Regnum Viperarum - Interativa escrita por Lu au Andromedus


Capítulo 7
Capítulo 6 - As Artimanhas Que Usamos Para Escapar


Notas iniciais do capítulo

Hello. Como vocês estão? Fui beem mais rápida dessa vez, não? Então gente, esse capítulo se passa no palácio russo e é narrado por uma selecionada. Não é o mais emocionante de todos, mas os próximos serão, prometo.
Espero que gostem e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702917/chapter/7

Capítulo 6

As Artimanhas Que Usamos Para Escapar

 

O palácio russo era hostil, essa era a melhor palavra para descreve-lo. Tão grande que duas pessoas podiam morar uma vida inteira lá dentro e nunca se encontrarem e tão ostentoso que refulgia ao mais leve contato com um raio de luz, as inúmeras peças de vidro lançando espectros multicoloridos pelos salões. Belo, sem dúvida, mas quantas pessoas tinham oportunidade de admirar tal fenômeno? Excetuando-se as outras selecionadas, Ayrin podia contar em duas mãos aquelas que vira desde sua chegada no palácio russo, três dias antes.

Imaginava que os empregados devessem usar passagens especiais criadas especialmente para que eles pudessem circular sem serem vistos. Uma coisa bastante Idade Média na opinião de Ayrin. Mas e quanto a convidados reais, conselheiros, amigos da família?  Não que Ayrin fizesse questão de socializar com outras pessoas, o que era provado pelo fato de estar fingindo ler um livro para que nenhuma selecionada viesse conversar com ela, mas estava inegavelmente curiosa.

A família real em si só aparecia durante as refeições. Se sentavam juntos na Sala de Jantar e conversavam baixo entre si, mas com as selecionadas eram monossilábicos. Aleksandr inclusive, que não parecia dar a mínima para o fato de estar no meio de uma seleção, com vinte garotas a sua disposição. Ayrin podia ver o quanto isso incomodava algumas das selecionadas, que pareciam fazer de tudo para chamar sua atenção, desde sorrir para ele durante todo o decorrer das refeições até usar vestidos extremamente justos ou com amplos decotes. Algo extremamente cômico para Ayrin, que estava na seleção por ser uma forma de se livrar de sua mãe, de seu irmão e de seu padrasto. Ayrin aproveitava qualquer oportunidade de se ver longe da sua família, mesmo que doesse abandonar seu irmão caçula, Niklaus. Não achava, porém, que suportaria conviver com a mãe por muito mais tempo caso não tirasse umas férias dela.

Se bem que essas férias não estavam sendo lá muito divertidas. Pelo contrário, Ayrin estava decididamente entediada. Ela e todas as suas dezenove supostas concorrentes estavam reunidas na biblioteca do palácio, que havia sido ligeiramente reformada para servir como um local onde as selecionadas pudessem passar o tempo livre que dispunham. Ayrin, porém, estava tentada a passar seu tempo livre em outro lugar. Queria circular pelo jardim, apreciar o som da água caindo das fontes, passar os dedos pela textura macia das flores lá fora. Não tinha permissão para fazer nenhuma dessas coisas, mas se o palácio era praticamente deserto, quem iria repreende-la?

Passou pelas portas da biblioteca sem um segundo de hesitação e seguiu um amplo corredor, mas parou quando se viu perdida, sem saber se deveria seguir em frente, virar à esquerda ou à direita. Seus olhos percorreram o local à sua volta, procurando por alguma indicação de qual direção levava aos jardins, um aroma de flores, um barulho de pássaros, ou até uma folha caída caso quisesse ser mais otimista. Mas então lhe ocorreu que ela não precisava de nada disso, precisava? Por que percorrer o palácio se podia tomar um atalho que a levaria direto para fora? A janela da qual se aproximou estava fechada, mas bastou uma leve pressão para que se abrisse, lançando no rosto de Ayrin uma baforada de ar frio muito bem-vinda.

Agradecendo mentalmente pela biblioteca ficar no primeiro andar, Ayrin passou as pernas pelo peitoril da janela e pulou. Estar ao ar livre era revigorante, sensação que só aumentava conforme se afastava do monumental palácio pela primeira vez em três dias. Não sabia exatamente para onde estava indo, mas não se importava, pois independente de para onde virasse, estaria cercada por plantas, com a grama sobre seus pés e o céu sob sua cabeça.

Os jardins eram maravilhosos. Ayrin os via o tempo todo pelas janelas do palácio, mas explora-los, realmente explora-los, ela nunca havia feito. Andou durante mais de meia hora sem nem se dar conta da passagem do tempo. Colhia todas as flores que lhe chamavam atenção, e não demorou para que estivesse com quase uma dezena na mão, mas as largou em choque no momento em que os viu. Ayrin os notou antes deles a notarem, mas não antes que pudesse sair de vista e fugir. E logo se viu parada em frente ao Czarevich Aleksandr e a Czarevna Ekaterina, que a encaravam com a mesma expressão de surpresa que imaginava estar estampada no seu rosto. Os dois formavam um par impressionante. Os saltos de Ekaterina a deixavam da altura do irmão e seus cabelos negros contrastavam belamente com os dourados dele.

— Вы один из девушек из моего брата, не так ли? – perguntou Ekaterina.  

— O quê? – exclamou Ayrin, sem estender nenhuma palavra sequer.

— Я думаю, что она не говорит по-русски, Екатерина – disse Aleksandr, displicentemente – Alemã?

— Sim – respondeu Ayrin.

— Odeio que exista essa barreira linguística – murmurou Ekaterina – Você não podia ter arranjado só selecionadas russas, Alek? Tornaria as coisas tão mais fáceis. Ou pelo menos deixado como critério que quem se inscrevesse deveria saber falar russo.

— Seria uma ótima decisão caso você quisesse ter a certeza que nenhuma selecionada de origem remotamente humilde fizesse parte da sua seleção – rebateu Ayrin, não que fosse esse seu caso, como uma olhada na mansão da família podia confirmar.

— Não preciso desse critério para ter essa certeza – respondeu Aleksandr – Meu pai já se encarregou disso.

— Como assim?

— Não espalhe coisas assim sobre o papai, Alek – repreendeu Ekaterina, dando um tapinha de leve no braço do irmão – Ou vai fazer com que ela não goste dele – indicou Ayrin com o olhar.

— Novamente, ele é que se encarregou disso – falou Aleksandr.

Ekaterina sorriu docemente para o irmão antes de se virar de novo para Ayrin.

— O que está fazendo de vestido aqui fora? Está uns três graus hoje!

Ayrin olhou para baixo, para o vestido azul claro com mangas até os cotovelos que usava, e em seguida para Ekaterina e Aleksandr, que usavam casacos por cima de blusas de manga comprida, calças jeans e botas.

— Não sabia que tinha a opção de usar outra coisa senão vestidos. Achei que eram obrigatórios. E tenho certeza que minhas criadas também, considerando que é só isso que vejo no meu armário – disse Ayrin, indignada.

— Bom, eu não dou a mínima para o que vocês usam – disse Aleksandr - E como a seleção é minha, sou eu que decido, pelo menos na teoria. Então fique à vontade quanto a isso.

— Gostaria de ter sabido disso três dias antes – falou Ayrin, a indignação transbordando de seu tom de voz – Calças são muito mais confortáveis num clima desse.

— Imagino que sim – respondeu ele – Mas devo dizer que minha opinião é parcial. Não costumo usar vestidos.

Ayrin escancarou a boca, surpresa.

— Você é sempre assim? – perguntou.

— Assim como? Charmoso, cavalheiresco, irresistível?

— Irreverente.

— Temo que sim – respondeu ele, calmamente e num tom de voz completamente neutro - Isso te incomoda?

— Faz diferença se isso me incomoda ou não?

— Sim se você quer ter a chance de se tornar minha futura esposa. Não sou muito adepto a mudar de personalidade só para agradar os outros.

Ayrin não respondeu, somente o encarou, curiosa. Aleksandr era um tanto quanto gozador, gozador demais para alguém como Ayrin, que não tinha um pingo de senso de humor e que raramente sorria. Mas não era exatamente desagradável conversar com ele, o que só aumentava sua curiosidade.

— Sinto muito atrapalhar esse momento romântico entre vocês – disse Ekaterina, sem nenhum traço de arrependimento na voz – Mas parece que vai nevar e eu me recuso a refazer meu cabelo, o que eu vou ter que fazer caso ele molhe. Vamos, então?

Sem esperar por resposta, Ekaterina passou um braço pelo do irmão e outro pelo de Ayrin. Ela os conduziu lentamente em direção ao palácio, o sol formando sombras alongadas dos três na grama bem cortada. Ayrin estava tão distraída que quando ela subitamente parou, precisou se segurar com força em seu braço para não cair.

— Meu Deus! Acabei de me dar conta de que não sei seu nome – Ekaterina olhou Ayrin de olhos arregalados.

— Ayrin.

— Ayrin – disse Ekaterina – Nome fofo.

E mais subitamente ainda retomou a caminhada. Percorreram o resto do caminho em silêncio, o que não incomodou Ayrin, que estava mais interessada em dar outra olhada no esplendor que eram os jardins antes de se ver de novo trancafiada no palácio, com uma janela separando-as das flores.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou tentar manter o padrão de um capítulo por semana, ainda mais que agora estou de férias e terei mais tempo para escrever. O capítulo 7 não se passará em nenhum lugar na Europa. Invés disso será narrado por um personagem que não aparecia desde o prólogo. Yes, voltaremos para a América!!

Tradução para o que a Ekaterina e o Aleksandr disseram em russo:

Вы один из девушек из моего брата, не так ли: Você é uma das garotas do meu irmão, não é?

Я думаю, что она не говорит по-русски, Екатерина: Eu acho que ela não fala russo, Ekaterina

Que língua é essa, né não? kk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Regnum Viperarum - Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.