessário assim ser um dos dois?

Vou fazer uma analogia, que apesar de muitos não concordarem tem muita relação:

Uma criança nasce e seus pais fazem planos: “Nosso filho vai ser um médico!”. Compram brinquedos que incentivam a profissão, pagam faculdade de medicina, sem nunca perguntar ao filho se é realmente isso que ele quer ser. Há mais possibilidades do que imaginam.

Ele não precisa ser médico, nem advogado. Eu não preciso ser uma garota, nem um garoto.

Sou um guarda-chuva, e não faço mal a ninguém sendo desse jeito.

Talvez esse argumento não seja claro o suficiente, mas fica uma reflexão, por que a felicidade de alguém tem que ser menos importante só por ter nascido diferente? E se o que chamam de “normal”, me machuca, por que não posso ser diferente? Enfim, não quero me estender nisso, mas como não sei se vou conhecer meu irmão ou irmã, escrevo esse diário na esperança de que alguém leia e consiga me entender.


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Notas finais do capítulo

É a primeira vez que escrevo algo desse gênero, então sugestões e críticas são bem vindas.



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